31 de agosto de 2022

Carlos Paião - 34 anos

Para além de tudo, e como foi tanto tanto, a fatídica data da morte de Carlos Paião, a 26 de Agosto de 1988, ficará sempre associada à minha data de casamento, que aconteceu um dia depois, porque nessa véspera de fadigas e canseiras para que tudo corresse bem, a nós, noivos, e aos familiares e amigos, foi a única coisa que a entristeceu. E ainda a entristece porque, pela circunstância, dela sempre me lembro.

Já não se fazem artistas do calibre do Paião, e em 34 anos passados aparecerem mãos cheias deles e delas, mas no geral feitos e projectados sobretudo pela máquina televisiva e do entretenimento, em que uma qualquer loura enche um arraial sem que nada, artisticamente, o justifique. 

Mas é assim que as coisas vão funcionando e quanto mais fora da linha ou da “box”, como se diz, mais gente arrastam para a frente de um palco. 

A música já não é apenas uma experiência sonora, auditiva, mas sobretudo visual, das roupas, das luzes, das poses, dos tiques. Mais do que a música, a melodia, a letra, o ritmo, importa o aspecto de quem a debita. As câmaras, que todos temos no bolso, são ávidas destas “drogas” e precisam delas como do pão para a boca.

Carlos Paião era um artista puro e daí tudo o que escrevia, compunha e cantava, era igualmente puro e mágico, e bastava ser ouvido. A sua música não precisava de condimentos para lhe dar sabor, nem de corantes e conservantes. Perdura.

Tal como a outros grandes nomes da música que partiram demasiado cedo, em que destaco Mozart (e nem me refiro aos que por força de excessos, como é comum a figuras do pop rock), fico sempre angustiado, não pelo muito e belo que produziram, mas sobretudo pelo muito mais que teriam deixado como legado caso o destino lhes tivesse concedido mais uns anos de vida, uma dezena que fosse.

Mas a vida é assim e Carlos Paião, então a caminho de uma actuação em Penalva do Castelo, ficou-se ali numa curva da EN1 perto de Rio Maior, deixando o país consternado.

Mas ainda que jovem (30 anos), deixou muito e bom e por isso continua a viver

29 de agosto de 2022

Pe. Agostinho Pereira da Silva - 102 anos

 


Passam hoje, 29 de Agosto, 102 anos sobre o nascimento do saudoso Pe. Agostinho Pereira da Silva, nascido no lugar de Casaldaça em 29 de Agosto de 1920. 

Leia aqui alguns apontamentos biográficos deste sacerdote guisandense.

23 de agosto de 2022

O adeus a um ditador

Por mais que se pinte o quadro com tons coloridos, José Eduardo dos Santos foi o líder de uma longa ditadura, por isso ditador. De resto, tal é reconhecido até por uma das próprias filhas. 

Foi uma governação que para além dos malefícios da brutal guerra civil, incapaz de implantar uma democracia plena (e a independência foi já há quase 50 anos), canalizou a imensa riqueza angolana para o aparelho familiar e do estado. Os seus familiares eram autênticos Midas que onde tocassem a merda transformava-se em ouro e diamantes tornando-se ricos e milionários, donos de empresas da esfera do poder. O povo, apesar de um crescimento económico minado por corrupção sistémica e permanente, continua na miséria.

Após a sua morte e depois do folclore à volta do destino do seu corpo, ao que dizem mesmo contra a sua vontade expressa em vida, vai ser mesmo sepultado em Angola.

O nosso (que não meu) presidente Marcelo, vai estar presente nas cerimónias fúnebres. É naturalmente uma participação polémica, mas não surpreende, porque na semântica das palavras e das acções há ditadores que são suavizados e quando muito são classificados como autocratas. 

Curioso que os habituais defensores dos direitos, liberdades e garantias, não andem por aqui a bradar os malefícios do ditador angolano e do rasto de morte e pobreza que deixou no país, apesar de uma retirada quando esgotadas as forças do apego ao poder. 

Os posicionamentos ideológicos sempre tiverem destas coisas paradoxais, como no futebol em que o nosso clube por mais rasca que seja e jogue, é sempre o melhor do mundo. Os outros, é que são os maus. 

Mas que descanse em paz! No fundo, foi apenas mais um e há-de haver sempre ditadores, mais ou menos soft, mais ou menos merecedores de exéquias de estado com gente importante na despedida! O protocolo e as relações internacionais e diplomáticas obrigam a que alguns sapos sejam engolidos.

22 de agosto de 2022

As bandas à banda

 




Na Festa de Canedo, tudo parece ser grande e desmesurado. Apesar disso, algumas coisas são pequenas, pequeninas.

Não se compreende, de todo, que duas bandas filarmónicas, com o prestígio da dos Mineiros do Pejão e da de Lousada, sejam remetidas para pequenos coretos, sem condições aos tamanhos das bandas (sobretudo a do Pejão), com os músicos apertados como sardinhas em lata, sem se poderem mexer. Ainda, por agravo, ali juntinho dos barulhos das diversões.

Caricato e ilustrador disto, o facto do 1.º flautista da Banda dos Mineiros do Pejão (ver foto), à falta de espaço ter que tocar com o braço por fora de um dos pilares do coreto e com os pés mesmo na borda. 

Por sua vez, o homem dos bombos teve que ficar numa espécie de varanda suspensa, acrescentada como um anexo. Algum músico que pretendesse dali sair em emergência, tinha que passar por cima dos colegas e, como um ginasta, transpor o varandim do coreto com os naturais riscos, como vi.

Não sei como os responsáveis pelas bandas acedem e concordam a actuar naquela vergonhosa falta de condições, que os desprestigiam porque desconsiderados. Todos precisam de facturar, mas é triste.

Paradoxalmente, o palco principal, imenso, à sombra, na parte central do arraial, vazio, com os apetrechos da cantora pimba que ali actuará à noitinha.

Paradoxos e exemplos de como as bandas filarmónicas, baluartes da nossa melhor cultura e tradição são tantas vezes assim desconsideradas por organizações com pouca sensibilidade para estas coisas. 

Demasiado mau para bandas com tanta qualidade. Provavelmente não voltarei ali para ver bandas postas à banda.

Há limites!

Que Nossa Senhora deles tenha piedade!

21 de agosto de 2022

Sempre a aprender

Uma festa genuína, algures por aí. Está-se mesmo a ver!

Mas, sempre a aprender, os altifalantes não debitavam música de folclore ou de cantores pimba. Nada disso! Nada mais que um relato de futebol!!!

Eu não sei se o S. Miguel Arcanjo ou a Nª Sª da Saúde são adeptos do Porto ou do Sporting, e até acho que não são por ninguém em particular, porque são pelas pessoas e não por clubes de futebol. E gente fanática pelos clubes é o que mais há por aí e não é preciso que o fanatismo chegue a gente santificada. Era o que faltava! 

Mas, esta é novidade, e  se a moda pegar, até pode ser vantajosa para as comissões de festas. Assim, quem sabe, em vez de gastarem balúrdios em cantores pimbas e em bandas de baile, passamos a ter uns relatos de futebol. Na sexta á noite, um Arouca-Vizela, no sábado, um Braga - Famalicão, e na segunda feira, uma coisa em grande, um Benfica-Porto ou um Sporting-Benfica. 

Josés Malhoas, Toys e Zés Amaros, ponde-vos finos! A pólvora acaba de ser inventada!

Abençoados tempos de fartura


(gente boa da "Quinta do Canastro", que tive o privilégio de me terem ajudado na minha caseirinha boda de casamento (final dos anos 80)


Noutros tempos, uma boda de casamento era tão genuína quanto top. Desculpem usar esta palavra “top”, mas está na moda, e fica fixe ser usada. Dá-nos um ar de quem usa t-shirts floridas.

