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31 de julho de 2023

Onde habita o segredo


Para lá das portas onde habita o segredo

Há labirintos intrincados, imaginários;

Teu corpo é prisão que me tem em degredo

Onde vou penando por pecados solitários;


Não sei quantos quartos tens fechados

E neles quantas camas já remexidas,

Com lençóis húmidos de corpos suados

Onde se encontraram ou perderam vidas.


Mas há em mim esta constante tentação

De te ter toda aberta, acolhedora, pura,

Possuir a chave mestra da fechadura,

Aceder à profundidade do teu coração.


Não sei que segredos guardas, zelosa,

Como a mais bela pérola a rude ostra,

Como espinhos a envolver a suave rosa,

Como seguro jogador a fazer a aposta.


Não sei que segredos tens escondidos

Nem em que gavetas e cofres encerrados,

Tão pouco se os tens, porque já perdidos,

Ou se apenas, sem pena, desencontrados.


A.Almeida - 31072023

Sofreguidão


Possa eu condensar todas as histórias,

Como espremer o sumo de uma laranja,

Beberei a doçura de tantas memórias

Num trago só, quanto a sede abranja.


Vigorado nessa densa, doce frescura,

O meu ser, todo eu ficarei então assim,

Saciado de uma sede sôfrega, pura,

De condensar-me no princípio e fim.


A.Almeida - 30072023

25 de julho de 2023

Céu cinzento


Há em mim memórias, 

umas boas, outras más,

uma brisa de aromas e cores

que me levam como folha outonal

a uma viagem sem labéu

antes do final adormecimento,

do retorno à terra, ao pó.


Pinto as minhas  histórias

com o vermelho das romãs,

o roxo das minhas dores,

também com o verde do matagal,

o azul do mar e do céu 

quando não calha estar cinzento,

como os dias em que estou só.


A. Almeida - 24052023

23 de julho de 2023

Vai-se indo e andando

Há dias, um guisandense seguidor desta minha página na internet, dizia-me que enquanto emigrante tinha-a como um elo de ligação à terra e que por conseguinte a visitava todos os dias na esperança de ver publicadas notícias e novidades sobre a freguesia e mesmo para ler os meus artigos sobre a mesma. Disse ainda que nesse sentido esta página acaba por ser serviço público e que como tal deveria ter reconhecimento, tanto das pessoas em geral como por parte de quem de direito.

Naturalmente que agradeci a simpatia, e fico satisfeito de que uma boa parte das visitas diárias à página sejam precisamente de emigrantes, mas quanto à história do reconhecimento, muito, pouco ou nada, é questão que não me preocupa nem é isso o que me faz manter este projecto desde há 23 anos. É um espaço pessoal e como tal sobre as minhas coisas, mas claro está que desde sempre com muito foco na freguesia, tanto ao nível do dia-a-dia como de escrita e divulgação de elementos documentais e históricos. Muito tem sido feito mas mais há por fazer ou complementar.

Tenho ainda noção que poucas páginas desta natureza existem por aí e mesmo que com muita procura uma ou outra possa ser encontrada, são projectos que depressa foram postos de lado e interrompidos ou mesmo mal começados e logo acabados. Veja-se o caso do que já foi o popular blogue das Caldas de S. Jorge...

Em todo o caso, como disse, é coisa que não me preocupa nem pretendo nem espero ecos positivos e muito menos reconhecimentos, seja de quem for. Recebo-os, de vez em quando de algumas pessoas, sobretudo emigrantes, e isso basta. Importa é ir registando momentos e elementos para que um dia alguém lhes possa dar outro merecimento. Até lá, é na desportiva e sem compromissos e por isso sujeita a ritmos certos ou inconstantes e pode até acontecer uma ou outra pausa, que podem ser retemperadoras. De resto, e pelo contrário, até não faltará por aí alguém que queira ver a coisa pelas costas porque, como analogia, um escaravelho da bosta há-de passar sempre a sua vida a arrastar bolinhas de bosta. Está-lhes no instinto.

Em resumo, na boa maneira portuguesa de explicar estas coisas e este meu já adulto projecto online, "vai-se indo e andando".

16 de julho de 2023

Não venhas tarde

Não! Não venhas tarde,

Como alguém diz a cantar;

Em meu corpo um fogo arde

Que só tu, amor, podes apagar.


Vai, pois, mas vem depressa

Bem antes, amor, do fim do dia.

Não vá que, por maré,  aconteça

Chegares e a cama estar vazia.


Mas se vieres tarde demais

Juro que vai haver sarilho,

Porque não sou dos pardais

Que se contenta com o milho.


