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11 de dezembro de 2023

A casamentos e a baptizados...

Bem sabemos que não podemos nem devemos ir a um serviço religioso, no caso uma missa vespertina ou dominical, com excessiva pressa e já a pensar no almoço ou jantar. Mas como em tudo, há horários, rituais e ritmos que nos levam a pensar na normalidade e não na aleatoridade na duração dos mesmos. Pelo menos eu, considero que 45 minutos é tempo mais que adequado à duração normal de uma missa vespertina ou dominical. Mesmo que contando com um pequeno e justificável atraso do celebrante e uma ou outra divagação na homilia ou repetição de eventos nos avisos finais, vamos até admitir que possa durar 50 minutos ou mesmo, por excesso, uma hora. Até aqui, podemos compreender e entender. Já não me parece razoável, contudo, que sem qualquer aviso prévio, uma missa incorpore serviços adicionais, como uma celebração de bodas de ouro e ou de prata matrimoniais ou ainda um baptizado. E isto e desde logo porque é velho o ditado de que a "casamentos e a baptizados vão os convidados".

Não deixei, pois, de ter reparado que na missa deste sábado em Guisande, precisamente por ter um baptizado e o aniversário do Grupo de Jovens, em vez dos tais 45/50 minutos habituais, ou até uma hora, a missa tenha demorado para lá de uma hora e meia. Ora é tempo excessivo e isto é inconveniente sobretudo quando para lá da hora expectável de duração temos, como foi o meu caso, compromissos pessoais e afazeres programados e não é de bom tom nem fica bem abandonar a missa antes de ter terminado.

Hoje em dia em que todo o nosso tempo anda a ser medido e controlado ao minuto, não é positivo este descontrolo ou imprevisibilidade de tempo. Compreendo que a incorporação de um serviço extra como o de um baptizado é interessante sob um ponto de vista de vivência e partilha comunitária, mas, porém, dentro do possível, importará ser avisado com antecedência para não haver surpresas e participar informadamente quem realmente acha que quer e pode sujeitar-se a um tempo para além do tido como normal. 

4 de dezembro de 2023

Segunda-Feira, feira da ladra...

Depois de um fim-de-semana prolongado, com um bonito dia de sol pelo meio, regresso à rotina e monotonia do trabalho. Pelo meio as coisas habituais e corriqueiras. Sondagens sobre a nossa política reveladas aos bocadinhos, como num concurso televisivo, a ampliar  o suspense e a expectativa. Mais coisa menos coisa, candidatos do plano A ou do Plano B do lado do PS, tudo indica o que todos esperamos, uma disputa entre o PSD e o PS, mas este, apesar de tudo quanto tem envolvido o Governo e que levaram à sua queda, parece manter ritmo e poder vir a vencer de novo as eleições embora, sem maioria. O que voltaria a ser surpreendente mas não totalmente.

De tudo isto, e com as constatações do estado das coisas quanto à Sáude e serviço de urgência, aumento da pobreza, aumento da carga fiscal, guerra com professores, crise de habitação, etc, etc, a quase maioria dos portugueses parece gostar destes doces e do estado de coisas e com mais arroba menos quintal em 10 de Março próximo vai dizer democraticamente que quer que tudo continue na mesma. Sintomático! Faça-se a sua vontade democrática!

Por cá, no nosso querido terrão, também tudo na mesma. O positivo voluntarismo da Comissão de Festas já trabalha com azáfama no que toca a angariar fundos para a festa que há-de ser lá para Agosto. A padaria de Fornos, voltou a abrir depois de ter fechado, depois de ter aberto e depois de ter fechado. O Guisande F.C. veteranos promoveu neste Sábado o seu glamoroso jantar de Natal, bem participado e alegre. Parabéns! O Grupo Solidário também irá organizar a Ceia de Natal Solidária, a ter lugar em 16 de Dezembro, no Centro Cívico, já com lotação esgotada, pelo que também de parabéns pela dedicação. A missa do Galo neste ano, porque alternadamente com Guisande, será nas Caldas de S. Jorge.  O Natal, esse será no dia 25, também uma Segunda-Feira. O bacalhau está pela hora da morte mas como bom amigo na vida não faltará fielmente na ceia mais saborosa do ano.

Desportiva e entretidamente um dia destes eu, o LB e o HA vamos fazer uma corrida no Epic Awsome Challanger Trail da Aletria, em Santo Isidoro do Mazouco, Queixo-de-Espada-à-Cinta, que como todos sabem fica na ilha do Faial nos Açores, ali ao lado de Sevilha. 

O Sérgio Godinho cantava que "É Terça-Feira, Feira da Ladra..." mas bem pode ser mudada a feira para um dia antes. Vai dar ao mesmo! Boa semana!

25 de novembro de 2023

25 de Novembro de 1975 - O início da democracia

Celebrar o 25 de Novembro ou a falácia das datas fracturantes

Vai por aí uma estranha balbúrdia, que é também uma vergonhosa balbúrdia: celebrar ou não celebrar o 25 de Novembro, conjuntamente com o 25 de Abril. A gente democraticamente moderada, que sempre se identificou com o movimento que, em 25 de Novembro, pôs cobro a fantasias totalitárias de vascogonçalvistas inconformados com o advento de uma “democracia burguesa”, mostra-se agora bizarramente desconfortável com a celebração daquele movimento salvífico. 

Porque tal celebração é “fracturante”, por outras palavras, pode desagradar ao PCP e ao BE. Quanto ao fracturante, já lá vamos. 

 Antes disso, quero chamar a atenção para um importante pormenor: o 25 de Abril e o 25 de Novembro significam exactamente a mesma coisa: o 25 de Abril deitou abaixo uma ditadura e o 25 de Novembro impediu que outra ditadura se instalasse, em substituição daquela. Exactamente o mesmo, pelo que se não divisa a razão de celebrar uma e nos encolhermos, envergonhados, perante a outra. 

Quanto à data de 25 de Novembro ser “fracturante”, temos conversado: todas, mas todas as datas que assinalamos são ou foram fracturantes. 

Celebrar o 25 de Dezembro é fracturante para os portugueses muçulmanos ou budistas ou simplesmente ateus ou agnósticos; 

o 1.º de Dezembro é fracturante para os portugueses favoráveis à união de Portugal com a Espanha: havia muitos, na altura da Restauração, havia não poucos entre os do tempo da Geração de Setenta e bastantes portugueses haverá ainda hoje favoráveis a tal união, ou, no mínimo, nada preocupados com o advento dela; 

o 5 de Outubro é fracturante, para os monárquicos: há-os por aí e o nosso MNE acolhia, não há muito, um número não insignificante deles (até nunca percebi como, sendo monárquicos, aceitavam representar, no estrangeiro, um Estado republicano);

os feriados de Fátima são fracturantes para os agnósticos, os ateus e os portugueses praticantes de outras religiões. 

Agradecia que me dessem, sendo capazes, uma data celebrativa que não seja fracturante. 

 O 25 de Abril, a cuja celebração, justamente se não objecta, é também uma data fracturante: os saudosistas do Estado Novo não escondem a sua aversão a essa data. E todos nós sabemos de gente, ao mais alto escalão da hierarquia do Estado, que sempre se recusou a exibir um cravo vermelho na data da Revolução dos cravos.

 Portanto, invocar o carácter fracturante do 25 de Novembro é apenas uma vergonhosa cobardia de quem se assusta com o sruru que venham a fazer os suspeitos do costume. Para os quais, de resto, o 25 de Abril que gostam de celebrar, não é o mesmo 25 de Abril que assinalam os outros portugueses… 

 Fractura? Por amor de todos os deuses do Olimpo: arranjem outra desculpa! 

 Não celebrar o 25 de Novembro corresponderá a uma grande maioria de portugueses ajoelharem perante uma minoria recalcitrante e conhecidamente pouco amiga da liberdade de pensamento. Não vejo um Mário Soares a ceder desta maneira! 