Mas, dizia, a boda de casamento, era genuína porque conseguia reunir festa, celebração e simplicidade. Assim, o jovem casal definia a data de casamento e ia de seguida dar uma volta pelos restaurantes da moda, contratar o serviço da boda, que era só o almoço. Nada de ceias ou merendas: Assim, visitava-se o Dindão, o Senhora da Hora, o Taco Dourado, o Lano, o Topa, o Cruzeiro, o Pinheiro, o Algarvio, depois o Bolhão, etc, etc.

Mesas corridas, dispostas em forma de U, os familiares juntinhos aos noivos, no topo, escondidos atrás de um bolo parecido com a torre de Pisa, os casados de um lado, os solteiros do outro, por aí fora.

Depois as entradas com camarões, rojõezinhos, croquetes, moelas, polvo, orelha de porco, etc. Depois vinha a canjinha ou uma sopa de legumes bem passada, seguindo-se, mais a sério, a salada russa com filetes de pescada e, se mais ao luxo, bacalhau com puré de batata. Confortada a barriga, lá vinha o cozido à portuguesa, se a família de origem mais lavradoresca assim o determinava, ou em alternativa um assado misto num bordel gorduroso de carnes de cabrito, vitela e porco.

Depois lá vinha o desfile de doces e frutas, onde não podiam faltar as laranjas e as bananas e as uvas ou cerejas, dependendo da época. Já com o estômago a abarrotar, o remate com café e bagaço. Depois os amigos mais atrevidos começavam a bater e a partir pratos com os talheres, desafiando os casais, casados ou namoradeiros, a darem o seu beijinho. - E é p´rá noiva! - E é p´rós padrinhos!...  

Também podia acontecer o leilão com o corte da gravata do noivo e a subida do vestido da noiva, isto quando o ambiente já estava mais descontrolado. E alguns noivos aproveitavam porque poderia dar para ir ao Algarve. Finalmente, despedidos os convidados, umas fotos para o quadro do quarto num qualquer jardim público, depois, xixi e cama.

No dia seguinte o jovem casal ia em lua de mel à praia a Espinho ou ao jardim do Palácio de Cristal ou ainda, se mais endinheirado, até Troia, ou mesmo ao Algarve. E não era para todos.

Era assim, e a coisa aos convidados ficava quase sempre barata, porque sabiam quanto em cada restaurante custava a despesa aos noivos. Era à certa, cabendo aos familiares um esforço suplementar para uma ajuda ao início da vida de casados. 

Mas em pouco tempo a coisa deu uma volta de 180 graus e os casamentos e bodas dos anos 70 e 80 parecem anedotas quando comparados com os de hoje.

Vieram as quintas, as quintarolas, os protocolos, os vídeos, os drones, os palhaços, as bandas, as casas dos queijos, dos enchidos, dos doces, das frutas,  das esculturas de melancias e abacaxis, fontes e cascatas de chocolate, corta-sabores, desemperra línguas, etc, etc.. No protocolo ou na etiqueta da indumentária, as madames são um S. Miguel para cabeleireiras e esteticistas. Usam um vestidinho na cerimónia, outro no almoço e outro ainda na ceia. 

Já a ida para a igreja é uma preocupação definir se de carro normal, se de Ferrari, se de carro clássico antigo, se de limousine, se de charrete puxada por cavalos ou póneis, se de mota, de bicicleta, de trotinete, etc, etc. A pé, como eu, ninguém vai!

Os convites com design de artista, de seda, papiro ou papel biológico, prendinhas e lembranças todas xpto, fotos dentro de corações, no lago, no baloiço, na bicicleta, etc. 

As cerimónias na igreja, quando as há, e há porque as igrejas, com padres e acólitos, são sempre cenários irrecusáveis, mesmo se os noivos não são de missas, são de arromba com flores importadas, arranjos dignos de um casamento da realeza inglesa, grupo coral contratado, o Avé Maria do Schuberth e o Aleluia do Cohen.

Quando o álcool começa a fazer das suas, há danças do pinguim, do comboio, do quadrado, do quizomba, do kuduro, do barão, etc, etc. Há banho de espumante e de champagne francês e no fim da noite o fogo de artifício, 

Nas redes sociais os noivos e convidados partilham tudo e mais alguma coisa e até agradecem e destacam a lista dos "patrocinadores" das flores, dos sapatos, dos fatos, dos vestidos, das cuecas, dos bolos, dos convites, do vídeo, das fotos, o operador do drone, o banda, o grupo polifónico, a menina do violino, o rapaz do piano, o hotel, a quinta, o chefe, o condutor da charrete, a agência de viagens, etc, etc. É uma produção e peras.

Uma orgia de felicidade e de coisas boas que enchem os corações e as almas, dizem! Os convidados pagam para comer numa tarde o que daria para comer num mês. Mas pagam, porque sacrifícios destes valem a pena. É um investimento duradouro e conteúdo para as redes sociais de fazer inveja.

Claro está, os convidados na maior parte dos casos pagam tudo isso e até mesmo a lua-de-mel num qualquer resort paradisíaco.

E isto é mau? Claro que não! É sinal que até o mais humilde casal, mesmo que com ordenados mínimos ou mesmo desempregado,  tem direito ao seu grande dia, à sua celebração.

Finalmente, uma outra grande mudança, significativa nestas coisas: A data do casamento já não é definida pelo casal ou pelo padre ou pela altura em que ambos têm férias. Quem a define é a agenda da quinta ou da quintarola. Nalgumas há listas de espera de anos, dizem! Espere-se, pois, que é o mais importante!

Tanta coisa e tanta mudança em tão poucos anos, digo eu, que quase me envergonho da minha boda de casamento, humilde, simples, caseirinha, mesmo em casa, sob uma tenda de pano florido, e da trabalheira em matar porcos, vitelas e uma capoeira inteira, para que nada faltasse aos amigos e familiares.

O dinheiro deve ter sido à certa para o que se comprou na mercearia e se pagou a quem serviu, porque não sobrou para ir à Torreira ou ao Furadouro, quanto mais à Madeira ou Puta Cana.

Uma voltinha nocturna ao bilhar grande de um parque de uma cidade nas redondezas, umas farturas ou um novelo de algodão doce para adoçar as bocas sedentes de beijos, e no resto, xixi e cama. Naquelas alturas a maioria das mulheres casavam virgens, mas isso poderia ficar para depois do cansaço do dia e da boda. Nem era o mais importante, e de resto paciência pelo dia D era o que se aprendia a ter  durante o namoro. Hoje, no geral, as coisas já vão adiantadas.

Abençoados tempos modernos e de fartura, onde "todos somos tão felizes" e os casais chegam "quase todos" a "bodas de oiro" e em que os divórcios contam-se pelos dedos das mãos. 

Ainda bem que há Facebook para nos testemunharem estas coisas, porque se não fossem vistas, contadas ninguém acreditaria.

Se alguém vai dizendo que "vivemos acima das nossas possibilidades", isso é pura má língua. Na realidade vivemos muito modestamente.

Mas ainda em tempos mais recuados, os nossos pais e avôs casavam-se, comiam uma refeição melhorada, com arroz de galinha, e no dia seguinte iam em lua de mel para a puta da vida, no campo ou no mato. Hoje, vão quase todos para a Puta da Cana, ou outros paraísos tropicais. Diferenças, para além da semântica e dos trocadilhos.

Abençoados tempos de fartura!

18 de agosto de 2022

A inflacção é uma treta

Contou-me, hoje, o Manel do Mindo, que ontem por volta das 21:00, porque atrasado por um biscate de última hora, a modos de grávida deu-lhe, a ele e à patroa, apetites por uma "francesinha". 

