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12 de janeiro de 2024

O preço da independência e da honestidade

Tempos houve em que um pouco por todo o país e sobretudo em tempo de eleições autárquicas, entre um vasto caderno de encargos de promessas, como a clássica do instalar na terrinha um Posto Médico com doutores e enfermeiros, alguns candidatos também prometiam que nada ganhariam e que as suas remunerações pelos cargos seriam juntas e depois aplicadas em algo de importante para a freguesia, fosse para uma rua, para um parque infantil, para o clube de futebol ou mesmo para uma sede de uma qualquer associação de bem público. É certo que em rigor era e é pouco dinheiro, sobretudo para os titulares de cargos em pequenas aldeias, e por isso é que tal exemplo nunca foi seguido, parece-me, quanto a presidentes de Câmara e vereadores, porque aí a esmola era demasiado grande para dela se abrir mão, mas nas Juntas, como "grão a grão enche a galinha o papo", diz o povo na sua sabedoria milenar, certo é que alguns lá somaram uns milhares, de contos ou euros, pouco importa ao caso.

Para além da parte demagógica deste tipo de promessas, nunca percebi o verdadeiro alcance desta "generosidade", como se ela fosse necessária e de substância para provar a seriedade e dedicação desinteressada pela causa pública. A meu ver nunca foi precisa, porque a um trabalhador cumpridor e honesto é justo e até um direito universal que se pague o salário ou a remuneração que a lei lhe confere. Por conseguinte um autarca de Junta, seja presidente, tesoureiro ou secretário que por motivos eleitoralistas abre mão das sua remuneração legal a favor de qualquer outro propósito, não será mais honesto e dedicado que os semelhantes que dela não prescindem. 

Ademais, quem não for sério e honesto até pode abrir uma mão dessas verbas e pôr a outra noutras, sem que ninguém descubra ou desconfie das habilidades. Bastará que queira ir por aí. Quem é sério, é serio, e não basta mostrar que se pretende sê-lo ou parecê-lo. Em contraponto, quem usa essa promessa em campanha eleitoral pode até suscitar precisamente o contrário, o de passar por um artista, um habilidoso, um chico-esperto, ao usar esse isco para chamar ao seu anzol votos de gente com pouco sentido de escrutínio. Quem é honesto e competente não precisará dessas habilidades ou expedientes nem de dispensar aquilo a que tem direito.

Seja como for, certo é que com este tipo de posturas e promessas muitos autarcas lá arrecadaram uns votos extra, quiçá decisivos a definir vitórias em eleições.  

Em resumo, e é a esta ideia onde pretendo chegar, ninguém é mais ou menos dedicado pela causa pública, sério e honesto só porque recebe o que tem direito ou decide doá-lo a favor seja de quem ou do que for.

Um pouco neste contexto e pressuposto, estou de acordo com o escritor José Rentes de Carvalho, que aqui há já uns anos, a propósito do poeta Herberto Hélder (falecido em 2015) ter recusado o valor monetário do prémio Fernando Pessoa, porque embora pobre, "não pretendia perder a sua independência", disse que pensando no caso não chegava a conclusão satisfatória, pois era curiosa a noção da fragilidade da própria independência para o premiado acreditar que um prémio literário a podia pôr em perigo. Por isso, digo eu, e porque quem não deve não teme, a independência e honestidade não têm preço mas também não têm que ser à borla nem cimentadas no total despreendimento por vezes trapaceiro. O seu a seu dono dentro da legalidade, justeza e justiça.

11 de janeiro de 2024

Jornada Mundial da Juventude - O pós

A Jornada Mundial da Juventude 2023 teve lugar no nosso país e em Lisboa, entre o final de Julho e  princípio de Agosto passados. Parece que foi ontem mas já decorrido quase meio ano. Ainda ecoam na memória dos portugueses, e sobretudo dos jovens que participaram e se envolveram, o entusiasmo, alegria da partilha e vivência desses momentos em contacto geracional e mesmo inter-geracional com o papa Francisco.

Do mesmo modo e desse contexto, também para as largas dezenas de milhares de famílias que nas pré-jornadas acolheram por todo o país jovens peregrinos provenientes de toda a parte do mundo mas sobretudo da Europa. Foi assim na Diocese do Porto e na nossa comunidade inter-paroquial e em Guisande. Eu próprio e a minha família, acolhemos nessa semana última de Julho, duas peregrinas alemãs de origem vietnamita.

Passado já este quase meio ano e com a poeira do entusiamo assente, é possível analisar algumas coisas que, apenas a meu ver, ficaram aquém de algumas expectativas, pelo menos no contexto da experiência da família com os peregrinos e vice-versa. No global a experiência foi positiva mas, apesar disso, a partilha comum e convivência ao nível da família foi reduzida face ao programa delineado pelas equipas responsáveis (comités diocesano, vicarial e paroquial) o que fez com os espaços e momentos apenas destinados às famílias e jovens acolhidos fossem escassos. 

Em rigor e no geral as famílias foram principalmente agentes de alojamento, proporcionando a custo zero, dormida, comida, serviço de limpeza e transporte. Este ponto do transporte inicialmente foi publicitado apenas como mínimo, pontual e só mesmo para quem pudesse e quisesse mas na prática e na realidade não foi assim e as famílias tiveram que assegurar a maior parte das deslocações de entrega e recolha dos jovens, sempre de acordo com os seus horários.

Falando também pela minha experiência, desde que os jovens seguiram para Lisboa, nunca mais houve contacto de sua parte. Foi de minha iniciativa procurar saber se a viagem correu bem e se estavam a gostar. Depois disso, nenhum contacto de iniciativa dos jovens apesar de disporem dos canais adequados, como o número telefónico, o email e whatsapp. Chegados ao seu ponto de partida, ficaria bem fazerem um resumo da jornada e partilharem por sua iniciatiava com quem os recebeu. Mesmo agora pelas festas natalícias, ainda alimentei a esperança de receber uma mensagem ou um postal das duas raparigas, mas não. Poderia ser eu a fazê-lo? Podia, mas convenhamos que há alguns princípios que devem ser cumpridos e na nossa terra não fica bem andar com o carro à frente dos bóis.

Não há, todavia, qualquer arrependimento, até porque se havia expectativas num sentido de mais tempo para a convivência, pessoalmente nunca as tive a este nível do posterior contacto, agradecimento e reconhecimento. Eventualmente aconteceu com outros e de resto certamente que a percepção das experiências foi diferente de família para família.

Em resumo, as coisas são como são e no geral, admitamos, os valores da boa educação e do reconhecimento não são propriamente coisas que façam parte da bagagem desta moderna juventude. No geral nunca lhes faltou nada e no seu dia-a-dia dão tudo por adquirido e feitas as contas, nós, os que recebemos e estivemos durante uma semana ou mais ao seu inteiro dispôr, com cama, mesa, roupa lavada e transporte, é que temos que lhes agradecer e de os contactar. É cultural e quanto a isto não há volta a dar. Desvalorizando estas particularidades, fica para a história o que aconteceu e que, mesmo com esses ónus e encargos das famílias, os jovens levaram, pois levaram, uma boa e inesquecível experiência, de Guisande e certamente de todos os locais onde estiveram alojados. Afinal, nada lhes faltou!