Eugénio Lisboa

[https://dererummundi.blogspot.com/]

28 de outubro de 2023

Centro Social - Lugar a outros


Os actuais corpos gerentes da Associação Centro Social S. Mamede de Guisande terminarão o seu mandato no final do corrente ano de 2023. O presidente da Direcção, Joaquim Santos, que face a todas as dificuldades e muitos obstáculos sentidos, incluindo o de opções políticas centrais, que não permitiram ainda a concretização do primeiro e principal objectivo do Centro, que é a concretização do programa de apoio pela entidade da Segurança Social, que permitirá a sustentabilidade mínima da actividade de Centro de Dia, por força dos estatutos não poderá recandidatar-se ao lugar. De resto, pelo excelente trabalho realizado e provas dadas de resiliência, é mais que merecido o seu descanso. Além de tudo, pretende deixar a associação com as contas equilibradas, sem constrangimentos financeiros decorrentes do difícil processo da sua construção e instalação.

De minha parte, como secretário da Mesa da Assembleia nos dois últimos mandatos, também chegará ao fim a minha participação nos corpos gerentes. E terminará por duas razões, porque considero que dois mandatos já é um bom contributo e  em segundo lugar porque assim dou lugar a outros, sobretudo a alguns que têm mostrado uma postura pouco simpática em relação à existência do Centro, podendo candidatar-se e virem mostrar como é que se faz mais e melhor. É desta forma que as críticas fazem sentido, aparecer como alternativa e mostrar na prática como se faz melhor. E será bom que assim seja porque esta associação com objectivos que abrangem toda a freguesia e comunidade, precisa igualmente de todos e estes têm a obrigação de cidadania de mostrar interesse, fazerem-se sócios e apresentarem-se a fazer parte das suas estruturas directivas. 

Em resumo, no que me diz respeito, o lugar fica mesmo disponível para outros. Se ninguém aparecer, obviamente que, mesmo lamentando, ficará vazio, ou deserto como agora se costuma dizer. 

Felizmente tenho vistos novos interessados no aproveitamento das potencialidades do equipamento do Centro Cívico pelo que fico esperançado que venha aí uma catrefada de novos sócios e  gente disposta a mostrar serviço, sendo que até aqui têm mantido uma postura de indiferença para com este nosso importante equipamento colectivo. Oxalá que sim, porque nunca é tarde para dar a mão à palmatória e reconhecer o óbvio! Mas, todavia, sabendo do que a casa gasta, sem grandes optimismos. Antes ver para crer!

21 de setembro de 2023

Festa, hoje há festa...

Pode ser apenas uma percepção minha, mas verifico, e não é naturalmente só no nosso município e nas nossas freguesias, que as autarquias gastam cada vez mais dinheiro em eventos notoriamente recreativos, em que se aliam a dita gastronomia, na forma popular de comes-e-bebes, com programas musicais, supostamente para todos os gostos mas tantas vezes sem gosto nenhum, mas de modo geral com grandes gastos. Para além disso, muito dinheiro dos escassos orçamentos são também canalizados como apoios para eventos desportivos, nomeadamente corridas, que agora são mais que as mães, msmo aquelas, quase todas, promovidas com fins lucrativos.

Admito e compreendo que o recreio, o lazer e a actividade desportiva são importantes e fundamentais, mas dá para perceber que começa a haver algum desequilíbrio entre as necessidades de pão e circo e outras que realmente melhoram o quotidiano e as condições de vida das pessoas, nomeadamente ao nível das nossas estradas, equipamentos, apoios sociais, etc.

Veja-se, ainda agora a Câmara Municipal de Arouca vai gastar, creio que li ou ouvi, 400 mil euros, para as Feira das Colheitas que terão lugar neste próximo fim-de-semana. Todavia, e como paradoxo, eu que percorro de carro e bicicleta muito desse belo concelho, há ainda estradas que são óptimos caminhos de cabras, por isso em muito mau estado e ainda com redes públicas de águas e saneamento a não chegar a grande parte das fregusias. Por conseguinte, poupa-se na requalificação de estradas mas traz-se à praça uns tais de Calema, Pedro Mafama e outros. O povo até é chamado a escolher os artistas, por isso tudo muito democrático.

Claro que Arouca aparece aqui como mero exemplo, porque cá pelo nosso concelho a coisa não fica por menos, nem nos demais. Todos tendem a copiar e aplicar a receita porque hoje em dia estas coisas têm repercussões nos mídia e redes sociais. Justificam-se com um certo senhor "retorno económico"  mas na realidade é daquelas coisas que se atiram para o ar porque regra geral esse senhor fica-se por um grupo priveligiado de grupos e empresas que acedem a esses espaços. No geral, no bolso das populações, não cai um cêntimo que seja desse "senhor retono".

Mas é isto e é assim porque, percebem os diferentes autarcas, são medidas populares, popularuchas e com elas ganha-se simpatia e depois os votos quando chegar a hora. Por conseguinte, a velha fórmula do tempo dos romanos de manter a populaça satisfeita ainda reside no pão e no circo. Ontem como hoje as coisas pouco mudaram a este nível.

Em resumo, tudo é importante, incluindo o pão e o circo, e também gosto, mas importa que as autarquias não padeçam da tentação do desequilíbrio e gerando paradoxos, ficando-se apenas pelo que é popular. Esse equilíbrio não é fácil, pois não, mas na dúvida ganha o que em cada momento parecer mais popular.

27 de agosto de 2023

Zé brasileiro português de lado nenhum


Não é apenas uma percepção de quem anda por zonas urbanas e frequenta serviços, sobretudos ligados ao turismo, como alojamentos e restauração, de que estamos "infestados" de estrangeiros e principalmente de brasileiros nessas actividades, mas, também me parece, é mesmo uma constatação notória.

Confesso que nada tenho contra estrangeiros, incluindo os brasileiros, até porque uso a máxima de que todos são bem-vindos se vierem por bem e acrescentarem valor, a eles próprios, naturalmente, mas também ao país, cidades, vilas e aldeias que escolheram para, de algum modo, encontrarem melhores condições de vida para si e para os seus. Quem não vier nem estiver cá com esses pressupostos básicos, para além do respeito por cultura, religião e história locais, querendo impor as suas, não é bem-vindo e estará cá a mais. Nós, portugueses, sempre fomos exímios nesse respeito e por isso sempre fomos bem sucedidos e admirados nas várias partes do mundo para onde emigramos.

Apesar de termos em Portugal um historial de crimes recheado de brasileiros, e quem percebe da poda vai dizendo que a bandidagem brasileira encontra por cá bom paradeiro, políticas displicentes, uma autoridade sem autoridade, um regime penal suave, etc, creio, todavia, que no global são pessoas de bem e que facilmente se integram e também são bem acolhidos pela sua natural proximidade linguística, de simpatia e mesmo de competência. Vejo isso, por exemplo, na minha dentista, que é brasileira ou junto de outros profissionais com quem tenho cruzado. De resto tenho familiares e amigos do e no Brasil.

Por conseguinte, com uma politica de décadas que tem levado a uma baixa de natalidade consistente e por isso com a população a regredir a olhos vistos, mesmo com um território pequeno, resulta claro que o nosso país está a ficar despovoado, concretamente no interior. Assim, o fluxo imigratório é importante se bem orientado para que, de algum modo, se possa pelo menos estagnar algumas hemorragias no nosso tecido populacional. Mas mesmo isso será sempre difícil porque no geral quem cá chega como imigrante, tal como os portugueses, opta pelo litoral, pelas zonas urbanas e assim as zonas interiores continuam a padecer do mesmo problema. Os que por lá passam são no geral em contextos de trabalho sazonal e mesmo precário e por isso o problema continua e até, porventura, agravado pela natureza dessa precariedade e descontrolo.

Em todo o caso, este é um assunto para os especialistas da demografia e das políticas de migração e trabalho. A minha opinião e percepção é apenas a de um simples cidadão.