 Para não irem ao engano, ligou para quatro restaurantes onde o pitéu tem fama, e ainda para mais outros três, onde à falta da francesinha marcharia qualquer coisa que lhe pusessem no prato, mas qual quê? O Wimpy, em Sanguedo, àquela hora tinha  gente à espera e a cozinha fecharia pelas 10. Os restantes, que nem pensar, porque estavam cheios e a abarrotar.

Ora o Manel, porque ainda ligou para mais dois mas ninguém atendeu, a modos de férias sem precisar de facturar,  depois de uma valente rodada de impropérios, lá decidiu, com a patroa, recolher aos aposentos domésticos e preparar uma saladinha de tomates com atum. Bem bô!

Moral da história (verdadeira), esta cena da inflacção, preços altos e dificuldades e coisa e tal, é apenas um ar que lhe deu. No geral, o povo está todo bom de saúde (graças a Deus!), incluindo a financeira. Tudo a assapar!

Cozinhar em casa numa quarta-feira? Esquece!

Fórmula 1 - Companheira de jornada



...E fui hoje dar uma volta com o meu cavalo da juventude, a Fórmula 1 - EFS - Sachs, preta com retoques dourados

Foi comprada com o meu dinheirinho em 1979, no Correia, em Sanguedo, paga a letras que sagradamente liquidava a cada mês. Nesse tempo o dinheiro era caro porque não caía do céu, como agora até parece. Os raios dos pais, por essa altura, não davam nada de borla. - Queres uma motorizada? Trabalha e compra-a! - Diziam.

Mais de que um objecto para entretenimento ou para não andar a pé, esta motorizada fez parte da minha vida, do tempo da juventude, das idas às festas, às tascas, ao futebol, à missa, à praia, aos namoros, para o trabalho, pois claro, chovesse, nevasse ou fizesse calor, e mesmo já depois de casado e com filhos, serviu de transporte à famelga nas voltas da vida.

Um carrito, não mais que um Renault 5, usado e abusado, a cair de velho, e dado a aquecimentos como as mulheres na menopausa, só me chegou às mãos já com o aparecimento do segundo filho.

Por conseguinte, esta minha velha companheira mecânica, já com umas próteses e um ou outro dente implantado, e a gemer de alguns ossos, ainda está aí para as curvas. E só não as dá com frequência porque isto de grupos de motorizadeiros é bonito e louvável mas é bota que não assenta na medida do meu pé.

Mas hoje fui dar uma volta. Claro que com seguro, que pago para estar parada. E portou-se bem, o raio da preta. Quando lhe metia a 5ª mostrava fome para a 6ª ou sábado.

De resto, nesta volta, creio que já não atingia tanta velocidade desde que por aquela tarde de um sábado algures em 1981, com o Tono Mota, companheiro dos bons velhos tempos, montado na parte de trás, salvo-seja, tivemos que fugir à GNR, que andou em nossa perseguição por tudo quanto era estrada em Canedo e Gião. No fundo, porque a velha (então nova) companheira assapava a valer, mesmo com dois nela montados, lá conseguimos despistar a bófia e arranjar o esconderijo, entrando a varrer num campo de milho algures por Canedinho. Isto de andar sem capacete para sentir os cabelos ao vento tinha os seus riscos.

Mas eram bons tempos, em que a GNR ajudava à festa. 

Hoje nem isso!

17 de agosto de 2022

Dia de S. Mamede, nosso padroeiro

 


É já hoje, 17 de Agosto, o dia de S. Mamede, padroeiro da nossa paróquia. Sem pompa nem circunstância, mas com celebração condigna, logo teremos missa pelas 19:30 horas na igreja matriz. Seguir-se-á uma singela procissão à volta pelo percurso habitual (pelo adro e alameda).

Dizem os mais antigos que noutros tempos já houve por cá festa de arraial dedicada ao padroeiro, mas pessoalmente, não tenho memória dela. De resto, no que é uma singularidade, as festas populares com invocação de santos ou de Maria nas suas diferentes facetas, muitas vezes deixam os padroeiros de fora. Mesmo cá pelas redondezas, algumas têm tido períodos de paragem e outras são festas menores quando comparadas com demais festas nas próprias freguesias. 

Até mesmo na nossa freguesia, já tem havido procissões na Festa do Viso sem a sua presença, no que, naturalmente, é sempre de lamentar. No mesmo sentido de nem sempre se dar importância à importância, mesmo neste ano, incompreensivelmente, um santo com devoção e tradição na freguesia, o mártir S. Sebastião, não tomou parte na procissão da nossa maior festa. Soubesse disso, com tempo, e seria eu próprio, ou com mais alguém, a garantir a sua participação. Mas, adiante.

A ilustrar este artigo, deixo a reprodução do painel de azulejos existente no lado norte da torre da nossa igreja. Foi pintado a partir da imagem original existente à esquerda (de quem olha) do altar-mor. 

Este painel, com as dimensões de 1,26  x 0,84 m, composto por 54 azulejos (9 x 6) foi mandado fazer pelo então pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira à Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, no ano de 1949, tendo então custado 650 escudos.

15 de agosto de 2022

Aperta, aperta com ela


Da recente polémica com a gravação de um videoclipe do cantor José Malhoa defronte da igreja matriz de Cortegaça, basta ler alguns comentários nas redes sociais para perceber que hoje em dia não há meios termos nem razoabilidade nas discussões e apresentação de pontos de vista. Há literalmente dois lados da barricada e os argumentos de uns e outros são igualmente extremados e todos se indignam. Apanha por tabela o artista, os padres, a igreja e até o autarca.

Uns defendem que houve abuso e banalização da imagem de um templo religioso como cenário de um cantor de matriz brejeira, e que não raras vezes banaliza nas suas cantigas as figuras a ela ligadas. Nos entretenimentos de José Malhoa, os padres e os sacristãos andam pelos bailaricos a incentivar namoricos, a "apertar com elas” e a obrigar a "rezar porque se ajoelhou".

Outros, mais receptivos a pimbalhadas do que a missas, coisas religiosas e espirituais, defendem o cantor e atacam a Igreja e os padres, "todos uma cambada de pedófilos", sem moral para criticar o inocente Malhoa. Depois, quanto a autorizações ou licenças, parece que toda a gente autorizou e até incentivou a coisa. Há-de haver sempre alguém que julga decidir por todos.

Mas por mim, sobretudo quanto aos mais extremistas, que fiquem a discutir uns com os outros, porque a burros não se deve dar conversa mas palha. Mas sempre digo, porque também tenho opinião, e porque venho do tempo em que me ensinaram que o respeitinho é sempre bonito, cada um deve ocupar o seu lugar. Misturar alhos com bugalhos é que não é de bom senso. Um fio de esparguete é tão inconveniente numa cabeleira como um fio de cabelo no meio de uma "bolonhesa".

Por conseguinte, José Malhoa fazer-se filmar com as suas "acólitas" frente a um templo religioso tem o mesmo cabimento que um coro gregoriano fazer-se filmar no Moulin Rouge.

Mas há quem ache tudo normal e que daí não vem o mal ao mundo e que só por isso tudo se justifica. Certamente que não vem, mas, repito, quando as coisas são feitas com bom senso e respeito por todas as partes e de forma contextual aos propósitos, as coisas funcionam melhor.

De resto, este mal da brejeirice se misturar com a religiosidade é velha e não é apenas de agora e o mal é geral. Tomemos como exemplo a recente actuação dos  "4Mens" na festa do Viso: Sem dúvida que proporcionaram um bom momento de entretenimento, mas o seu grau de brejeirice e mesmo de ordinarice rasca nos seus sketchs ditos “comédia “, não se coaduna de todo com o contexto de uma festa religiosa. Mas porque o povo gosta, ri e bate palmas, tudo parece estar bem e o êxito mede-se sempre por aí. 