Não! Não venhas tarde,

Não procures o contratempo;

Com muito ou pouco alarde

Importa que venhas a tempo.


A.Almeida - 16 Julho 2023

13 de julho de 2023

O senhor Destino


Quem é esse senhor importante

A quem todos chamam Destino,

Que determina cada instante

Do ser, à morte desde menino?


Que poder tem tal criatura,

Que desfecho decide em nós,

Desde a calma doce e pura

Ao fim mais doloroso, atroz?


Por mais as voltas e revoltas

Feitas e que com ele trocadas,

Não há casos com pontas soltas;

No emaranhado das redes fiadas.


Mas se é assim tal fatalidade

Do encontro com esse senhor,

Importará tão pouco a idade:

- Que o destino seja o que for!


A. Almeida - 13 de Julho de 2023


Uma interpretação:

O poema acima procura uma reflexão e uma abordagem poética sobre a figura do Destino. Através de uma série de questões, o poeta pretende levar o leitor a contemplar a importância e o poder desse misterioso senhor a que todos chamam de Destino.

No primeiro verso, surge a pergunta "Quem é esse senhor importante", evidenciando a curiosidade e a incerteza que envolvem essa entidade. O poeta procura compreender como o Destino determina cada instante da existência, desde a infância (desde menino) até a morte.

Na segunda estrofe, o poema indaga sobre o poder que essa criatura detém, capaz de decidir o desfecho de nossas vidas. Desde momentos de calma e pureza até os mais dolorosos e cruéis, o Destino parece ter o controle sobre todos os aspectos de nossas experiências.

A terceira estrofe reforça a ideia de que não há acasos ou coincidências soltas nas tramas tecidas pelo Destino. Mesmo diante das reviravoltas e trocas feitas com ele, tudo se encaixa nas redes que ele tece. Aqui, há uma sugestão de uma ordem cósmica, uma fatalidade inexorável que permeia nossa existência.

Por fim, na última estrofe, o poema nos faz refletir sobre a importância da idade diante do Destino. Independentemente de sermos jovens ou idosos, o poder dessa entidade é indiferente. O Destino não se restringe ao tempo, mostrando que seu domínio transcende a linearidade temporal.

Essa análise poética e filosófica leva-nos a contemplar a complexidade do Destino e sua influência sobre nossas vidas. O poema nos convida a refletir sobre a existência humana e a confrontar a ideia de livre-arbítrio diante da inevitabilidade dos desígnios do Destino.

12 de julho de 2023

Água para Aysha

Não sou, de todo, rico. Como a maioria dos portugueses, vivo do trabalho para sustentar-me e à família, para pagar as contas do mês e os altos impostos. Fosse rico, e naturalmente que poderia ajudar mais e muitos, mas apesar disso, apesar de ainda continuar a pagar crédito à habitação, serviços de água, esgotos, electricidade, telefone, televisão, internet, seguros de carro, seguros de vida, seguros de casa, seguros de saúde, taxa de audiovisual, comissões bancárias (roubos), IMI, IRS, IVA, imposto de combustíveis, impostos de tudo e mais alguma coisa, procuro ter ainda um restinho que me permita ajudar uma ou outra causa.

Ainda há poucos meses, no contexto da venda do meu livro, foram 250 euros para a Unicef para mitigar os seus apoios às crianças da região do corno de África.

Mas isto de dar e ser generoso, mesmo que um bom princípio cristão, nos dias que correm tem os seus quês, porque, é sabido, à porta de quem dá são mais que muitos os pedientes. E pedem os que precisam e os que não precisam, os que envergonhadamente e os que de forma descarada e recorrente. Por isso, no pensamento de quem pede e recebe, está a ideia de que quem dá uma vez dá duas ou três, ou as vezes que se pedir. Às portas de quem diz não, por vezes ainda com um sermão ou pedra na mão, muito dificilmente alguém bate uma segunda ou terceira vezes.

Ora isto é verdade para o habitual pedinte que toca à campaínha como é para as instituições e entidades. No caso da UNICEF, apesar de já ter feito donativos de várias centenas de euros e em várias ocasiões, acaba por ser a entidade que mais pede, e via online ou por correio, como ainda hoje, os seus pedidos são recorrentes.

