30 de janeiro de 2024

Fonte de emoções

Há muito que me desacreditei da verdadeira utilidade ou motivo fundado das redes sociais, como o Facebook, e assim por entre pausas sanitárias lá vou ganhando fôlego para um novo mergulho e retomando a ligação, já não tanto para beber, que as fontes ou estão secas ou inquinadas, mas apenas como alguém idoso que à sombra de um beiral de uma casita de esquinas coçadas de algumas das nossas aldeias interiores e quase desertas, ainda aponta com sentido de utilidade a direcção certa para uma sítio ou curiosidade que um ou outro turista de roteiro nas mãos procura mas não encontra. - Ali à esquerda, ao fundo daquela vereda e depois a cerca de 100 metros a subir, corta à direita e vai descendo até encontrar do lado esquerdo! Não tem que enganar!

Em suma, já pouco de verdadeiro e de talento próprio que mereça a atenção, ali desagua, mas de quando em vez lá surge um vislumbre de que ainda há gente que para lá do seu umbigo partilha coisas interessantes e em resposta alguém expressa reconhecimento, acrescenta valor ou até se emociona. 

Ainda há dias, fora da lista de "amigos", alguém partilhava por cá um pedaço de prosa do José Saramago, a parte inicial do seu discurso aquando do recebimento do Nobel da Literatura, a descrever os seus avôs e os seus modos de vida e de pensamento parante a mesma, a ponto de dormirem com os porcos pequenos na mesma cama, não por questões de afecto mas tão somente para, preservando-os do frio, aumentar as suas possibilidades de sobrevivência e que depois de criados e vendidos seriam eles próprios pão-nosso-de-cada-dia dos criadores. A este pedaço de prosa, que poucos leem porque mal habituados a frases curtas e grossas, alguém respondeu "...que emocionante". 

Sim, de facto, até eu que não tenho em Saramago a leitura mais favorita, quando já havia lido o seu discurso, deliciei-me de princípio ao fim e também me emocionei, não pela qualidade da escrita mas por toda aquela cena, aquele quadro de vida, ser autêntico e com gente verdadeira. Era na Azinhaga do Ribatejo mas poderia ser aqui em Guisande, no Viso, no Reguengo ou em qualquer outro lugar no tempo dos nossos avôs e bisavós. A vida era de miséria e trabalho duro mas era plena e na mais profunda ligação entre o ser humano, a terra e os animais. Não tenho memória de lá por casa se ter dormido com porquinhos mas dormiu-se várias vezes no aido ao lado vacxa que estaria para parir.

Também eu, de talento escasso face à grandeza de Saramago, poderia aqui tentar descrever cenas desse tempo, de gente dessa cepa retorcida, em que nos poucos momentos em que o corpo não podia recusar o descanso, as noites eram passadas a olhar um tecto de estrelas e apesar da ignorância das letras e das ciências, o homem de antanho questionava Deus sobre todas as coisas e o sentido delas. Se antes de adormecer o corpo cansado era todo ele um poço de dúvidas, logo que volvidas poucas horas e o sol já a despontar pelos pinhais, a bater nas janelas ou por entre as folhas da árvores da horta, tinha na ponta da língua todas as respostas ao que era preciso fazer para mais um dia assegurar a sua sobrevivência e dos seus. Cuidava dos animais e dos filhos com o mesmo peso e medida e das coisas da terra tratava como um mestre, esclarecido e sem dúvidas. Se delas  persistia uma ou outra num momento de distracção dos afazares, à noite voltaria a questionar o Criador. 

A fonte das emoções jorra caudalosa mas são poucos aqueles que dela se abeiram com sede.

Atrás dos sonhos a coxear


Amiúde, porventura com uma frequência que mais que incentivar só banaliza, lá vamos ouvindo e lendo que não devemos deixar de ir atrás dos nossos sonhos e que importa sempre não desistir de lutar por eles. O que não falta nos livros são pensamentos sobre os sonhos, mais ou menos lineares ou filosóficos como o de Fernando Pessoa: "De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos" ou do António Gedeão com o intemporal "O sonho comanda a vida" no poema da "Pedra Filosofal".

Mas qual quê? Todos os sonhos ou só aqueles que é lícito pensar como exequíveis e no tamanho da nossa natural passada? É que também sempre fomos ouvindo como conselho que não é sensato dar passos maiores que as pernas, vender cabritos de cabras que não temos e que quem alto sobe mais dói a queda. Há ainda a fábula do sapo que queria ser boi a ponto de se insuflar até estourar. Como se não bastasse, ainda a realidade pura e dura sempre a dar lições mesmo que nem todos queiram aprender.

Além do mais, ouvir tais conselhos em ir atrás dos sonhos por parte de quem vive num mundo de fantasia, onde as nuvens são cor de rosa como as revistas que existem para falar deles próprios, não é lá grande pistola. Ou isso ou ler com todas as letras em livros de auto-conhecimento e auto-ajuda, como se os seus autores sejam gente experiente tanto na na caça aos sonhos como aos gambuzinos, desinteressada e metida a distribuir incentivos como a repartir fortunas ou a ensinar os truques e segredos de como as alcançar. Sempre fiquei de pé atrás quanto a maluquinhos que vendem a troco de tostões curas milagrosas, receitas milionárias, galinhas de ovos de ouro, heranças de príncipes tribais africanos, etc. Mas isto sou eu e poucos mais, porque no geral o que não faltam por aí é vítimas de sonhos, de aldrabices, contos do vigário, vendedores de banha da cobra, desde os mais suspeitos aos mais respeitáveis atrás de balcões de instituições, bancárias incluídas. Mas pior do que essa gente "preocupada" com os nossos sonhos é haver quem, mesmo acordada e de olhos abertos, se deixe embalar no dorso de unicórnios e cristas de dragões.

Os sonhos, para além dos aspectos e interpretações filosóficas e poéticas, são isso mesmo, sonhados a dormir ou  bem acordados, mas quase sempre longínquos e inalcançáveis que não por sortilégio de muito trabalho, de um grande prémio nos jogos da Santa Casa ou de ambos. Ora nos dias que correm poucos são os que chegam aos calcanhares dos mais ambiciosos sonhos apenas com vontade, trabalho e dedicação. No resto andamos todos a sonhar acordados, a fazer viagens a tudo quanto seja canto neste planeta esférico, a olhar as horas em relógios de ouro, a passar umas noites com as mais belas modelos, a pernoitar nas mais luxuosas suites, a ter segundas e terceiras casas em paraísos turísticos, um portefólio de máquinas como motos, carros, iates e jactos.

Ora, ora! Isso será apenas para alguns, pelo menos para o 1% das figuras que detêm 99% da riqueza mundial, onde talvez para além dos Musks, Gates, Bezzos e Zuckerbergs, estejam por lá o Ronaldo e o Messi. Para os restantes 99% resta-lhes, quando muito, irem sonhando os sonhos dos outros.

Não fora a importância da realidade e do ter ambos os pés bem assentes na terra, e também eu andaria ocupado a correr atrás de certos sonhos. Mas porque raio não sonho em ter fortuna material, casas, carros, motas, relógios e milhões no banco? Logo só me dá para sonhar em voar como as águias, correr como um alazão, saltar como o Spiderman, poder tornar-me invisível, viajar através do tempo, percorrer pelo universo como o Superman, etc, etc, como se fora um dos milhentos herói da Marvel. Que raio de sonhos! É que para estes não há receita que os transformem em realidade e por isso só mesmo sonhando, de preferência a dormir.

Em resumo, a mim, e creio que a todos, bastará ter saúde e ser feliz com o que temos, usando de honestidade e honradez e sem prejudicar os demais, mas haverá sempre quem ache isto sonhar rasteiro e sinal de falta de ambição e daí não surpreende que os sonhos de uns se concretizem com o atropelo e pesadelo de outros. Talvez por isso haverá sempre e cada vez mais no nosso modelo de sociedade ocidental uma legítima justificação dos meiso face aos fins, como parafraseava Maquiavel. Talvez...

29 de janeiro de 2024

Poesia?


Soubesse eu de poesia. Num quarteto, soneto ou ode, pronto soprava para longe o nevoeiro que cega e entontece. Soubesse eu, mas não sei.

Cavo na prosa, que não é de brisas, antes de pesos, arrastos, algemas e grilhetas. Desconhece a inspiração. Nada lhe vem do alto ou do sublime, é obra de enxada em terra dura, com morosidades de boi antigo nas voltas da nora.

Obriga-me a escrever beijo, quando por vontade escolheria ósculo. Falo de lusco-fusco, envergonhado de dizer arrebol. Mas poeta não é qualquer, nem quem quer, só aquele que as Graças favorecem.


J. Rentes de Carvalho

Eufemismos, penso eu de que...