10 de janeiro de 2024

Unir aos trambolhões

Há algumas semanas recebemos nas nossas caixas de correio um infomail todo bonito a dar-nos o recado de que "Há uma nova rede de autocarros no concelho de Santa Maria da Feira". Mais informava que "A partir de 1 de Dezembro (2023) entraria uma nova rede de transporte público rodoviário de passageiros para todos os municípios da Área Metropolitana do Porto que, finalmente, transformará a mobilidade do nosso território. Autocarros movidos a energia limpa, sustentáveis, uma rede mais eficiente, intregrada e uniformizada, e com um sistema de bilhética único". Apresentava-se como a UNIR.

Para além deste infomail fomos sendo informados no final das missas e ainda nas rádios e jornais locais. Quem, como eu, foi espreitar a plataforma digital da entidade e do serviço, ficou com uma boa ideia de que ía ser uma coisa muito bem feita e organizada. 

Infelizmente, a ter em conta as reacções dos utentes e de diversas figuras, incluindo alguns presidentes de Câmara que se mostraram com as expectativas defraudadas, parece que a coisa não poderia ter começado da pior maneira, com confusões, falta de meios e recursos, supressão de linhas, atrasos e irregularidades nos horários, etc, etc.

Depois disso ouviram-se responsáveis a sossegar o povo dizendo que era natural que a coisa começasse com problemas mas que aos poucos a máquina iria ser afinada e resolvidos os defeitos, mas pelas reacções que se vão ouvindo, parece que ainda há muita coisa a melhorar e a afinar. Aos optimistas que dizem que com tempo o sistema será perfeito, contrapõe-se o velho e experimentado ditado popular que "o que nasce torto tarde ou nunca endireita".

Pela minha parte, que não tenho necessidade de transporte público, estou de fora a ver a banda a passar, mas de facto é importante que o sistema funcione e que corresponda às necessidades de quem dele precisa. Apesar de tudo, é muito nossa esta mania de lançar foguetes antes da hora e de anunciar maravilhas maravilhosas e que depois à nascença, aos primeiros passos, seja tombos e trambolhões. 

Mas por agora é aguardar que a coisa, lá virá um dia, ficará (mais ou menos) afinada, até ao "patamar de excelência" prometido pelo presidente da Câmara de Gaia e da AMP, Eduardo Vitor Rodrigues. 

Para já as palavras de ordem são ajustar, reformatar, reformular, adequar, reparar, acertar, etc. Tudo palavras consoladoras para quem querendo unir começou a desunir. Os utentes, esses têm que aguentar e esperar.

Cinzento, mas um bom retrato

(...) Uma regra de ouro é a de não votar em alguém simplesmente pelo que é ou parece. Ou porque é um hábito. Aliás, em Portugal, hoje, nenhum partido merece que se vote nele pelo que é. Nem a direita, nem a esquerda, com currículos pouco recomendáveis após as últimas décadas.

O PS tem muito pesadas responsabilidades na degradação da vida nacional. Contribuiu, mais do que os outros, para os êxitos dos últimos 50 anos. Mas esse facto não desculpa a deterioração sistemática dos serviços públicos, a perda de capacidade para criar riqueza de modo consistente, nem a partilha de autoria e de culpas em todos os processos de corrupção e nepotismo.

O PSD tem enormes responsabilidades no declínio da vida nacional, tanto da economia como da cultura, da sociedade e da política. Depois de, com mérito indiscutível, ter contribuído para a consolidação da pertença europeia e para a afirmação democrática da direita portuguesa, este partido desinteressou-se da independência nacional e da afirmação da empresa portuguesa pública ou privada.

Em conjunto, PS e PSD, deixaram afundar o Serviço Nacional de Saúde e a educação pública. Um a vegetar na mais inacreditável desordem que se possa imaginar. Outra entregue à futilidade lúdica e a exibir os piores resultados de sempre.

O PCP, sempre o mesmo, tão irredutível e seguro de si! É-lhe indiferente ter 20%, 10% ou 3% dos votos, ou 40, 20 ou 5 deputados. Garante que tem sempre razão contra a população que não vota nele, que é quase toda. Persiste em afirmar que representa todos os trabalhadores, que a história sempre lhe deu razão. Até à derrota final. Até ao desaparecimento eleitoral.

O Bloco, moralmente superior e arrogante, convencido, presunçoso como poucos, firme na sua beatitude política e seguro da sua virtude ideológica, nunca fez nada de jeito que lhe dê qualquer espécie de currículo, qualquer folha de serviços prestados à sociedade.

O Chega não merece o voto só porque protesta, denuncia e ataca. Não é convincente, não tem políticas, não dá sinais de qualquer género de competência ou de saber. Utiliza as mais baratas receitas disponíveis, do nacionalismo ao grito dos descamisados.

A IL parece saída de uma produção laboratorial. É só mais um partido, sem currículo nem experiência, a vender camisolas de lã no deserto.

Nas próximas eleições, o momento é calhado, mais propício do que nunca, para votar de acordo com compromissos, em vez de repetirmos os gestos do sonâmbulo. Votar em compromissos é melhor do que votar em rebanho.

[António Barreto - in Sorumbático]

30 de dezembro de 2023

Centro Social com Comissão Administrativa


Conforme previamente convocada, realizou-se no dia de ontem, Sexta-Feira, pelas 20:00 horas no Centro Cívico, no Monte do Viso,  a Assembleia Geral da Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande.

Para além da aprovação das contas do exercício de 2023 (aprovadas), constava da ordem de trabalhos a eleição dos novos corpos gerentes para o quadriénio de 2024/2027.

Infelizmente, conforme se previa, não apareceu nenhuma lista nem elementos disponíveis em trabalhar pela freguesia e sua comunidade, no que poderiam mostrar e demonstrar como fazer mais e melhor.

Face à impossibilidade estatutária do presidente da direcção Joaquim Santos em poder renovar o cargo, e à ausência de alternativas, de modo a evitar o encerramento da actividade e da instalação, ficou estabelecida provisoriamente uma Comissão Administrativa que será liderada pelo referido Joaquim Santos, ainda com Celestino Sacramento e Jorge Correia, por um período de 3 meses, a qual nesse tempo procurará desenvolver esforços no sentido de congregar associados que queiram assumir a constituição dos normais corpos gerentes.

Para o efeito, entretanto e novamente com o objectivo de realizar eleições, virá a ser convocada uma nova assembleia geral para o final do mês de Janeiro próximo.

Nota pessoal: Não sendo surpresa, é pena que ninguém tenha aparecido para ser alternativa. Por cá nesta terra há quem goste e saiba atirar pedras mas a esconderem a mão. É o que é! Habituemo-nos!

De lamentar ainda que vários dos próprios elementos dos corpos gerentes cessantes não tenham aparecido. Uns no quentinho, outros a ver a bola ou por motivos que se devem respeitar mas seria importante que tivessem comparecido já que era a última sessão do mandato. 

Em resumo, por motivos vários, nota-se um desinteresse geral, quiçá um desânimo, a que não é alheia a incapacidade política de certas entidades em resolver o essencial, o contrato programa com a Segurança Social que permita prosseguir os propósitos primeiros da Associação, num processo que se arrasta há já vários anos. Mas é também muito consequência da perda de identidade da nossa freguesia, do desagregamento inter-geracional e da perda de proximidade entre eleitos e eleitores. 

Pode ser esta minha análise muito pessimista, que até poderá vir a ser contrariada (oxalá), mas por ora não me ocorre outra justificação.