Desta feita, traz-nos o caso de crianças como Aysha, de 13 anos, que vive em Afar numa região remota da Etiópia, que sai de casa todos os dias bem de manhã cedo,  com o seu camelo, para uma viagem de ida e volta que demora 9 horas para ir recolher água para si e para a sua família. Todos os dias, invariavelmente sob temperaturas superiores a 40 graus e por caminhos duros. Compreende-se que é uma vida dedicada a uma tarefa árdua quanto fundamental para a sobrevivência mas com isso perde quase a totalidade da sua infância. Mas é o que é!

Por conseguinte, todos os apelos da UNICEF, mesmo que recorrentes e insistentes, fazem sentido e justificam-se, mesmo que os donativos sejam simbólicos. Certamente que há muitos que bem poderiam ajudar de forma bem significativa e sem qualquer dificuldade, e muitos ajudarão concerteza, mas a larga maioria passa ao largo destas questões humanitárias porque as Ayshas deste mundo vivem lá ao longe e não lhes vemos os olhares tristes, os lábios sequiosos em rostos sem sorrisos e vidas sem infância, quase sem presente e com futuro muito incerto. Temos que chegue e sobre para as nossas vaidades e coisinhas supérfluas e nem vale a pena aqui fazer a lista.

Por tudo isto, voltei a contribuir para a UNICEF, tendo já realizado a transferência bancária, na expectativa de que todos os donativos, grandes ou pequenos, serão bem aplicados por esta credível entidade e farão diferenças para muitas crianças nessas regiões de pobreza e dificuldades extremas. Seja no contexto da saúde, como no da educação como no simples direito à água. E dizem as estimativas que serão mais de 2 mil milhões de pessoas sem acesso a água potável, em que 600 milhões serão crianças.

Velho sobreiro



Já velho estou! 

Como um velho, cansado e dorido!

O fresco vigor do tempo primeiro

Dissipou-se como um névoa matinal

Elevando-se no vale fresco de um rio,

Como peregrino num caminho de fé.


Sou como sou!

Chego aqui numa vida com sentido,

Maduro e forte como bom sobreiro,

Que não teme o tempo, o vendaval,

A chuva, o calor, sem tremer de frio,

Porque, como árvore, morrerei de pé. 


A.Almeida - 12 de Julho de 2023


Uma interpretação:

Este poema procura evocar reflexões sobre o envelhecimento, a passagem do tempo e a força interior. Retrata um sobreiro mas igualmente um homem.

O verso inicial, "Velho estou!", expressa uma sensação de idade avançada e exaustão. Essa frase pode ser interpretada literalmente, indicando que o eu poético, o sobreiro ou o homem, está envelhecido e cansado. No entanto, também pode ser compreendida de forma mais abrangente, simbolizando uma jornada pessoal ou existencial na qual o eu lírico se sente desgastado emocionalmente ou espiritualmente.

"Como velho, cansado e dorido!" amplifica essa sensação de fadiga e desconforto físico e emocional. Essas palavras sugerem a experiência de um corpo que já não possui o vigor e a energia da juventude, além de transmitir uma possível carga emocional relacionada ao peso das experiências vividas.

A imagem da "névoa matinal" que se dissipa pode ser entendida como a fugacidade do tempo e da juventude. Assim como a névoa que se eleva com o nascer do sol, a vitalidade e o frescor dos primeiros anos também se dissipam com o passar do tempo. Essa metáfora cria um contraste entre a efemeridade da juventude e a realidade da velhice.

A alusão ao "vale fresco de um rio" e ao "peregrino num caminho de fé" pode sugerir uma busca espiritual ou um sentido de jornada pessoal. O envelhecimento pode ser visto como uma jornada em que se caminha com fé, enfrentando desafios e superando obstáculos, assim como um peregrino em seu caminho sagrado. Essa interpretação traz uma dimensão filosófica ao poema, abordando questões existenciais e a busca por um propósito ou significado na vida.

Na segunda estrofe o eu lírico reafirma sua identidade e autoaceitação, afirmando "Sou como sou!". Essa afirmação pode ser interpretada como uma aceitação do próprio eu, com todas as suas imperfeições e limitações. É uma expressão de autenticidade e uma recusa em se conformar a expectativas externas.

A comparação com um "sobreiro" traz uma imagem poderosa. O sobreiro é uma árvore conhecida por sua resistência e longevidade, simbolizando força e solidez. Essa metáfora sugere que o eu lírico se sente maduro e forte, capaz de enfrentar os desafios da vida sem medo. Assim como o sobreiro não teme os elementos naturais, o eu lírico não se abala perante o tempo, as adversidades e as intempéries da existência.