Mas todo este prefácio para chegar a uma questão que, pelo menos a mim, importa: Por exemplo: Ainda por estes dias, num hotel de uma zona interior deste nosso Portugal, fui servido por um funcionário, português, a quem me interessou saber o nome e se era dali da zona ou de outro local do país. O Rui disse-me que sim, que era mesmo dali e por conseguinte, durante as várias refeições, com ele fui travando uma certa relação com alguma simpatia e cordialidade. Não sei como os outros fazem e gostam de fazer, mas seja num hotel ou num restaurante, gosto de saber o nome das pessoas que me servem e de onde são. Talvez um dia sejamos servidos por máquinas - o que já é verdade em muitas situações - e nessa altura saber se é a Maria ou o Manel, a Alexa ou a Siri, servirá de tanto como limpar o cu a um ouriço de castanhas. Mas por enquanto é algo a que ainda valorizo e faço por cultivar.

Assim, nesse contexto de alguma proximidade que se foi gerando, naturalmente que a um nível meramente profissional, fui questionando o Rui sobre alguns aspectos locais, sobre um ou outro lugar, monumento ou até de tradição e cultura. E o Rui mostrou que sabia da poda e mais do que isso, sentia o que dizia porque, afinal, falava de coisas que conhecia mas que fizeram parte da sua condição de homem daquela terra e região. 

Ora eu pergunto-me se a experiência seria a mesma se fosse servido por um qualquer Édson brasileiro de Florianópolis ou um ucraniano de olhos azuis? O homem até poderia aprender e dominar a língua, estudar a geografia e a história e informar-me, se eu fosse inculto ou ignorante a esse ponto, sobre as coisas daquele local ou região. E até poderia fazê-lo com eficiência mas não seria a mesma coisa pela simples e natural razão de que falaria como um autómato, porque a verdadeira vivência e conhecimento intrínseco, esses nunca os poderia ter. O Rui explicou-me, com um brilho no olhar, o "gancho de Loivos", o atalho para o Senhor do Monte, as particularidades do Arcossó, a tradição do S. Frutuoso, a recta do Sabroso e suas histórias, e muitas outras coisas que não vêm nos mapas ou nos roteiros nem nunca seriam do conhecimento de um Zé brasileiro. 

Nestas, como noutras coisas, cada um que coma o que gosta, e há até quem vá aqui, ali e acolá, só para marcar o ponto como na baliza de uma prova de orientação, para dizer à malta e ao mundo que já esteve em todos os sítios XPTO, incluindo na galeria de vinhaça do Oxalá, mas nada se compara a ir a uma aldeia remota e deixar-se embalar pelas memórias e vivências de um velhinho alquebrado, a descansar à sombra de um pé de videira ou de um Rui, profissional da restauração, a servir Arcossó branco e a falar não só do que percebe mas do que sente.

Boas férias!

26 de agosto de 2023

Deslumbramento...




Seguramente a nobre e bonita freguesia de Canedo tem uma das mais caras festas de arraial do nosso concelho por este querido mês de Agosto, como cantava o saudoso Dino Meira, Tem uma fartazana de artistas da rádio, tv e disco, a quem se paga milhares, tem uma majestosa procissão com mais de 30 andores, que chama mirones de todo o concelho e arredores, alguns andores com santos e santas repetidos, numa devoção redobrada, alguns até decorados com motas, e seguramente alguns milhares de euros gastos em deslumbrantes e exóticas flores.

Dizem que é um deslumbramento! Também concordo que é, mesmo que, quem sabe se pela idade, já pouco dado a deslumbramentos e, verdade se diga, a mais do mesmo, desta vez me tenha ficado pela visita à bonita igreja, esta, felizmente afastada do habitual rebuliço festivo que se vivia no alto do monte da Senhora da Piedade numa cacofonia de sons de carrocéis e bandas filarmónicas apertadas em pequenos coretos.  Além do mais, digo eu, há sempre outras coisas para nos deslumbrarmos. Haja olhos e algum discernimento para ver paradoxos e incoerências em certos deslumbramentos.  Todavia, para mal dos nossos pecados, temos também, nós os de cá, telhados de vidro.

20 de agosto de 2023

Panis et circenses, sufficiunt

Quando percorro uma certa freguesia vizinha, seja de carro, de bicicleta ou como ainda hoje a correr, pergunto-me se esta terra tem alguma coisa parecida com uma junta de freguesia que cuide e trate das suas coisas mais elementares, para além de registar uns cães ou mandar abrir as covas para quem falece, mesmo que a cobrar por isso? A resposta a mim próprio é de dúvida e não de certeza, porque pelo menos por aquilo que é dado a observar, pelo aspecto de abandono e desmazelo dos espaços públicos, ruas, valetas e passeios, parece que não, que não tem.

Mas tem, concerteza, porque de tempos a tempos lá vai havendo eleições e alguém, por vezes repetidamente, acaba por vencer. Mas volto a perguntar a mim mesmo quais são os critérios dos eleitores que escolhem aqueles que serão eleitos? Pela sua capacidade de fazerem bem, em prol de todos, com qualidade e competência, ou no caso e como no caso, em contexto de uniões de freguesias, por alguém que trata melhor da sua do que a  dos outros? Talvez sim, talvez não. Em rigor, por mais que nos digam que a fantástica democracia é isto mesmo, que somos todos nós a escolher e a legitimar quem nos representará, a verdade é que isso é mais ou menos uma treta, poque na realidade 51 decidirão sempre por 49. Dirão, concerteza, que é na aceitação dos 49 pela escolha dos 51 que reside a virtude da democracia. Será, pois será, até porque em rigor não há sistemas alternativos perfeitos, mas para qualquer um dos 49, será indiferente que sejam 51 a decidir por si ou se apenas 1. 

Em todo o caso, não há volta a dar nestas equações e continuará a ser assim até que o povo queira. Por isso, e tomando como exemplo de que nem vale a pena citar nomes, até porque é chapéu que facilmente encaixa em várias outras cabeças, os eleitores das freguesias maiores, mesmo que sem essa objectividade e propósito, decidirão sempre o que fazer com as menores, incluindo o seu esquecimento, já para não dizer desprezo. 

Mas, verdade se diga, esta minha interrogação e dúvidas, que poderão ou não ser partilhadas por outros, no geral não preocupam, porque, mais arroba menos quintal, somos pouco exigentes e havemos sempre de marcar o nosso voto em gente de boa vontade mas incapaz, honrada mas ineficaz, no que toca a esta coisa de gerir os interesses comuns de forma justa, equilibrada e proporcional e até no princípio de reduzir a velocidade de quem vai à frente para que os mais atrasados se aproximem e todos possam caminhar à mesma velocidade. 

Ao fim e ao cabo,  para manter esta pouca exigência do povo,  bastará à maioria que na devida medida não lhes falte o pão e o circo, tal como já há  mais de dois milénios os romanos tinham como orientação para governar Roma e o resto do império. Por isso, no geral, lá vamos nós todos contentinhos com pulseiras nos pulsos abastecer-nos das nossas doses de pão e circo e assim vamos andando acomodados, pelo menos pouco exigentes com quem nos deve servir num sentido de cidadania de todos para todos e não de alguns apenas para alguns. A quem interessa que uma rua esteja esburacada há longos meses, se não é a nossa rua ou por ela não temos necessidade de transitar? A quem interessa que alguém deixe uma obra pública inacabada durante longos meses, num laxismo e desresponsabilização, quase mesmo num desprezo absoluto pelos contribuintes e cidadãos? A quem interessa que os orçamentos se esvaiam significativamente em pão e circo?

As nuvens são macias e dizem que doces, pelo que a muitos pouco importará descer à terra,  à dureza da realidade. Assim sendo "panis et circenses, sufficiunt".

10 de agosto de 2023

Fujamos da chuva!

Num jogo de futebol, vejam lá a novidade, há três desfechos possíveis: a vitória, a derrota e o empate. Por conseguinte, sendo disputado por duas equipas, se não houver empate significa que uma vencerá e a outra perderá. Perceberam?

Por conseguinte qualquer adepto da coisa deve estar preparado para qualquer resultado da sua equipa, seja em que contexto for, para além da outra questão acessória que é a decisão eventual do desempate por penalties. Outros quinhentos.

Todavia, se há muita e boa gente que percebe isto e como tal se comporta, outros há que é tiro e queda, ou seja, convivem mal com a derrota e raramente ou nunca a aceitam. Há quem diga, para o justificar, que isto é fervor, mística e amor ao clube, mas também quem considere que é apenas o elementar fanatismo, falta de fair-play, respeito ou mesmo fanfarronice.