Creio que é possível numa festa de base religiosa ter um programa de entretenimento e qualidade artística sem cair no facilitismo da excessiva brejeirice e ordinarice. Por conseguinte, qualquer comissão de festas deve ter sempre algum cuidado na escolha do cartaz, porque numa festa religiosa e de identidade de uma freguesia, há muitas sensibilidades em jogo. Não é propriamente um festival de verão ou um parque temático onde vai quem quer, gosta e paga para isso. De resto, o que não faltam é bons grupos e bons artistas onde a sua qualidade intrínseca não depende de bailarinas esbeltas em movimentos insinuantes, de anedotas ou sketchs ordinários.

Mas este é e será sempre um tema polémico e contraditório, porque a banalização ou mesmo subversão de certos valores, incluindo os da religiosidade de uma festa de aldeia, está em curso já há muito.

Assim, em remate, importará sempre, parece-me, que haja bom senso e equilíbrio nas escolhas e nas decisões. A opção por situações de ruptura e confronto não é de todo positivo. Hoje em dia as sensibilidades estão todas em ponto de caramelo e basta uma gota para fazer transbordar o copo da indignação.

14 de agosto de 2022

António - Um homem com o perfil certo

 


Dizem-me que o António está hoje de parabéns! O António Azevedo da Conceição é dos nossos! É gente nossa! Uns chamam-lhe o Tono do David, outros o Tono Ministro, e alguns, ainda, o Tono sacristão. De facto é tudo isso mas é mais do que isso. É gente nossa, porque dos bons, daqueles que têm dedicado uma parte significativa das suas vidas, à paróquia ou freguesia, tantas vezes em detrimento da sua própria. 

Desde há muitos anos, mesmo décadas que o António faz parte da mobília da casa nas suas diferentes tarefas, mas sempre procurando dignificar a sua e nossa terra e paróquia, num compromisso quase sacerdotal, passando por diferentes párocos e diferentes tempos. E com muito resiliência pois certamente, que pelas constantes mudanças, terão sido muitos os desafios, as alterações e adaptações, e certamente que nem sempre de feição à sua forma de ver, viver e sentir a paróquia. Qualquer outro já há muito que teria dado à sola e dedicar-se apenas a si e aos seus. Mas o António tem mostrado ter o perfil certo para estas coisas de dedicação e ajuda na paróquia. 

Foi pena que não tivesse ido mais longe e poderia hoje ser um bom sacerdote ou diácono. Mas a opção de vida foi sua e a missão que escolheu, não tem sido de somenos importância. Tanto nas coisas da paróquia como na dedicação à família, no cuidado prestado aos seus pais e à irmã. Solteiro por opção e missão, casou-se com essa responsabilidade de filho e irmão e a ela tem sido fiel.

É costume dizer-se que ninguém é insubstituível, e é verdade, mas o Tono é quase desses que, como analogia numa equipa de futebol, o treinador olha para o banco de suplentes e não vê ali ninguém capaz de assegurar a sua qualidade. 

Assim, sendo, dêmos valor ao António Ministro, porque apesar de estar sempre com um ar jovem, a verdade é que já passou dos setentas, e naturalmente não andará por cá toda a vida, como de resto qualquer um de nós, e nunca devemos deixar para amanhã o que podemos fazer e dizer hoje. Por mim, mesmo que o já tenha dito, digo-o agora novamente: Obrigado, António, por servires a paróquia, naturalmente com as tuas limitações e defeitos próprios, mas com muita dedicação, dignidade e amor. 

Bem hajas!


Nota posterior:

Já depois de escrever o texto acima, que teve aqui centenas de visitas e na rede social inúmeros comentários positivos e de gratidão e apreço pelo papel do António na paróquia, estive com ele e fez-me sentir que teria preferido que nada escrevesse. Percebo e compreendo, porque o António é assim mesmo e gosta de se esquivar destes elogios públicos.

Eu compreendo, repito, a sua posição e de algum modo peço que me desculpe pelo atrevimento e alguma exposição a que o sujeitei, mas sendo no contexto da sua acção num espaço público e comunitário, que a todos diz respeito, continuo a achar que é sentido e merecido. 

De resto, excesso de humildade por vezes também nos prejudica. Tantas vezes com a nossa dedicação e esforço em prol dos outros e da comunidade, ficamos sentidos por não vermos esse esforço reconhecido e até, pelo contrário, criticado. Ora se assim é, não podemos ficar incomodados quando de algum modo sentimos que esse mesmo esforço e essa mesma dedicação, são, afinal, reconhecidos. Não podemos é ficar aborrecidos porque nos criticam ou incomodados porque nos elogiam, porque às tantas as pessoas ficam confusas ou indiferentes. A humildade é uma qualidade que devemos cultivar em nós próprios, mas sabe sempre bem sentir o carinho e reconhecimento dos outros e quando este é expresso não o podemos repudiar. É sinal de que estamos no caminho certo, a ser úteis e prestáveis à comunidade onde nos integramos. 

Face a isto, o António deve compreender que embora o não peça nem o procure, deve aceitar, sem incómodos, que os outros lhe reconheçam e agradeçam o seu trabalho na paróquia. E não é demais que o façam. 

10 de agosto de 2022

Coisas de regedores e foucinhas

Na minha pesquisa relacionada aos apontamentos sobre os regedores em Guisande, que como já confidenciei por aqui, tenciono incluir no livro que pretendo publicar lá para o princípio do próximo ano, tenho falado com os mais velhos e escutado histórias curiosas e mesmo divertidas. Algumas serão naturalmente como os contos, em que, conforme vão sendo contadas, alguém sempre lhes acrescenta um ponto.

É claro que por razões óbvias não interessa nem importa referir nomes e os aqui usados são fictícios. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, como é costume avisar. É certo que os intervenientes já partiram, mas há familiares que poderiam ficar melindrados. Mas, o mais importante, o essencial, é que fiquem registadas as particularidade deste nosso género humano, tão rico em diversidade de personalidade, do ser e do viver.

Assim, conta-se que um certo guisandense, com fama e proveito de ser amigo do alheio, apesar de ser uma alma mansa e pacífica, terá "mudado" de lugar uma certa alfaia agrícola, no caso uma foucinha, artefacto imprescindível ao corte de ervas, centeios e aveias nos campos ou mesmo corte das canas do milho  após a colheita das espigas. 

O dono, o lesado, desconfiado do larápio do costume, queixou-se ao regedor, homem austero e experimentado com as coisas da vida e conhecedor do dia-a-dia das suas "ovelhas" e suas manhas. Ora o regedor,  após o final da missa, dirigiu-se calma e pacatamente a casa do suposto subtractor. Bateu na porta fronha e logo depois, da negrura do quinteiro assomava a figura de quem procurava, no seu aspecto franzino mas vivaço.

- Ora viva, Sr. regedor! A que devo o prazer da sua visita?

- Ouve lá, ó Justo! Devolve-me a foucinha do Ti Correia, que ele amanhã vai cortar centeio e precisa dela - Ordenou em voz grave e austera.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! - respondeu o Justo num tom apaziguador procurando amansar o ar autoritário do regedor. - Mas, Sr. regedor, venha ali comigo!

Dirigiu-se a uma barraquita ao lado da capoeira e ali estavam penduradas na velha parede uma dúzia de foucinhas e outras alfaias, que mais parecia uma tenda de ferreiro na Feira dos Dezoito.