A frase "Porque, como árvore, morrerei de pé" reflete uma postura de dignidade e coragem diante da morte. Ela evoca a imagem de uma árvore que permanece ereta mesmo no momento final, reforçando a ideia de uma vida vivida com integridade até o fim. Essa afirmação pode ser interpretada como um desejo de viver uma vida autêntica e plena, sem se curvar diante das inevitabilidades e desafios.

Em suma, esse poema trata de temas profundos, como o envelhecimento, a jornada pessoal, a busca por significado e a aceitação de si mesmo. Por meio de metáforas e imagens poéticas, o poema nos convida a refletir sobre a fugacidade do tempo, a importância da autenticidade e a coragem de viver com dignidade e propósito.

11 de julho de 2023

Antes morrer


Dito assim, de forma tão crua,

É quase pecado a sujar a boca,

Mas vejo-te, amor, sempre nua,

Pronta, oferecida, sã e louca.


Mas que importa, diz-me, enfim,

Se te vejo carnal, límpida, pura?

Há no desejo de querer-te assim

Uma busca no mal a plena cura.


Perdoa-me! Sim, este ser perdoa,

Que mais não quer que te querer.

A viver sem ti, em que tudo doa,

Dor por dor, quero antes morrer.


A. Almeida - 11 de Julho de 2023


Uma interpretação:

Na primeiro verso da primeira quadra, o poema começa de forma crua, confrontando-nos com a intensidade do sentimento que será explorado. O eu lírico se dirige ao amor, descrevendo-o como alguém constantemente nu, pronto para se entregar, tanto mental quanto fisicamente. A dualidade entre sanidade e loucura está presente, pois o amor é uma força que nos faz agir além da razão, desafiando as convenções.

Na segunda quadra, o eu lírico questiona a importância de ver o ser amado de maneira pura e imaculada. O desejo de possuí-la nessa forma parece ser suficiente para ele, sem necessitar de mais nada além dessa cura que se encontra no próprio mal. Há uma reflexão filosófica sobre a dualidade entre bem e mal, sugerindo que, às vezes, é através do que é considerado "mal" que encontramos nossa cura e plenitude.

Finalmente, na última quadra, o eu poético implora por perdão, demonstrando uma profunda necessidade de amar o ser amado. A vida sem esse amor é descrita como uma existência de dor e sofrimento constante. O poeta coloca a dor como uma escolha preferível à perda desse amor, enfatizando a importância e a intensidade do sentimento.

Neste poema, há uma mistura de elementos poéticos e filosóficos que exploram a dualidade dos sentimentos humanos, especialmente no contexto do amor. O eu lírico confronta-se com a crueza do desejo, a ambiguidade entre bem e mal, e a necessidade de amar intensamente, mesmo que isso signifique enfrentar a dor. É um convite para refletir sobre os paradoxos e contradições inerentes à natureza humana e às complexidades dos relacionamentos amorosos.

10 de julho de 2023

Desgraça sem graça


Andamos nesta desgraça sem graça, 

Numa tensa e constante correria,

Como se a vida que por nós passa

Seja coisa de viver num justo dia.


Viver tão somente numa doce calma,

Renegar a pressa, a ânsia que alastra,

Saber que tão pouco interessa à alma,

É, afinal, tudo quanto ao homem basta.


A. Almeida - 10-07-2023


Uma interpretação:

Este curto poema em duas quadras com rimas cruzadas,  procura retratar a condição humana num tom algo desesperançado. O poeta expressa a sensação de viver em um estado de desgraça sem graça, o que sugere uma vida monótona e sem sentido. A imagem da "tensa e constante correria" destaca a agitação e o ritmo acelerado em que as pessoas vivem, como se estivessem apenas passando pela vida sem verdadeiramente vivê-la.

A expressão "coisa de viver num justo dia" parece transmitir uma ironia amarga. O poeta sugere que a vida se tornou algo tão vazio e superficial que se limita a um dia só, ou seja, um dia comum e ordinário. Essa frase revela uma crítica à falta de intensidade e significado nas experiências e vivências do dia-a-dia.

Na segunda quadra, o poema procura apresenta um contraste ou um remate em relação ao anterior. O eu poético defende viver numa doce calma, renegando a pressa e a ansiedade que se espalham. Essa postura sugere a busca por uma existência mais serena e tranquila.

O poeta destaca que a alma humana pouco se importa com a agitação e a correria do mundo. Ao afirmar que "tão pouco interessa à alma", o eu lírico sugere que a essência mais profunda do ser humano não deve ser afectada por questões externas e superficiais, mas antes plenas de essência da vida.