Ora esta situação é mais grave quando esses adeptos ocupam igualmente posições de liderança e como tal com muitos olhos postos no seu exemplo.

Mas em rigor isto já pouco interesse tem e serve apenas para alimentar jornais e debates na TV porque com o futebol na dimensão em que está, não passa de uma mera indústria, um negócio de muitos milhões, que usa os adeptos apenas como fonte de receita para pagar principescamente a jogadores, dirigentes e empresários. Por conseguinte os valores que ainda, pensamos que estão lá, como o desportivismo, o fair-play, o respeito pelo adversário, etc, são na realidade eufemismos sem correspondência e usados apenas para entreter gente sem sono.

Mas que é interessante assistir a este "jogo" para além do rectângulo de jogo, é, porque nele podemos ver até onde vai o pior que o futebol tem, a rivalidade doentia, o desrespeito mútuo, a fanfarronice, a falta de bom senso, etc.

É o que é! Talvez por isso, a leste do paraíso, só soube hoje de manhã do desfecho do resultado de um certo jogo de futebol que terá acontecido ontem ao início da noite. E, como se previa, sem surpresas, não tanto no resultado, que poderia ser qualquer um, mas sobretudo nas reacções a ele. Mais do mesmo.

Se está a chover, fujamos da chuva, a não ser que valha a pena ver alguém a molhar-se!

7 de agosto de 2023

Jornada Mundial da Juventude 2023 - O deve e o haver

Quem por estes dias foi acompanhando, lendo, ouvindo e vendo, sobretudo pela televisão (e uma palavra de parabéns pelo trabalho fantástico da RTP), o decorrer da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, no nosso Portugal, só pode ficar com a certeza de que globalmente tudo correu bem, superando todas as expectativas, tanto ao nível da participação como da concretização do programa.

Nada, porém, é perfeito, e o tempo que se fez sentir principalmente no Sábado e Domingo, com temperaturas elevadas, naturalmente que se reflectiu em desconforto para os largos milhares de jovens, porque para além da exigência do programa, tiveram que tentar dormir em condições difíceis e fazer longas caminhadas entre os diferentes pontos. Já depois de terminado o programa, ainda mais deslocações a pé e o enfrentar de longas esperas pelos transportes em avião, combóio e autocarros, e ainda a duração dos mesmos. Mas, enfim, nada que o coração cheio de motivação proporcionada por quem vivenciou a jornada nos diferentes locais do programa, não ajude a superar, e depois do merecido descanso, serão mais notórias e límpidas as experiências e vivências. Como me disse ontem o Pe. António Jorge ao final da tarde, "...cansadinhos mas cheios de felicidade".

Acredito que para todos os jovens e mesmo para quem apenas acompanhou pela comunicação social em geral e pela televisão de forma particular, foi um evento marcante e que por muitos anos perdurará na memória individual e colectiva.

Agora é tempo de fazer contas e balanços. Já foram sendo feitos, nomeadamente pelo Papa Francisco durante a sua conferência de imprensa em plena viagem de regresso a Roma, e com intervenções avulsas do presidente da república, primeiro ministro, membros do Governo e do clero, mas certamente que com tempo serão feitas contas e balanços mais rigorosos.

Apesar disso, e da percepção geral de que tudo correu bem, do reconhecimento internacional, do importante impacto que representa para o país como reforço do lastro económico sobretudo no sector do turismo, naturalmente que se vão levantar vozes contrárias, juntando-se a algumas que durante o evento aqui e ali foram ouvidas ou que a imprensa deu espaço, bem como outras que estrategicamente estiveram caladas mas que se farão ouvir entretanto. Dirão que  foram gastos escandalosamento 80 ou 100 milhões, quando ninguém se impressiona ou escandaliza com uma transferência de um vulgar jogador da bola por 100, 120 ou 200 milhões, que sendo dinheio dos clubes é também em larga medida dos contribuintes e do país. Mas é sempre assim e não faltou nem faltará quem pretenda misturar alhos com bogalhos e a menorizar ou mesmo ressalvar  a árvore no meio da floresta.

É claro que nestas coisas, é importante a contenção, gastar o apenas necessário e quaisquer ostentações desmusaradas e desproporcionais devem ser sempre limitadas, mas enquanto portugueses, para além de mostrarmos ao mundo que sabemos organizar grandes eventos, somos igualmente mestres a fazer disparates, como o caso dos estádios de futebol aquando do Europeu de Futebol em 2004 e que deixaram uma herança de elefantes brancos ao abandono ou utilizados esporadicamente só para não esquecermos que existem. 

No caso tão falado do palco do Campo da Graça, teria sido possível gastar muito menos. De resto os demais placos mostraram que era possível gastar menos com o mesmo efeito visual e funcional. Ainda bem que reduziram os gastos mas poderiam ter ido mais além, embora o tempo já fosse escasso para grandes alterações.

Alguns sectores também fizeram questão de continuar a mexer na ferida dos abusos sexuais, como se ela tenha sido esquecida, o que não foi, a começar pelo próprio Papa Francisco. Importa de facto não esquecer esta triste realidade e tudo fazer para quem nem um único caso fique por justiçar e reparar, ou que volte a acontecer, mas importa igualmente analisar a coisa como um todo. Infelizmente estes casos não são exclusivos da igreja católica e é horrendamente transversal a muitos sectores, como todos os dias somos confrontados pelas notícias de novos e antigos casos. 

Para além de tudo, apontamos o dedo à Igreja, quase esquecendo que os casos de pedofilia e abusos sexuais e morais acontecem tantas vezes no seio da própria família, com crianças a serem abusados por progenitores e familiares. Resulta desta ideia, de que este é um caso grave e que importa combater por todos os meios e com políticas e acções que previnam. Todavia, fazer crer que este é apenas um pecado grave da Igreja é fazê-lo de uma forma discricionária e é em si mesma uma fraca atitude. Pode-se não gostar da Igreja, dos padres, dos cristãos, dos católicos, ou seja lá do que for, mas ignorar igualmente o importante e fundamental papel da igreja no plano espiritual, mas sobretudo social, e tanta e tanta gente boa que se entrega de corpo e alma a causas e a pessoas desprotegidas e vulneráveis, é demonstrar ignorância e apenas uma premeditada repulsa facciosa. E não falta e nunca faltarão acérrimos opositores. É a lei da vida e nem sempre somos capazes de analisar as coisas de forma imparcial.

Neste contexto, a Igreja, no caso a católica, tem que, de facto, admitir e curar os seus pecados, ser mais aberta para tudo e todos e no geral acolher e passar à prática tudo quanto por estes dias foi dizendo por palavras objectivas e claras o Papa Francisco. Em muitos sectores da Igreja, nomeadamente nas células paroquiais, já muito está e vai sendo feito, mas importa ampliar porque os desafios são muitos e grandes. Não ser capaz de fazer isto é deixar para trás o combóio e, pior do que isso, é deixar a sociedade navegar sem objectivos e valores morais e humanistas que conduzam ao bem geral de todas as sociedades e povos, enfiam, da humanidade em toda a sua diversidade de raças, culturas e religiões, mesmo para quem não é crente.

É um lugar comum dizê-lo, mas de facto urge que todos os aspectos positivos decorrentes desta Jornada Mundial da Juventude não caiam em saco roto, em terra infértil, e que entretanto, pousada a poeira e caídas as canas dos foguetes, fique na memória apenas como mais um evento como se fosse apenas um qualquer festival musical, um woodsotck católico, como alguma imprensa sensacionalista o prognosticou, a mesma que escreveu que "jornadas mundiais começam com zaragata entre peregrinos num bar". 

A ver vamos se será a sociedade, no geral, capaz de vir a colher frutos deste enorme evento, católico, cristão mas sobretudo ecuménico. Naturalmente que todos esperamos que sim e creio que mesmo que daquele milhão e meio de jovens se apenas 10% for capaz de frutificar nos diferentes contextos onde se envolvam, já terá valido a pena.  

Rumo a Seul em 2027!

6 de agosto de 2023

Quem se importa?