- Qual será destas, Sr. Regedor? Qual será destas? - perguntou nervosamente o Ti Justo. 

- Mas então tu não sabes a que roubaste? Achas que eu sou entendido em foucinhas e que conheço todas as foucinhas da freguesia? - ripostou o regedor, já a perder as estribeiras com aquela humilde descaradeza  do Justo.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! Deve ser esta! Deve ser esta! É mesmo esta! Até tem a marca com o nome do Correia! - respondeu com ar de entendido, enquanto pegava na foucinha, quase nova, e a devolveu ao regedor.

O regedor, habituado a estas tropelias do Justo, pegou na foucinha, virou costas, mas antes de transpor as portas fronhas, voltou-se e sentenciou! - Olha lá, não me obrigues a voltar cá por causa de foucinhas, que eu tenho mais que fazer!  Além disso, para que raio queres tu tantas foucinhas?

Respondeu-lhe o mãos levezinhas, encolhendo os ombros estreitos: - Sabe, Sr. Regedor, nestas cousas é melhor ter a mais que a menos! É! É melhor a mais que a menos! - repetiu, encolhendo novamente os ombros, justificando-se.

Fingir é preciso

É por demais conhecida a parte do poema "Autopsicografia" em que Fernando Pessoa diz que:

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

Ora este fingimento em Pessoa, que lhe é reconhecido, é mesmo para levar a sério. Senão vejamos: Desde logo o recurso aos seus heterónimos como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, em que cada um é uma personalidade própria.

Depois, para lá de tudo, da poética e da linguagem, um exemplo concreto desse fingimento, e dele a contradição descarada e comprovada: Como Bernardo Soares, no "Livro do Desassossego", diz que:

"Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins, propósitos e intenções."

O mesmo Pessoa, in "Ideias Estéticas da Arte", diz que:

"Só a arte é útil. Crenças, exércitos, impérios, atitudes- tudo isso passa. Só a arte fica, por isso só a arte se vê, porque dura."

Ou seja, resumindo o fingimento, Fernando Pessoa, dá uma no cravo e outra na ferradura. Vê e julga a arte com a mesma desenvoltura e contradição filosóficas,  considerando-a agora "útil", e logo como "inútil".

Pessoa julga bem. O jogo de palavras, ideias, metáforas, sentimentos, analogias, etc, etc, não tem que brotar do real sentimento do poeta nem da sua coerência. Se assim fosse, era um desgraçado à deriva num mar revolto em constante turbilhão de sentimentos e emoções. 

Fingir, pois, é preciso!

9 de agosto de 2022

A capela do Viso e outras memórias


Costumo dizer que, até ter casado, eu não ia à Festa do Viso; eu estava na Festa do Viso, já que ali nasci e cresci, mesmo encostadinho à capela e ao arraial. Por conseguinte, são muitas e remotas as memórias ligadas à festa, àquele bonito lugar e aos pormenores e singularidades de outros tempos, que naturalmente foram mudando com o correr dos anos. A própria fotografia, acima, de 1969, evidencia algumas coisas mudadas, sobretudo as árvores, as acácias, que já desapareceram.

A capela, é certo, continua imutável no mesmo sítio, desde que foi edificada por 1869, mas também ela foi sofrendo obras, sobretudo de conservação, umas mais ligeiras, outras mais profundas. Estas, as mais significativas, do que tenho memória ocorrerem em 1969, à passagem do centenário da edificação, com obras de decoração interiores, de trolharia, carpintaria, pintura e douramento os altares, requalificação do tecto e aplicação de azulejo na fachada principal incluindo o revestimento da fachada princiapl com azulejos em tom creme e integrando painéis das figuras da Senhora da Boa Fortuna e de Santo António, e ainda a construção do arco sineiro. 

Mas também, quanto a obras profundas, mesmo estruturais, mais tarde, em 2003, foi feita a requalificação ou mesmo substituição total da cobertura e destapamento do pavimento em soalho ficando com o interessante pavimento original em lajes de pedra do Monte de Mó. Ainda a reformulação do coro e construção de escada interior, facilitando o serviço. De registar melhoramentos como a instalação de bancos, a colocação do relógio com amplificação, etc.

Depois disso foram sendo dadas umas pinturas ligeiras, ainda o levantamento do arco sineiro para acomodar o automatismo dos toques, mas o certo é que neste momento a capela está de novo a precisar de obras de conservação, sobretudo ao nível das vedações na cobertura e nos rebocos interiores, que se apresentam vergonhosamente em mau estado e aspecto.

Para além das intervenções na capela propriamente ditas, ao longo dos anos, também a sua envolvente foi sendo mexida, com a realização de passeio cimentado e uma parte em calçada de pedrinha de calcário e basalto, mas certo é que ainda continua sem dispor de uma envolvência requalificada com uniformidade e dignidade. É um caminho que falta percorrer.

Ate mesmo o próprio monte ou arraial, depois das obras de transformação durante os anos 90 e seguintes, continua ainda a carecer de melhoramentos. A calçada frontal à capela e guias delimitadoras estão em mau estado, sobretudo decorrente do crescimento das árvores e respectivas raízes. Ainda o parque de merendas que continua bruto e com desorganização de árvores e arbustos. Enfim, não faltam motivos e pretextos para realizar obras de requalificação e melhoramentos. Haja o que não tem havido, vontade e dinheiro.

Ainda sobre a capela, sua construção e obras que foram sendo feitas ao longo da sua existência, não há nada de documental ou escrito sobre isso e que o possa comprovar, mas por uma série de indícios, acredito que é possível que a parte onde se desenvolve a sacristia, do lado, poente, foi um acrescento à configuração original, por isso acrescentada passados uns anos. Assenta esta minha hipótese pelo facto deste elemento ter molduras dos vãos exteriores com diferenças notórias bem como ainda a sua cobertura original ser formada por laje em cimento ao passo que os dois corpos principais da capela, a nave principal e a capela-mor foram realizados com estrutura em madeira. Por outro lado este elemento parece não respeitar a configuração simétrica dos corpos principais.

Importa também acrescentar que há outros elementos que não foram edificados aquando da construção original. Por exemplo, o púlpito, integrado do lado norte, tem a data de 1907, o que comprova que foi acrescentado passados trinta e oito anos da data original que foi em 1869, esta inscrita sob o arco-cruzeiro.

Também a sineta, como já falamos por aqui, originalmente não estava na posição onde agora se encontra. A sinete foi moldada e instalada no ano de 1874, por isso volvidos cinco anos da construção da capela. E foi instalada sensivelmente a meio do telhado, sendo accionada manualmente por  um sistema de arames a partir da parte da sacristia que dá apoio à Comissão de Festas. Apenas aquando das obras de 1969 é que foi construído o actual arco encimado por uma cruz e onde foi então mudada a sineta e, numa opção lamentável, foi pintada num tom vermelho carmim, no que lhe retirou qualidade na vibração, por isso com um toque choco. Ainda mais tarde, em 2016, esse arco foi levantado  de modo a que fosse instalado o sistema de toque mecânico.

Já pelos anos 70, ao arco sineiro foram afixadas umas três cornetas (altifalantes) para propagar o toque do relógio então instalado na sacristia, o qual ainda hoje funciona. Actualmente já não fará sentido o funcionamento e a função de tal relógio, que bate a cada quarto de hora, bem como as cornetas que são apêndices que desfeiam o arco sineiro, mas por lá vão estando.

Foi pena que nas obras posteriores, nomeadamente em 2003 quando se procedeu à reformulação da estrutura da cobertura e reconstrução do coro, não se tivesse desmontado este sistema ou pelo menos mudado as cornetas para um local com menos impacto visual, eventualmente na zona mais central da cobertura. Em todo o caso, como se disse, este relógio sonoro toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento e já há muitos anos que é companhia de quem vive a contar as horas.