O verso último, "É, afinal, tudo quanto ao homem basta",  transmite a ideia de que o que realmente importa e preenche o homem está contido nessa doce calma e na renúncia à pressa. A busca pela simplicidade e pela paz interior é retratada como suficiente para satisfazer as necessidades humanas.

Em resumo, esses dois trechos poéticos apresentam uma análise crítica da condição humana e da sua postura face à vida. Enquanto o primeiro revela uma realidade desesperançada e superficial, o segundo sugere uma alternativa de vida mais calma e significativa, valorizando a serenidade e a simplicidade.

6 de julho de 2023

Ano Internacional da Juventude - 1985

Está na ordem do dia o evento da Jornada Mundial da Juventude que decorrerá na cidade de Lisboa já na primeira semana do mês de Agosto deste ano de 2023. Espera-se a presença do papa Francisco e a participação de mais de um milhão de jovens peregrinos provenientes de todo o mundo. Antes, uma semana, decorrerão as pré-jornadas em que largos milhares de jovens serão distribuidos pelas diferentes dioceses  e paróquias, mesmo em contexto de convivência com famílias de acolhimento, num contacto mais próximo com as realidades de cada comunidade. Cá por casa estou igualmente à espera de acolher dois desses jovens.

Nesta onda relacionada à juventude, aos seus desafios e anseios, salta-nos à memória um importante acontecimento também relacionado aos jovens de então, onde me incluia, concretamente o Ano Internacional da Juventude em 1985. De resto, dentro da sua comemoração, em 31 de Abril realizou-se em Roma - Itália, no Vaticano um Encontro Mundial de Jovens e que de certo modo veio dar lugar às jornadas mundiais da juventude, com a primeira edição a ocorrer no ano seguinte (1986), também em Roma.

O Ano Internacional da Juventude (AIJ), ou Internation Youth Year (IYY), decorreu em 1985 e teve como objetivo central abordar questões e problemas relacionados com os jovens a nível internacional. Esta iniciativa foi proclamada pela Assembleia Geral da ONU e assinada a 1 de Janeiro desse mesmo ano pelo então Secretário-Geral, o peruano Javier Pérez de Cuéllar.

Durante todo o ano de 1985, ocorreram várias actividades em todo o mundo, sob a coordenação do Secretariado da Juventude do Centro para Desenvolvimento Social e Negócios Humanitários, com sede em Viena, Áustria. Mohammad Sharif dirigia esse Secretariado e também ocupava o cargo de Secretário Executivo do Ano Internacional. O evento foi presidido por Nicu Ceauşescu, filho do ditador romeno, Nicolau Ceauşescu.

Embora não tenha organizado eventos específicos sobre este tema, o Secretariado para o Ano Internacional da Juventude contribuiu para o sucesso deste acontecimento, através da colaboração na realização de diversos encontros, tendo como lema "Participação, Desenvolvimento e Paz".

O principal evento da ONU durante o Ano Internacional da Juventude foi o Congresso Mundial da Juventude, organizado pela UNESCO, realizado em Barcelona de 8 a 15 de julho de 1985. Neste congresso, foi emitida a Declaração de Barcelona, um importante documento que resultou desse encontro.

Por cá, recordo-me de participar em vários eventos promovidos a nível vicarial e diocesano, incluindo a realização de um festival da canção de temática a propósito, onde também fiz parte do grupo de jovens cá da paróquia, tendo então a nossa canção vencido a nível vicarial, com o festival realizado na paróquia do Vale e depois com direito a participar na final a nível diocesano num encontro memorável para os largos milhares de participantes que decorrer no Palácio de Cristal no Porto, em 30 de Junho de 1985. A canção vencedora dessa grande final foi a de Arouca pelo Grupo de Jovens de Rossas.

Ainda hoje alguém partilhou um vídeo dessa jornada no Porto onde lá estamos a actuar. Pena que a imagem seja de fraca qualidade mas mesmo assim revela-se um precioso tesourinho. Nessa altura não havia nas mãos de cada jovem, como hoje, potentes telemóveis com câmaras de fotografia e vídeo. Bons tempos! 

Mas sendo que os músicos, onde me incluia, com o Higino, o Mário Silva, o Rui Santos e o Quim do Lago, estão mais discretos, já as raparigas, a São Almeida, a Laida Moreira, a Guida Cardoso e a Preciosa Gonçalves, estão bem mais expostas. Bons tempos!


Na foto acima, eu e o Mário Silva a acompanharem à viola a actuação do grupo de Gião no festival ocorrido no Salão Paroquial da freguesia do Vale.

Nas fotos abaixo, momentos da actuação no Palácio de Cristal, no Porto.