Não deixa de ser um eufemismo, no mínimo engraçado, que alguém com 86 anos de idade e presidente  de um clube há mais de 40 anos, numa governação em rigor sem oposição de peso em actos eleitorais , se recandidate a um novo mandato com uma premissa de "renovação" e logo quando do outro lado o candidato que lhe ousa fazer frente é gente jovem. 

O passado, a experiência e as idades dizem sem esmorecimento que é mais do mesmo, mas o sentido que queremos dar às coisas ou às palavras valem  o que valem. Se dizem que será "renovação", seja. Não os contrariemos. O teste do algodão não engana e nestas como em muitas outras coisas só se deixa enganar quem de tal gostar. De resto, pela consideração e quase idolatria à figura em questão pela maioria da massa adepta, para voltar a vencer mesmo que com a oposição de um jovem, não tinha necessidade de trazer a "renovação" à equação porque cheira a falso. Bastaria dizer que continuaria a ser ele próprio e mais do mesmo porque a receita consideram-na positiva. Não havia, pois, necessidade do pingarelho da "renovação" até porque só serve para enganar tolos. Mas compreende-se porque a idade não perdoa.

Enganem-nos, que eles gostam!

O talento já foi chão que deu uvas


O talento pode ser definido como uma habilidade natural ou aptidão excepcional para realizar alguma atividade com destaque, muitas vezes demonstrando facilidade e excelência em comparação com os outros.

Além disso, o talento pode ser inato ou desenvolvido ao longo do tempo por meio de aprendizagem, prática intensiva e experiência. Ele pode manifestar-se em diversas áreas, como artes, desportos, ciências, e muitas outras, contribuindo para o sucesso e realizações individuais. O reconhecimento e cultivo do talento são fundamentais para o crescimento pessoal e profissional de uma pessoa.

Durante muito tempo a expressão do talento era ela própria, inconfundível, intrínseca. Quem o tinha, tinha e quem não, não. Mas desde há alguns anos e sobretudo agora com as ferramentas tecnológicas e a Inteligência Artificial a dar cartas, tanto ao nível do conhecimento em geral como na capacidade de produzir conteúdos gráficos, num instante somos todos artistas e criativos e um qualquer Zé da Esquina que nunca foi capaz da mais singela criação artística, ao nível de uma criança no Jardim de Infância, é agora poeta, desenhador, pintor, fotógrafo requintado, etc.

São, pois, tempos perigosos estes em que os vendedores da banha da cobra misturam-se a fazem-se passar por talentosos criativos. Os Photoshops vieram retocar e transformar o velho em novo e feio em bonito, mas até aí era necessária capacidade e mesmo talento para o processo. Apesar da perversão, são talentosos os pintores que falsificam quadros. Já com a AI (Artificial Intelligence) e com os inúmeros serviços que dela se aproveitam, basta pedir à lista o que se quer, desde um quadro com uma criancinha a dormir com um gatinho, uma paisagem deslumbrante ou exôtica até uma Taylor Swift em poses pornográficas, como tem sido noticiado, com milhões de visualizações, levando a indignações e reacções como a do CEO da Microsoft, Satya Nadella, que afirmou numa entrevista que considera “alarmante e terrível” a perspectiva de começarem a circular imagens geradas por Inteligência Artificial de nudez não consensual. 

Certo é que mesmo apesar das entidades governamentais e reguladores mostrarem que estão preocupadas com as perversidades da IA, a verdade é que a bomba já foi lançada e os estragos são e serão irreparáveis porque a experiência diz-nos que isto não vai parar. Poderia parar numa China, Rússia ou Coreia do Norte, mas não nos países onde a democracia não consegue cortar certos males pela raíz ou desfazer conceitos politicamente correctos. No fundo, para o bem e para o mal, temos que colher o que semeamos.

Neste contexto, neste mundo inundado de "merda talentosa", como diz uma certa cantiga (creio que de José Augusto), "Agora aguenta coração".

28 de janeiro de 2024

Nota de falecimento - Maria Fernanda dos Santos

 


Faleceu Maria Fernanda dos Santos, de 76 anos de idade [30 de Março de 1947 a 27 de Janeiro de 2024] que residia na Rua do Cruzeiro, lugar de Fornos - Guisande. 

Filha de Joaquim António dos Santos e de Gracinda dos Santos Serralva. Neta paterna de Manuel António dos Santos e de Joaquina Gomes de Jesus e neta materna de Domingos dos Santos Serralva e de Margarida Felizarda de Resende.

Mãe de Maria Isaura dos Santos Mota, Baltazar Manuel dos Santos Mota, Adélio dos Santos Mota, Idalina Fernanda dos Santos Mota, Rosa Maria dos Santos Mota e Inácio António dos Santos Mota (falecido)

O funeral terá lugar na próxima Terça-Feira, 30 de Janeiro pelas 16:00 horas com cerimónias na igreja matriz de Guisande, indo no final a sepultar no cemitério local.

Missa de 7.º Dia na próxima Sexta-Feira, 2 de Fevereiro de 2024 na igreja matriz de Guisande pelas 18:30 horas.

Sentidos pêsames a todos os familiares, de modo particular a seus filhos. Que Deus a tenha em eterno descanso!

Não há pachorra


Entre o que se vai passando na Madeira  dos Albuquerques e Calados, com os Cafofos já a aprontarem-se para um segundo round, e a campanha eleitoral nos Açores com Cordeiros e Bolieiros nos lados opostos da barricada, por cá também em pré-campanha, de um lado e doutro vamos ouvindo umas fogachadas, como se nós, eleitores, sejamos todos uma cambada de mentecaptos incapazes de distinguir certas coisas.

Por exemplo Pedro Nuno dos Santos, o neto do sapateiro, candidato a primeiro ministro pelo partido Socialista, diz que há cinco autoestradas (SCUTs) em que vai deixar de se pagar portagens no caso de o PS formar governo nas próximas eleições. E justifica-se de que os anteriores governos fizeram uma "maldade aos portugueses". E afirma-o com uma convicção tal que parece alheio ao facto do seu partido ter governado o país nos últimos 10 anos, dele fazendo parte, como se não fora tempo bastante para, logo no primeiro ano, concretizar o que uma década depois promete. Parece igualmente ignorar, ou esperar que não nos lembremos, que tal promessa havia sido já feita pelo seu correligionário António Costa em 2015 e que nunca foi cumprida. Realmente, uma maldade nunca vem só asim como a falta de memória.

Da esquerda à direita, passando pelos extremos, vamos assim assistindo a um bombardeamento de atoardas que mais do que incentivarem ao voto quando o calendário marcar 10 de Março, convidam, em boa verdade, à abstenção, ou então ir votar e nos boletins, em vez da cruzinha no sítio certo, desenhar uns manguitos ou uns erectos marsapos.

Não há pachorra!

Herança dos afectos

Sou resultado de um tempo e de uma educação em que o lugar a carinhos e outras expressões de afectos filiais ou de outra natureza, eram escassos ou distribuídos com parcimónia. De um filho esperava-se que, logo que com passos firmes, cabeça com entendimento  bastante para compreender e aceitar ordens e corpo capaz de suportar tarefas,  fosse mais um criado de servir a casa e ajudar na parca economia arrancada da terra, mitigada nas tetas de uma vaca ou nos ovos que se confirmavam com o mindinho estarem no cu da galinha. 

Era assim no tempo dos nossos pais e antes deles, dos seus e nossos avós. Por conseguinte de uns para os outros foi passando esta herança de poucos recursos incluindo os afectos. Não surpreende por isso que a muitos, a juntar à fome, miséria e trabalho duro, se somassem valentes coças, daquelas que enegreciam o corpo mas que, paradoxalmente, a dar forma ao ditado de que "o que não mata engorda", ajudavam a formar gente dura e resistente ou, como modernamente se diz, resiliente.

Decorre destas ideias de que no geral somos fruto do tempo e das condições dele em cada época da nossa história e sociedade. Uma macieira dá maçãs e uma oliveira azeitonas. É, se quisermos, a ordem natural das coisas e mesmo da natureza.

Pela parte que me toca e creio que dos meus, nunca houve fartura, daquela que mesmo hoje em dia qualquer classificado como pobre, dispõe e até esbanja se não for da sua medida e agrado, mas também nunca se passou fome, nem necessário foi andar descalço, roto e despido, mesmo que as roupas de uns se acomodassem a outros. E também nunca houve maus tratos e coças para além das que hoje em dia faltam por defeito para repor algum sentido de disciplina e responsabilidade. Os afectos esses eram expressos pela sopa com pão colocada na mesa, pela roupa lavada e remendada, por um brinquedo, mesmo que simples, num momento especial, pelo aconchegar a roupa na cama em dia de frio, pelo lugar ao lado da fogueira em noites de frio, pelo rato de chocolate pelo Natal, por uma amêndoa na Páscoa. O resto, abraços e beijinhos, esses eram interiores e não havia tempo para eles. Sentiam-se mutuamente numa centelha espiritual mas raramente física.

