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28 de novembro de 2022

Uniões de freguesias - O que se ganhou?

Em recente reportagem do jornal semanário "Correio da Feira" (13 de Outubro), sobo título "Autarcas divididos quanto à desagregação das uniões de freguesia", é abordada a questão da desagregação das uniões de freguesias no nordeste feirense, concretamente as de Caldas de S. Jorge e Pigeiros, Canedo, Vale e Vila Maior e Lobão Gião Louredo e Guisande.

Do muito que é referido e das justificações adoptadas pelos diferentes autarcas nos processos de votação em sedes de assembleiaas de freguesias, tendo sido aprovadas as desagregações, mesmo que não todas por unanimidade, e depois igualmente em sede de assembleia municipal, uma das tónicas comuns, entre os que foram a favor, contra ou nem uma coisa nem outra, todos transmitem a ideia de que com a desagregação as freguesias mais pequenas perderão capacidade reinvindicativa.

É, obviamente, uma perspetciva legítima, mas na realidade, feita uma análise séria, será mesmo assim? Até porque, pergunta-se, nestes já quase 10 anos de uniões, o que é que cada uma das freguesias menores dessas três agregações ganharam em concreto e de substancial face à situação pré-reforma? Que melhoramentos e obras substanciais foram realizadas? Que modelos de gestão e proximidade às populações foram seguidos e com que vantagens? Veja-se só um unico exemplo: Em Guisande a compra de uma sepultura no cemitério local andava pelos 500 euros. Actualmente custa 2150,00 euros. Mas naturalmente todo o aspecto de taxas trouxe um acréscimo considerável. É isto um ganho prático para as populações? 

Mesmo no sector das limpezas, na anterior situação, todos os dias de semana do ano a freguesia tinha ruas ou troços delas a serem limpas. Tinha sempre alguém que podia ser alocado a uma situação emergente. Havia, pois, sempre ruas limpas. Actualmente a coisa faz-se periodicamente e por isso uma impossibilidade de uma gestão adequada dos casos mais necessários e quase sempre com pouca profundidade. É certo que neste mandato em curso as coisas mehoraram, mas ainda assim sem uma total capacidade de uma limpeza regular e efectiva. Limpeza de sarjetas em ocasiões de chuvas fortes, quem as faz? 

A resposta para ser rigorosa, é nada! As obras mais susbtanciais continuaram a ser feitas nas freguesias cabeça. Já as perdas, essas foram notórias, com um afastamento de proximidade, com elmentos desconhecedores e desfasados das realidades intrínsecas das diferentes freguesias, etc. Ou seja e em resumo, nestes quase 10 anos, uma década, todos os indícios mostram que efectivamente as freguesias menores nada ganharam de acréscimo face às anteriores realidades.

Por outro lado, a ideia de que as freguesias menores têm menos capacidade reinvindicativa é uma falsa questão porque mesmo as mais pequenas freguesias do concelho sempre tiveram capacidade de desenvolvimento proporcional sempre que dirigidas por gente capaz e dedicada. Gião, Louredo e Guisande, mesmo com avanços e recuos, mostrarem isso, indo sempre além dos que os magros orçamentos ordinários permitiam.

Guisande nos últimos como freguesia independente tinha orçamentos anuais a rondar os 100 mil euros o que dava 400 mil no mandato. Em dois mandatos seriam 800 mil. Mas que fossem apenas 90 mil e daí 720 mil euros em dois mandatos. Pergunta-se: Nestes 9 anos de dois mandatos e picos, investiu-se em Guisande 720 mil euros, mesmo contando com o tal esforço no pagamento de dívidas herdadas?  É que não entram nestas contas as obras directas do orçamento da Câmara, como aconteceu com as pavimentações das ruas.

É certo que também concordo que passados os primeiros tempos e as dores das mudanças que foram inevitáveis, as coisas podem passar a ser melhores, pelo menos em teoria, mas só o tempo poderá confirmar isto ou, o contrário.

Para finalizar, são de facto duas realidades diferentes, mas a experiência já quase com uma década não permite nem de perto nem de longe dizer que as uniões trouxeram vantagens óbvias e significativas para as populações a ponto de se poder pensar que a reversão será pior.

Compreendo e aceito todas as posições dos diferentes presidentes de Junta das uniões, mas importa não esquecer algo importante: É que são todos originários das freguesias cabeça e em caso de continuidade do actual sistema, continuarão, concerteza a querer ter presidentes dessas grandes freguesias, numa posição de, msmo que não assumida, de preponderância, de canibalismo político. Aceitarão os de Lobão, os das Caldas e os de Canedo um presidente proposto e vindo de Guisande, de Pigeiros ou Vale, respectivamente? Hummmm! Parece-me que não!

Em todo o caso, esta é apenas uma simples opinião e cada um terá a sua e considerará válidos os seus próprios argumentos. 

Seja como for, numa ou noutra realidade, as dificuldades serão sempre muitas e não há milagres, desde logo porque as áreas de competência e intervenção das juntas são superiores aos financiamentos centrais ou municipais que recebem para isso. Por outro lado, autarcas que trabalham pelas populações apenas por amor à terra e à camisola já são raros e destes poucos os que conhecem cada um dos habitantes pelos seus nomes e a realidade dos diferentes lugares, e daí uma nítida falta de proximidade. Hoje qualquer cidadão da união vai á sede para solicitar um atestado ou expor um problema e é apenas um simples desconhecido. Provavelmente ninguém o conhecerá nem o tratará pelo nome próprio antes de se identificar.

É o que é! 

Romaria - Variante Arouca-Feira

Nisto da curiosidade somos quase todos iguais. Também curioso, fui já experimentar a nova variante Feira-Arouca, um eufemismo para apenas um troço de pouco mais de 7 Km, entre o lugar da Abelheira- Escariz e Gândara-Pigeiros na rotunda da saída da A32, acabada de inaugurar com pompa e circunstância a merecer a visita de um ministro.