Quando um evento de entretenimento se transforma num parque de diversões a cobrar bilhete e  impede o cidadão comum de usufruir do direito constitucional à liberdade de circulação de um amplo espaço público, que é de todos, e tanto mais em zona nobre de uma vila ou cidade, não por duas ou três noites mas por duas semanas, algo está mal ou pelo menos e seguramente desproporcional. Mas há quem se entusiasme e regozije por isso e até ajude à festa. 

Não surpreende, pois, que, sendo assim numa suposta democracia, seja demasiado fácil implementar as ditaduras. A História está repleta desses guias ou manuais de como o bem fazer.

Falta-nos sentido crítico, porque em nome do políticamente correcto e porque parece bem às hordas, vamos andando, já amestrados, a toque de caixa, e tudo nos parece normal mesmo se privados de valores essenciais em nome do não sei de quê e das quantas. 

Tum, tum, ta, ta, tum, tum, tum, ta, ta, tum! - Acerta o passo, ó 21!

3 de agosto de 2023

Coerência ou falta dela

Em regra sofremos todos do mesmo mal no que à coerência ou falta dela (incoerência) diz respeito. Portanto o problema é transversal e não adianta estar aqui a considerar qualquer reflexão como moralista, mas apenas como acto de penitência e num humilde auto-reconhecimento de que somos falíveis quando toca a tomar atitudes consentâneas com o que deveria ser a ordem natural das coisas.

Feita a introdução, como caso concreto falo dos largos milhares de euros que algumas comissões de festas gastam anualmente em foguetes, em bandas e artistas, tudo para puro entretenimento, quase sempre de qualidade duvidosa mas de agrado fácil, e, no entanto, e lá está, sem uma coerência de base, as capelas e igrejas de que cujos patronos motivam a festividade, estão tantas vezes com mau aspecto, a precisar de investimento em obras de conservação. 

Veja-se, como mero exemplo, o caso da bonita e honrada freguesia de Romariz que por estes dias e coincidindo com a nossa festa terá gasto, assim com umas contas feitas por alto, mais de 50 mil euros, com um naipe de artistas de renome no campeonato da música pimbó-popular, e, contudo, com a sua linda igreja matriz a oferecer uma má imagem com as fachadas a precisarem de pintura. Bem sei que a Senhora dos Remédios habita numa tão pequena quanto bonita capela, ali pela proximidade a cerca de 1 Km, mas é certo que o centro da festa ocorreu nas imediações da igreja.

Mas como dizia, este mal é geral e nós, em Guisande, não somos melhor exemplo do que Romariz ou de qualquer outra freguesia, pois mesmo que com um orçamento muito mais humilde e contido quanto aos gastos com a festa, temos igualmente a nossa capela, no exterior, mas sobretudo no interior, com muito mau aspecto, com as paredes salitradas a descascarem e a cobertura a meter água, por isso a precisar de obras de conservação urgentes, de resto já previstas realizar. E ali o probema não é de agora mas de há anos. Vale-nos, pelo menos como atenuante, que já há algum dinheiro angariado para tais obras e que resultou do saldo da festa das edições anteriores e parece-me que se sobrar dinheiro da festa deste ano (o que se espera), também terá o mesmo objectivo. E de um modo geral com a festa do Viso sempre foi assim, com os saldos positivos (felizmente na maior parte dos anos) a reverterem sempre para obras e melhoramentos na capela.

Em todo o caso, como disse, esta reflexão não pretende ser moralista porque o mal é mais ou menos geral, mas talvez devêssemos ter em consideração que tão ou mais importante que ter um artista ou banda de renome numa qualquer festa, importará haver brio, bairrismo e amor próprio com as nossas coisas comuns, como são as nossas igrejas e capelas, pela importância que representam para as comunidades em termos históricos, identitários e sócio-culturais.

Nestes casos em concreto, têm que ser as comunidades a avançar, porque mesmo e com a desculpa que são edifícios que pertencem à Diocese ou à Sé, certo é que se estivermos à espera que tais donos ou entidades do estado as conservem, como seria normal, bem que depressa cairão de ruína, sem apelo nem agravo.

31 de julho de 2023

Um saldo positivo mas que poderia ter sido melhor

Terminaram as ditas pré-jornadas da Jornada Mundial da Juventude e os muitos jovens peregrinos internacionais que um pouco por todo o lado estiveram perto das nossas comunidades, nomeadamente integradas em famílias de acolhimento, foram ou estão já a caminho para Lisboa onde decorrerá o evento maior durante esta primeira semana de Agosto.

Como nota prévia, sem rodeios, pela minha parte, enquanto membro de família de acolhimento e enquanto comunidade, a experiência foi muito positva e enriquecedora.

Importará agora, talvez, fazer um pequeno resumo ou um balanço dos dias que por cá passaram, concretamente na nossa comunidade inter-paroquial de Guisande, Pigeiros e Caldas de S. Jorge. Assim, e tendo em conta apenas a minha experiência como parte de uma família de acolhimento, parece-me, e ressalvo que é somente a minha opinião em face da experiência pessoal e familiar, que o programa delineado para a semana desta pré-jornada poderia ter contemplado alguns outros aspectos que dessem ao relacionamento e partilha dos peregrinos acolhidos com os acolhedores um maior espaço e tempo e deles uma dinâmica mais pessoal. 

Conforme foi programado e executado, parece-me que os momentos exclusivamente familiares, senão poucos, foram pelo menos curtos e basicamente circunstanciais. Os jantares (no nosso caso apenas por 3 vezes) foram sempre condicionados pelo horário, porque entre o momento de recolher os jovens depois dos eventos do dia, dar-hes tempo para tomarem banho, comerem e de novo levá-los aos locais dos eventos da noite, tiveram manifestamente pouco tempo. Foi uma correria constante entre refeições e eventos. Ainda, no grupo Whatsapp criado para o efeito, alguma descoordenação na informação de horários, a várias vozes e com informações por vezes contraditórias ou confusas. Chegou mesmo a anunciar-se que a missa de Domingo na capela do Viso seria transmitida pelo Porto Canal. Obviamente que um inocente lapso já que a transmissão se referia à celebração da missa na cidade do Porto, no Sábado. Também quanto a transportes, o que foi informado que inicialmente era uma desobrigação, para além de facilitar a básica deslocação para os pontos de recolha em cada paróquia, acabu por se tornar quase um imperativo e não fosse assim não sei como seria para muitos dos peregrinos ir ou regressar dos eventos.

Sendo certo que alguns momentos programados para as noites eram abertos às famílias e comunidade, em rigor e pela dinâmica própria de diferentes gerações e ainda porque alguns dos acolhedores (como nós) estavam em período de trabalho, com horários a cumprir, não podemos dizer que o contexto tenha sido o ideal a essa interactividade. Por conseguinte, apesar da experiência globalmente positiva e de nossa parte tudo fazermos para que houvesse uma plena partilha com as peregrinas acolhidas, em rigor, analisadas as coisas, sobretudo pela limitação de tempo e circunstâncias da programação, fomos, em certa medida,  famílias de alojamento e não tanto de acolhimento. Com quem na mesma situação de família de acolhimento fui falando, a percepção era semelhante.

Creio que uma forma que poderia contribuir para esse melhoramento das condições, seria que os momentos após os jantares ficassem exclusivamente reservados por conta das famílias que assim poderiam levar os peregrinos a outros pontos e experiências. Mas não foi assim! Parece-me que por parte dos programadores, mesmo que com a melhor das intenções, houve uma preocupação em dar divertimento aos jovens, com boas doses de concertos, música e dança, como se no fundo e em grande medida as suas necessidades se resumissem a isso. Parece-me que no contexto de uma jornada com cariz ecuménico, é certo, mas também e sobretudo católico, os momentos de diversão poderiam ser um bocadinho menos expressivos a favor de outros que privilegiassem o tal espaço, tempo e contacto alargado com as famílias de acolhimento, porque estas foram peças fundamentais não só logísticamente como nas vertentes social e cultural da dinâmica da semana.

Mas, isto sou eu a falar com os meus botões e, passe esta impressão e sensação de constante correria, conforme disse na nota prévia não deixo de considerar a experiência globalmente muito positiva e merecedora de enaltecimento ao empenho e dedicação de muita gente nas diferentes comunidades, como o pároco, os grupos de jovens e não só, que trabalharam e coordenaram toda esta dinâmica.