Quanto à mão estendida para rectificar a indisciplina, lá sabem agora os novos o que isso é? De resto ainda por estes dias foi notícia de que as autoridades apreenderam nas nossas escolas algumas dezenas de armas entre os alunos (e nestas coisas apenas uma pontinha do icebergue). Além disto, notícias de agressões, como ainda agora no Vimioso, e de alunos a professores, tornaram-se banais e inconsequentes. As escolas, convenhamos, são tudo menos exemplos de disciplina e boas maneiras e mesmo no que ao ensino diz respeito, basta atentar nos resultados, com serviços mínimos ou mesmo negativos. É o que é. Um burro nunca há-de ser cavalo.

Mas onde queria chegar? À questão da herança dos afectos. Se nesses tempos passados foi como resumi, e cada um terá a sua própria memória e experiência, no geral os que assim foram moldados e cresceram raramente são expansivos na  manifestação para com os seus. Não porque não os tenham ou sintam, mas porque os consideram como supérfluos ou mesmo inúteis. De resto os sentimentos na sua essência são invisíveis quanto mais profundos. Se um filho não chora ao lado do caixão de um pai ou mãe é porque a sua dor é interior daquela que dilacera por dentro. Ao contrário, sem qualquer ligação afectiva, é ver algumas carpideiras agarradas aos mortos ou aos vivos num choro e numa dor patéticas e desproporcionadas porque fingidas ou encenadas.

Os tempos mudaram e a avaliar pelo que se vai vendo, nomeadamente pelas redes sociais, parece que hoje em dia é que as pessoas sabem amar e ser carinhosas. É só paixão, amor e carinho, abraços e beijos a filhos, a amantes e namorados, juras de amor, algumas patéticas porque inconsequentes. Mas vive-se disto, destas aparências, e para mal dos nossos pecados no geral não passa de uma teatralização onde se espera que as plateias aplaudam demoradamente. É certo que não será por aqui que virá o mal ao mundo e nestas coisas é como a presunção e água-benta que cada um toma a que quer, mas o artifício, como o fogo dele, é sempre efêmero, mesmo que deslumbrante e colorido por uns lapsos de segundo.

Conselho Económico Paroquial - Nova equipa

Nas missas deste fim-de-semana, o nosso pároco Pe. António Jorge divulgou a composição do novo Conselho Económico Paroquial com mandato para o próximo quinqénio.


Presidente: Pe. António Jorge Correia de Oliveira

Secretária: Sara Patrícia Santos Conceição

Tesoureiro: Carlos dos Santos Almeida

Vogais:

Johnny Deivis Baptista de Almeida

Manuel Arménio Santos Moreira

Pedro Baptista Alves


Para além das responsabilidades correntes, face à necessidade de realização de obras, tanto na capela do Viso como na Igreja, e mesmo no salão paroquial, a euipa terá responsabilidades pela frente  pelo que desejamos votos de bom trabalho e colaboração mútua.

Quanto à qualidade e competência dos novos membros quanto às funções agora assumidas, será a sua acção a prová-las, mas, por princípio, creio que as têm.

Quanto à composição em abstracto, se me é permitida uma simples opinião, parece-me que seria importante e enriquecedor que dela, ou de qualquer outra similar, fizesse parte alguém mais velho, ou usando um moderno eufemismo, alguém senior, sobretudo experiente e conhecedor da matriz e de alguns dos valores identitários da nossa paróquia que foram cimentados ao longo de décadas. 

Em todo o caso, são sempre critérios e decisões que cabem apenas a quem tem essas responsabilidades. Importa é, no interesse geral, uma boa e transparente contabilidade e gestão dos dinheiros da paróquia de acordo com as necessidades correntes ou estruturais como obras de conservação e requalificação do nosso património paroquial.

Votos de bom trabalho!

27 de janeiro de 2024

Olhares - Espigueiros numa manhã de sábado

 


A minha alma é celeiro 

Onde te recolhi madura

Como grão primeiro

De uma ceifa pura.

Na essência do repartir

Foste à terra amante,

A germinar, a florir,

A dar fruto abundante.


AA-24012024

26 de janeiro de 2024

Há dias assim


Ele há dias em que damos connosco próprios a questionar do motivo do sentido da nossa existência, senão na vida, pelo menos naquele instante, tal é o peso da indiferença e o vazio que se sentem. Se estamos aqui já pensamos em estar ali, mas se lá chegados logo uma vontade de estar acolá e mais além e assim em todos os lugares e em lugar nenhum ou, numa divina ubiquidade, a de estar em todos simultaneamente. Mesmo se nos dispomos a fazer algo, físico ou mental, logo surge uma vontade de nada fazer ou porque isso implicará inspiração que não brota, forças que não sentidas ou então por falta da faísca que dá sentido e finalidade às coisas.

Se o tempo está com fraca cara, chuvoso e frio, a coisa quase se justifica à modorra e imobilidade, mas se o tempo está bom, ameno e soalheiro, ainda atentamos em dar uma caminhada, um passeio ou simplesmente ir ao jardim ou à horta ver as rosas a desabrochar ou a fruta a crescer, mas nesses momentos tudo nos parece na mesma e a natureza para nos maravilhar precisa de tempo, noite, dias, semanas e meses e não temos a paciência necessária para a ver dar frutos assim num repelão só porque nos apetece.

Há, de facto, dias assim, em que mesmo nada nos doendo nem preocupando, sente-se um vazio no corpo e na alma ou, então ao contrário, um sentimento de que estamos cheios de nada.

Festival RTP da Canção - Mais do mesmo


O "Festival RTP da Canção" parece que vai fazer agora 60 anos, sendo considerado o programa de entretenimento mais antigo da televisão portuguesa. Começou em 1964, então como "Grande Prémio TV da Canção Portuguesa".

Costuma-se dizer que em equipa que ganha não se mexe ou como numa boa receita de culinária não se toca, mas como neste aspecto a nossa RTP nunca acertou com os ingredientes certos nem com o tempo de cozedura, desde que a nossa televisão começou a ser colorida, o seu festival de canções inverteu-se e desde então tem sido de um cinzentismo escuro e nem os cada vez maiores palcos, quantidade de luzes e efeitos, tamanho dos cenários estapafúrdios e virtuais e ainda o desfile de apresentadores e apresentadores em trajes de gala e com generosos decotes, têm trazido luz e cor à coisa.  E sobretudo qualidade.

Além do mais, quando se põem os tele-espectadores a decidirem a coisa com telefonemas que dão boa receita, tudo se conjuga para que não passe anualmente de um entretenimento sem grande interesse no que a qualidade musical e artística diz respeito. Depois, invariavelmente, o teste no palco europeu do Eurofestival, também repetidamente, com raras excepções, confirma que não fomos talhados para estas coisas e assim temos andado lá pelos fundos da tabela e a ouvir dos júris: Portugal, one point!

A vitória do Salvador Sobral em 2017 foi de facto uma muito boa excepção, a confirmar a regra, por um conjunto de motivos, mas mesmo ela sem qualquer deslumbramento e também a fazer prova que pelo teste europeu a coisa tem andado nivelada por baixo. De resto, tanto na Europa como em Portugal, que lhe segue as tendências, este concurso na sua essência há muito que deixou de ser musical em detrimento de uma miscelânia mediática de efeitos visuais que se permitem arregalar os olhos também entopem os ouvidos.

Mas é o que é e não passará disto por mais que todos os anos, como aprendizes de alquimistas, se inventem novas fórmulas e se arregimentem velhas e novas caras. 

Neste ano de 2024 parece que vão ser 20 autores que simultaneamente são apresentados como compositores e intérpretes, como se isso seja garantia do que quer que seja. 14 terão sido escolhidos pela RTP e os restantes por submissão directa. Há muito que até essa componente democrática dos primeiros anos, em que em teoria qualquer um poderia concorrer, acabou e os critérios de escolha têm sido manhosos ou discutíveis. Até tivemos (em 1976) um único cantor (Carlos do Carmo) a interpretar todas as músicas. O próprio nome do festival foi alterado várias vezes e somente a partir de 1979 é que se fixou no actual mas mesmo assim agora tratado apenas como "Festival da Canção" seguido do ano correspondente. Não se pode, pois, dizer que não tenhamos tentado de todas as formas e feitios. Seja como for, basta atentar no nome de alguns dos artistas para o concurso deste ano de 2024 para se adivinhar o que aí vem: Assim vamos ter um Bispo, um Buba, um Huca, um Borch, uma Mila, uma Mela, um No Maka e um Silk, entre outros. Bem sei, são só nomes, mas agora parece que quase ninguém tem nomes próprios.

Não tenho nenhum preconceito com este festival e muito menos com a música portuguesa. De resto musicalmente não sou preconceituoso e tenho apenas dois tipos, a que gosto e a que não gosto. É certo que a que gosto é rara como o atum em mar de sardinha, mas há ainda boa música e músicos e daquela e daqueles que não precisam dos empurrões dos média que como Midas, num toque de mágica, transformam merda em ouro. O que não falta por aí no panorama musical português é merda, mas, se servir de consolo ou atenuante, da boa. Mas, como qualquer coisa que se vende, é porque há quem compre ou consuma.