29 de dezembro de 2023

Paradoxos e incúrias

Há dias, numa situação de corrida, testemunhei na freguesia de Pigeiros uma senhora a tropeçar num buraco no passeio onde caminhava. Felizmente só uns ligeiros arranhões e umas pragas contra certos senhores, mas poderia ter sido bem pior. De resto, eu próprio já tropecei nuns buracos na Rua da Zona Industrial, pelo que a caminhar ou a correr, seja em Pigeiros, Guisande ou qualquer outra das nossas freguesias, tenho que andar com os sentidos alerta pois as irregularidades e buracos são mais que muitos e nalguns casos autênticas armadilhas e ratoeiras, sobretudo de noite e em tempo de chuva. De resto, não havendo trânsito evito o seu uso, quando deveria ser o contrário. Passe o exagero, correr nas nossas ruas e passeios é quase realizar um trail em plena serra, pelo menos quanto à atenção onde se põe cada pé.

Sempre que se registam estes acidentes seria de apresentar queixa na autoridade, mas para além do custo de formalizar a própria queixa, diz-nos quem sabe que é tempo perdido porque são mais que muitas e invariavelmente sem decisão. Ainda há alguns poucos meses um nosso ciclista espetou-se num buraco ali por Duas Igrejas, aberto por alguém que trata das redes de águas e esgotos, sem sinalização adequada, magoando-se e danificando a bicicleta. Poderia ser uma situação grave. A própria GNR chamada ao local recomendou que apresentasse queixa mas que para além do custo, creio que a rondar os 75 euros, que se preparasse para não dar em nada, embora o caso fosse grave e tivesse a seu favor o próprio testemunho quanto à ausência de sinalização da ratoeira. Certo é que no dia seguinte o buraco estava sinalizado. Bem à maneira portuguesa, remediar antes de precaver. De resto, pela Indáqua ou empresas por si contratadas, são mais que muitas as ratoeiras nas nossas ruas.

Com tudo isto, e não é de agora que abordo o assunto (por exemplo, aqui), considero que tanto as nossas juntas de freguesia como a Câmara Municipal têm tido uma postura, para não usar um termo mais contundente, de pelo menos irresponsabilidade, desleixo e incúria na manutenção e requalificação dos nossos passeios públicos, que na maioria dos casos até foram obrigados a ser realizados às custas dos proprietários das edificações frontais. Se não em toda a extensão, pelo menos em certos pontos onde são notórios os buracos e a degradação. 

Para além do mais, quando se indefere um projecto de edificação por uma soleira ter 3 cm e não 2, ou por outros pintelhos, soa a ridículo que os entraves à circulação a pessoas com mobilidade condicionada sejam mais que muitos e evidentes no espaço público, para além dos buracos, sinais e marcos de água implantados a meio dos passeios. O paradoxo desta incúria é ainda maior quando se sabe que não há dinheiro nem investimento na requalificação dos passeios mas sobra para festanças e entretenimentos, porque esses é que dão visibilidade.

Por conseguinte, sempre que há acidentes nas ratoeiras dos nossos passeios deveria ser formalizada a queixa e levada até às últimas consequência. Como diz alguém que conheço adepto dos aforismos, "...os burros também se ensinam".

28 de dezembro de 2023

A raposa vai continuar dentro do galinheiro

As notícias por estes dias abrem com o caos que se regista nas urgências dos principais hospitais do país, sobretudo da Grande Lisboa, em que doentes urgentes chegam a esperar entre 12 horas (Santa Maria) a 20 horas (Beatriz Ângelo) pelo atendimento. 

Concorrem para esta situação os habituais episódios nesta altura do ano, devido às variações de gripe que originam problemas respiratórios. Mas não só, até porque ainda hoje de manhã ouvi um médico de uma associção de profissionais de medicina geral a dizer que a afluência não é significativamente superior à de anos anteriores, mas que o agravamento das condições de atendimento e tempo de espera, esse sim, resulta, em muito, dos problemas crescentes que o SNS atravessa e que o Governo não tem sabido resolver.

Por sua vez, o ministro da Saúde, mesmo que já a prazo, não faz outra coisa que não relativizar, a recusar alarmismos, e dizer que lá para o fim de Janeiro talvez os portugueses já andem melhorzinhos da saúde e com isso reduzir o impacto no sistema. Assim com esta incapacidade e ineficácia também eu poderia ser ministro neste país.

Em resumo, uma situação que cada vez mais parece ser normal. A anormalidade está ser normalizada. O pior de tudo é que a avaliar por algumas sondagens os portugueses, ou pelo menos os que pretendem votar nas próximas legislativas em 10 de Março, preparam-se para continuar a legitimar a raposa dentro do galinheiro. Assim sendo, é mesmo aguentar porque dali não virão mudanças substanciais e será mais, muito mais, do mesmo.

António Costa despediu-se do país com uma mensagem natalícia em que fala de um país irreal, só com coisas boas e bonitas. Deste caos que tem abalado o SNS, dos muitos  tiros nos próprios pés bem como das grandes e pequenas trapalhadas que fizeram ruir por dentro um Governo que (des)governava em maioria, não falou, nem sequer ao de leve. 

Agora, democraticamente, é aguentar porque já se percebeu que os portugueses na sua maioria gostam deste estado de coisas. Eu não gosto, mas pelo menos não os legitimo.

18 de dezembro de 2023

Espírito de Natal ou de Carnaval?

Um bonito e soalheiro dia de Domingo a pouco mais de uma semana do Natal. Depois do almoço caseiro, decidi ir tomar café ao centro da vila de Arouca na expectativa de ali encontrar o espírito de Natal, mas prevenido de que anda fugidio. 

Em pouco mais de meia hora lá estava e não tive dificuldade em estacionar no parque. Mas logo aos primeiros momentos percebia-se que o espírito natalício já dali andava arredado. No que parece ser já uma tradição, talvez uma ou duas centenas de motards e motorizadeiros vestidos com trajes chineses de pais natais, andavam por ali para cima e para baixo a encher as ruas de roncaria e cheiro a gasolina queimada. Tomamos um bom café mesmo no centro, a 80 cêntimos com direito a uma pequena "castanha doce". 

Em frente ao convento e na Praça Brandão de Vasconcelos, os ditos pais natais emprestavam ao local e ao ambiente um ar de Carnaval e fiquei na dúvida se por ali andava o espírito dele. Pareceu-me que não! Na igreja imponente, ladeada de motos e motorizadas, dentro dela apenas duas ou três pessoas e nem um único daqueles que lá fora se exibiam. Apesar da imponência da igreja e do seu ar barroco, o presépio era do mais simples possível, digno de uma qualquer ermida isolada no alto de uma serrania e ali captei um bocadinho do espírito natalício. Mas o ambiente de silêncio tão característico desse local de culto era apenas uma falsa sensação pois lá fora o barulho de motorizadas a roncar e motas a estourar com os escapes era ensurdecedor e remetia-me para um poço da morte numa qualquer feira popular ou para um Carnaval de Ovar ou de Torres Vedras.

Bem ao lado do convento, na sede da Associação dos Amigos de Arouca, estava patente, com entrada gratuita, uma exposição de presépios, mas ninguém a visitar, apenas o responsável que nos acompanhou para servir de cicerone. Uma amostra muito interessante e diversificada mas ignorada pelas centenas que enchiam as ruas e praças.