Respeitando a velocidade de 70 Km/hora, fez-se em 7/8 minutos. Já tinha experimentado a anterior alterantiva pelas estradas interiores e apenas registei uma diferença de 3/4 minutos. Assim mais do que o tempo poupado, vale a qualidade e segurança do percurso o que pode fazer diferença sobretudo como acesso ao Hospital da Feira para as gentes de Arouca. 

Não sou especialista de tráfego de trânsito e muito menos decisor, mas considero que sob um ponto de vista de retirar trânsito em algumas das ruas locais, sempre tão degradadas, talvez se justificasse uma entrada/saída intermédia, porventura na intercepção da estrada que liga Romariz a Cesar, ali na zona de Vila Nova, mas até pelas características do terreno e relacionamento das duas vias, certamente que o custo dispararia. 

Assim a via é, sem dúvida, muito importante mas, a bem dizer, apenas para Arouca, e para aqueles que de algum modo vivem próximos das entradas. Para o resto, para os aglomerados dispostos ao longo de toda a via,  e mesmo para a generalidade do concelho da Feira, o interesse é muito relativo ou mesmo reduzido.

É claro que que com uma extensão tão curta nunca poderia servir muita população, tanto mais que, como disse, prescindiram de uma ligação intermédia. Sem dúvida, reitero que é importante mas quase exclusivamente para Arouca, o que de resto é merecido. Já ouvi loas exageradas quanto ao interesse da via para o concelho da Feira, o que é manifestamente exagerado. Os de Arouca precisam da via sob um ponto de vista de rentabilidade empresarial e sobretudo de acessos das populações aos equipamentos de saúde centrais, já que se servem essencialmente do Hospital S. Sebastião. Já os feirenses, esses vão a Arouca principalmente pelo laser, à vitela e ao pão-de-ló, pouco mais.

Ainda do que vi, tal como na A32, serão ainda muitos os problemas de escoamento/drenagem de águas, sendo visível as estradas na periferia cheias de lamas. Os empreiteiros são mestres a adotar soluções espertalhonas e poupadinhas, mesmo na reposição de entradas, acessos e caminhos e com elas o prejuízo de terceiros.  A ver vamos se será mais do mesmo que se verificou na A32.

Entretanto, como era expectável, era uma romaria de carros a experimentar. Tenho dúvidas que na normalidade diária o percurso tenha assim tanto trânsito simultâneo nos dois sentidos.

26 de novembro de 2022

No fio da navalha

O que fazem quatro jovens, em plena madrugada escura, numa época de agitação marítima, junto da linha de água de um mar conhecido por traiçoeiro?.

Terão sido arrastados para o mar, sendo que três salvaram-se e uma rapariga de 20 anos está desaparecida temendo-se naturalmente o pior.

Estes filmes de total insensatez dão nisto. Não há volta a dar. Os acidentes e incidentes estão ao virar da esquina e o mundo é demasiado perigoso. 

Podia ser em qualquer lugar e circunstância, mas o constante caminhar no fio da navalha por muitos jovens, dizem que por irreverência, e de algum modo banalizar o perigo, dá nisto, na tragédia. 

Também eu pai, que me alvoroço com a saída dos filhos, não tenho como deixar de pensar nos pais daquela jovem, porventura sossegados a dormir em casa, quando ela já senhora do seu destino, mesmo o de escolher ir com colegas, de noite e em plena madrugada, para junto da linha de água de um oceano revolto, sabe-se lá por que motivo maior ou menor, foram certamente acordados, alvoroçados, destroçados com a fatal notícia. 

Não há lugar a qualquer moralismo extra, nem podia haver, mas assim tão gratuitamente dói! Dói muito!

[actualização] Já depois da notícia inicial pela qual escrevi, soube, por notícias mais frescas, que afinal o grupo seria constituído por 8 jovens e todos eles terão sido arrastados. Também sabe-se que fariam parte do Exército onde estariam em formação. Estiveram num bar de diversão nocturna até altas horas da madrugada, quase manhã, certamente que a beberem água e sumos. Depois decidiram acabar a noite em grande indo socializar para a zona de rebentamento do mar.

Esta actualização em nada desculpa o procedimento, antes o agrava pela falta generalizade de bom senso e  irresponsabilidade, tanto mais que haveria alertas para o perigo da agitação marítima.

Será de supor que num grupo haja sempre alguém lúcido e sereno o bastante para alertar os demais. Mas não! Em grupo tende-se a ampliar as coisas boas e más, porque há sempre uma maria a ir com as outras, a alinhar, a não querer fazer de fraca.

Infelizmente, a jovem teve mesmo o destino fatal, tendo já sido recuperado o seu corpo. Um peso que há-de acompanhar por toda a vida aquele grupo onde se inseria. Ou talvez não. Nada que não se supere com mais uma noite de copos.

Desculpem qualquer coisinha, mas estas coisas revoltam e porventura somos todos inocentes, apenas vítimas desta coisa transcendente chamada destino.

22 de novembro de 2022

Princípios

Eu sei que se fosse no contrário da barricada, também Jerónimo e os seus correligionários, com um alto grau de probabilidade, provavelmente ficariam sentadinhos. Mas há princípios que definem quem está nas coisas por eles, pelos princípios. 

Ora estes, os princípios, podem ser muitos e diversos, nomeadamente os de carácter ideológio e doutrinário, mas os do respeito pelas pessoas e pelas diferenças devem ser comuns e transversais. 

Por isso, a posição dos deputados do CHEGA na despedida de Jerónimo de Sousa da Assembleia da República, ficando sentados e indiferentes, enquanto todas as demais bancadas estavam a aplaudir em pé, em jeito de homenagem, sendo que os deputados da IL aplaudindo mas também sentados, fica mesmo mal e a roçar uma indiferença desrespeitosa. 