Posto isto, dê as voltas que der, este velhinho Festival RTP da Canção não passará de um pingarelho anual, uma laranja seca da qual se procurará extrair sumo que não tem, sendo que nestas coisas haverá sempre Fanta e outros refrigerantes que parecerão saborosos mesmo que sintéticos e a fazerem mal aos triglicerídos e colesterol e ainda a aziar a vesícula.

25 de janeiro de 2024

Guisande F.C. - Liga Masters AFA - Jornada 9

 

Após a realização da partida 9, em que no passado Sábado, 20 de Janeiro de 2024, recebeu a ADC Sanguedo, em que não foi além de um empate a zero golos, o Guisande F.C. Veteranos segue praticamente a meio da tabela com 9 pontos, o que corresponde a uma média de 1 ponto por jogo. A classificação acima mostra que há várias equipas com diferentes números de jogos o que de algum modo a torna provisória.

Considerando as maiores exigências desta prova, o nosso clube tem tido uma participação muito positiva o que é de enaltecer.

Centro Social - Assembleia Geral a 23 de Fevereiro de 2024

 


Considerando-se que na Assembleia Geral de 29 de Dezembro passado não apareceu qualquer lista candidata aos corpos gerentes da Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande, para o quadriénio de 2024/2027,  a associação encontra-se num regime provisório de Comissão Administrativa. 

Neste contexto e propósito de novas eleições, convoca-se nova sessão para o dia 23 de Fevereiro de 2024, pelas 20:00 horas, nas instalações do Centro Cívico, no Monte do Viso. Os associados interessados em assumir e dirigir os destinos da colectividade devem apresentar as suas listas e submeterem-se a eleições nos termos definidos pelos estatutos.

Alguém anda a roubar o meu naco

Segundo dados relativamente recentes da FAO - Organização para a Alimentação e Agricultura, uma agência especializada das Nações Unidas, Espanha e Portugal são os países que a nivel mundial mais carne comem. Estima-se que cada português consome em média 95 Kg de carne por ano, o que dá a bonita parcela de 260 gramas por dia, o que equivale a dois bons bife. Desta quantidade, quase metade corresponde a carne de porco e a restante entre a de origem bovina e de aves.

Faço as minhas contas e, mesmo contando com um ou outro exagero em dias festivos, não consigo chegar nem de perto a esses números e quantidades per capita, desde logo porque habitualmente o peixe entre com regularidade nas ementas cá em casa e mesmo quando carne pouco mais que 100 gramas já limpa de ossos. Além disso, por vezes, muitas, nem carne nem peixe e apenas um simples ovo ou umas pataniscas vegetais. 

Em resumo, as contas são fáceis de fazer e acreditando na FAO chego à conclusão que há muitos anos alguém anda a comer a quota parte a que tinha direito. Que há por aí muitos comilões a irem com frequência ao Zé de Ver, sei que há, mas assim a roubarem descaradamente a minha parte, o meu naco, ficando eu com a fama de comedor mas sem o proveito, é que não! 

As médias nas estatísticas têm esta particularidade, a de pagarem todos pela mesma medida e por elas até os vegetarianos comem carnes.

24 de janeiro de 2024

A palavra de um homem já não vale um molho de grelos

Neste último Sábado, não sei se repararam mas esteve um bonito dia de sol, como já não há algum tempo. Assim, porque isto de pedalar só é prazeroso se pelo menos com sol, lá tirei a bicicleta do sossego e lançámo-nos à estrada.

Ía ali por Cesar, já próximo das onze horas, quando me aproximei de um outro ciclista de fim-de-semana e porque se rolava no plano metemos conversa. Disse-me que já tinha subido e descido a Freita. Como os ciclistas tendem a exagerar  nas suas façanhas, respondi-lhe que também já tinha ido a Arouca e subido à Senhora da Mó, pelo que já trazia uns valentes quilómetros nas pernas e apanhado um frio do caralho. É certo que já subi à Senhora da Mó pelo menos uma meia-dúzia de vezes e mais do que isso à Freita, mas não nesse dia. 

Lá aceitamos como verdadeiras as gabarolices mútuas e com naturalidade continuamos a conversa, de onde era, idade, peso, etc, coisas relevantes para quem pedala. Disse-me que vivia ali pelos lados do Loureiro, de Oliveira de Azeméis, e seria um pouco mais novo e bem mais leve do que eu.

Já na estrada de Vale de Cambra para S. João da Madeira, ali por Pindelo, viu na berma um vendedor de frutas e legumes e ao ver uns bons molhos de grelos disse que ía parar para comprar. Achei estranho e fiquei curioso em como é que havia ele de transportar um molho de grelos até ao Loureiro. Talvez com a saca pendurada no volante, amarrada no quadro ou enfiada dentro da jérsey o que lhe daria um ar de barrigudo, mas que seria seguramente um empecilho. Mas lá parei com ele para assistir ao negócio, até porque também gosto de grelos, mas seguramente que não os compraria ali pela simples razão de não ver como os transportar e ainda longe de casa e com subidas pela frente.

Lá viu os grelos, pediu o preço, e dispô-se a levá-los e já os imaginava verdes, tenros e fumegantes a fazer companhia a uns rojões, mas quando ía para pagar deu conta que não tinha levado a carteira nem dinheiro. Então, porque pretendia ainda ir a tempo de a esposa os meter na panela ao almoço, questionou o vendedor se os poderia levar e que pela parte da tarde teria que ir a Carregosa pelo que passaria por ali e pagaria os grelos. Ora o vendedor, já estranhado por ver um ciclista em calças de licra a comprar grelos na berma da estrada, não lhe confiando na palavra, disse que não poderia fazer isso, que tivesse paciência. Que passasse ali depois do almoço, que ainda deveria ter, e que se quisesse até os reservava. O ciclista, desconsiderado e desacreditado na palavra e porque os pretendia comer ao almoço, desejoso com uma mulher prenha, virou costas e desistiu dos grelos. Pouco depois despedimo-nos. Ele cortou à esquerda  na variante e atalhou para Oliveira de Azemeis e eu para Cesar a caminho de casa.

Pela subida até ao Mergulhão, não pude, entre sorrisos e algum espanto, deixar de rever aquela cena, algo caricata mas que teve um significado profundo, o de que por estes tempos a palavra pouco ou nada vale. Noutros tempos a palavra dada era sagrada e honrada e até se pagaria com a vida se não cumprida, como aprendemos com o quadro histórico de Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques por quem dera palavra ao rei de leão e Castela, Afonso VII, para este levantar o cerco a Guimarães. O jovem príncipe recusou a vassalagem prometida e o aio ficou em incumprimento da sua palavra e honra e desse modo apresentou-se com a sua família de corda ao pescoço perante o rei castelhano, como penhor da sua promessa não cumprida.

 Mas isso foi noutros tempos e de gente que levava a palavra jurada a sério. Pelo contrário, nos tempos que correm a palavra de honra  já nada vale, nem sequer dois euros e meio, o preço de um molho de grelos.

19 de janeiro de 2024

Olhar a Igreja

 


Vista do lugar da Igreja a partir de Cimo de Vila

Jornalismo isento e independente? Onde?

A propósito da crise do grupo Global Média, que ameaça terminar com importantes títulos da nossa comunicação social, como os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias e ainda a rádio TSF, tem havido várias discussões, reflexões, análises e diferentes pontos de vista e ainda ontem o histriónico inquilino do Palácio de Belém discursou sobre isso na abertura do 5.º Congresso dos Jornalistas. 

Do que se tem falado, e porque uma grande parte de quem opina sobre o assunto é jornalista ou com ligações aos média, considera que o Estado deve apoiar a comunicação social porque uma imprensa livre e independente é necessária ou mesmo indispensável à democracia.

Pessoalmente, mesmo defendendo uma imprensa livre e independente, sou contra qualquer apoio do Estado e suas instituições a empresas privadas ditas dos média, seja rádios jornais ou televisão. E desde logo precisamente para garantir a tal independência. Pareceu-me claro, e a muitos, creio, que no período de pandemia em que o Estado decidiu distribuir umas boas massas pela comunicação social, tivemos a partir daí um jornalismo notoriamente favorável ao Governo. É que estas coisas, favores, mordomias ou prendas, pagam-se, porque a este nível ninguém quer arriscar a ser cão que morde a mão do dono ou de quem lhe dá pão.

Considero, por isso, que a comunicação social, como qualquer outro ramo, deve fazer pela vida adaptando-se às regras do mercado em cada momento, com inovação e qualidade que despertem o interesse pelo consumo e no respeito dos valores democrátios e deontológicos inerentes à profissão. Quem não for capaz disso então deve procurar outra área e os jornalistas sem trabalho têm outras opções e não falta trabalho na área da construção civil ou noutros sectores. Também a este nível profissional, as coisas têm que se adaptar às leis do mercado. Porque terá que ser diferente?