No átrio exterior do lado poente do convento, uma enorme tenda aquecida com muitos e variados quiosques dispostos lateralmente com bons produtos desde artesanato aos hortículas, com frutas, legumes, nozes, castanhas, azeite, charcutaria, bebidas e licores, etc. Tudo coisas boas e dos produtores locais para ajudar a uma boa ceia de Natal. Um bom espaço e bem organizado. Ali vi um bocadinho do espírito de Natal e até gastei algum dinheiro em nozes e artesanato alusivo à quadra.

Na ilusão de que entretanto os carnavalescos pais natais já se tinham ido embora, afinal devem ter ido reabastecer os depósitos e regressaram com todo o barulho, confusão e mau cheiro pois limitavam-se a andar por ali para trás e para a frente a mostrarem-se como se fosse algo extraordinário. Não foi, apenas uma vulgaridade bacoca, porventura mais adequada a carnavais ou desfiles de paradas gays. Mas isto sou eu a falar, que fui ali áquela bonita vila à procura de outro Natal, mesmo que com as expectativas baixas, mas percebi que isto do Natal simples, genuíno e ligado às origens e de matriz religiosa e espiritual, é apenas um faz de conta e coisa já passada, do antigamente. Agora os tempos são outros, mais dados ao antes parecer que ser  e que a generalidade das pessoas gosta! 

Ao deixar o parque de estacionamento tive dificuldades em saír,  porque à boa maneira portuguesa os espaços destinados a acessos estavam ocupados. Mas polícias e guardas, porque também mascarados ou simplesmente ausentes, não os vi por ali a manter a ordem na desordem. Com dificuldade e várias manobras lá saí e regressei. 

Em resumo, uma bonita tarde de Carnaval!

13 de dezembro de 2023

No país das replicações - Estamos nesta

Anda por aí uma febre desmesurada, que não é de agora, mas tão nossa, genuinamente portuguesa, a de copiar e replicar coisas e eventos que vemos e invejamos no vizinho ao lado, na freguesia, vila, na cidade ou no estrangeiro. 

Nesta onda do "também nós podemos e somos capazes", são mais que muitas coisas que têm sido replicadas. Senão veja-se: São os baloiços, implantados em tudo quanto é portela, monte ou serra; Os passadiços, essas estruturas em madeira começaram a ganhar e a galgar terreno e como serpentes estão já em todo o lado, tanto em escarpas imponentes e desfiladeiros só acessíveis a águias e abutres como a bordejar insignificantes ribeiras e charcos.

Mesmo as pontes que para nada servem senão para entretar e pôr à prova medos ou coragem de turistas, também já são negócio de milhões e se Arouca tem miseráveis caminhos de cabras promovidos a estradas e aldeias sem redes de água e de esgotos tem uma dessas maravilhas da engenharia das coisas suspensas.

Também os eventos de entretenimento ditos de época estão na moda e assim temos viagens, festas e feiras romanas, medievais, napoleónicas, mercados recriados como os que se fazim nos tempos dos nossos bisavós e outras que tais em várias aldeias, vilas e cidades; Mesmo por cá na nossa Feira, de vaidades, não fazemos a coisa por menos e desde a interminável churrascada da Viagem Medieval no Verão à sombra do castelo que se desmorona no Inverno,  temos ainda o mundo do faz-de-conta chamado Perlim, a entreter crianças e adultos, também a condicionar trânsito e acessos a quem tão somente quer ali pacatamente à baixa tomar chã e comer fogaça.

A criançada também não está dispensada destas réplicas e já não faltam, por tudo quanto é sítio, parques temáticos, vilas natais, feiras e feirnhas, mercados e mercadinhos de Natal, dos mais sofisticados com arenas de gelo aos mais simples; Depois, mesmo que a perder espaço, porque o Natal já pouco tem de religioso, há ainda os presépios, simples à moda napolitana com figuras de barro sobre cascos de cortiça atapetados de musgo, aos mecanizados ou com figuras ao vivo.

As iluminações, essas coisinhas a piscar, coloridas e brilhantes, em que as autarquias gastam balúrdios do orçamento a enfeitar pinheiros naturais e artificiais, a arcar ruas, praças e largos, a delinear cruzeiros, capelas e igrejas, são já atracção em várias cidades e para elas organizam-se excursões com dezenas de autocarros cheios de curiosos. Em Vigo, Espanha, por tanta afluência de locais e sobretudo portugueses, a assistir a esse céu brilhante tem sido um inferno para os moradores, com ruas entupidas de multidões, mesmo a ponto de obstacularizar o normal fluxo do trânsito e até mesmo situações de emergência médica; Por cá e para cá há excursões e filas de trânsito para entrar em Águeda e em Óbidos, propagandeada como Vila Natal, no que tem sido um quebra-cabeças e dores de cornos e filas intermináveis nas bilheteiras e nas ruas apertadas para sentir essa coisa tão larga e comercial traduzida como espírito de Natal; 

Estamos nesta! 

Mas a coisa não se fica por aqui e mesmo no entretenimento desportivo as provas de corridas, com designações parolamente a abusar dos inglesismos, são um negócio da china e é ver os calendários nas empresas que as organizam, promovem ou controlam para ver que do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira, são mais que muitas e todas a reunir rebanhos de atletas, dos verdadeiros e vitaminados aos aspirantes, dos que acabam as provas em passo de lebre como se quenianos ou etípoes, aos que as terminam com horas de atraso e sofrimento nas pernas e no rosto mas com a mesma publicitada satisfação de um épico dever cumprido. Desde Lisboa ao Porto, do litoral ao mais humilde lugarejo no Portugal interior desertificado, todos querem ter a sua prova de corrida ou trail.

Estamos e continuamos nesta!

E tudo isto é positivo? Ou negativo? Nem sim nem não, antes pelo contrário, até porque tudo se resume a ganhar e gastar dinheiro, esse binómio que dizem que faz movimentar as rodas do mundo e a engrenagem da sociedade, mas é sobretudo um exagerado exagero e a prova provada que hoje em dia, muito à conta das modas, das tendências (trends) e redes sociais que as ampliam e dão espaço aos egos colectivos e individuais, damos um excessiva e desmesurada importância às coisas, mesmo às que a não tem, a ponto de nos surpreendermos com a mais insignificante, corriqueira ou normalíssima delas. 

Estamos nesta! 

Compreendo que assim seja e será, mas para quem tem já muito caminho trilhado e já viu de tudo e de muito, começa a faltar a paciência para estas novas réplicas de replicações. Andamos por aí a apregoar que a China não sabe mais que copiar o que os outros fazem, desde um isqueiro a um avião, passando por relógios e mercedes, e nós, pobres tugas, nesse campeonato de copiar e replicar damos cartas e deixamos os chineses, eles próprios, de olhos em bico.

Estamos nesta!

12 de dezembro de 2023

Mais do mesmo e 2+2 continua a ser 4

Não ouvi a entrevista que o cessante primeiro ministro, António Costa, concedeu ontem à CNN - TVI. Ouvi apenas, já hoje, as reacções dos partidos. Como se esperava o PS a enaltecer a acção e a figura  e os opositores a depreciarem, e nestes a tónica de que António Costa disse muito e não disse nada, jogando com números que não batem certo com a realidade, fazendo-o com arrogância e sobretudo sem reconhecer os erros.