Sineta com a data de 1874 e as iniciais NSBF - G (Nossa Senhora da Boa Fortuna - Guisande)



Sineta com o sistema de accionamento mecanizado



Foto com a sineta pintada (obras de 1969)


Aspecto da capela aquando do início das obras de 2003



Aspecto da capela (vista nascente) depois das obras de 2003



O Dino Meira


Quem não conheceu o Dino Meira? Não é uma pergunta de retórica. Na realidade o Dino, de Armandino Marques Meira, nascido em Espinho em 11 de Setembro de 1940, e que faleceu inesperadamente em 11 de Novembro de 1993, vítima de um enfarte de miocárdio, foi um dos bons cantores de música ligeira portuguesa. 

Bons temas, boa voz, excelente sonoridade e harmonia. Teve grandes êxitos que ainda hoje ecoam no ouvido de muitos portugueses e sobretudo de emigrantes, já que recorrentemente cantava as particularidades de quem vivia e trabalhava por esse mundo fora, sobretudo a saudade, o regresso e as dificuldades do quotidiano.

"Zum Zum Zum", "O Homem Vestido de Branco", "Mariana","Meu Querido Mês de Agosto", "Helena", "Voltei" e tantos outros temas que ainda andam por aí em cassetes e CD´s consagraram o Dino Meira como um dos grandes nomes do género. 

Fosse vivo, e para estar in ou cool, teria que cultivar uma imagem mais candy, mais modernaça, com tshirts e camisas estampadas e com crista no cabelo, o que seria difícil com a sua caracolada, e mesmo depilar a laser aquele tapete persa no peito e a envolver os mamilos, mas acredito que ainda continuaria a cantar boas canções, mesmo que sem as muletas do padre, do sacristão e dos bailaricos de verão nas aldeias, como o faz o já velhinho jovem José Malhoa. 

Neste "Meu Querido Mês de Agosto", é justo evocar a figura e canções do Dino Meira, que deixou muitas saudades.

Trocava de bom grado o Dino Meira pelos 4 Mens, logo na última noitada da Festa do Viso, mas à falta do Dino, lá terá que ser. 

Que descanse em paz o Dino!

Festa do Viso 2022 - Momentos - Tapete de flores


Em certa medida, e como analogia, uma Festa, como a nossa, é como um restaurante. Chegamos à mesa reservada, o ambiente está quentinho ou fresquinho conforme faça frio ou calor, somos bem atendidos, petiscamos e depois o consolo de um excelente assado ou um bacalhau generoso, logo rematados com uma deliciosa sobremesa e café. 

Pagamos e, satisfeitos, vamos a bater com a mão na barriga para outras paragens. 

Mas para isso, por detrás da cortina desse palco, há azáfama, antes, durante e depois, com gente que trabalha, na logística, na despensa, na contabilidade, na limpeza e, obviamente, na cozinha e na serventia. 

Ora nem sempre pensamos nisso e damos como adquirido que tudo nos chega à mesa de forma automática, como numa máquina dispensadora de tabaco em que o dinheiro entre por uma ranhura e o maço sai por outra.

Assim, para uma Festa, como a nossa, há gente que organiza, comanda e se responsabiliza pelo êxito ou fracasso, mas há igualmente gente que se dedica com bairrismo a judar naqueles momentos especiais, como é ocaso, de forma particular, a preparação da passadeira ou tapete de flores, ainda a participação na procissão tranportando os andores, alfaias ou estandartes. 

O processo por mais desorganizado que seja, e infelizmente é quase sempre improvisado,  exige tarefas prévias como angariar flores e verdura, preparar e colorir serraduras, e naturalmente pedir ajuda de colaboradores.  Depois é sair mais cedo do almoço de família, e andar por ali regra geral com calor e moscas e apanhar uma valente suadela.

Posto isto, todas as pessoas envolvidas, de uma forma ou outra, merecem o nosso apreço e fazem-nos ter esperança que apesar das dificuldades crescentes, nomeadamente em nomear comissões de festas, com gente que assuma com orgulho a sua identidade, raízes e bairrismo, a nossa Festa do Viso, está aí para dar e durar.  

Oxalá que sim!

















8 de agosto de 2022

Presidentes de Câmara, ou equiparáveis, de Vila da Feira - Santa Maria da Feira

1800 - Sebastião Pitta de Castro

1811 - José Bernardo Henrique de Faria (Juiz de Fora)

1829 - José Apolinário da Costa Neves

1883 - Bernardino Maciel Rebelo de Lima (Juíz de Fora interino)

1833 - Francisco Monteiro Mourão Guedes de Carvalho (Juiz de Fora)

1834 - João José Teixeira Guimarães (Comissão Municipal)

1836 - Pedro José Correa Ribeiro

1837 - Manuel de Lima Ferraz da Silva

1838 - Manuel de Lima Ferraz da Silva

1841-1842 - Bernardo José Correa de Sá

1845-1846 - Francisco Correa de Pinho de Almeida Lima

1846 - António Fernandes Alves Fortuna (Juíz da Comarca)

1846 - António Soares Barbosa da Cunha

1847-1848 - Joaquim Vaz de Oliveira Júnior

1847 - Bernardo José Correa de Sá

1848-1851 - Bernardo José Correa de Sá

1852 - 1854 - Bernardo José Correa de Sá

1854-1855 - José António Varela Falcão Souto Maior

1856-1857 - João Nunes Cardoso

1858-1859 - Miguel Augusto Pinto de Menezes

1860-1861 - Fausto da Veiga Campos

1862-1863 - José Bonifácio do Carmo Soares

1866-1867 - Domigos José Godinho

1868-1869 - José António Varela Falcão Souto Maior

1870-1871 - Domigos José Godinho

1876-1877 - Manuel Augusto Correa Bandeira

1880-1881 - Manuel Pinto de Almeida

1882-1883 - António de Castro Pereira Corte Real

1884-1885 - António de Castro Pereira Corte Real

1888 - Roberto Alves (Presidente da Câmara)

1890 - Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha (Visconde de Alberrgaria de Souto Redondo)

1893-1897 - Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha (Visconde de Alberrgaria de Souto Redondo)

1897 - Pe. Manuel de Oliveira Costa

1899 - Pe. Manuel de Oliveira Costa (Comissão Administrativa)

1899-1901 - Pe. Manuel de Oliveira Costa

1905 - João Pereira de Magalhães

1907 - João Pereira de Magalhães

1908 - Eduardo Vaz de Oliveira (Comissão Administrativa)

1911 - António Ferreira Pinto da Mota (Comissão Administrativa)

1912 - Elísio Pinto de Almeida e Castro (Comissão Administrativa)

1914 - Vitorino Joaquim Correia de Sá (Comissão Executiva Municipal)

1915 - Vitorino Joaquim Correia de Sá (Comissão Executiva Municipal)

1915 - Crispim Teixeira Borges de Castro (Comissão Administrativa)

1917 - Crispim Teixeira Borges de Castro

1918-1919 - Crispim Teixeira Borges de Castro (Comissão Administrativa)

1919 - Vitorino Joaquim Correia de Sá (Comissão Administrativa)

1923-1925 -Saúl Eduardo Ribeiro Valente

1926 - José António Teixeira Saavedra

1926-1933 - Crispim Teixeira Borges de Castro

1933-1937 - Gaspar Alves Moreira

1934-1937 - Presidente da Comissão Administrativa: Gaspar Alves Moreira.