Mas as atitudes ficam com quem as praticam. Não é com isto, com este radicalismo, que o Chega, ganha respeito. Por mim seguramente que não. Seria uma boa oportunidade de vincarem alguma diferença positiva, senão nas ideias, pelo menos no respeito político, democrático e pessoal, mas nem isso. Fracos!

Não sou comunista, sendo que até  já votei pelo partido, e naturalmente com muitos princípios políticos opostos, mas acima de tudo tenho apreço e respeito por Jerónimo de Sousa, que de resto sempre me pareceu ele próprio respeitoso, cordial e de muita verticalidade. 

Teve uma larga maioria de respeito e consideração na hora de sair, mas merecia, parece-me, uma unanimidade.

21 de novembro de 2022

The show must go on

Sempre se soube que todo o processo que culminou com a nomeação do Catar como país organizador do Mundial de Futebol de 2022, ontem começado, foi uma farsa. Uma valente e muito bem paga farsa. 

Um dos Judas intervenientes, um tal de Blatter, já se mostrou arrependido, mas não foi ao ponto do final do Iscariotes, e tanto que saiba, há-de morrer de velhice e nunca por falta de dinheiro, incluindo as 30 moedas, e dos confortos que ele proporciona.

Para além dessa trafulhice imensa que só os ricos e os poderosos conseguem afinar como mestres relojoeiros, seguiram-se as questões relacionados com a segurança dos trabalhadores, ou falta dela, nas construções faraónicas ou das mil-e-uma-noites, o respeito pelos direitos humanos, sobretudo sobre as mulheres, o tratamento para com os homossexuais, etc, etc.

As nações e as selecções delas apuradas para tão majestoso evento, foram dandos uns palpites, uns bitaites, tudo dentro do politicamente correcto, mas em rigor, tanto quanto se saiba, nenhuma boicotou a prova primando pela ausência. 

Mesmos os jogadores, ali verdadeiros príncipes nas arábias, foram também dizendos umas porreirices avulsas, mas na verdade estão lá todos muito contentinhos.

Os adeptos, esses também aparte alguns arrufos, estão lá, senão todos, os que têm carteira para isso.

Finalmente, o chefão da FIFA veio menorizar a questão e esgrimir o velho engodo do copo meio cheio ou meio vazio. Louvou os esforços feitos pelo país anfitrião e o muito que mudou, mesmo sabendo que quando as tendas se levantarem e cada um seguir à sua vida, o mais certo é que tudo vai voltar ao mesmo. 

Em rigor, as declarações do senhor Infantino andaram mais ou menos como quem desculpa o violador pela atitude e aparência provocadoras da violada e pelos esforços em violar o menos possível. 

Posto isto, as tendas estão montadas e por uns largos dias vamos ter circo com palhaços pagos a peso de ouro. 

The show must go on!

19 de novembro de 2022

Do que a casa gasta

Quando os telejornais, incluindo o da televisão dita de serviço público, abrem com o assunto da entrevista do Cristiano Ronaldo e lhe dão largos minutos de atenção, o mesmo acontecendo com os jornais a ocuparem páginas, diz muito do tipo de sociedade em que vamos navegando.

Mas há, naturalmente, quem salive por este tipo de assuntos. O acessório e o privado como fundamental. Os média, como boas moscas, vão atrás da coisa enquanto fumega de fresca.

15 de novembro de 2022

Em inglês dá outra pinta - Parolismos


Eu não sei por que carga de água, talvez por provincianismo, para não dizer parolismo, insistimos em dar nomes ou designações em inglês às coisas só nossas. Até compreendo esta falta de amor próprio numa perspectiva de eventos ou negócios em muito virados para o turismo estrangeiro, em que há uma intenção de internacionalizar, de informar, mas já extender isso a coisas objectivamente portuguesas, comuns e para consumo próprio, é mesmo algo intrigante para não o adjectivar de outra forma.

Veja-se, no caso de eventos desportivos, nomeadamentes corridas agora ditas de runnings e trails e que são mais que as mães, no que parece, pelas muitas que são pagas, evidenciar ser um negócio interessante.

"Bio Run", "Xmas Trail", "Urban Run", "Last Man Standing", "Pisão Extreme", "Atlantic Clifs Adventure", "Trail Running Vila de Nisa", "Urban Trail Night Eurocidade" - Valença, "Mâmoa River Trail", "Noctis Trail", "Leiria X-Mas", "Vulcan Trail", "Lousa Mountain Trail", "Linhas de Torres Challenge","Peninha Sky Race", "Trail of Road", "Wine Trail", "Extrem Trail", "Night Trail", "Trail Summer Chalenge", "OCR Fireman Sernancelhe", "Louza Sky Race", "Dark Side Night Trail", "Cork Trail Running", "Viana Race" e muitas, muitas outras.

Mas como nem tudo está perdido, ainda há provas que têm a designação tão portuguesa, tão nossa, de "corrida", "corta-mato", "trilhos", "maratona" e "caminhada".

Posto isto, inglês é que é e dá outra pinta à coisa. Correr uma corrida ou simplesmente fazer uma caminhada é coisa de atrasados.

Mas, claro está, a coisa, o excessivo e mesmo despropositado uso de inglesismos é extensível e muitas outras actividades e sectores. Mas fiquemos por aqui como amostra.

28 de outubro de 2022

Estas coisas só acontecem aos vivos


E de repente, sem grandes alaridos, são mais que muitos a contactarem preocupados para saberem da minha estadia no hotel do SNS. Não só familiares, naturalmente, mas muitos amigos. 