Boas memórias, desde logo porque também eu era jovem, ainda a cumprir serviço militar obrigatório, mas apesar de decorridos quase 40 anos os jovens, embora com realidades e contextos diferentes, mesmo tendo tudo e não tendo nada, continuam a ter pela frente desafios sociais, culturais, religiosos mas também existenciais. Enfim, é uma luta que não termina e que dará sempre pano para mangas para anos internacionais, jornadas da juventude e outros eventos que tais, sem que algum dia sejam atingidos todos os desafios que se colocam permanentemente e em cada instante aos jovens. Estes, como eu e muitos da minha geração, acabarão por envelhecer e em rigor, talvez pela natureza das coisas, daqui a 40 anos parecerá novamente que nada mudou.

Mas, de minha parte e relativamente ao AIJ ficam a memória e os testemunhos de um ano e acontecimentos marcantes. Creio que indelevelmente  sucederá o mesmo para os actuais jovens que daqui a semanas viverão a Jornada Mundial da Juventude 2023.


1 de julho de 2023

Universo

 


Fosse quem fosse

Que concebeu o sol

E o mantém firme nos céus,

Foi, é claro, um génio.

Alguém com posse

De estrelas no rol,

Só pode, mesmo, ser Deus

Do hélio, do hidrogénio.

Que mistério, o universo:

O sol, a noite, o dia,

Luz, trevas, pó, gás!

Poema de um só verso,

Como do nada a teoria,

Do Big Bang, lá atrás.


A.Almeida - 01-07-2023

30 de junho de 2023

Poema "Saudade" já publicado

 


Em 16 de Maio passado dei conta aqui de que a convite da Chiado Books, participei com um poema meu  para uma selecção que a editora se propunha publicar numa Antologia de Literatura Portuguesa desiganda de “Fragmentos de Saudade”.

Como disse então, o meu poema foi seleccionado pela editora e a obra já se encontra publicada e à venda. 

Apesar de lá ter um poema não sei se a irei comprar, pois mesmo que com vantagens para os autores seleccionados o custo de cada tomo é de 25 euros. A antologia foi publicada em 2 tomos, numa obra com mais de 1.200 páginas. É certo que cada volume tem centenas de páginas mas mesmo assim, apenas para ter o prazer de ver o meu poema impresso são 25 euros... Mas ainda tenho que decidir e certamente que acabarei por adquirir até porque o tema é interessante.

Os 2 tomos/volumes desta obra estão divididos da seguinte forma: No 1.º encontram-se os trabalhos literários dos/as autores/as cujo primeiro nome começa de A a J. No 2.º encontram-se os trabalhos literários dos/as autores/as cujo primeiro nome começa de J a Z. 

Uma vez que a antologia já está publicada e à venda, partilho aqui o meu poema, que, como disse, foi seleccionado para fazer parte da mesma.


Saudade da minha aldeia


No largo da minha doce e antiga aldeia

Está seca a fonte das refrescantes águas,

Fechadas as portas e janelas do velho casario,

E toda ela é um presépio mudo, parado, sem vida.


Dela, a saudade cá dentro incendeia

Num fogo a devorar memórias e mágoas,

Mas que não aquece o penetrante e gélido frio

Porque o tempo a deixou, sozinha, constrangida.


A saudade apega-se-nos em tal acerto

Que já é parte de cada um dos sentidos;

Saudade, porque estamos longe ou perto,

Saudade, porque encontrados ou perdidos.


Américo Almeida


O poema "Saudade da minha aldeia" evoca uma atmosfera nostálgica e melancólica ao descrever a aldeia do eu lírico. Através de uma linguagem poética densa, o poema explora a solidão e a saudade, transmitindo uma sensação de abandono e desolação.

O primeiro verso já estabelece um contraste entre a imagem idealizada da aldeia ("doce e antiga") e a realidade presente. A fonte que antes oferecia águas refrescantes está seca, as portas e janelas do casario estão fechadas, e a aldeia parece ter perdido sua vitalidade. Essa imagem de abandono é reforçada ao se descrever a aldeia como um "presépio mudo, parado, sem vida", criando uma metáfora que ressalta a ausência de movimento e animação.