Uns e outros, entrevistado e partidos, disseram o que se esperava que dissessem. Isto é, dali não vem qualquer novidade. Sempre foi assim e sempre assim será no jogo político. É um entretenimento. É como irmos ver um jogo de futebol sabendo previamente qual vai ser o resultado final, indo apenas quem gosta de rever o que já viu.

Mas de facto António Costa, que reconheço como uma boa pessoa mas melhor político na acepção da palavra, porque experiente, ardiloso e habilidoso, sabe jogar com vários naipes, mas quase nunca a reconhecer erros e neste mandato de maioria foram mais que muitos. Para além do mais, os números que aponta como um sentido positivo, crescimento e aumento de rendimentos na realidade não se traduzem em melhores condições de vida das pessoas e basta atentar nas realidades que todos os dias são notícia, desde logo o colapso do Serviço Nacional de Saúde, do INEM, da Educação, bem como de muitas outras maleitas que de tão óbvias se torna fastidioso a todas enumerar.

Mas isto é política, meus senhores! Venha o PS, PSD ou qualquer outra geringonça dita parlamentar, será mesmo para lamentar porque mais do mesmo! Habituem-se!

11 de dezembro de 2023

Rebanho de cordeiros

Hoje li mais uma das habituais e sempre certeiras impressões escritas pelo escritor José Rentes de Carvalho, no caso sobre esta forma de ser da pandilha que de há décadas, revezando-se entre si, faz de conta que nos governa, quando na realidade é apenas um desgoverno desmedido, ainda e muito sujeito aos arbítrios dos interesses próprios e corporativos. Como diz o velho transmontano, "...fingindo que governam, os sortidos donos daquilo tudo, os que se dobram ajoelhados como escravos de galé. E ainda os jeitos, as luvas, o fatalismo, as vénias, a cunha, a subserviência para com os que estão acima, o desprezo para com os que dependem. O medo generalizado, os brandos costumes, as manhas, o respeitinho. Aquela inveja, que de tão extraordinária e corrente parece ser genética. A promessa raro cumprida, idem a sornice, o deixa para amanhã, a fatuidade, o valor das aparências, o gosto da rasteira."

Não poderia, pois, o José Rentes de Carvalho ter traçado melhor retrato deste pobre país de espertalhões e com a bonita idade que conta, 93 anos, diz já não ter tempo nem ilusões em mudanças e ver chegar novos amanhãs que durante anos esperançosamente esperou. 

O que se vai lendo, vendo e ouvindo na comunicação social, a propósito do estado da nossa Educação, do Serviço Nacional de Saúde em colapso, o caso da TAP e aeroportos, agora o caso que levou à dissolução do parlamento e convocatória de eleições legislativas antecipadas, o mal-cheiroso caso das cunhas para o tratamento milionário das gémeas brasileiras, à pressa naturalizadas, são exemplos factuais e bastantes que atestam este estado de podridão política e estrutural a que nem a figura do seu mais alto cargo da nação escapa. Mas como povo não temos emenda e no geral vamos andando como cordeiros obedientes atrás dos pastores do costume nesse papel de chefes, arvorados desde a data supostamente revolucionária em que a partir dela seria só democracia, paz, pão, povo desenvolvido, saúde e liberdade. O tanas!

Para o próximo Abril comemorar-se-á com pompa e circunstância e molhadas de cravos vermelhos, os 50 anos, o meio século passado sobre esse evento, mas na realidade as coisas continuam  e continuarão como sempre, modeladas por uns poucos ao sabor dos seus interesses e agendas. O resto é paisagem, um constante faz de conta, um mero e permanente simulacro de sociedade democrática, desenvolvida e civilizada. Mas, paradoxo, não falta quem goste de fazer parte deste rebanho seguidor, sem carneiros a tresmalhar, só com cordeiros mansos e humildes. 

Temos o que merecemos. Venha daí outra rodada!

A casamentos e a baptizados...

Bem sabemos que não podemos nem devemos ir a um serviço religioso, no caso uma missa vespertina ou dominical, com excessiva pressa e já a pensar no almoço ou jantar. Mas como em tudo, há horários, rituais e ritmos que nos levam a pensar na normalidade e não na aleatoridade na duração dos mesmos. Pelo menos eu, considero que 45 minutos é tempo mais que adequado à duração normal de uma missa vespertina ou dominical. Mesmo que contando com um pequeno e justificável atraso do celebrante e uma ou outra divagação na homilia ou repetição de eventos nos avisos finais, vamos até admitir que possa durar 50 minutos ou mesmo, por excesso, uma hora. Até aqui, podemos compreender e entender. Já não me parece razoável, contudo, que sem qualquer aviso prévio, uma missa incorpore serviços adicionais, como uma celebração de bodas de ouro e ou de prata matrimoniais ou ainda um baptizado. E isto e desde logo porque é velho o ditado de que a "casamentos e a baptizados vão os convidados".

Não deixei, pois, de ter reparado que na missa deste sábado em Guisande, precisamente por ter um baptizado e o aniversário do Grupo de Jovens, em vez dos tais 45/50 minutos habituais, ou até uma hora, a missa tenha demorado para lá de uma hora e meia. Ora é tempo excessivo e isto é inconveniente sobretudo quando para lá da hora expectável de duração temos, como foi o meu caso, compromissos pessoais e afazeres programados e não é de bom tom nem fica bem abandonar a missa antes de ter terminado.

Hoje em dia em que todo o nosso tempo anda a ser medido e controlado ao minuto, não é positivo este descontrolo ou imprevisibilidade de tempo. Compreendo que a incorporação de um serviço extra como o de um baptizado é interessante sob um ponto de vista de vivência e partilha comunitária, mas, porém, dentro do possível, importará ser avisado com antecedência para não haver surpresas e participar informadamente quem realmente acha que quer e pode sujeitar-se a um tempo para além do tido como normal. 

4 de dezembro de 2023

Segunda-Feira, feira da ladra...

Depois de um fim-de-semana prolongado, com um bonito dia de sol pelo meio, regresso à rotina e monotonia do trabalho. Pelo meio as coisas habituais e corriqueiras. Sondagens sobre a nossa política reveladas aos bocadinhos, como num concurso televisivo, a ampliar  o suspense e a expectativa. Mais coisa menos coisa, candidatos do plano A ou do Plano B do lado do PS, tudo indica o que todos esperamos, uma disputa entre o PSD e o PS, mas este, apesar de tudo quanto tem envolvido o Governo e que levaram à sua queda, parece manter ritmo e poder vir a vencer de novo as eleições embora, sem maioria. O que voltaria a ser surpreendente mas não totalmente.

De tudo isto, e com as constatações do estado das coisas quanto à Sáude e serviço de urgência, aumento da pobreza, aumento da carga fiscal, guerra com professores, crise de habitação, etc, etc, a quase maioria dos portugueses parece gostar destes doces e do estado de coisas e com mais arroba menos quintal em 10 de Março próximo vai dizer democraticamente que quer que tudo continue na mesma. Sintomático! Faça-se a sua vontade democrática!