A todos, nomeadamente aos da nossa paróquia, bem hajam!.

Quanto aos jovens estrangeiros que passaram por cá esta semana, um desejo de que a mesma tenha sido positiva e enriquecedora e que levem de Portugal e dos portugueses uma imagem positiva da sua forma de estar e acolher. Nós sabemos, queremos e gostamos de acolher, não a qualquer preço, mas de gente com vontade de também dar contributos e desde logo o respeito e esforço de integração na cultura e identidade do país que acolhe. Quem cá chega em contextos de mero mercantilismo, oportunismo de um certo laxismo ou facilitismo das entidades públicas e do estado social, impondo e fazendo querer prevalecer os seus hábitos e culturas, não são bem vindos, porque nada acrescentam. 

Como cantava o Zeca Afonso, quem vier por bem, traga outro amigo também!

27 de julho de 2023

Ainda as linhas de água que metem água


Há dias escrevi aqui sobre uma certa situação que configurava uma incompreensível dualidade de critérios quanto à aprovação ou reprovação de operações de edificação supostamente por colidirem com linhas de água, nomeadamente aquelas assinaladas na cartografia militar, habitualmente estas representadas nas escalas 1/25000 ou 1/50000, ou seja, sem qualquer rigor métrico. Sem uma análise rigorosa e apenas com um parecer emitido por alguém com o cu mergulhado no sofá e no conforto do gabinete, com o super poder de ver mosquitos em África.

Mas, voltando ao tema, e agora especificamente relativamente ao nosso território, para efeitos de comparação, de exemplo e mesmo de reflexão, fica a constatação de que a Sub-Estação Eléctrica de Santa Maria da Feira, localizada no nosso Monte de Mó, para além de ter decorrido de uma enorme movimentação de terras e alteração da topografia do terreno natural que se verificou no processo da sua construção, isto claro para além de vários postes ali plantados e uma densa rede electromagnética, para além de implantada em solo classificado no PDM como Estrutura Ecológica Municipal e Reserva Ecológica Nacional, abrange ainda cabeceiras de linhas de água.

Isto é, os mesmos pressupostos e condicionantes que impedem a edificação de uma habitação ou mesmo de um simples galinheiro ao cidadão comum, a uma escala insignificante, é, no entanto, permissiva para uma ampla edificação ou infra-estrutura para o estado ou suas entidades. E nesta conta podemos ainda incluir a auto-estrada A32 que também desbaratou no seu traçado solos classificados como Reserva Ecológica Nacional, a tal que não permite a construção de um galinheiro ou um simples muro. 

Neste contexto, há efectivamente uma dualidade de critérios gritante, grave e incompreensível e que só motiva o descrédito das entidades que nestas coisas deviam ser imparciais. Podem até invocar leis e interesse público, mas o descrédito e desproporcionalidade continuam a ser lesivos para os cidadãos, para os contribuintes.

Mas de facto é o que temos e não há volta a dar. Já o Dr. Mários Soares, mesmo na condição de presidente da nossa república, dizia intepestivamente que tínhamos o direito à indignação. Mas esta, em rigor, é algo abastracta e que não faz mossa aos ouvidos de mercadores dos senhores mandantes e decisores. Por conseguinte, a coisa já não vai lá com paninhos quentes. No mínimo, face a esta nossa incapacidade, mas porque não somos tolos nem anjinhos, podemos e devemos, pelo menos, conceder-lhes todo o nosso desprezo.

26 de julho de 2023

Ir a banhos. Olé, olé!

Atentos aos resultados das eleições legislativas em Espanha, neste último Domingo, apesar da vitória do PP, de Alberto Núñez Feijóo, em rigor as coisas mantêm-se mais ou menos iguais no que toca a indefinição e incerteza governativas, e tudo aponta para uma geringonça de esquerda à espanhola, em que tal como cá em 2015, o partido mais votado ficou de fora do governo pela equação de uma maioria parlamentar também de esquerda, ficando António Costa, o líder do partido derrotado, o PS, desde então a governar como primeiro-ministro. Por conseguinte, em Espanha, Pedro Sánchez, líder do PSOE, poderá encontrar uma solução à portuguesa, mesmo sabendo o que dela resultou ao fim de 6 anos apesar de várias cedências à extrema esquerda.

Mas isto é em Espanha e também, se forem inteligentes, poderão os espanhóis aprender a lição portuguesa de que mesmo com uma maioria absoluta, as coisas podem continuar a correr mal, com demissões, casos e casinhos, comissões parlamentares de inquérito e que apesar de um crescimento económico as pessoas continuam com dificuldades e os sistemas públicos em permanente crise. 

Isto significa que as eleições só por si, sejam quais forem os resultados que delas decorram, podem não resolver os problemas concretos das pessoas e das sociedades e dos respectivos países. É preciso acima de tudo uma boa interpretação dos resultados, um sentido de estado, coerência política e diálogo. Extremismos ideológicos não levam a lado nenhum ou, melhor dito, levam a esta constante indefinição. 

Apesar desta opinião, por mim podem os nuestros hermanos marcar já novas eleições para a próxima semana e se nada mudar, outras logo a seguir e assim sucessivamente, num estado de permanente acto eleitoral. Pode ser que o povo um dia se canse definitivamente destas particularidades dos nossos regimes democráticos, nomeadamente na nula importância dada ao partido ou força política ganhadora, em que às tantas um partido com um único elemento eleito é determinante em desfavor de um partido com centenas de deputados, e em vez de votar sem proveito aproveite o dia para ir a banhos. Ora o que não falta por lá, como cá, são boas praias.

Em resumo, tenho para mim que o partido mais votado deveria ser sempre o partido a governar, mesmo que em minoria. A instabilidade governativa eventualmente decorrente de desaprovações ou mesmo moções de censura, seria depois melhor analisada pelos eleitores que agiriam em consequência da sua leitura quanto a responsabilidades. Veja-se, como exemplo, em 1987 a moção de censura ao governo do PSD/CDS de Cavaco Silva, apresentada pelo PRD - Partido Renovador Democrático e apoiada pelo PS e pelo PCP. Em resultado da queda do governo, e marcadas eleições antecipadas pelo presidente da república, Mário Soares, o PSD venceu com maioria absoluta, com o eleitorado a penalizar quem derrubou o governo e a contribuir para o quase desaparecimento do PRD (passando este de 45 para 7 deputados) que pouco depois aconteceu, apesar de em rigor e com viragens ideológicas, ter vindo a dar lugar ao que é actualmente o Ergue-te (E), sem qualquer expressão política e eleitoral.

As maiorias parlamentares previstas pelo nosso regime eleitoral e constitucional têm provado ao longo dos tempos não serem grande solução nem garantia de estabilidade durante os respectivos mandatos bem como, de algum modo deturpam o sentido de voto. Por exemplo, o eleitor do partido "A" votaria nesse partido se soubesse que o mesmo se viria a aliar ou a coligar com o partido "B" ou "C"? Eu não votaria, pelo que acontecendo, sentir-me-ía, enquanto eleitor, defraudado. Ora na apologia das maiorias parlamentares urdidas por interesses políticos, com posições sobre elas nem sempre claras e assumidas em campnha eleitoral, quase sempre se ignora esta situação. Em bom rigor e em nome da transparência, seria preferível que em vez dos arranjinhos de maiorias parlamentares à posteriori os partidos concorressem em coligações. Nessas circunstâncias os eleitores votariam de forma esclarecida e já sabendo se concordavam ou não com tais coligações. Mas, é claro, os grandes partidos, raramente fazem isso. Em Portugal tem-no feito com regularidade o PSD com o CDS, sendo que este geralmente com pouca expressividade eleitoral. Mas de facto seria interessante ver o PS coligado com o BE e o PCP, ou o PSD com o IL (Chega p´ra lá!). Aí não haveria dúvidas na hora de votar por quem e os leitores decidiriam em consciência em qual geringonça apostar. Mas é tirar daí o cavalinho da chuva!