Ainda há algum tempo eu fui assinante de jornais online, nomeadamente do DN e do Correio da Feira e acabei por desistir porque o que me era oferecido não tinha qualidade e ainda por cima uma navegação e leitura infestada de publicidade, como se fora um mero leitor da versão comum. Isto demonstra que mesmo ao nível da oferta da versão digital, ainda há muito a fazer para incentivar e fidelizar leitores. Há caminho a percorrer.

Além do mais, bem vistas as coisas e analisada a nossa imprensa, e desde que há democracia, em rigor nunca tivemos um jornalismo verdadeiramente isento e independente, porque quase todos alinhados politicamente à esquerda ou à direita. Por conseguinte, cada título com a sua própria agenda política, ideológica, clubista, empresarial, etc.  Veja-se como exemplo no caso do futebol, em que o jornal "O Jogo", também do universo da Global Média, e por isso em risco de sobrevivência, desde sempre foi um jornal fraccionário, uma autêntica voz do F.C. do Porto, portando-se como um mero jornal clubista. Em sentido contrário, os leitores portistas acusam o jornal "A Bola" de ser pró-benfiquista, e por aí fora até com o jornal "Record" a ser conotado com o Sporting.

Em resumo, não sou nada a favor de fazer fretes ou favores de apoio financeiro ou de outra natureza à imprensa jornalística e de comunicação social, para além do apoio justificado e nas mesmas condições que recebem quaisquer outras empresas noutros sectores de actividade. Também não acho que, nos tempos que correm, seja assim tão fundamental à sobrevivência da democracia. Tão errado como apoiar a imprensa de forma directa seria fazer depender esta da Democracia. Ora nem uma nem outra devem depender delas próprias mas antes ser livres, independentes e isentas. 

A sobrevivência da democracia não depende nem dependerá nunca da imprensa livre mas antes das pessoas e do povo.

18 de janeiro de 2024

Nota de Falecimento - José Santiago

Faleceu José Alves de Pinho Santiago, de 81 anos (18 de Março de 1942 a 17 de Janeiro de 2024).

Natural das Quintães - Guisande, da Casa do Santiago, residia em Mafamude - Vila Nova de Gaia.

O funeral terá lugar na Igreja Paroquial de Santo Ovídio - Mafamude - Vila Nova de Gaia, nesta Quinta-Feira, 18 de Janeiro de 2024, pelas 14:30 horas, indo no final a sepultar no Crematório - Cemitério do Prado do Repouso - Porto.

Missa de 7.º Dia na mesma igreja paroquial na Terça-Feira, 23 de Janeiro, pelas 19:00 horas.

Sentidos sentimentos a todos os familiares, particularmente aos irmãos residentes aqui em Guisande.

Paz à sua alma!

Já há luz mas cerejas só lá para Maio.

Há uma semana dei conta aqui de que reportei à E-Redes uma avaria na iluminação pública no troço da Rua da Leira até ao limite com o lugar de Azevedo, o qual se encontrava às escuras há várias semanas. Independentemente de mais alguém ter reportado ou não a situação, e tenho dúvidas que sim, certo é que já foi restabelecida a ligação. Grosso modo foram ligados meia-dúzia de postes com iluminárias.

Mas escusam de agradecer, que a E-Redes também não agradece. Nesta nova modernidade dispensam-se funcionários na fiscalização e conta-se com o serviço dos contribuintes, naturalmente  à borla. O trabalhar pró bono tem agora o eufemismo de "cidadania".

É o que é, e quem quer comer cerejas tem mesmo que trepar à cerejeira e ainda pagar imposto delas.

17 de janeiro de 2024

Juíz da Cruz 2024

Por um bom conjunto de razões e responsabilidades de muitos, também por um nítido desinteresse pela identidade, coisas e tradições, que há ainda alguns anos tínhamos como motivo de orgulho, desbaratamos todos, enquanto comunidade, a antiga tradição do Juíz da Cruz. Desinteresse e comodismo de uns, desleixo e incúria de outros, lá se foi a tradição para as masmorras da memória. Daqui a alguns anos, não fosse estar escrito e registado como era, poucos se lembrariam dela.

Mesmo assim, numa realidade que já nada tem a ver com a antiga tradição, com as particularidades da função, porque agora desconsideradas e apenas em serviços mínimos, lá vamos  tendo alguém por voluntarismo. Foi assim no ano passado e será também neste ano de 2024, em que, como voluntário, será Juíz da Cruz o Sr. Armindo Monteiro Gomes, natural do Viso - Guisande, e residente em Arosa - Lobão.

Não há muito mais  a dizer sobre este assunto, principalmente de minha parte, até porque quando chegou a altura e a oportunidade assumi, com canseira mas orgulho, as minhas responsabilidades inerentes à  função para a qual me escolheram. Parece que foi ontem mas já em 2013. Por isso, não foi por mim que a coisa chegou a este actual ponto de nítido desinteresse. Assim assumisse cada um o seu papel...

Em todo o caso, é de registar de forma positiva que tenha surgido alguém, porque certamente com gosto e com reconhecimento de que importa preservar, mesmo que já pouco ou nada tenha a ver com o brilho e entusiasmo que teve no passado onde ser-se nomeado para a função de Mordomo da Cera e depois Juíz da Cruz era um orgulho e prestígio pessoal perante a comunidade. Outros tempos!

Parabéns ao Armindo Gomes!

TAP - Tenham Alguma Paciência (que isto ainda dura)

Quem segue as notícias sabe mais ou menos das broncas e grandes trapalhadas que têm voado à volta da TAP, uma empresa que alguns políticos teimam em classificar de estratégica para o país, mesmo que a maioria dos portugueses, os mesmos de cujos bolsos comuns saíram 3 mil e 200 milhões de euros para a sua dita reestruturação, nunca tenha posto o cu nos assentos dos aviões nem viajado sequer de Lisboa ao Porto ou vice-versa. É ruinosa mas é estratégica!

Dessas trapalhadas, incluindo uma indemnização milionária a uma gestora, assinada pelo então ministro das Infra-Estruturas, um tal de Pedro Nuno Santos, agora candidato a patrão dos ministros, mas que se esqueceu disso e que depois de se demitir lá se lembrou, ainda um filme de acção e comédia a envolver  o roubo de um computador e um ministro Galamba e a demissão de Christine Ourmiéres-Widener, a CEO da TAP, por suposta justa causa e pelo meio uma Comissão Parlamentar de Inquérito que foi assim uma espécie de Big Brother a entreter o país.

No entretanto, enquanto aguardamos pelo desfecho do processo judicial do pedido de indemnização pela gestora francesa, que levou a mal o despedimento, vem agora a público um conjunto de considerações pela própria TAP em que grosso modo deita por terra a situação da CEO francesa na empresa, que afinal nada fez para além de ter um vínculo e um ordenado ilegais, bem como contradiz e descalça a posição política do governo do PS. Tudo o que sobre esta questão foi agora escrito e noticiado é grave de mais e vem adensar sobremaneira tudo o que já nos parecia como uma valente dose de borradas. 

Espera-se agora, para mais já em pré-campanha eleitoral, que o PS, António Costa, Fernando Medina, Pedro Nuno dos Santos, Galamba, etc, etc, venham dar explicações e prendar-nos com habilidosos números acrobáticos porque, convenhamos, começa a ser difícil considerar como séria e lógica qualquer justificação. É daqueles casos em que em cada cavadela, cada minhoca, em cada tiro, cada melro.

Mas lá vamos indo sorridentes e os nossos 3 mil e 200 milhões ainda a voar. Não esqueçam de que há eleições para 10 de Março!

16 de janeiro de 2024

Emídio Sousa na Assembleia da República


Soube pela comunicação social de que o actual presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o Dr. Emídio Sousa, foi escolhido como cabeça-de-lista pela AD - Aliança Democrática, pelo círculo eleitoral de Aveiro. O ainda presidente da Câmara de Vagos, Silvério Regalado, é o número dois na lista a qual integra, entre outros, Ângela Almeida e Salvador Malheiro, presidente do município de Ovar.

Impedido pela lei de se recandidatar a um novo mandato como presidente do município, o Dr. Emídio Sousa continuará assim ligado à alta política e tendo em conta o posicionamento na lista é segura a sua eleição.

Do que conheço do seu currículo, postura pessoal e política, acredito que tem competência de sobra para o cargo e saberá defender os interesses da Feira e seu território, embora saibamos que estes estão sempre dependentes de outros interesses e vontades partidárias ou governamentais. Será difícil e nada certo que a AD venha a formar governo mas, em todo o caso, pelo psicionamento na lista a sua eleição é certa.