Não é caso para tanto, e tudo esteve sempre bem, mas fico naturalmente satisfeito com a preocupação por muitos demonstrada. Sabe bem ter amigos sinceros. Bem hajam.

Quanto ao hotel do SNS, recomenda-se sobretudo pela excelência do pessoal, nomeadamente dos enfermeiros (em rigor das enfermeiras), do pessoal auxiliar e dos médicos, embora estes pouco se vejam.  E tudo gente jovem. E além disso, porque quase todos vestidos da mesma maneira, quase indiferenciados, não sabemos a quem chamar doutora ou enfermeira, Os médicos parece que usam agora umas batas iguais às que usam os serralheiros. Modernices e as batas brancas já são ali raras, talvez porque se sujem , tanto mais depois de 12 ou mais horas de serviço.

Não vi por ali profissionais seniores, como agora se diz.  Esses, porventura  já com menos paciência para as tropelias e desconsiderações do Ministério, deram à sola para sítios mais bem calmos e melhor remunerados. Vi por ali muita gente a fazer mais de doze horas, no fundo a queixarem-se tanto como os doentes com dores de costas, ossos partidos ou falta de ar.

Em rigor, todos aqueles dedicados profissionais também estão ali eles próprios em urgência, não nas macas nem ligados a ventiladores ou a soro, mas feridos na sua dignidade.

Gente boa, preocupada, simpática e atenta. Não fazem mais porque os meios são insuficientes e os hóspedes são muitos e não se pense que só velhinhos ou meias idades, mas também alguns jovens, naturalmente que por diferentes motivos.

Dos quase três dias ali internado, colhi sensações, emoções e realidades com significado fundo, que se os for a escrever, darão um livro.

Mas isto é coisa de quem gosta de adornar as palavras e as ideias a descrever emoções, sentimentos e estados de alma. No geral, um hospital e o seu serviço de urgências não se compadecem com lirismos.

O SNS é tão importante e necessário quanto a dimensão da sua doença e dos seus problemas crónicos,  porque os que lhe têm tratado da saúde (os sucessivos governos) têm sido, em regra, maus profissionais. Quando assim é, o SNS é ele próprio um doente em permanente serviço de urgências.

15 de outubro de 2022

A família como morangueiras

 


As famílias e os seus membros são como estolhos de morangueiras que às tantas começam por aí a enraizar e a dar frutos ao largo e quando transplantados, mesmo que para longe da cepa materna, continuarão a produzir os mesmos frutos.

Neste sentido, parece-me que em todas as famílias e sobretudo nas numerosas, às tantas perdemos o fio à meada e temos por aí dispersos, primos, segundos e terceiros,  que até, eventualmente, se cruzam connosco nos cruzamentos do dia-a-dia mas que não passam de desconhecidos e como tal não há partilha de acenos nem cumprimentos.

Isto acontece na minha família, tanto na parte de meu pai como de minha mãe e acontecerá no geral com todas as famílias. E claro, quando no estrangeiro já ramificados, a coisa piora quanto ao contacto próximo.

Pessoalmente tenho procurado pelo menos seguir os primeiros ramos da árvore paterna e deles os rebentos e frutos primeiros, mas depois disso a orgânica das células e a química da vida continuam os seus passos de multiplicação e torna-se tarefa mesmo impossível confinar todo o morangal num único vaso.

Mesmo com as actuais ferramentas que possibilitam o contacto com gente de longe, as coisas são mesmo difíceis e complexas tanto mais que, por força do desligamento e das circunstâncias da vida, a separação e o desligamento aconteceram já há muito. 

Não há papel capaz de comportar o desenho de uma tão grande árvore genealógica a abarcar gerações passadas e presentes. Mesmo uma árvore digital é complexa de gerir e de actualizar. Teria que ser uma tarefa comum a todos os ramos, mas isso, convenhamos, é uma missão digna de Hércules.

Neste aspecto, são importantes os encontros e convívios familiares, o registo e actualização das árvores genealógicas, e até temos alguns em Guisande, mas no geral, quando muito aparece apenas uma reduzida percentagem dos membros catalogados, muitos deles até de perto da base mas que desprezam esta questão de encontro a fraternização entre os seus.

Tantas vezes, somos estranhos dentro da própria família. De resto o que seria dos rebanhos sem as suas ovelhas negras e ronhosas?

Neste contexto de perda do caminho dos membros familiares, ainda há dias faleceu em Pigeiros um meu primo paterno, que sabia ali viver, até por informação de outro primo que de quando em vez o contactava, mas em rigor já não o veria há longos anos e por conseguinte nem a esposa, nem os filhos e muito menos os netos, meus segundos e terceiros  primos, são por mim conhecidos. Este é um exemplo comum a quase todas as famílias.

Para além disso, parece-me, no geral nota-se um desinteresse pela valorização da família e da sua história e por isso, não surpreende que ao fim de duas ou três gerações se perca o fio ao novelo base.

É o que é, porque nestas como em muitas coisas do nosso actual modo de vida, para o bem e para o mal, vão rolando desta maneira. Colocámo-nos como o centro do universo e tudo o resto é colateral.

13 de outubro de 2022

A ONU a nú

Os pilares e os fundamentos da criação da ONU - Organização das Nações Unidas, em 24 de Outubro de 1945, por isso quase logo após o desfecho da Segunda Guerra Mundial, fez todo o sentido e na altura parecia ser um garante de eterna paz, mas o certo é que ao longo da sua existência pouco mais tem sido que um mero pingarelho que nas questões que realmente importam, as relacionadas com os direitos humanos, segurança e paz, de pouco ou nada tem validado.

Veja-se a actual situação quanto à invasão e agressão da Rússia à Ucrânia: De que têm valido as resoluções de condenação?

Na prática quando as questões importantes afectam directamente os Big Five, China, França, Rússia, Reino Unido e os Estados Unidos, as coisas não passam dali. Não há volta a dar.