O eu lírico revela seu estado interior ao mencionar a saudade que arde dentro de si como um fogo que consome memórias e mágoas. Essa saudade é intensa, mas não consegue aquecer o "penetrante e gélido frio", indicando que mesmo a memória e a nostalgia não conseguem suprir a ausência e o vazio deixados pelo tempo. A aldeia encontra-se solitária e constrangida, como se tivesse sido abandonada pelo curso dos acontecimentos e pelas mudanças do próprio tempo. A procura de melhor vida nos centros urbanos tem levado à desertificação do interior e abandono das nossas aldeias. O amor à terra, o apego às raizes ancestrais e o sentimento de pertença acabam por ser preteridos em troca da legítima aspiração de uma vida com mais oportunidades e melhores condições. A razão a prevalecer sobre a emoção e o coração, mesmo que daí a saudade fique sempre como o elo de ligação entre o passado e o presente.

A última estrofe explora a natureza da saudade, revelando-a como algo que nos acompanha independentemente de estarmos perto ou longe, encontrados ou perdidos. A saudade é uma parte intrínseca dos sentidos humanos, transcende a distância física e se relaciona com a falta, o anseio e a perda.

No geral, o poema retrata a aldeia como um espaço abandonado face às mudanças do tempo e gerações, onde a saudade ocupa um lugar central na vida do eu lírico. Através de metáforas e imagens poéticas, o poema explora a solidão, a passagem do tempo e a persistência da saudade como uma presença constante na vida humana.

Análise técnica:

O poema procura utilizar uma linguagem poética densa e simbólica para transmitir suas emoções e imagens. Metáforas e imagens são utilizadas para descrever a aldeia abandonada e a saudade ardente do eu lírico. A metáfora do "presépio mudo, parado, sem vida" e a imagem do fogo que consome memórias e mágoas são exemplos de como as figuras de linguagem são empregadas para criar um impacto poético.

O uso da repetição do termo "saudade" ao longo do poema reforça sua importância temática e emocional. 

Esquema de rimas:

O poema é composto por três estrofes de quatro versos cada, seguindo uma estrutura de quadras. A métrica não é rígida mas estruturalmente equilibrada, em que há uma predominância de versos decassílabos, com algumas variações crescentes ao longo dos versos de cada estrofe. O uso de rimas é presente e regular, seguindo o esquema ABCD, ABCD, EFEF, como a seguir se demonstra.


No largo da minha doce e antiga aldeia (A)

Está seca a fonte das refrescantes águas, (B)

Fechadas as portas e janelas do velho casario, (C)

E toda ela é um presépio mudo, parado, sem vida. (D)


Dela, a saudade cá dentro incendeia (A)

Num fogo a devorar memórias e mágoas, (B)

Mas que não aquece o penetrante e gélido frio (C)

Porque o tempo a deixou, sozinha, constrangida. (D)


A saudade apega-se-nos em tal acerto (E)

Que já é parte de cada um dos sentidos; (F)

Saudade, porque estamos longe ou perto, (E)

Saudade, porque encontrados ou perdidos. (F)


A.Almeida

29 de junho de 2023

Amoras

 


A tua boca linda

Doce de amoras

Toda me deste,

Plena, só minha.


Mas mais, ainda,

Tudo o que foras,

Flor campestre,

Dócil avezinha.


AA - 29-06-2023


A leitura e interpretação de um poema podem variar de acordo com cada pessoa, pois cada indivíduo traz consigo as suas próprias experiências, emoções e perspectivas da vida e das suas coisas. No entanto, existem algumas directrizes tidas como gerais que podem ajudar a compreender e sentir um poema.

- Leitura atenta: Um poema deve ser lido mais de uma vez para captar nuances e detalhes. Devem ser observadas as escolhas linguísticas, como palavras, ritmo, estrutura e recursos literários, como metáforas, aliterações, entre outros.

- Atmosfera emocional: É importante a atenção às emoções evocadas pelo poema. As palavras e as imagens usadas podem despertar sentimentos de alegria, tristeza, melancolia, esperança, amor, entre outros. A ligação com as emoções que o poema evoca em cada um de nós é um dos pontos fortes na leitura e interpretação de um poema.

- Contexto e temática: Devemos considerar o contexto em que o poema foi escrito e os possíveis temas abordados. Pode-se questionar sobre o que o poeta está a tentar transmitir. Os temas podem variar desde os mais comuns como amor, morte, natureza, questões existenciais, etc. . Interessa sempre identificar a mensagem central ou as ideias subjacentes a um poema.

- Imaginação e visualização: A imaginação deve fluir na leitura de um poema. Importa visualizar as imagens que ele cria em nossa mente, também as cores, as formas, os sons e cenários que são evocados pelas palavras.