1937-1939 - António Soares de Albergaria (Conselho Municipal)

1937-1945 - Roberto Vaz de Oliveira

1945-1959 - Domingos Caetano de Sousa

1959-1971 - Domingos da Silva Coelho

1971-1974 - Alcides Branco de Carvalho

1974-1976 - Arnaldo dos Santos Coelho (Comissão Administrativa)

1976-1982 - Aurélio Gonçalves Pinheiro

1982-1985 - Joaquim Dias Carvalho

1985-2013 - Alfredo de Oliveira Henriques

2013-2017 - Emídio Joaquim Ferreira dos Santos Sousa 

O beliscar de direitos - Importa reflectir

O incidente registado há dias na zona onde decorre o evento Viagem Medieval, em Santa Maria da Feira, para além do contexto em que ocorreu e do injustificado e condenável incumprimento das ordem e orientações da autoridade, por parte de um morador, que irrompeu pelo espaço com a sua vistosa viatura, colocando em perigo e segurança física dos agentes e visitantes, deixa, contudo, a meu ver, uma oportunidade para reflectir sobre a coisa.

Em rigor, durante o longo período em que ali ocorre o evento, as pessoas são literalmente impedidas de aceder e circular num espaço que é público. Os moradores têm livre trânsito, era só o que faltava que não tivessem, mas ainda assim com os naturais inconvenientes e restrições. E não é de somenos importância.

Em suma, eu cidadão livre, estou impedido de aceder e circular num espaço público, não a pretexto de um qualquer motivo maior, mas simplesmente porque ali ocorre um evento de entretenimento.

Em situações normais, estes eventos, nomeadamente pela sua duração e massificação de visitantes, deveria decorrer em recinto próprio, como um qualquer parque de diversões. Mas aqui, não. O parque é o centro histórico de uma cidade onde todos deveriam e poderiam circular livremente, sem pulseiras ou sem cobrança de bilhetes.

Mas não é assim e não tem sido assim e por isso lá vamos andado feridos de um direito constitucional de poder circular livremente no espaço público. E no geral achamos isto perfeitamente normal, legítimo e justificado. Quem se levantar a dar opinião contrária, corre riscos de ser atacado como ave rara.

Mesmo que a não frequente nem a aprecie para além do seu valor intrínseco, compreendo e também não me custa a aceitar a génese da coisa, mesmo que pela sempre propalada importância económica, mesmo que o dinheiro não justifique tudo e mais alguma coisa, mas, como seres pensantes, importará sempre reflectir e questionar quando está em causa o beslicar dos nossos mais elementares direitos. Aceitar que o façam de ânimo leve pode ser perigoso e o caminho para uma extrapolação fica mais aplanado. Quando dermos por ela, estamos a ser comidos de cebolada. Ora o estado das coisas, nomeadamente no contexto da pandemia, já mostrou que a limitação e castração de elementares direitos tem sido fácil de aplicar, porque no geral tudo aceitamos como mansos cordeiros. Quem se opõe e se manifesta é crucificado como negacionista, radical e fundamentalista. No fundo é com estas sementes que crescem os regimes controladores.

Haja, pois, sempre bom senso e que não percamos o sentido crítico das coisas mesmo que isso nos possa custar.

Quanto ao resto, nada vai mudar e porventura a tendência será alargar o tempo do evento, quando na maioria das cidades e vilas este tipo de eventos ocorrem apenas em 3 ou 4 dias, num fim-de-semana, o que já parece razoável quanto à limitação de acessoa ao espaço público. 

Por aqui a coisa é interminável e como as pilhas de uma certa marca, dura, e dura e dura.

Momentos... O Pe. Santiago



A procissão solene, a seguir à celebração da Eucaristia, é e deve ser um dos momentos mais significativos de uma festa de carácter religioso. Iremos muito mal quando a cereja no topo do bolo for um qualquer cantor pimba ou uma espampanante banda de topo. Mas há quem veja a coisa apenas e só por aí. Adiante.

Durante o percurso da procissão solene de ontem ao final da tarde, incorporado no magote de gente que seguia a Banda, a toque de caixa e de marchas próprias, não deixei de reparar que o Pe. António Santiago também assistiu à sua passagem, junto à sacada de sua casa. 

De idade avançada e debilitado, não deixou passar esse vislumbre de solenidade de que tantas vezes fez parte nas paróquias por onde missionou . 

Por comparação, não impedi que me viesse à memória uma fotografia de outros tempos, mesmo que a preto-e-branco, quando pelo 15 de Agosto de 1961, por isso  há mais de 60 anos, então jovem e viçoso, saiu dali, daquela mesma casa, também numa espécie de procissão solene, com a estrada juncada de verdura, flores e alegria humana, a caminho da Igreja onde celebraria a sua Missa Nova.

Há momentos assim, significativos, como tecidos e laboriosamente entrelaçados pelas agulhas prateadas do tempo, que teimam ajustar-se ao nosso corpo como um traje cerimonial. 

Que Deus lhe conceda um fim de vida de paz interior, porque foi longa e bonita a sua missão. 

Bem haja!

7 de agosto de 2022

Gente Nossa - O Sr. António Henriques (do Pêga)



Neste dia maior da Festa do Viso, porque aquele em que se vivem os momentos mais significativos quanto à sua essência, não quero deixar de evocar e destacar a memória de uma figura a quem estas coisas, principalmente a festa na sua vertente religiosa e tradicional, diziam muito. Falo do Sr. António da Conceição Gomes Henriques (1945/2017), antigo membro da Comissão da Fábrica da Igreja e que durante muitos anos era incansável na organização da logística da festa.
Tinha os defeitos que tinha, e quem os não tem?, mas era devoto e profundamente bairrista nas coisas e causas da sua freguesia e sobretudo da paróquia.

Recordo-o precisamente num dia como este, Domingo da Festa do Viso, já notoriamente debilitado pela doença que o resgatou rapidamente, logo de manhãzinha, sentado num dos bancos da capela, em que à falta de forças ainda dava instruções ao pessoal como colocar e preparar as alfaias e bandeiras para a procissão.

Fosse vivo e tenho a certeza que não teria permitido que, num dia de festa a Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António, a sua e nossa capela estivesse no estado em que está, deploravelmente a precisar de obras de conservação, com o reboco e pintura interiores a descascar. Pessoalmente sinto-me triste, e até envergonhado, por uma situação destas, mas que fazer? Os responsáveis, afinal de contas, somos todos nós, enquanto comunidade, que permitimos, por inacção ou omissão, estas coisas, não zelando, preservando nem dignificando aquilo que nos faz ter sentimentos e raízes de pertença. Quando estas coisas falham, por um pouco de argamassa e um balde de cal, algo está a precisar de reflexão.

Mas hoje é dia de festa e pouco importa realçar as coisas menos positivas, mas antes tê-las em conta para que se corrijam.

Lembro, pois, aqui e hoje a figura do Sr. António Henriques como alguém que poderia ter feito a diferença. Mas já cá não está em presença, mas certamente continuará a estar em memória.

Paz à sua alma e que Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António zelem e intercedam por isso!

6 de agosto de 2022

Gente Nossa - O Sr. Inácio das Tintas

Pelo início dos anos 1990, tivemos no jornal "O Mês de Guisande" uma interessante rubrica designada de "Gente Nossa". Grosso modo, através dela pretendia-se transmitir testemunhos na primeira pessoa de gente da nossa terra com carácter e personalidade, a começar pelos mais velhos. Não foram muitas as edições, não porque não faltasse matéria prima, mas porque no entretanto o jornal acabou por suspender a sua publicação. 

Mesmo assim recordo-me de conversas com o Sr. Joaquim Dias (Ti Jaquim do Pisco), o Sr. Belmiro Henriques, a Ti Ana, mãe do Sr. Manuel Alves, e outras figuras mais. Tinham por esse tempo idade avançada pelo que, naturalmente decorridos pelo menos 30 anos, já partiram e deles subsistem as saudades e memórias.