Por cá, no nosso querido terrão, também tudo na mesma. O positivo voluntarismo da Comissão de Festas já trabalha com azáfama no que toca a angariar fundos para a festa que há-de ser lá para Agosto. A padaria de Fornos, voltou a abrir depois de ter fechado, depois de ter aberto e depois de ter fechado. O Guisande F.C. veteranos promoveu neste Sábado o seu glamoroso jantar de Natal, bem participado e alegre. Parabéns! O Grupo Solidário também irá organizar a Ceia de Natal Solidária, a ter lugar em 16 de Dezembro, no Centro Cívico, já com lotação esgotada, pelo que também de parabéns pela dedicação. A missa do Galo neste ano, porque alternadamente com Guisande, será nas Caldas de S. Jorge.  O Natal, esse será no dia 25, também uma Segunda-Feira. O bacalhau está pela hora da morte mas como bom amigo na vida não faltará fielmente na ceia mais saborosa do ano.

Desportiva e entretidamente um dia destes eu, o LB e o HA vamos fazer uma corrida no Epic Awsome Challanger Trail da Aletria, em Santo Isidoro do Mazouco, Queixo-de-Espada-à-Cinta, que como todos sabem fica na ilha do Faial nos Açores, ali ao lado de Sevilha. 

O Sérgio Godinho cantava que "É Terça-Feira, Feira da Ladra..." mas bem pode ser mudada a feira para um dia antes. Vai dar ao mesmo! Boa semana!

25 de novembro de 2023

25 de Novembro de 1975 - O início da democracia

Celebrar o 25 de Novembro ou a falácia das datas fracturantes

Vai por aí uma estranha balbúrdia, que é também uma vergonhosa balbúrdia: celebrar ou não celebrar o 25 de Novembro, conjuntamente com o 25 de Abril. A gente democraticamente moderada, que sempre se identificou com o movimento que, em 25 de Novembro, pôs cobro a fantasias totalitárias de vascogonçalvistas inconformados com o advento de uma “democracia burguesa”, mostra-se agora bizarramente desconfortável com a celebração daquele movimento salvífico. 

Porque tal celebração é “fracturante”, por outras palavras, pode desagradar ao PCP e ao BE. Quanto ao fracturante, já lá vamos. 

 Antes disso, quero chamar a atenção para um importante pormenor: o 25 de Abril e o 25 de Novembro significam exactamente a mesma coisa: o 25 de Abril deitou abaixo uma ditadura e o 25 de Novembro impediu que outra ditadura se instalasse, em substituição daquela. Exactamente o mesmo, pelo que se não divisa a razão de celebrar uma e nos encolhermos, envergonhados, perante a outra. 

Quanto à data de 25 de Novembro ser “fracturante”, temos conversado: todas, mas todas as datas que assinalamos são ou foram fracturantes. 

Celebrar o 25 de Dezembro é fracturante para os portugueses muçulmanos ou budistas ou simplesmente ateus ou agnósticos; 

o 1.º de Dezembro é fracturante para os portugueses favoráveis à união de Portugal com a Espanha: havia muitos, na altura da Restauração, havia não poucos entre os do tempo da Geração de Setenta e bastantes portugueses haverá ainda hoje favoráveis a tal união, ou, no mínimo, nada preocupados com o advento dela; 

o 5 de Outubro é fracturante, para os monárquicos: há-os por aí e o nosso MNE acolhia, não há muito, um número não insignificante deles (até nunca percebi como, sendo monárquicos, aceitavam representar, no estrangeiro, um Estado republicano);

os feriados de Fátima são fracturantes para os agnósticos, os ateus e os portugueses praticantes de outras religiões. 

Agradecia que me dessem, sendo capazes, uma data celebrativa que não seja fracturante. 

 O 25 de Abril, a cuja celebração, justamente se não objecta, é também uma data fracturante: os saudosistas do Estado Novo não escondem a sua aversão a essa data. E todos nós sabemos de gente, ao mais alto escalão da hierarquia do Estado, que sempre se recusou a exibir um cravo vermelho na data da Revolução dos cravos.

 Portanto, invocar o carácter fracturante do 25 de Novembro é apenas uma vergonhosa cobardia de quem se assusta com o sruru que venham a fazer os suspeitos do costume. Para os quais, de resto, o 25 de Abril que gostam de celebrar, não é o mesmo 25 de Abril que assinalam os outros portugueses… 

 Fractura? Por amor de todos os deuses do Olimpo: arranjem outra desculpa! 

 Não celebrar o 25 de Novembro corresponderá a uma grande maioria de portugueses ajoelharem perante uma minoria recalcitrante e conhecidamente pouco amiga da liberdade de pensamento. Não vejo um Mário Soares a ceder desta maneira! 

Eugénio Lisboa

[https://dererummundi.blogspot.com/]

28 de outubro de 2023

Centro Social - Lugar a outros


Os actuais corpos gerentes da Associação Centro Social S. Mamede de Guisande terminarão o seu mandato no final do corrente ano de 2023. O presidente da Direcção, Joaquim Santos, que face a todas as dificuldades e muitos obstáculos sentidos, incluindo o de opções políticas centrais, que não permitiram ainda a concretização do primeiro e principal objectivo do Centro, que é a concretização do programa de apoio pela entidade da Segurança Social, que permitirá a sustentabilidade mínima da actividade de Centro de Dia, por força dos estatutos não poderá recandidatar-se ao lugar. De resto, pelo excelente trabalho realizado e provas dadas de resiliência, é mais que merecido o seu descanso. Além de tudo, pretende deixar a associação com as contas equilibradas, sem constrangimentos financeiros decorrentes do difícil processo da sua construção e instalação.

De minha parte, como secretário da Mesa da Assembleia nos dois últimos mandatos, também chegará ao fim a minha participação nos corpos gerentes. E terminará por duas razões, porque considero que dois mandatos já é um bom contributo e  em segundo lugar porque assim dou lugar a outros, sobretudo a alguns que têm mostrado uma postura pouco simpática em relação à existência do Centro, podendo candidatar-se e virem mostrar como é que se faz mais e melhor. É desta forma que as críticas fazem sentido, aparecer como alternativa e mostrar na prática como se faz melhor. E será bom que assim seja porque esta associação com objectivos que abrangem toda a freguesia e comunidade, precisa igualmente de todos e estes têm a obrigação de cidadania de mostrar interesse, fazerem-se sócios e apresentarem-se a fazer parte das suas estruturas directivas. 

Em resumo, no que me diz respeito, o lugar fica mesmo disponível para outros. Se ninguém aparecer, obviamente que, mesmo lamentando, ficará vazio, ou deserto como agora se costuma dizer. 

Felizmente tenho vistos novos interessados no aproveitamento das potencialidades do equipamento do Centro Cívico pelo que fico esperançado que venha aí uma catrefada de novos sócios e  gente disposta a mostrar serviço, sendo que até aqui têm mantido uma postura de indiferença para com este nosso importante equipamento colectivo. Oxalá que sim, porque nunca é tarde para dar a mão à palmatória e reconhecer o óbvio! Mas, todavia, sabendo do que a casa gasta, sem grandes optimismos. Antes ver para crer!

21 de setembro de 2023

Festa, hoje há festa...

Pode ser apenas uma percepção minha, mas verifico, e não é naturalmente só no nosso município e nas nossas freguesias, que as autarquias gastam cada vez mais dinheiro em eventos notoriamente recreativos, em que se aliam a dita gastronomia, na forma popular de comes-e-bebes, com programas musicais, supostamente para todos os gostos mas tantas vezes sem gosto nenhum, mas de modo geral com grandes gastos. Para além disso, muito dinheiro dos escassos orçamentos são também canalizados como apoios para eventos desportivos, nomeadamente corridas, que agora são mais que as mães, msmo aquelas, quase todas, promovidas com fins lucrativos.