Descodificando, para tótós, como numa analogia com o futebol, a Rússia neste momento é um grande clube com um enorme passado e que está a jogar mal e porcamente, a apanhar cabazadas, na prática descendo de divisão, mas os seus adeptos continuam a achar que está na mó de cima, a jogar bem, no caminho certo e que não vale a pena despedir o treinador. Bastará dar tempo ao tempo. A culpa é dos adversários que não facilitam e os não deixam jogar.

Assim, nesta ONU, se portam todos os países que de algum modo têm relações importantes e dependentes com a Rússia ou que servem de bloco de oposição ao Ocidente e Estados Unidos, desde logo a China.

Em suma, esta ONU não tem ponta por onde se lhe pegue e a actualidade só o tem demonstrado.

Dali não sairá nada de substancial que modifique o actual estado da guerra na Ucrânia, parece-me!

Todavia e paradoxalmente é a única esperança para algum entendimento.

12 de outubro de 2022

Brasil entre o mau e o mau

Brasil, um país tão imenso, com um enorme  potencial humano, natural e económico, que o poderiam colocar entre as nações mais desenvolvidas e progressistas do planeta.

Apesar disso, custa a crer que num dia destes (a 30 de Outubro) tenha que decidir em 2.ª volta a eleição do seu presidente entre duas figuras tão incapazes.  Ambos já (des)governaram e mostraram o que valem, nada.

É pois, ingrata a escolha dos brasileiros. Nestas opções, costuma-se dizer que "venha o diabo e escolha". Mas, contudo, parece-me que nesta eleição nem o diabo se quer meter. Por conseguinte, terá mesmo que ser o Brasil, os brasileiros, a escolher entre o mau e o mau. 

A restiazinha de esperança, apesar de tudo, é que entre os dois seja capaz de escolher o que lhes parecer menos mau, com a certeza, porém, de que será sempre uma má escolha.

4 de outubro de 2022

Água e bananas

Na sequência do caso de suspeição de práticas proibidas por alguns atletas da equipa de ciclismo da W52- F.C. Porto, a imprensa está a noticiar que o atleta João Rodrigues, vencedor do Volta a Portugal de 2019, foi suspenso por sete anos e outros seis colegas ciclistas, entre eles Rui Vinhas e Ricardo Mestre, vencedores da Volta a Portugal em 2016 e 2011, respetivamente, por três anos, pela União Ciclística Internacional.

Ainda não li se a decisão é definitiva ou se passível de recurso.

A propósito, e este é um problema para além de rivalidades clubísticas, o episódio não é novidade e o que não faltam é casos similares no mundo do ciclismo, desde logo à cabeça, o que envolveu o norte-americano Lance Armstrong.

Quando o desporto deixou de o ser, e passou a ser uma indústria de milhões, em que a tentação de vencer a qualquer custo e preço leva a situações destas, tudo deixa de fazer sentido.

E surpreendemo-nos, nós, com estas aldrabices a este nível quando todos bem sabemos que até mesmo entre meros amadores e ciclistas de fim-de-semana há essas tentações de mostrar serviço.

Porque também pedalo e corro, sei de episódios, contados por quem conhece o meio, que para além das vulgares geleias ou gelatinas e outras vitaminas concentradas, para dar poder à coisa, há em alguns grupos partilha de umas certas pastilhitas que dizem dar muito power. 

Obviamente que não generalizando, era o que faltava, mas esta prática extende-se também a outras provas e competições amadoras onde não há qualquer controlo sobre o uso de substâncias inadequadas, em que o artista aldrabão supera o atleta que não se mete em tais aventuras.

Quer isto dizer que o desporto é bom, é salutar ao corpo e à alma, na justa medida e peso, mas quando se pretende fazer dele algo mais, como uma demonstração de super-poderes, de fazer e mostrar coisas bonitas, ainda por cima numa época em que o culto do ego está em alta, todos estamos sujeitos a estas tentações, que mais não seja a reboque da curiosidade, do "deixa-me experimentar". Ora todos sabemos que os vícios nascem sempre dessa curiosidade, dessa experimentação.

Pelo sim e pelo não, até porque nestas coisas não tenho de todo um espírito competitvo, de bicicleta ou a correr, mantenho-me fiel à água da torneira, e muito raramente a uma banana. 

Quanto a gelatinas, compro-as, mas só para os gatos.

29 de setembro de 2022

Futebóis, cães e gatos


A propósito da discussão que anda por aí sobre se Ronaldo, Pepe, Fernando Santos e companhia já estão a mais na selecção portuguesa, se deviam já ter dado o lugar a outros jovens e igualmente talentosos, ou, se pelo contrário, ainda têm muito para dar, tanto agora no Mundial do Qatar, como depois no Europeu de 2024 e ainda de novo no Mundial de 2026 e por aí fora.

Por mim é-me indiferente, mas parece-me que para o caso, não importa confundir reconhecimento e agradecimento. Todos reconhecemos o valor e contributo de todos esses jogadores.

Tudo tem o seu tempo e seu lugar. A indústria do futebol é isso mesmo, uma indústria em que tudo gira em torno de dinheiro.

Eu não vejo a selecção como uma coisa supra-patriótica e transcendental, mas antes um entretenimento. 

É apenas um grupo de jogadores de elite quem vive e ganha muito bem, porventura mais com um prémio de jogo que a maioria dos portugueses a trabalharem toda a vida numa fábrica ou na agricultura.

Não fazem nada de borla e qualquer vitória, só lhes acrescenta mais prestígio e mais dinheiro. Mesmo que num sector estupidamente exorbitante na relação do rendimento/benefício, não os invejo. Só não lhes dou valor acima do que é suposto dar.