O lado menos positivo desta candidatura será, naturalmente, o ter que deixar a presidência da Câmara Municipal pouco mais que a meio do mandato. Por princípio, os mandatos devem ser cumpridos até ao final sob pena de defraudar as expectativas dos eleitores. 

A senhora culpa continua solteira e virgem

Os nossos políticos, em geral, sabem que estão mal considerados perante os eleitores e que daí, em muito, decorrem as altas taxas de abstenção nos actos eleitorais, mas mesmo assim continuam a falar para os mesmos como se estes sejam todos uma cambada de tontos, palermas, sem capacidade de escrutínio e de julgamento e incapazes de ver gatos escondidos com os rabos de fora. Assim, é de facto motivo de arrelia constante  ir assistindo às suas campanhas, intervenções e discursos.

Uma ds capacidades destes políticos rasteiros é de fazerem de conta que certas coisas não são nada com eles, que não lhes diz respeito e que certas más políticas são sempre da responsabilidade dos outros e sobretudo de quem em diferentes cargos os precederam. Por exemplo, o senhor Pedro Nuno Santos, agora líder do Partido Socialista, candidato a primeiro-ministro, e que presumivelmente será, tem falado como se o seu partido não nos tenha governado nos últimos 10 anos e que em 25 anos tenha estado 18 no poder, e que dele não tenha feito parte com cargos de responsabilidade. 

Por conseguinte, as trapalhadas da TAP, com indemnizações milionárias autorizadas e esquecidas,  as da localização do aeroporto, o estado da Educação, o caos e a degradação do Serviço Nacional de Saúde, com serviços encerrados e urgências entupidas, instabilidade social constante com professores, médicos, forças da segurança, confronto verbal com o Ministério Público, etc, etc, não têm nada a ver com o PS e o Pedro Nuno. Não, a culpa é do inquilino histriónico do Palácio de Belém e de quem deixou de governar há 10 anos. Ganhem e governem por mais 10 e nessa altura os culpados e responsáveis do que não estiver bem serão ainda os do passado.

Perante esta situação, não supreende que um partido mais extremado como o CHEGA continue a ganhar adeptos, porventura não pelos lindos olhos e do discurso populista e demagógico do artista do seu líder, André Ventura, mas simplesmente em reacção a este sistema muito politicamente correcto e de políticos frouxos,  carreiristas, a quem se exigia mais frontalidade, honestidade e sobretudo assunção de responsabilidades quando as têm. Não tem sido esse o caso por parte do PS nem do neto do sapateiro, o qual até tem raízes familiares aqui em Guisande. 

É pena! Pois é! Mas, pelos vistos, basta que se prometa um ordenado mínimo de mil euros daqui a quatro anos para que tudo volte a ser cor-de-rosa. Falta de ambição! Porque não 2 ou 3 mil? Isso é que era!

14 de janeiro de 2024

Olhares - Quintães

 





Imposto estúpido e injusto

Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, considerou hoje no último dia da convenção em Viana do Castelo, que seu o partido é “a direita credível”, prometendo, caso seja Governo, acabar com o IMI e com o IUC. 

É proposta do Chega mas poderia ser de qualquer outro partido para concordar em pleno com ela. É que sobretudo o IMI  (Imposto Municipal sobre Imóveis) é um imposto estúpido, injusto, bafiento e imoral. Repare-se: Eu, que como centenas de milhares de portugueses, construí a minha habitação com o resultado do meu trabalho e do meu esforço, paguei projectos, taxas e licenças, tudo com os devidos impostos, continuo a gastar dinheiro em melhoramentos e conservação, continuo a pagar a prestação do crédito à habitação com elevados juros, a que propósito tenho que pagar por toda a vida uma renda ao Estado ou município? Porventura foi qualquer uma dessas entidades que ma construiu? Serão eles os proprietários?Que lógica e moralidade neste imposto? Ainda que fosse cobrado com um valor residual, simbólico, vá que não vá, mas com o elevado valor que representa para qualquer média habitação, é de facto uma aberração num Estado de direito.

Posto isto, não posso estar mais de acordo com quem propuser a sua extinção. Foi o Chega, mas poderiam ser os antípodas do BE ou o PCP que para mim mereceriam apoio. 

Significa, porém, que isso pode representar que vote nesse partido? Nem por sombras, porque há outros valores e princípios na equação, mas era importante que outros partidos menos radicais e estapafúrdios, fossem capazes de ter essa coragem e matar este imposto estúpido em nome da moralidade.

13 de janeiro de 2024

Nota de falecimento - Albino António


Faleceu Albino António Ferreira de Almeida, de 77 anos de idade (17 de Abril de 1946 a 13 de Janeiro de 2024), do lugar do Reguengo - Guisande. 

Marido de Maria Madalena de Oliveira Fonseca. 

Cerimónias fúnebres amanhã, Segunda-Feira, 15 de Janeiro de 2024, pelas 15:30 horas na igreja matriz de Guisande, findas as quais o corpo será sepultado no cemitério local.

Missa de 7.º Dia na Sexta-Feira, 19 de Janeiro pelas 18:30 horas.

Expressamos os nossos sentidos sentimentos a todos os familiares, de modo particular à esposa, filhos e netos.

Que Deus o tenha em paz e em eterno descanso.

12 de janeiro de 2024

O preço da independência e da honestidade

Tempos houve em que um pouco por todo o país e sobretudo em tempo de eleições autárquicas, entre um vasto caderno de encargos de promessas, como a clássica do instalar na terrinha um Posto Médico com doutores e enfermeiros, alguns candidatos também prometiam que nada ganhariam e que as suas remunerações pelos cargos seriam juntas e depois aplicadas em algo de importante para a freguesia, fosse para uma rua, para um parque infantil, para o clube de futebol ou mesmo para uma sede de uma qualquer associação de bem público. É certo que em rigor era e é pouco dinheiro, sobretudo para os titulares de cargos em pequenas aldeias, e por isso é que tal exemplo nunca foi seguido, parece-me, quanto a presidentes de Câmara e vereadores, porque aí a esmola era demasiado grande para dela se abrir mão, mas nas Juntas, como "grão a grão enche a galinha o papo", diz o povo na sua sabedoria milenar, certo é que alguns lá somaram uns milhares, de contos ou euros, pouco importa ao caso.

Para além da parte demagógica deste tipo de promessas, nunca percebi o verdadeiro alcance desta "generosidade", como se ela fosse necessária e de substância para provar a seriedade e dedicação desinteressada pela causa pública. A meu ver nunca foi precisa, porque a um trabalhador cumpridor e honesto é justo e até um direito universal que se pague o salário ou a remuneração que a lei lhe confere. Por conseguinte um autarca de Junta, seja presidente, tesoureiro ou secretário que por motivos eleitoralistas abre mão das sua remuneração legal a favor de qualquer outro propósito, não será mais honesto e dedicado que os semelhantes que dela não prescindem. 

Ademais, quem não for sério e honesto até pode abrir uma mão dessas verbas e pôr a outra noutras, sem que ninguém descubra ou desconfie das habilidades. Bastará que queira ir por aí. Quem é sério, é serio, e não basta mostrar que se pretende sê-lo ou parecê-lo. Em contraponto, quem usa essa promessa em campanha eleitoral pode até suscitar precisamente o contrário, o de passar por um artista, um habilidoso, um chico-esperto, ao usar esse isco para chamar ao seu anzol votos de gente com pouco sentido de escrutínio. Quem é honesto e competente não precisará dessas habilidades ou expedientes nem de dispensar aquilo a que tem direito.

Seja como for, certo é que com este tipo de posturas e promessas muitos autarcas lá arrecadaram uns votos extra, quiçá decisivos a definir vitórias em eleições.  

Em resumo, e é a esta ideia onde pretendo chegar, ninguém é mais ou menos dedicado pela causa pública, sério e honesto só porque recebe o que tem direito ou decide doá-lo a favor seja de quem ou do que for.

Um pouco neste contexto e pressuposto, estou de acordo com o escritor José Rentes de Carvalho, que aqui há já uns anos, a propósito do poeta Herberto Hélder (falecido em 2015) ter recusado o valor monetário do prémio Fernando Pessoa, porque embora pobre, "não pretendia perder a sua independência", disse que pensando no caso não chegava a conclusão satisfatória, pois era curiosa a noção da fragilidade da própria independência para o premiado acreditar que um prémio literário a podia pôr em perigo. Por isso, digo eu, e porque quem não deve não teme, a independência e honestidade não têm preço mas também não têm que ser à borla nem cimentadas no total despreendimento por vezes trapaceiro. O seu a seu dono dentro da legalidade, justeza e justiça.