Admito e compreendo que o recreio, o lazer e a actividade desportiva são importantes e fundamentais, mas dá para perceber que começa a haver algum desequilíbrio entre as necessidades de pão e circo e outras que realmente melhoram o quotidiano e as condições de vida das pessoas, nomeadamente ao nível das nossas estradas, equipamentos, apoios sociais, etc.

Veja-se, ainda agora a Câmara Municipal de Arouca vai gastar, creio que li ou ouvi, 400 mil euros, para as Feira das Colheitas que terão lugar neste próximo fim-de-semana. Todavia, e como paradoxo, eu que percorro de carro e bicicleta muito desse belo concelho, há ainda estradas que são óptimos caminhos de cabras, por isso em muito mau estado e ainda com redes públicas de águas e saneamento a não chegar a grande parte das fregusias. Por conseguinte, poupa-se na requalificação de estradas mas traz-se à praça uns tais de Calema, Pedro Mafama e outros. O povo até é chamado a escolher os artistas, por isso tudo muito democrático.

Claro que Arouca aparece aqui como mero exemplo, porque cá pelo nosso concelho a coisa não fica por menos, nem nos demais. Todos tendem a copiar e aplicar a receita porque hoje em dia estas coisas têm repercussões nos mídia e redes sociais. Justificam-se com um certo senhor "retorno económico"  mas na realidade é daquelas coisas que se atiram para o ar porque regra geral esse senhor fica-se por um grupo priveligiado de grupos e empresas que acedem a esses espaços. No geral, no bolso das populações, não cai um cêntimo que seja desse "senhor retono".

Mas é isto e é assim porque, percebem os diferentes autarcas, são medidas populares, popularuchas e com elas ganha-se simpatia e depois os votos quando chegar a hora. Por conseguinte, a velha fórmula do tempo dos romanos de manter a populaça satisfeita ainda reside no pão e no circo. Ontem como hoje as coisas pouco mudaram a este nível.

Em resumo, tudo é importante, incluindo o pão e o circo, e também gosto, mas importa que as autarquias não padeçam da tentação do desequilíbrio e gerando paradoxos, ficando-se apenas pelo que é popular. Esse equilíbrio não é fácil, pois não, mas na dúvida ganha o que em cada momento parecer mais popular.

27 de agosto de 2023

Zé brasileiro português de lado nenhum


Não é apenas uma percepção de quem anda por zonas urbanas e frequenta serviços, sobretudos ligados ao turismo, como alojamentos e restauração, de que estamos "infestados" de estrangeiros e principalmente de brasileiros nessas actividades, mas, também me parece, é mesmo uma constatação notória.

Confesso que nada tenho contra estrangeiros, incluindo os brasileiros, até porque uso a máxima de que todos são bem-vindos se vierem por bem e acrescentarem valor, a eles próprios, naturalmente, mas também ao país, cidades, vilas e aldeias que escolheram para, de algum modo, encontrarem melhores condições de vida para si e para os seus. Quem não vier nem estiver cá com esses pressupostos básicos, para além do respeito por cultura, religião e história locais, querendo impor as suas, não é bem-vindo e estará cá a mais. Nós, portugueses, sempre fomos exímios nesse respeito e por isso sempre fomos bem sucedidos e admirados nas várias partes do mundo para onde emigramos.

Apesar de termos em Portugal um historial de crimes recheado de brasileiros, e quem percebe da poda vai dizendo que a bandidagem brasileira encontra por cá bom paradeiro, políticas displicentes, uma autoridade sem autoridade, um regime penal suave, etc, creio, todavia, que no global são pessoas de bem e que facilmente se integram e também são bem acolhidos pela sua natural proximidade linguística, de simpatia e mesmo de competência. Vejo isso, por exemplo, na minha dentista, que é brasileira ou junto de outros profissionais com quem tenho cruzado. De resto tenho familiares e amigos do e no Brasil.

Por conseguinte, com uma politica de décadas que tem levado a uma baixa de natalidade consistente e por isso com a população a regredir a olhos vistos, mesmo com um território pequeno, resulta claro que o nosso país está a ficar despovoado, concretamente no interior. Assim, o fluxo imigratório é importante se bem orientado para que, de algum modo, se possa pelo menos estagnar algumas hemorragias no nosso tecido populacional. Mas mesmo isso será sempre difícil porque no geral quem cá chega como imigrante, tal como os portugueses, opta pelo litoral, pelas zonas urbanas e assim as zonas interiores continuam a padecer do mesmo problema. Os que por lá passam são no geral em contextos de trabalho sazonal e mesmo precário e por isso o problema continua e até, porventura, agravado pela natureza dessa precariedade e descontrolo.

Em todo o caso, este é um assunto para os especialistas da demografia e das políticas de migração e trabalho. A minha opinião e percepção é apenas a de um simples cidadão.

Mas todo este prefácio para chegar a uma questão que, pelo menos a mim, importa: Por exemplo: Ainda por estes dias, num hotel de uma zona interior deste nosso Portugal, fui servido por um funcionário, português, a quem me interessou saber o nome e se era dali da zona ou de outro local do país. O Rui disse-me que sim, que era mesmo dali e por conseguinte, durante as várias refeições, com ele fui travando uma certa relação com alguma simpatia e cordialidade. Não sei como os outros fazem e gostam de fazer, mas seja num hotel ou num restaurante, gosto de saber o nome das pessoas que me servem e de onde são. Talvez um dia sejamos servidos por máquinas - o que já é verdade em muitas situações - e nessa altura saber se é a Maria ou o Manel, a Alexa ou a Siri, servirá de tanto como limpar o cu a um ouriço de castanhas. Mas por enquanto é algo a que ainda valorizo e faço por cultivar.

Assim, nesse contexto de alguma proximidade que se foi gerando, naturalmente que a um nível meramente profissional, fui questionando o Rui sobre alguns aspectos locais, sobre um ou outro lugar, monumento ou até de tradição e cultura. E o Rui mostrou que sabia da poda e mais do que isso, sentia o que dizia porque, afinal, falava de coisas que conhecia mas que fizeram parte da sua condição de homem daquela terra e região. 

Ora eu pergunto-me se a experiência seria a mesma se fosse servido por um qualquer Édson brasileiro de Florianópolis ou um ucraniano de olhos azuis? O homem até poderia aprender e dominar a língua, estudar a geografia e a história e informar-me, se eu fosse inculto ou ignorante a esse ponto, sobre as coisas daquele local ou região. E até poderia fazê-lo com eficiência mas não seria a mesma coisa pela simples e natural razão de que falaria como um autómato, porque a verdadeira vivência e conhecimento intrínseco, esses nunca os poderia ter. O Rui explicou-me, com um brilho no olhar, o "gancho de Loivos", o atalho para o Senhor do Monte, as particularidades do Arcossó, a tradição do S. Frutuoso, a recta do Sabroso e suas histórias, e muitas outras coisas que não vêm nos mapas ou nos roteiros nem nunca seriam do conhecimento de um Zé brasileiro. 

Nestas, como noutras coisas, cada um que coma o que gosta, e há até quem vá aqui, ali e acolá, só para marcar o ponto como na baliza de uma prova de orientação, para dizer à malta e ao mundo que já esteve em todos os sítios XPTO, incluindo na galeria de vinhaça do Oxalá, mas nada se compara a ir a uma aldeia remota e deixar-se embalar pelas memórias e vivências de um velhinho alquebrado, a descansar à sombra de um pé de videira ou de um Rui, profissional da restauração, a servir Arcossó branco e a falar não só do que percebe mas do que sente.