São os futebolistas que ganham milhões anualmente, doutores, engenheiros, médicos, investigadores, cientistas, biólogos, etc, etc, que contribuiem para o crescimento da ciência, da saúde, da humanidade? Não! Apenas alguém com habilidade para dar uns chutos na bola. Alguns, muitos, apenas com formação básica.

Por conseguinte, o ponto aqui é tratar-se de pragmatismo.

Ora o pragmatismo nestas coisas indica que há lugar e tempo para o reconhecimento, para o agradecimento, mas também para a renovação. Em suma, seguir em frente.

Mas outros, naturalmente, têm uma diferente opinião. Regra geral são esses que compram o bilhetinho, cachecóis e camisolas, pagam as quotas, leem jornais e assinam canais premium, contribuindo para que toda essa indústria prospere. Alguém tem que pagar os Bentleys, os Porches, os Jaguares, os iates, a vidinha boa da malta da bola, etc. Estão no seu direito e há sempre a quem o dinheiro sobeje.

As coisas são como são. Gosto de futebol, tenho um clube de simpatia, gosto das selecções na justa medida, embora os veja cada vez menos. Seguramente que já não os vejo com lirismos ou paixões exarcebadas. 

Como dizia um antigo spot publicitário "um cão é um cão, um gato é um gato. Tudo no seu justo lugar, tempo e medida.

23 de setembro de 2022

Trilhos e comunicação

Das largas dezenas de bons trilhos que com amigos tenho percorrido, uns marcados, outros apenas seguidos por mapa e sentido de navegação, várias vezes reporto às Câmaras Municipais, Juntas e responsáveis por essas rotas, para alguns aspectos sobretudo os ligados à manutenção, segurança e limpeza. E posso dizer que de vários contactos nunca recebi sequer resposta.

Neste sentido fiquei agradado com a rapidez, simpatia e prontidão da Câmara Municipal de Sever do Vouga a responder a um meu contacto em que para além de elogiar a qualidade de alguns dos trilhos nesses município, alertava para algumas questões de segurança bem como questionava sobre outro trilho que pretendo fazer mas do qual tinha ouvido recentes comentários de que estaria a precisar de limpeza e manutenção já que tendo cerca de 1,5 Km em passadiço junto a um rio, havia uma parte que tinha colapsado.

Pois bem, a técnica respondeu rapidamente falou com o presidente da Junta local que mandou gente ao local e de facto constatou que o mesmo estava com problemas de segurança. Que iriam resolver rapidamente pelo que eu deveria adiar a caminhada, ficando de me informar logo que o mesmo estive transitável.

E assim damos connosco a perceber que de facto há ainda muito défice de prontidão e atenção das entidades para com os cidadão, que há muitos trilhos oficiais que depois de implementados são esquecidos e abandonados na sua limpeza e manutenção regulares, mas há ainda gente atenta, simpática e prestável.

Nesta como noutras coisas nem tudo está bem, mas nem tudo está mal. 

Bem haja a Câmara de Sever do Vouga pela boa comunicação, porque dessa forma é chamar pessoas ao município, dar-lhes a conhecer os seus lugares, as suas gentes e património e em contrapartida levando os visitantes a utilizarem os serviços, o comércio e os restaurantes. 

Infelizmente esta atenção e consideração não é de todo a norma nalguns municípios.

23 de agosto de 2022

O adeus a um ditador

Por mais que se pinte o quadro com tons coloridos, José Eduardo dos Santos foi o líder de uma longa ditadura, por isso ditador. De resto, tal é reconhecido até por uma das próprias filhas. 

Foi uma governação que para além dos malefícios da brutal guerra civil, incapaz de implantar uma democracia plena (e a independência foi já há quase 50 anos), canalizou a imensa riqueza angolana para o aparelho familiar e do estado. Os seus familiares eram autênticos Midas que onde tocassem a merda transformava-se em ouro e diamantes tornando-se ricos e milionários, donos de empresas da esfera do poder. O povo, apesar de um crescimento económico minado por corrupção sistémica e permanente, continua na miséria.

Após a sua morte e depois do folclore à volta do destino do seu corpo, ao que dizem mesmo contra a sua vontade expressa em vida, vai ser mesmo sepultado em Angola.

O nosso (que não meu) presidente Marcelo, vai estar presente nas cerimónias fúnebres. É naturalmente uma participação polémica, mas não surpreende, porque na semântica das palavras e das acções há ditadores que são suavizados e quando muito são classificados como autocratas. 

Curioso que os habituais defensores dos direitos, liberdades e garantias, não andem por aqui a bradar os malefícios do ditador angolano e do rasto de morte e pobreza que deixou no país, apesar de uma retirada quando esgotadas as forças do apego ao poder. 

Os posicionamentos ideológicos sempre tiverem destas coisas paradoxais, como no futebol em que o nosso clube por mais rasca que seja e jogue, é sempre o melhor do mundo. Os outros, é que são os maus. 

Mas que descanse em paz! No fundo, foi apenas mais um e há-de haver sempre ditadores, mais ou menos soft, mais ou menos merecedores de exéquias de estado com gente importante na despedida! O protocolo e as relações internacionais e diplomáticas obrigam a que alguns sapos sejam engolidos.

22 de agosto de 2022

As bandas à banda

 




Na Festa de Canedo, tudo parece ser grande e desmesurado. Apesar disso, algumas coisas são pequenas, pequeninas.

Não se compreende, de todo, que duas bandas filarmónicas, com o prestígio da dos Mineiros do Pejão e da de Lousada, sejam remetidas para pequenos coretos, sem condições aos tamanhos das bandas (sobretudo a do Pejão), com os músicos apertados como sardinhas em lata, sem se poderem mexer. Ainda, por agravo, ali juntinho dos barulhos das diversões.