Tapar é preciso em tempos de hibernação




Aqui há uma meia dúzia de anos estávamos bem melhor servidos quanto a repórteres que com um apurado sentido fotográfico captavam o que lhes causava incómodo. Desde buracos e buraquinhos a ervas com mais de 20 cm de altura ou uma água mal desviada na rua, eram alvo do oportuno disparo. Até chegou a haver uma espécie de liga contra o mau olhado onde os guardiões do templo sagrado eram mais competentes e de vistas aguçadas que na Raia os  guardas fronteiriços no tempo da velha senhora à cata de contrabando. Logo depois de colhidas as provas, todo o mundo e arredores ficava a saber da situação, do abandono, da escandaleira, da pouca vergonha, da incompetência ou desleixo de quem deveria olhar por essas coisas. 

Mas essa categoria de guardiões "profissionais" parece que a partir de uma determinada altura, talvez devido ao clima ou mudança da lua, entrou em letargia e tem estado em hibernação profunda e são mais raros de avistar que os linces na Malcata. É pena, porque fazem falta, pois os motivos para alertar nunca faltaram nem faltarão, independentemente da categoria e consideração de quem se queira "avisar". 

Mas adiante, que vem aí chuva e como diz o velho ditado, "ande o frio por onde andar que no Natal vem cá parar". 

As imagens acima publicadas são na Rua de Cimo de Vila, aqui na terrinha, no lugar do mesmo nome e têm já bastante tempo porque eu próprio já vi esses buracos noutros meses, porventura então mais pequenos. Até porque a rua é estreita, convirá a quem de direito remediar os buracos, como quem diz, tapá-los com um pouco de alcatrão, o que não parece coisa de monta. Apesar disso, também se nota algum abatimento do piso junto ao muro de suporte o que pode configurar algum problema de estabilidade ou inflitração que, digo eu, importará averiguar e rectificar. 

Apenas como contributo de cidadania fica o alerta. Provavelmente já será do conhecimento de quem de direito, e a coisa estará para ser reparada, mas se assim não for, caso isto seja lido e porque não quero pecar por omissão, o recado está dado. Além do mais importa que a população, mesmo que adormecida, esteja a par das suas coisas.

11 de janeiro de 2024

Rua da Leira às escuras e cerejas

 


Noutros tempos, antes da razia feita às freguesias, havia a tal proximidade dos eleitos aos eleitores e estas coisas eram detectadas com tempo e reportadas a quem de direito. Mas para isso é preciso sentido de serviço e dar umas voltas pelo território, mesmo à noite, quiçá a perder tempo, gastar gasolina e fazer telefonemas. Por agora as modas são outras e quem quiser cerejas tem que subir à cerejeira.

Assim sendo, à falta de certas coisas, e de cerejas, informei eu próprio a E-Redes, de que em Guisande,  o troço da Rua da Leira, a partir do entroncamento com a Rua da Ramada, até ao ao limite de Guisande com o lugar de Azevedo - Caldas de S. Jorge, que interliga à Rua da Arroteia, está sem luz pública desde há várias semanas.

Já agora, no Google Maps parte desse troço da Rua da Leira aparece como Rua da Arroteia, o que está incorrecto porque ali aqueles primeiras casas ainda são em território de Guisande e não do lugar de Azevedo, mas isso são outras histórias.

Quanto à iluminação pública, vamos aguardar que a reposição seja efectuada. Para já, às escuras.


Jornada Mundial da Juventude - O pós

A Jornada Mundial da Juventude 2023 teve lugar no nosso país e em Lisboa, entre o final de Julho e  princípio de Agosto passados. Parece que foi ontem mas já decorrido quase meio ano. Ainda ecoam na memória dos portugueses, e sobretudo dos jovens que participaram e se envolveram, o entusiasmo, alegria da partilha e vivência desses momentos em contacto geracional e mesmo inter-geracional com o papa Francisco.

Do mesmo modo e desse contexto, também para as largas dezenas de milhares de famílias que nas pré-jornadas acolheram por todo o país jovens peregrinos provenientes de toda a parte do mundo mas sobretudo da Europa. Foi assim na Diocese do Porto e na nossa comunidade inter-paroquial e em Guisande. Eu próprio e a minha família, acolhemos nessa semana última de Julho, duas peregrinas alemãs de origem vietnamita.

Passado já este quase meio ano e com a poeira do entusiamo assente, é possível analisar algumas coisas que, apenas a meu ver, ficaram aquém de algumas expectativas, pelo menos no contexto da experiência da família com os peregrinos e vice-versa. No global a experiência foi positiva mas, apesar disso, a partilha comum e convivência ao nível da família foi reduzida face ao programa delineado pelas equipas responsáveis (comités diocesano, vicarial e paroquial) o que fez com os espaços e momentos apenas destinados às famílias e jovens acolhidos fossem escassos. 

Em rigor e no geral as famílias foram principalmente agentes de alojamento, proporcionando a custo zero, dormida, comida, serviço de limpeza e transporte. Este ponto do transporte inicialmente foi publicitado apenas como mínimo, pontual e só mesmo para quem pudesse e quisesse mas na prática e na realidade não foi assim e as famílias tiveram que assegurar a maior parte das deslocações de entrega e recolha dos jovens, sempre de acordo com os seus horários.

Falando também pela minha experiência, desde que os jovens seguiram para Lisboa, nunca mais houve contacto de sua parte. Foi de minha iniciativa procurar saber se a viagem correu bem e se estavam a gostar. Depois disso, nenhum contacto de iniciativa dos jovens apesar de disporem dos canais adequados, como o número telefónico, o email e whatsapp. Chegados ao seu ponto de partida, ficaria bem fazerem um resumo da jornada e partilharem por sua iniciatiava com quem os recebeu. Mesmo agora pelas festas natalícias, ainda alimentei a esperança de receber uma mensagem ou um postal das duas raparigas, mas não. Poderia ser eu a fazê-lo? Podia, mas convenhamos que há alguns princípios que devem ser cumpridos e na nossa terra não fica bem andar com o carro à frente dos bóis.

Não há, todavia, qualquer arrependimento, até porque se havia expectativas num sentido de mais tempo para a convivência, pessoalmente nunca as tive a este nível do posterior contacto, agradecimento e reconhecimento. Eventualmente aconteceu com outros e de resto certamente que a percepção das experiências foi diferente de família para família.

Em resumo, as coisas são como são e no geral, admitamos, os valores da boa educação e do reconhecimento não são propriamente coisas que façam parte da bagagem desta moderna juventude. No geral nunca lhes faltou nada e no seu dia-a-dia dão tudo por adquirido e feitas as contas, nós, os que recebemos e estivemos durante uma semana ou mais ao seu inteiro dispôr, com cama, mesa, roupa lavada e transporte, é que temos que lhes agradecer e de os contactar. É cultural e quanto a isto não há volta a dar. Desvalorizando estas particularidades, fica para a história o que aconteceu e que, mesmo com esses ónus e encargos das famílias, os jovens levaram, pois levaram, uma boa e inesquecível experiência, de Guisande e certamente de todos os locais onde estiveram alojados. Afinal, nada lhes faltou!

10 de janeiro de 2024

Unir aos trambolhões

Há algumas semanas recebemos nas nossas caixas de correio um infomail todo bonito a dar-nos o recado de que "Há uma nova rede de autocarros no concelho de Santa Maria da Feira". Mais informava que "A partir de 1 de Dezembro (2023) entraria uma nova rede de transporte público rodoviário de passageiros para todos os municípios da Área Metropolitana do Porto que, finalmente, transformará a mobilidade do nosso território. Autocarros movidos a energia limpa, sustentáveis, uma rede mais eficiente, intregrada e uniformizada, e com um sistema de bilhética único". Apresentava-se como a UNIR.

Para além deste infomail fomos sendo informados no final das missas e ainda nas rádios e jornais locais. Quem, como eu, foi espreitar a plataforma digital da entidade e do serviço, ficou com uma boa ideia de que ía ser uma coisa muito bem feita e organizada. 

Infelizmente, a ter em conta as reacções dos utentes e de diversas figuras, incluindo alguns presidentes de Câmara que se mostraram com as expectativas defraudadas, parece que a coisa não poderia ter começado da pior maneira, com confusões, falta de meios e recursos, supressão de linhas, atrasos e irregularidades nos horários, etc, etc.

Depois disso ouviram-se responsáveis a sossegar o povo dizendo que era natural que a coisa começasse com problemas mas que aos poucos a máquina iria ser afinada e resolvidos os defeitos, mas pelas reacções que se vão ouvindo, parece que ainda há muita coisa a melhorar e a afinar. Aos optimistas que dizem que com tempo o sistema será perfeito, contrapõe-se o velho e experimentado ditado popular que "o que nasce torto tarde ou nunca endireita".

Pela minha parte, que não tenho necessidade de transporte público, estou de fora a ver a banda a passar, mas de facto é importante que o sistema funcione e que corresponda às necessidades de quem dele precisa. Apesar de tudo, é muito nossa esta mania de lançar foguetes antes da hora e de anunciar maravilhas maravilhosas e que depois à nascença, aos primeiros passos, seja tombos e trambolhões. 