Boas férias!

26 de agosto de 2023

Deslumbramento...




Seguramente a nobre e bonita freguesia de Canedo tem uma das mais caras festas de arraial do nosso concelho por este querido mês de Agosto, como cantava o saudoso Dino Meira, Tem uma fartazana de artistas da rádio, tv e disco, a quem se paga milhares, tem uma majestosa procissão com mais de 30 andores, que chama mirones de todo o concelho e arredores, alguns andores com santos e santas repetidos, numa devoção redobrada, alguns até decorados com motas, e seguramente alguns milhares de euros gastos em deslumbrantes e exóticas flores.

Dizem que é um deslumbramento! Também concordo que é, mesmo que, quem sabe se pela idade, já pouco dado a deslumbramentos e, verdade se diga, a mais do mesmo, desta vez me tenha ficado pela visita à bonita igreja, esta, felizmente afastada do habitual rebuliço festivo que se vivia no alto do monte da Senhora da Piedade numa cacofonia de sons de carrocéis e bandas filarmónicas apertadas em pequenos coretos.  Além do mais, digo eu, há sempre outras coisas para nos deslumbrarmos. Haja olhos e algum discernimento para ver paradoxos e incoerências em certos deslumbramentos.  Todavia, para mal dos nossos pecados, temos também, nós os de cá, telhados de vidro.

20 de agosto de 2023

Panis et circenses, sufficiunt

Quando percorro uma certa freguesia vizinha, seja de carro, de bicicleta ou como ainda hoje a correr, pergunto-me se esta terra tem alguma coisa parecida com uma junta de freguesia que cuide e trate das suas coisas mais elementares, para além de registar uns cães ou mandar abrir as covas para quem falece, mesmo que a cobrar por isso? A resposta a mim próprio é de dúvida e não de certeza, porque pelo menos por aquilo que é dado a observar, pelo aspecto de abandono e desmazelo dos espaços públicos, ruas, valetas e passeios, parece que não, que não tem.

Mas tem, concerteza, porque de tempos a tempos lá vai havendo eleições e alguém, por vezes repetidamente, acaba por vencer. Mas volto a perguntar a mim mesmo quais são os critérios dos eleitores que escolhem aqueles que serão eleitos? Pela sua capacidade de fazerem bem, em prol de todos, com qualidade e competência, ou no caso e como no caso, em contexto de uniões de freguesias, por alguém que trata melhor da sua do que a  dos outros? Talvez sim, talvez não. Em rigor, por mais que nos digam que a fantástica democracia é isto mesmo, que somos todos nós a escolher e a legitimar quem nos representará, a verdade é que isso é mais ou menos uma treta, poque na realidade 51 decidirão sempre por 49. Dirão, concerteza, que é na aceitação dos 49 pela escolha dos 51 que reside a virtude da democracia. Será, pois será, até porque em rigor não há sistemas alternativos perfeitos, mas para qualquer um dos 49, será indiferente que sejam 51 a decidir por si ou se apenas 1. 

Em todo o caso, não há volta a dar nestas equações e continuará a ser assim até que o povo queira. Por isso, e tomando como exemplo de que nem vale a pena citar nomes, até porque é chapéu que facilmente encaixa em várias outras cabeças, os eleitores das freguesias maiores, mesmo que sem essa objectividade e propósito, decidirão sempre o que fazer com as menores, incluindo o seu esquecimento, já para não dizer desprezo. 

Mas, verdade se diga, esta minha interrogação e dúvidas, que poderão ou não ser partilhadas por outros, no geral não preocupam, porque, mais arroba menos quintal, somos pouco exigentes e havemos sempre de marcar o nosso voto em gente de boa vontade mas incapaz, honrada mas ineficaz, no que toca a esta coisa de gerir os interesses comuns de forma justa, equilibrada e proporcional e até no princípio de reduzir a velocidade de quem vai à frente para que os mais atrasados se aproximem e todos possam caminhar à mesma velocidade. 

Ao fim e ao cabo,  para manter esta pouca exigência do povo,  bastará à maioria que na devida medida não lhes falte o pão e o circo, tal como já há  mais de dois milénios os romanos tinham como orientação para governar Roma e o resto do império. Por isso, no geral, lá vamos nós todos contentinhos com pulseiras nos pulsos abastecer-nos das nossas doses de pão e circo e assim vamos andando acomodados, pelo menos pouco exigentes com quem nos deve servir num sentido de cidadania de todos para todos e não de alguns apenas para alguns. A quem interessa que uma rua esteja esburacada há longos meses, se não é a nossa rua ou por ela não temos necessidade de transitar? A quem interessa que alguém deixe uma obra pública inacabada durante longos meses, num laxismo e desresponsabilização, quase mesmo num desprezo absoluto pelos contribuintes e cidadãos? A quem interessa que os orçamentos se esvaiam significativamente em pão e circo?

As nuvens são macias e dizem que doces, pelo que a muitos pouco importará descer à terra,  à dureza da realidade. Assim sendo "panis et circenses, sufficiunt".

10 de agosto de 2023

Fujamos da chuva!

Num jogo de futebol, vejam lá a novidade, há três desfechos possíveis: a vitória, a derrota e o empate. Por conseguinte, sendo disputado por duas equipas, se não houver empate significa que uma vencerá e a outra perderá. Perceberam?

Por conseguinte qualquer adepto da coisa deve estar preparado para qualquer resultado da sua equipa, seja em que contexto for, para além da outra questão acessória que é a decisão eventual do desempate por penalties. Outros quinhentos.

Todavia, se há muita e boa gente que percebe isto e como tal se comporta, outros há que é tiro e queda, ou seja, convivem mal com a derrota e raramente ou nunca a aceitam. Há quem diga, para o justificar, que isto é fervor, mística e amor ao clube, mas também quem considere que é apenas o elementar fanatismo, falta de fair-play, respeito ou mesmo fanfarronice.

Ora esta situação é mais grave quando esses adeptos ocupam igualmente posições de liderança e como tal com muitos olhos postos no seu exemplo.

Mas em rigor isto já pouco interesse tem e serve apenas para alimentar jornais e debates na TV porque com o futebol na dimensão em que está, não passa de uma mera indústria, um negócio de muitos milhões, que usa os adeptos apenas como fonte de receita para pagar principescamente a jogadores, dirigentes e empresários. Por conseguinte os valores que ainda, pensamos que estão lá, como o desportivismo, o fair-play, o respeito pelo adversário, etc, são na realidade eufemismos sem correspondência e usados apenas para entreter gente sem sono.

Mas que é interessante assistir a este "jogo" para além do rectângulo de jogo, é, porque nele podemos ver até onde vai o pior que o futebol tem, a rivalidade doentia, o desrespeito mútuo, a fanfarronice, a falta de bom senso, etc.

É o que é! Talvez por isso, a leste do paraíso, só soube hoje de manhã do desfecho do resultado de um certo jogo de futebol que terá acontecido ontem ao início da noite. E, como se previa, sem surpresas, não tanto no resultado, que poderia ser qualquer um, mas sobretudo nas reacções a ele. Mais do mesmo.

Se está a chover, fujamos da chuva, a não ser que valha a pena ver alguém a molhar-se!