Caricato e ilustrador disto, o facto do 1.º flautista da Banda dos Mineiros do Pejão (ver foto), à falta de espaço ter que tocar com o braço por fora de um dos pilares do coreto e com os pés mesmo na borda. 

Por sua vez, o homem dos bombos teve que ficar numa espécie de varanda suspensa, acrescentada como um anexo. Algum músico que pretendesse dali sair em emergência, tinha que passar por cima dos colegas e, como um ginasta, transpor o varandim do coreto com os naturais riscos, como vi.

Não sei como os responsáveis pelas bandas acedem e concordam a actuar naquela vergonhosa falta de condições, que os desprestigiam porque desconsiderados. Todos precisam de facturar, mas é triste.

Paradoxalmente, o palco principal, imenso, à sombra, na parte central do arraial, vazio, com os apetrechos da cantora pimba que ali actuará à noitinha.

Paradoxos e exemplos de como as bandas filarmónicas, baluartes da nossa melhor cultura e tradição são tantas vezes assim desconsideradas por organizações com pouca sensibilidade para estas coisas. 

Demasiado mau para bandas com tanta qualidade. Provavelmente não voltarei ali para ver bandas postas à banda.

Há limites!

Que Nossa Senhora deles tenha piedade!

15 de agosto de 2022

Aperta, aperta com ela


Da recente polémica com a gravação de um videoclipe do cantor José Malhoa defronte da igreja matriz de Cortegaça, basta ler alguns comentários nas redes sociais para perceber que hoje em dia não há meios termos nem razoabilidade nas discussões e apresentação de pontos de vista. Há literalmente dois lados da barricada e os argumentos de uns e outros são igualmente extremados e todos se indignam. Apanha por tabela o artista, os padres, a igreja e até o autarca.

Uns defendem que houve abuso e banalização da imagem de um templo religioso como cenário de um cantor de matriz brejeira, e que não raras vezes banaliza nas suas cantigas as figuras a ela ligadas. Nos entretenimentos de José Malhoa, os padres e os sacristãos andam pelos bailaricos a incentivar namoricos, a "apertar com elas” e a obrigar a "rezar porque se ajoelhou".

Outros, mais receptivos a pimbalhadas do que a missas, coisas religiosas e espirituais, defendem o cantor e atacam a Igreja e os padres, "todos uma cambada de pedófilos", sem moral para criticar o inocente Malhoa. Depois, quanto a autorizações ou licenças, parece que toda a gente autorizou e até incentivou a coisa. Há-de haver sempre alguém que julga decidir por todos.

Mas por mim, sobretudo quanto aos mais extremistas, que fiquem a discutir uns com os outros, porque a burros não se deve dar conversa mas palha. Mas sempre digo, porque também tenho opinião, e porque venho do tempo em que me ensinaram que o respeitinho é sempre bonito, cada um deve ocupar o seu lugar. Misturar alhos com bugalhos é que não é de bom senso. Um fio de esparguete é tão inconveniente numa cabeleira como um fio de cabelo no meio de uma "bolonhesa".

Por conseguinte, José Malhoa fazer-se filmar com as suas "acólitas" frente a um templo religioso tem o mesmo cabimento que um coro gregoriano fazer-se filmar no Moulin Rouge.

Mas há quem ache tudo normal e que daí não vem o mal ao mundo e que só por isso tudo se justifica. Certamente que não vem, mas, repito, quando as coisas são feitas com bom senso e respeito por todas as partes e de forma contextual aos propósitos, as coisas funcionam melhor.

De resto, este mal da brejeirice se misturar com a religiosidade é velha e não é apenas de agora e o mal é geral. Tomemos como exemplo a recente actuação dos  "4Mens" na festa do Viso: Sem dúvida que proporcionaram um bom momento de entretenimento, mas o seu grau de brejeirice e mesmo de ordinarice rasca nos seus sketchs ditos “comédia “, não se coaduna de todo com o contexto de uma festa religiosa. Mas porque o povo gosta, ri e bate palmas, tudo parece estar bem e o êxito mede-se sempre por aí. 

Creio que é possível numa festa de base religiosa ter um programa de entretenimento e qualidade artística sem cair no facilitismo da excessiva brejeirice e ordinarice. Por conseguinte, qualquer comissão de festas deve ter sempre algum cuidado na escolha do cartaz, porque numa festa religiosa e de identidade de uma freguesia, há muitas sensibilidades em jogo. Não é propriamente um festival de verão ou um parque temático onde vai quem quer, gosta e paga para isso. De resto, o que não faltam é bons grupos e bons artistas onde a sua qualidade intrínseca não depende de bailarinas esbeltas em movimentos insinuantes, de anedotas ou sketchs ordinários.

Mas este é e será sempre um tema polémico e contraditório, porque a banalização ou mesmo subversão de certos valores, incluindo os da religiosidade de uma festa de aldeia, está em curso já há muito.

Assim, em remate, importará sempre, parece-me, que haja bom senso e equilíbrio nas escolhas e nas decisões. A opção por situações de ruptura e confronto não é de todo positivo. Hoje em dia as sensibilidades estão todas em ponto de caramelo e basta uma gota para fazer transbordar o copo da indignação.

8 de agosto de 2022

O beliscar de direitos - Importa reflectir

O incidente registado há dias na zona onde decorre o evento Viagem Medieval, em Santa Maria da Feira, para além do contexto em que ocorreu e do injustificado e condenável incumprimento das ordem e orientações da autoridade, por parte de um morador, que irrompeu pelo espaço com a sua vistosa viatura, colocando em perigo e segurança física dos agentes e visitantes, deixa, contudo, a meu ver, uma oportunidade para reflectir sobre a coisa.