No fundo, esta forma de falsear a vontade dos eleitores, não é novidade e quem vota é sempre um boneco neste teatro de operações e daí se compreende o cada vez maior desinteresse pelos actos eleitorais que assim registam altas taxas de abstenção, de votos em branco e nulos.

20 de julho de 2023

Linhas de água e decisões a meter água

Confesso que desde que vi um porco maneta a andar de bicicleta e ainda a usar o telemóvel e óculos de sol,  já nada me surpreende. Mas mesmo assim, há certas coisas e determinadas decisões que pela sua aparente dualidade de critérios, não dá para perceber de todo o que vai na cabeça de quem as toma. E das duas uma: ou encolhemos os ombros numa indiferença de quem diz - Deixa andar!, ou então toma-se a coisa a peito e incomoda-se. 

Nesta situação de que falarei, por mim, apesar deste texto com um objectivo de reflexão, nem uma coisa nem outra, porque não me diz respeito de modo particular mas apenas como cidadão, e porque mesmo não compreendendo o diferente tratamento para coisas semelhantes, deixo a coisa rolar porque, como dizia há dias o Dr. Rui Rio, "...já não tenho esperança neste país".

Então é assim: Há dias tomei conhecimento que numa certa câmara municipal foi indeferido um pedido de informação prévia para a construção de uma habitação, tão somente por haver um parecer desfavorável e vinculativo de uma entidade externa que considera (e esta gente não sai do gabinete para fora para comprovar) que a pretensão, de acordo com a cartografia militar, se implantava em zona  de passagem de uma linha de água.

Em rigor,  isso não é verdade porque a linha de água existe mas desde há décadas a passar pela extrema do terreno e  por isso fora da zona prevista para a implantação da moradia. Tal facto pode facilmente ser verificado e comprovado com uma visita dos técnicos ao local, o que não aconteceu. 

Além do mais espanta que tal decisão e parecer desfavorável tomado como vinculativo decorra da leitura de uma carta sem rigor métrico, porque na escala 1/25000 e ainda por cima em contra-mão com as cartas de ordenamento e condicionantes do PDM da respectiva câmara municipal, nas quais tal linha de água não está assinalada, não tem qualquer classificação porque irrelevante, muito menos de domínio público hídrico. E daqui, uma leitura possível e surpreendente, mesmo paradoxal, de que afinal uma carta militar sobrepõe-se a uma carta do PDM, supostamente bem definida quanto à classificação do solo e condicionantes. Esta é de facto uma novidade!

Mas tudo isto até poderia ser classificado como natural e curriqueiro e uma vez verificada a natureza e o verdadeiro traçado da linha de água, a coisa certamente viria a ser reapreciada e deferida. Ou seja, o parecer desfavorável até pode ser positivo no sentido de despoletar a confirmação "in loco" se há ou não inconformidade lesiva para terceiros.

Mas, cá está, a ligeireza, o paradoxo e a dualidade de critérios que são insondáveis, porque na mesma freguesia da área administrativa da mesma câmara municipal, não apenas como informação prévia mas já com licenciamento aprovado, está em construção uma habitação que também ela está totalmente sobreposta a uma linha de água, e já agora com fluxo permanente e não de apenas águas pluviais. Mas pelos vistos, na fase de análise técnica, niguém ligou patavina à linha de água na carta militar. Vá lá saber-se porquê...

Por conseguinte, a obra está em curso, a obra irá ser acabada e habitada e faz-se de conta que tudo está bem e que esta dualidade de critérios e análise dos regulamentos  e pareceres administrativos depende apenas de sorte ou azar ou aptidão óptica dos técnicos e decisores, como num jogo de roleta russa.

Mas ainda voltando à mesma bendita linha de água que motivou o indeferimento, a mesma passa por debaixo do logradouro pavimentado de uma instalação industrial, tendo sido entubada há anos ao arrepio da lei, e mesmo da mesma entidade externa, vá lá saber-se se por ordem de que divino espírito santo. Mas lá está, serena e tranquila. De resto o que não faltam por aí, no tal concelho e nos demais, linhas de água a passarem por debaixo de construções decorrentes de edificações clandestinas, é certo, mas igualmente por aprovações tomadas num tempo em que os atentados ao ambiente eram moda e carimbavam-se num qualquer almoço ou jantar entre velhas amizades.

É pena que seja assim, porque estas coisas devem ser decididas de forma criteriosa e segundo os mesmos princípios constitucionais de igualdade e direito. Infelizmente, nesta situação, não me parece que tal imparcialidade tenha acontecido e por isso é que se torna incompreensível. Mas, fico-me por aqui. Deixa rolar! 

Os proprietários, obviamente que não têm qualquer responsabilidade na decisão porque em primeira mão cabe aos decisores técnicos e políticos analisarem do cumprimento e do respeito pelas normas regulamentares, mesmo que lhes apresentem projectos com as tais linhas de água omitidas. Mas mesmo que tomemos as tais linhas de água que constam nas cartas militares como decisivas a ponto de constituirem motivo para pareceres nagativos, então que se tomem como obrigatórias as cartas militares na análise de todo e qualquer projecto. Dessa forma estaria a ser seguido um critério de igualdade e imparcialidade. Ora não sendo assim...dá merda!. 

Já agora, o recorte da cartografia militar que ilustra este artigo, que não tem nada a ver com a zona em questão,  é apenas demonstrativo aos meus leitores do que é uma carta militar e do rigor que se pode ter da mesma. Uma casa que tenha 15 x 15 metros, por isso com 225,00 m2 de área de implantação, está ali marcada como uma caganita de mosquito. É caso para se dizer que os senhores que decidem e dão pareceres nos gabinetes, conseguem ver mosquitos em África.

19 de julho de 2023

Já não será tempo a mais?

Já manifestei pessoalmente ao Sr. presidente da Junta da União de Freguesias a preocupação pela situação da Rua de Trás-os-Lagos a qual, já depois de ter demorado demasiado tempo na abertura de valas e colocação das redes de águas e saneamento, já vai em pelo menos três meses com a falta de reposição de pavimento nas zonas intervencionadass, nomeadamente e de forma mais premente, nas valas transversais. Não é pedir muito, nem se pede a pavimentação geral da rua, mas pelo menos essas valas e a zona junto à rotunda deveriam ser remendadas mesmo que de forma ainda provisória.

Parece-me que estas obras quando começam deviam acabar e não ficar a meio de forma indefenida numa aparente indiferença. Parecendo que não, quem ali tem que passar várias vezes ao dia, como eu, é penalizador. A conta na oficina aumenta mas, quem sem importa? De resto, não sei se este tipo de situação ocorre noutros paises ditos desenvolvidos. E não vejo isso acontecer numa estrada nacional.

Penalizante é esta situação e de forma mais agravada para os moradores mais afectados, no troço entre a rotunda e a Rua Nossa Senhora de Fátima, do lado poente, os quais para além de terem a vala defronte das portas, têm que lidar ora com o pó ora com lama.

Eventualmente estará na perspectiva a instalação das ditas redes também na rua perpendicular, a Rua da Zona Industrial, mas parece-me que uma não é impeditiva de outra. Todos percebemos, e sobretudo quem já passou pelas Juntas, que estas coisas não são ao ritmo e da forma como todos desejamos, e que têm a sua complexidade, nomeadamente nos concursos de adjudicação, mas tem que haver alguma razoabilidade e, como disse atrás, quando se começa uma obra deve a mesma ser concluída. Ficar a meio por largos meses e sem garantia de quando será concluída é que já não parece muito bem. Se não era para acabar, que não se começasse para ficar a meio.

Ficamos a aguardar e a contar os meses, na expectativa de que a Junta estará atenta e naturalmente também preocupada. 

Entretanto, nota-se que alguns repórteres do passado para o alerta público deste tipo de situações, têm estado menos atentos ou mesmo fora do activo.  A imparcialidade não é para todos.

18 de julho de 2023

Dor, angústia


Será mais dolorosa a angústia

Ou angustiante a dor?

Que poder tem uma sobre a outra?

Complementam-se, antagonizam-se?