Mas por agora é aguardar que a coisa, lá virá um dia, ficará (mais ou menos) afinada, até ao "patamar de excelência" prometido pelo presidente da Câmara de Gaia e da AMP, Eduardo Vitor Rodrigues. 

Para já as palavras de ordem são ajustar, reformatar, reformular, adequar, reparar, acertar, etc. Tudo palavras consoladoras para quem querendo unir começou a desunir. Os utentes, esses têm que aguentar e esperar.

Cinzento, mas um bom retrato

(...) Uma regra de ouro é a de não votar em alguém simplesmente pelo que é ou parece. Ou porque é um hábito. Aliás, em Portugal, hoje, nenhum partido merece que se vote nele pelo que é. Nem a direita, nem a esquerda, com currículos pouco recomendáveis após as últimas décadas.

O PS tem muito pesadas responsabilidades na degradação da vida nacional. Contribuiu, mais do que os outros, para os êxitos dos últimos 50 anos. Mas esse facto não desculpa a deterioração sistemática dos serviços públicos, a perda de capacidade para criar riqueza de modo consistente, nem a partilha de autoria e de culpas em todos os processos de corrupção e nepotismo.

O PSD tem enormes responsabilidades no declínio da vida nacional, tanto da economia como da cultura, da sociedade e da política. Depois de, com mérito indiscutível, ter contribuído para a consolidação da pertença europeia e para a afirmação democrática da direita portuguesa, este partido desinteressou-se da independência nacional e da afirmação da empresa portuguesa pública ou privada.

Em conjunto, PS e PSD, deixaram afundar o Serviço Nacional de Saúde e a educação pública. Um a vegetar na mais inacreditável desordem que se possa imaginar. Outra entregue à futilidade lúdica e a exibir os piores resultados de sempre.

O PCP, sempre o mesmo, tão irredutível e seguro de si! É-lhe indiferente ter 20%, 10% ou 3% dos votos, ou 40, 20 ou 5 deputados. Garante que tem sempre razão contra a população que não vota nele, que é quase toda. Persiste em afirmar que representa todos os trabalhadores, que a história sempre lhe deu razão. Até à derrota final. Até ao desaparecimento eleitoral.

O Bloco, moralmente superior e arrogante, convencido, presunçoso como poucos, firme na sua beatitude política e seguro da sua virtude ideológica, nunca fez nada de jeito que lhe dê qualquer espécie de currículo, qualquer folha de serviços prestados à sociedade.

O Chega não merece o voto só porque protesta, denuncia e ataca. Não é convincente, não tem políticas, não dá sinais de qualquer género de competência ou de saber. Utiliza as mais baratas receitas disponíveis, do nacionalismo ao grito dos descamisados.

A IL parece saída de uma produção laboratorial. É só mais um partido, sem currículo nem experiência, a vender camisolas de lã no deserto.

Nas próximas eleições, o momento é calhado, mais propício do que nunca, para votar de acordo com compromissos, em vez de repetirmos os gestos do sonâmbulo. Votar em compromissos é melhor do que votar em rebanho.

[António Barreto - in Sorumbático]

9 de janeiro de 2024

Striptease

Isto de escrever para o público ler, seja ele composto de familiares e amigos, ou gente que nos tem em pouca conta, ressabiados, mesmo inimigos ou gente de toda a espécie, a farinha com que se amassa o público anónimo, tem que se lhe diga porque acarreta responsabilidades, comprometimentos e até riscos. Bem o sei e não é de agora esta conclusão, mas também pouco me incomoda porque se fosse a ter em conta apenas os inconvenientes há muito que teria deixado de escrever ou então apenas para uma espécie de querido diário de adolescentes, destes a que se coloca uma fechadura com segredo para que permaneça quanto possível como coisa escondida, íntima.

Quem passa os pensamentos e ideias próprias para o papel e os publica, seja em livro, jornal ou mesmo nesta janela aberta ao mundo da internet, redes sociais, blogues, etc, é como fazer um constante striptease expondo-se aos olhos dos observadores curiosos e afins ou, num inglesismo moderno e parolo, aos voyeurs. Há quem veja estas coisas apenas por mera curiosidade e sem lhes dar demasiado significado mas também os que com fascínio, admiração ou até excitação.

Neste palco público, mesmo que por linhas tortuosas, meias palavras, metáforas ou analogias, quem escreve acaba por pintar o seu auto-retrato e a quem observa nem é preciso formação em leitura de personalidade para perceber aquilo que é, das coisas mais triviais como o gostar de uma feijoada à transmontana até às mais intimistas como apreciar numa mulher determinadas bençãos físicas, o pensamento religioso, filosófico, passando pela simpatia clubista, partidária, ideológica, etc.

Em todo o caso, importa ter em conta que não devemos negar, esconder ou dissimular aquilo que somos e na convicção de que não devemos ter vergonha, receio ou baixa estima da nossa forma de ser, de estar e pensar. Pelo contrário, mal daquele que age apenas em função dos outros e das suas considerações, preconceitos e julgamentos. Mas há, e muita, gente dessa, incapaz de expressar publicamente uma ideia, uma opinião, um pensamento, como se constantemente castrados, condicionados, envergonhados, sempre cautelosos em cada passo dado, em cada palavra proferida. Gente que se auto açaima, com medo dos demais mas sobretudo de si próprios. Desse tipo de gente nada se espera, nenhum contributo, por mais simples e banal, para o exercício da liberdade própria e colectiva. Fôssemos todos dessa massa e não haveria na história do homem e da humanidade as grandes criações artísticas, filosóficas ou tecnológicas que no seu todo contribuiram ao longo do tempo para o progresso civilizacional. Ainda bem que gente houve e há a pensar, a contestar, a experimentar, a criar, a ser progresso.

Posto isto, entre um constante striptease com todos os prós e contras e um remetimento íntimo e castrado, creio que os prós são mais que muitos e densos o suficiente para desequilibrarem a balança que pesa e mede as decisões. Podem, pois, por enquanto, passarem por este palco onde há striptease, incluindo dança do varão, onde há lugar à opinião e pensamento próprios, mesmo que vulgares, rudimentares, goste-se, concorde-se ou não.

7 de janeiro de 2024

O bacalhau quer alho...

Terminou mais um congresso do PS - Partido Socialista. Não sou, de todo, consumidor de congressos partidários e o que vejo e ouço é apenas pelas notícias, resumos e análises. E entre um concurso "O Preço Certo" e um qualquer congresso político a diferença pode ser de conteúdo mas não de formato, porque em grande medida ambos entretenimentos de baixa qualidade.

Mas do que vi ou ouvi nessa forma condensada, acho que por ali se falou exageradamente do PSD. Não sei que leitura isso possa ter, mas pareceu-me em muito com os portistas a falarem mal dos benfiquistas e vice-versa. Por conseguinte, na política como no futebol, mais do que sermos nós próprios e as nossas ideias, somos sobretudo contra os outros, porque temos e não nos descolamos dos nossos ódios de estimação.

Hoje ao fim da manhã, já no encerramento do dito congresso, com o passeio do herói PNS e com uma musicazinha de fundo a puxar para a emotividade e os olhos embaciados de militantes mais dados a emoções, pensei que bastaria mudar a música de fundo para termos uma comparação literal com um circo, com acrobatas, malabaristas, ventríloquos e palhaços, muitos. Que tal se fosse a cantiga do Quim Barreiros, "Eu gosto de mamar nos peitos da cabritinha" ou então a do pequeno Saúl, "O bacalhau quer alho..." ? Só tinha a ganhar um congresso, do PS, do PSD ou PCP, etc, se a banda sonora fosse deste calibre porque retrataria de forma mais fiel o verdadeiro sentido destas coisas em que os políticos e as suas massas adeptas se reúnem para se mostrarem ao país em largos tempos de antena.

Seja como for, estas coisas fazem parte da nossa sociedade, e dizem que a democracia precisa de partidos e de politicos e tal como as gripes e as constipações é difícil escapar a elas, mesmo que devidamente pré-vacinados. 

Certo é que perante estes festivais, a vontade de votar nas próximas legislativas é neste momento menor do que tomar óleo de fígado de bacalhau mesmo que os nossos pais teimassem que era para nos fortalecer a saúde.

6 de janeiro de 2024

Recolha de Sangue em 6 de Janeiro de 2024


O Centro Cívico, no Monte do Viso, instalação do Centro Social S. Mamede de Guisande, acolheu neste sábado, 6 de Janeiro de 2024, mais uma jornada da recolha de sangue, entre as 9 e 13 horas.

A título de informação, nesta jornada registou-se uma participação de 28 pessoas das quais 23 doaram e 5 ficaram impossibilitadas de o fazer.

Como comparação, na recolha anterior, em 22 de Julho de 2023, registou-se uma participação de 38 pessoas das quais 30 doaram e 8 ficaram impossibilitadas de o fazer.

Um agradecimento aos participantes e à equipa que colaborou com a jornada. Bem hajam!