Em rigor, durante o longo período em que ali ocorre o evento, as pessoas são literalmente impedidas de aceder e circular num espaço que é público. Os moradores têm livre trânsito, era só o que faltava que não tivessem, mas ainda assim com os naturais inconvenientes e restrições. E não é de somenos importância.

Em suma, eu cidadão livre, estou impedido de aceder e circular num espaço público, não a pretexto de um qualquer motivo maior, mas simplesmente porque ali ocorre um evento de entretenimento.

Em situações normais, estes eventos, nomeadamente pela sua duração e massificação de visitantes, deveria decorrer em recinto próprio, como um qualquer parque de diversões. Mas aqui, não. O parque é o centro histórico de uma cidade onde todos deveriam e poderiam circular livremente, sem pulseiras ou sem cobrança de bilhetes.

Mas não é assim e não tem sido assim e por isso lá vamos andado feridos de um direito constitucional de poder circular livremente no espaço público. E no geral achamos isto perfeitamente normal, legítimo e justificado. Quem se levantar a dar opinião contrária, corre riscos de ser atacado como ave rara.

Mesmo que a não frequente nem a aprecie para além do seu valor intrínseco, compreendo e também não me custa a aceitar a génese da coisa, mesmo que pela sempre propalada importância económica, mesmo que o dinheiro não justifique tudo e mais alguma coisa, mas, como seres pensantes, importará sempre reflectir e questionar quando está em causa o beslicar dos nossos mais elementares direitos. Aceitar que o façam de ânimo leve pode ser perigoso e o caminho para uma extrapolação fica mais aplanado. Quando dermos por ela, estamos a ser comidos de cebolada. Ora o estado das coisas, nomeadamente no contexto da pandemia, já mostrou que a limitação e castração de elementares direitos tem sido fácil de aplicar, porque no geral tudo aceitamos como mansos cordeiros. Quem se opõe e se manifesta é crucificado como negacionista, radical e fundamentalista. No fundo é com estas sementes que crescem os regimes controladores.

Haja, pois, sempre bom senso e que não percamos o sentido crítico das coisas mesmo que isso nos possa custar.

Quanto ao resto, nada vai mudar e porventura a tendência será alargar o tempo do evento, quando na maioria das cidades e vilas este tipo de eventos ocorrem apenas em 3 ou 4 dias, num fim-de-semana, o que já parece razoável quanto à limitação de acessoa ao espaço público. 

Por aqui a coisa é interminável e como as pilhas de uma certa marca, dura, e dura e dura.

1 de agosto de 2022

À tripa farra, esfarrapadas


Uma das muitas virtudes em se percorrer trilhos, é que há sempre tempo e oportunidade para olhar, reter e captar pormenores. Afinal, desta forma, um minuto a mais nunca é um minuto perdido, mas ganho.

Ora das muitas coisas que vamos vendo, por este nosso interior próximo, e basta ter em conta o nosso próprio concelho, Castelo de Paiva, Arouca, Vale de Cambra, Sever do Vouga e S. Pedro do Sul, são mais que muitas as estufas abandonadas. Certamente que decorrentes de projectos iniciados com apoios a fundos perdidos e logo que estes terminaram, os projectos foram-se à vida e as instalações e equipamentos abandonados. Os exemplos são mais que muitos.

Ainda há dias, nas margens do Caima, em Vale de Cambra, uma instalação com viveiro de trutas, de grandes dimensões, desactivado e bandonado à lei da natureza, já com os espaços a serem dominados e absorvidos por plantas, silvados e mesmo árvores.

Este tipo de situações estão replicados por todo o país e quase todos têm em comum essa matriz de aproveitamento de fundos perdidos mas, no geral, logo depois, a desactivação, o desmazelo, o abandono.

Esta política de dar à mão-cheia, à tripa farra, foi dominante ao longo dos anos em que temos estado a mamar da teta da União Europeia e todos os seus programas no geral têm dado bom leite e boas mamadas a muitos empresários espertalhões que desapareceram com a mesma rapidez que apareceram.

Admito que por ora as coisas sejam mais controladas e escrutinadas, mas de facto, houve sempre muito esbanjamento, muito dinheiro investido que não deu nada, que pouca ou nenhuma riqueza gerou e se alguém mamou, foram obviamente aqueles que aproveitarem esse jorrar de dinheiro fácil e troco de pouco ou nada. No máximo, o serviço mínimo.

Face a este laxismo, a esta facilidade de lançar mão a dinheiros públicos, as coisas são como são e por isso, viveiros e sobretudo estufas, são mais que muitas por aí abandonadas. Têm um único aspecto positivo. O de servir como exemplo de más polítcas e de maus empresários. Enfim, o exemplo do que não deve ser feito sem rigor e sem compromisso e responsabilidade.

29 de julho de 2022

Acudam, que é lobo!

Tantas vezes somos confrontados por aqui com alertas dramáticos de crianças ou jovens desaparecidos.

E muitos, solidários, envolvem-se nas partilhas desses alertas. Ainda bem! Para estas coisas as redes sociais são boas.

Felizmente, na maior parte das situações, como o agora recente caso do adolescente de Arouca, os desaparecidos acabam por aparecer, na maior parte das vezes regressando a casa depois de umas saídas com amigos ou amigas, debaixo da irresponsabilidade de uma aventura sem avisar os pais.

Nestas coisas vemos muito da fábula do Pedro e o lobo em que às tantas, por tantos falsos ou injustificados alarmes, acabamos por não ligar patavina aos alertas.

Neste caso de Arouca, ainda bem que acabou bem, mas importaria a quem se dedicou à partilha, fosse informado do que realmente aconteceu. Foi caso de polícia, de saúde, acidente, tentativa de rapto, desorientação, ou mesmo mais um caso de aventura irresponsável por conta própria?

Mas, realmente o que importa, para lá das reflexões que possa suscitar, ainda bem que acabou bem.