A dor e a angústia são experiências humanas profundas e complexas, e é difícil determinar qual delas é mais intensa ou dolorosa. Cada pessoa pode vivenciá-las de maneira única, de acordo com sua história, personalidade e circunstâncias individuais.

A dor pode ser física, causada por lesões, doenças ou traumas, e também emocional, proveniente de perdas, desilusões ou sofrimentos psicológicos. Ela se manifesta como um alerta, um sinal de que algo está errado, e pode ser avassaladora, exigindo cuidados, tratamentos e tempo para a cura.

Por outro lado, a angústia é um estado emocional caracterizado pela ansiedade, pelo desconforto e pela sensação de apreensão. Ela pode surgir diante de incertezas, dilemas morais, conflitos internos ou diante do vazio existencial. A angústia não possui uma causa direta e tangível como a dor física, mas é igualmente impactante e debilitante.

Dessa forma, a dor e a angústia podem entrelaçar-se e influenciar uma à outra. A dor física intensa pode gerar angústia, levando-nos a questionar a própria existência e a lidar com a limitação imposta pelo corpo. Da mesma forma, a angústia prolongada pode desencadear dores físicas, como tensões musculares, dores de cabeça e distúrbios do sono.

Embora possam parecer opostas, a dor e a angústia muitas vezes se complementam e se entrelaçam. Ambas são experiências humanas que nos desafiam, nos colocam em contato com nossa vulnerabilidade e nos convidam a refletir sobre nossa condição. Através delas, podemos desenvolver resiliência, empatia e um maior entendimento de nós mesmos e dos outros.

Porventura, em vez de buscar respostas e determinar qual é mais dolorosa ou angustiante, é importante reconhecer e acolher ambas as experiências como partes integrantes da jornada humana. Ao enfrentar a dor e a angústia com coragem e compaixão, podemos encontrar caminhos de superação, crescimento e transformação. Mas, claro, não é fácil.

17 de julho de 2023

Meter a foice na (poda) seara alheia...

A propósito do assunto da poda dos arbustos e limpeza realizadas por elementos da Comissão da Festa do Viso - 2023, na envolvente da nossa linda igreja matriz, que veio à baila no Facebook, meti a foice na seara alheia, isto é, também me meti na conversa mas num objectivo de serenizar.

Diz a minha experiência e a minha idade que quase sempre nestas coisas e conversas travadas no espaço mais ou menos público, como é uma rede social, quase todos saem chamuscados porque nem sempre travadas com equilíbrio, sensatez e respeito pela opinião de todos. Assim, como na velhinha fábula da luta entre o padeiro e o carvoeiro, que aprendemos noutros idos tempos pelos livros da escola primária, ficaram ambos os intervenientes sujos. Nem o padeiro se manteve branco e imaculado como a farinha, saindo enfarruscado, nem o carvoeiro negro como o carvão, saindo empoeirado. Por conseguinte, quem se mete em conversas alheias, mesmo que no fórum público, arrisca-se a sair chamuscado.

Mas também diz a experiência que se somos pessoas livres e com opinião, se valorizamos e respeitamos ambos os pontos de vista, devemos então dar o nosso contributo com opinião num sentido positivo, mesmo correndo esse risco, sob pena de condicionarmos a nossa própria consciência, numa atitude fácil de não desagradar a Deus nem ao diabo ou o contrário. Ora por vezes é difícil conciliar esta neutralidade. Talvez por isso é que muitos preferem intervir de forma lateral e não pública, atirando a pedra e escondendo a mão.

Por conseguinte, a mesma experiência de uma vida aconselhava que devia deixar prosseguir a discussão e assistir descontraído no alto da bancada, como se constuma dizer. Mas intervi e ali deixei o meu comentário, a minha opinião, pela justa razão de que acho que mesmo com pontos de vista diferentes, e uma ou outra consideração menos medida e mais contundente, todos demonstram paixão e interesse pelas coisas da nossa freguesia e paróquia.

Para quem não seguiu a conversa, devo dizer que grosso modo o nosso estimado André Silva, que todos conhecem pelo amor e interesse pelas coisas da paróquia, de algum modo expressou o seu descontentamento com a forma como foi feita alguma da poda, nomeadamente, no seu dizer, por não serem respeitados os modelos que já existiam do passado e provenientes da mão do saudoso Pe. Francisco e achando que com isso foi "destruído" o trabalho de muitos anos.

Assim, porque tenho uma elevada estima a carinho pelo André, e partilho com ele muitas considerações sobre as coisas da paróquia, mas também valorizo quem de forma desinteressada trabalha com qualidade pela freguesia, como é o caso de qualquer Comissão da Festa do Viso, e do trabalho desta de modo particular no caso da limpeza e poda, acabei por comentar, compreendendo o seu ponto de vista mas achando-o um pouco injusto face ao trabalho que foi feito.

Mas voltando ao cerne da questão, era notório que os elementos arbustivos que adornam o nosso adro e a nossa igreja, estavam numa situação de desmazelo, a reclamar uma intervenção de limpeza e poda. E aqui nem importa reclamar de razões ou atribuir culpas do desmazelo. Em última análise somos todos responsáveis. Por conseguinte, mesmo que possamos discordar de alguns aspectos, porque há sempre vários pontos de vista, e diferentes formas de intervir, e cada cabeça sua sentença, é de justiça valorizar o que foi feito, tanto mais, como no caso, com um propósito de melhorar e zelar.

Esperemos que de facto os arbustos regenerem, e deve haver algum cuidado na rega nestes meses de Verão, e se componham para voltarmos a ter um adro ajardinado de modo a que não desmereça a nós próprios, paroquianos, como a quem nos visita. O adro e envolvente da nossa igreja sempre foram um motivo de orgulho, um postal vivo, e para que isso se mantenha é preciso trabalho e dedicação. Ao longo dos tempos foram muitos. Ora as plantas também precisam de cuidados, quer na poda quer na rega e o abate ou cortes radicais e muitas vezes a sua substituição apenas por pavimentos, nunca serão boa solução a não ser por motivos maiores e devidamente justificados como doenças das plantas ou quando impeçam outras situações como circulação e acessos.

Em resumo, importa nestas como noutras coisas de interesse colectivo, haver discernimento, bom senso e razoabilidade e nunca decisões unilaterais, precipitadas e radicais que só contribuirão para desunir a comunidade. Ora o que importa verdadeiramente aqui, parece-me é unir, é congregar. Tudo o que for feito nesse sentido será sempre de enaltecer.

Santo facilitismo

O Conselho de Ministros aprovou por estes dias um diploma que estabelece perdão de penas e amnistia de crimes e infrações praticadas por jovens entre os 16 e 30 anos, a propósito da vinda do Papa a Portugal aquando da Jornada Mundial da Juventude que decorrerá em Lisboa na primeira semana do próximo mês de Agosto..

Sem saber ainda em que moldes a coisa vai ser promulgada, até porque não é concensual entre os partidos, bem como se colocam questões como o de direitos de igualdade e benefício de uma faixa ectária, pessoalmente sou contra. E sou contra porque num estado, regime e sistema penal muito permissivos, já com uma elevada percentagem de crimes resolvidos com penas suspensas, multas irrisórias e aplicação de serviço comunitário, que na maior parte dos casos não é cumprido, este perdão e amnistia são mais uma prova de forrobodó e de facilitismo neste país de bananas. Uma mensagem errada para a criminalidade de que certos crimes compensam. Por outro lado, tantas vezes se pretende vincar o cariz de Estado laico e depois alinha-se nestas acções decorrentes de uma jornada de âmbito religioso.

Ademais, em que ponto ficam as vítimas de uma grande parte dos crimes abrangidos? Sendo certo que uma grande parte deve-se a dívidas fiscais e administrativas ao próprio Estado e à sua máquina de caça à multa, os lesados somos todos nós, jovens, adultos e velhos.

Mas, enfim! Nada a fazer! Nestas coisas pouco ou nada podemos fazer a não ser manifestar o nosso ponto de vista. E o meu é contrário a essa decisão. 

É caso para se dizer que, passe o trocadilho, os criminosos ou incumpridores são os beneficiados e os outros, os certinhos e direitinhos, que cumprem os seus deveres, são os papados.