- Reflexão pessoal: Um poema pode permitir-nos uma relação com as nossaa próprias experiências, memórias ou visões do mundo e de tudo quanto nos rodeia. Perguntemo-nos como o poema ressoa na nossa vida, nas emoções e pensamentos. Que reflexão sobre as questões levantadas pelo poema e como elas se aplicam a cada um de nós ou ao mundo em redor? Por conseguinte um poema pode dizer-nos muito se estiver em linha com as nossas orientações pessoais ou nada ou mesmo um sentimento adverso se versar ideias opostas às nossas. Há por conseguinte, na poesia, uma necessidade de compreensão,  de respeito pelo lado poético do outro, dos outros.

A interpretação de um poema é, apesar de tudo, muito subjetiva, e não há uma resposta única, convencional ou tida como correcta. O mais importante é permitir o envolvimento com a poesia, explorar sua linguagem e mergulhar nas emoções e significados que ela possa despertar. 

Neste contexto, sem prejuízo de outras leituras, outros sentimentos e outras interpretações, este meu simples poema acima, pode suscitar estas interpretações:

Propõe-se a retratar a beleza e a importância da boca da mulher amada ou desejada, através de uma linguagem poética e mesmo sensorial ou sedutora. No início da primeira estrofe o uso da expressão "A tua boca linda" cria logo uma atmosfera de encantamento, destacando a beleza e a atração que ela exerce sobre o poeta.

A referência à boca como "Doce de amoras" adiciona uma dimensão sensorial ao poema, evocando o sabor carnudo, adocicado e prazeroso das amoras. Essa comparação sugere que a boca da mulher é algo que o poeta deseja e saboreia intensamente.

A expressão "Toda me deste" expressa a entrega completa e apaixonada da amada através dos lábios. Essa frase revela a intensidade do amor e a fusão entre os amantes, como se a própria essência da pessoa estivesse sendo doada através do beijo.

O verso "Plena, só minha", enfatiza a exclusividade desse amor, onde o poeta se sente completo e plenamente pertencente à amada. Essa afirmação procura ressaltar a união profunda entre os dois.

A segunda e última estrofe, que inicia com "Mas mais, ainda", introduz uma mudança de tom ao explorar outros aspectos da amada. A comparação com uma "Flor campestre" transmite uma imagem de delicadeza, beleza natural e pureza, como que suavizando a abordagem mais carnal ou mesmo erótica que pode emanar da primeira parte. A metáfora de "Dócil avezinha"  reforça essa pureza de sentimento e sugere uma natureza  livre, tranquila e suave.

No geral, apesar da sua simplicidade com uma estrutura de duas estrofes com versos curtos, o poema destaca a importância universal da boca como um símbolo poderoso do amor e da conexão entre os amantes. Através de uma linguagem poética, o poema explora diferentes facetas da amada, desde a doçura até a delicadeza, criando uma atmosfera de amor e encantamento.


Américo Almeida

4 de junho de 2023

Família Gonçalves - 22.º Encontro Convívio

 


Realizou-se ontem, sábado, 3 de Junho de 2023, o 22.º Encontro Convívio da Família Gonçalves de Guisande. Desta feita decorreu no Parque de Lazer de Guilhovai - Chão da Fonte, em S. João de Ovar, junto à ribeira da Senhora da Graça. Foram quase uma centena de familiares, de diferentes gerações, que vindos de várias zonas do país ali partilharam amizades, convivências e farnéis.

Apesar dos foguetes e do barulho de altifalantes, porque ali perto decorriam os preparativos para a Festa em Honra de Nossa Senhora da Ajuda, de S. João de Ovar, foi uma bonita jornada de convívio familiar. É certo que a maior parte dos familiares nunca se juntam na totalidade, pelos mais diversos motivos, mas são sempre largas dezenas que habitualmente comparecem.

Para o ano o encontro decorrerá por terras de S. João da Madeira.

Parabéns à Marta e à Vanda, filhas do Álvaro, a quem coube a organização deste ano.

Nota informativa: A indicação estampada no bolo, de 22.º aniversário, estará errada. O encontro deste ano de 2023 corresponderá ao 21.º e ao 23.º aniversário do evento, isto porque com a pandemia da Covid 19 não se realizaram as edições de 2020 e 2021. Resulta destas contas que estes encontros familiares  dos Gonçalves de Guisande tiveram a sua primeira edição no ano de 2001. 

Ficam de seguida alguns olhares do local e do encontro.



























3 de junho de 2023

Cartazes e cartazes

 

Reúno aqui, sem qualquer ordenamento de data ou temática, alguns simples cartazes para diversos eventos da paróquia e outros, que fui realizando ao longo dos últimos anos.