E tanta mais boa gente que já partiu e que certamente poderiam ter transmitido na primeira pessoa muitos e interessantes testemunhos de vida. Mas as coisas são como são e por mais que queiramos não podemos reter numa mão fechada ou mesmo nas duas, o mar ou a água de uma fonte.

Neste contexto, apesar disso, podemos e devemos sempre que possível falar das boas pessoas, tanto das que já partiram, como mesmo das que felizmente ainda temos o privilégio de as ter e ver por cá e as considerar gente nossa. Certamente que todos com muitos defeitos mas igualmente com outras tantas virtudes e que no caso importa que sejam enaltecidas.

Assim, permitam-me vocês e sobretudo ele, que fale aqui um pouco da figura guisandense que é o Sr. Inácio Silva, para outros o Resende e para muitos o Inácio das Tintas.

Ontem, já quase no final da sexta-feira da Festa do Viso, cruzei-me com ele, já a sair e disse-me que completava 79 anos de idade. 

Apesar de eu já estar com uns bons canecos, porque nestes dias toda a malta quer pagar rodadas a rodos, creio que ainda consegui reter a idade que me disse ter. 79. Mas em rigor, mais ano, menos ano, pouco interessa. Fez anos e tem os que tem. E como não lhe apareci, ficou de liquidar as contas na roda para hoje. De resto, quanto aos anos, como alguém diz, os que já passaram já não os tem. Tem os que faltam vir e viver e que naturalmente desejamos que sejam ainda muitos e bons.

O Sr. Inácio é boa praça, com um estilo e personalidade muito peculiares mas que destaco sobretudo a sua sempre boa disposição e optimismo que transmite. Incapaz de guardar rancor ou ressentimento, está sempre receptivo à camaradagem. Quanto está já um bocadito "passado", e é preciso muito para molhar a vela, é capaz de nos repetir vezes sem conta as mesmas e boas histórias pessoais, mesmo as que passou em França, onde fez vida e cimentou a família, mas é sempre um bom companheiro e não se nega a um bom convívio, seja com os seus na sua quinta de Vila Maior, onde se delicia com os frutos do seu trabalho, seja com os amigos na mesa de um café ou num evento na comunidade. Não faz cara feia nem torce o nariz, e marca presença sem salamaleques.

Conheço-o sobretudo desde meados da década de 1980 quando esteve quase a vencer as eleições autárquicas, pelo CDS, e que acabou por fazer parte da Junta de coligação com o PSD, ao lado de Manuel Alves e do meu sogro, Germano Gonçalves. Soube adaptar-se e no geral apesar das condicionantes, fez um trabalho meritório embora nestas coisas nem sempre quem trabalhe de forma dedicada receba os louros ou reconhecimentos. No geral, é precisamente o contrário. Mas respeitou e creio que foi respeitado. 

Quando casei, em 1988, participou no meu casamento, não convidado por mim, já que então não me era chegado, mas pelo meu sogro, porque se respeitavam enquanto amigos e colegas de Junta e por isso tenho disso uma boa e feliz memória.

Posto isto, O Sr. Inácio desculpar-me-á este atrevimento de falar dele publicamente, mas faço-o com à vontade porque tenho naturalmente por ele, estima, simpatia e consideração.

Seja pois um feliz aniversário e que venham mais e bons e sempre com a boa disposição, saúde e vontade de viver e conviver. Afinal a vida também se pinta com tintas de alegria, amizade e boa disposição.

Bem haja, Sr. Inácio

5 de agosto de 2022

Sexta-Feira, Festa do Viso

No rolar dos dias, este é mais um a anunciar o fim da semana de trabalho, para quem trabalha, ou o fim de semana e o encurtar de férias, para quem as goza. 

De especial, parece que é hoje que tem início a nossa Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e de Santo António, popularmente dita de Festa do Viso. 

Tem, a Festa do Viso, e todas as outras que se realizam neste e nos próximos dois fins-de-semana, um azar do caraças, de coincidir com esse buraco negro,  a festa massiva chamada Viagem Medieval, que obviamente representa prejuízos, porque retira forasteiros. 

Mas, sem dramas. De resto, apoio da Câmara Municipal foi coisa que a Festa do Viso nunca teve, para além do empréstimo de umas cancelas e de uns contentores de lixo. O que não é de somenos importância.

Mesmo no ano em que me calhou organizar a Festa, em 2004, já lão vão "meia dúzia de anitos", mesmo apelando formalmente ao pedido de apoio pelo contexto e importância do lado cultural de ter duas bandas filarmónicas, o apoio recebido foi zero.

Estamos, pois, habituados, a que o "esbanjamento" de dinheiro em festas e eventos seja mais centralizado, ali pelas frescas margens do Cáster. Mas a maioria do povo vai lá beber uns canecos e comer umas sandes de pernil e, mesmo a pagar a drobrar, fica todo contente. Ainda bem! Nós por cá, ainda que resignados, também ficamos, mesmo que os canecos sejam, afinal, copos de plástico, que agora têm que ser recicláveis.

É tudo, pois, uma questão de reciclagem, não só dos copos mas dos tempos e das modas. Aos mais velhos, como eu, tem que se dar um desconto, talvez porque já vimos e vivemos coisas que os mais novos, naturalmente e pela ordem da vida, não viram nem viveram.

Sem contemplações.

Viva a Festa!

1 de agosto de 2022

À tripa farra, esfarrapadas


Uma das muitas virtudes em se percorrer trilhos, é que há sempre tempo e oportunidade para olhar, reter e captar pormenores. Afinal, desta forma, um minuto a mais nunca é um minuto perdido, mas ganho.

Ora das muitas coisas que vamos vendo, por este nosso interior próximo, e basta ter em conta o nosso próprio concelho, Castelo de Paiva, Arouca, Vale de Cambra, Sever do Vouga e S. Pedro do Sul, são mais que muitas as estufas abandonadas. Certamente que decorrentes de projectos iniciados com apoios a fundos perdidos e logo que estes terminaram, os projectos foram-se à vida e as instalações e equipamentos abandonados. Os exemplos são mais que muitos.

Ainda há dias, nas margens do Caima, em Vale de Cambra, uma instalação com viveiro de trutas, de grandes dimensões, desactivado e bandonado à lei da natureza, já com os espaços a serem dominados e absorvidos por plantas, silvados e mesmo árvores.

Este tipo de situações estão replicados por todo o país e quase todos têm em comum essa matriz de aproveitamento de fundos perdidos mas, no geral, logo depois, a desactivação, o desmazelo, o abandono.

Esta política de dar à mão-cheia, à tripa farra, foi dominante ao longo dos anos em que temos estado a mamar da teta da União Europeia e todos os seus programas no geral têm dado bom leite e boas mamadas a muitos empresários espertalhões que desapareceram com a mesma rapidez que apareceram.

Admito que por ora as coisas sejam mais controladas e escrutinadas, mas de facto, houve sempre muito esbanjamento, muito dinheiro investido que não deu nada, que pouca ou nenhuma riqueza gerou e se alguém mamou, foram obviamente aqueles que aproveitarem esse jorrar de dinheiro fácil e troco de pouco ou nada. No máximo, o serviço mínimo.

Face a este laxismo, a esta facilidade de lançar mão a dinheiros públicos, as coisas são como são e por isso, viveiros e sobretudo estufas, são mais que muitas por aí abandonadas. Têm um único aspecto positivo. O de servir como exemplo de más polítcas e de maus empresários. Enfim, o exemplo do que não deve ser feito sem rigor e sem compromisso e responsabilidade.