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21 de agosto de 2023

O padre Eugénio Pinho e Guisande


Creio que todos em Guisande e arredores conhecem a ilustre figura, doutor e reverendo Pe. Eugénio de Oliveira e Pinho, actual pároco da paróquia e freguesia nossa vizinha, de S. Vicente de Louredo. Já poucos saberão, porém, da sua ligação à nossa freguesia de Guisande. De facto, este ilustre louredense é também guisandense, já que é filho de António Baptista de Pinho, que foi da Casa da Quintão, no lugar do Outeiro.

Assim, por parte do pai, é neto de Custódio António de Pinho e de Joaquina Maria Baptista de Jesus (esta de S Tiago de Lobão). Por sua vez, o seu pai António era neto paterno de Manuel António de Pinho e Maria Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Caetano Cardoso e Maria Rosa da Mota.

António Baptista de Pinho, pai do Pe. Eugénio, nasceu em 18 de Março de 1877. Casou com Madalena Fontes de Oliveira, natural do Vale, em 6 de Agosto de 1937, por isso tardiamente, já com 60 anos. Faleceu em 7 de Fevereiro de 1950. A Madalena, a esposa deste António Baptista de Pinho, nasceu em 25 de Janeiro de 1901, por isso mais nova 24 anos que o marido. Era filha de António Francisco de Oliveira e de Ana Ferreira de Fontes, esta natural de Romariz. Era neta paterna de Domingos Francisco de Oliveira e de Rosa Maria de Oliveira e neta materna de Manuel Ferreira de Fontes e de Ana dos Santos. Faleceu em 29 de Maio de 1984, com 83 anos de idade, sobrevivendo ao marido por cerca de 34 anos.

António Baptista de Pinho teve vários e numerosos  irmãos (pesquisei 14) sendo que alguns faleceram pelo meio. Entre eles:

A Ermelinda  Baptista de Pinho, tia do Pe. Eugénio, que casou em 19 de Julho de 1898 com Manuel Inácio da Costa Silva Júnior (filho de Manuel Inácio da Costa e Silva e de Margarida Henriques de Jesus - esta de Romariz), da freguesia de Pigeiros, dando origem a uma das abastadas famílias, de que teve origem o Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva que veio a casar em Guisande com D. Laurinda de Leite Resende, da casa do Sr. Moreira, do lugar da Igreja. As testemunhas desse casamento foram o o Pe. António Inácio da Costa e Silva (17-07-1864<>18-07-1938), então pároco de Pigeiros, irmão do noivo, e  António Baptista de Pinho (pai do Pe. Eugénio), irmão da noiva.

Ainda outra curiosidade, este Pe. António Inácio da Costa e Silva tinha outro irmão sacerdote, o Pe. José Inácio da Costa e Silva (21-06-1872<>12-03-1947), que chegou a ser pároco das freguesias de Fermedo e depois de Caldas de S. Jorge. Estes irmãos padres tinham como avôs paternos José Inácio da Costa e Silva e Ana Joaquina Henriques da Silva e avós maternos António José de Paiva e Ana Maria Henriques, de Romariz.

Deste casamento de Manuel Inácio da Costa e Silva Júnior com a  Ermelinda Baptista de Pinho, tia do Pe. Eugénio, também saiu um filho sacerdote, o Pe. António Inácio da Costa e Silva, nascido em Pigeiros em 6 de Junho de 1899. Rezou missa nova a 8 de Novembro de 1921. Esteve como vigário cooperador em Santo Ildefonso - Porto e depois de 4 de Julho de 1924 foi pároco na freguesia do Vale, Vila da Feira.

Este António, pai do Pe. Eugénio, casou com Madalena Fontes de Oliveira, natural do Vale, em 6 de Agosto de 1937, por isso tardiamente, já com 60 anos. Faleceu em 7 de Fevereiro de 1950. 

Para além das ligações pela parte do pai a Guisande e a Louredo, pela parte da mãe tem o Pe. Eugénio ligações familiares às freguesias do Vale e de Romariz. 

Por sua vez, a mãe do Pe. Eugénio, Madalena, nasceu em 25 de Janeiro de 1901, por isso mais nova 24 anos que o marido. Era filha de António Francisco de Oliveira e de Ana Ferreira de Fontes, esta natural de Romariz. Era neta paterna de Domingos Francisco de Oliveira e de Rosa Maria de Oliveira e neta materna de Manuel Ferreira de Fontes e de Ana dos Santos. Faleceu em 29 de Maio de 1984, com 83 anos de idade, sobrevivendo ao marido por cerca de 34 anos.

De referir ainda que, em termos familiares, o Pe. Eugénio Pinho é um de três irmãos, com o Custódio, já falecido e, ainda por cá, a Isabel, professora primária, que vive na freguesia do Vale.

Mais dados biográficos (*)

Quanto ao Pe. Eugénio, nasceu aos 17 de Agosto de 1939 (dia de S. Mamede), no lugar de Louredo, da freguesia de Louredo, concelho de Vila da Feira, onde residiam os pais.

Principiou a sua instrução na Escola Primária de Vila Seca, na freguesia de Louredo, de 1945 a 1949, sendo seu professor António Pereira da Silva Cabral, de Duas Igrejas -  Romariz, de quem recebeu, além dos conhecimentos académicos, uma personalidade e verticalidade que o marcou e tem orientado na vida. 

Quanto ao ensino secundário, em 1949, com 10 anos, ingressou no Seminário Diocesano de de Ermesinde, onde frequentou o 1° ano do Curso Secundário. Em 1950 transitou para o Seminário de Trancoso, em Vila Nova de Gaia, onde frequentou os 2° e 3° anos do Curso Secundário. Em 1953, transitou para o Seminário de Vilar,na cidade do Porto, onde fez os 4°, 5°, 6° e 7° anos. Em 1957 veio para o Seminário Maior de Teologia, junto à Sé do Porto, onde frequentou o Curso de Teologia, tendo-o terminado em 1961 com as mais elevadas classificações. 

Sacerdócio - Em 07 de Abril de 1962 recebeu a Ordenação Sacerdotal na Capela do então Paço Episcopal do Porto, hoje Casa da Torre da Marca, sendo Bispo ordenante D. Florentino de Andrade e Silva, Administrador Apostólico da Diocese do Porto, pelo facto de o Bispo Ordinário da Diocese, D. António Ferreira Gomes se encontrar no exílio, às ordens do Dr. António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros da República Portuguesa. 

De 1961 a 1963 exerceu as funções de Prefeito e Professor de Português e Latim no Seminário de Trancoso, em Vila Nova de Gaia. Estudos Superiores: - De 1963 a 1967 frequentou, em Roma, a Pontifícia Universidade Gregoriana, onde se licenciou em Direito Canónico, e a Academia Alfonsiana -  Instituto de Teologia Moral da Pontifícia Universidade Lateranense. 

Regressado a Portugal exerceu as funções de Superior Interno e Professor de Teologia, de 1967 a 1972, no Seminário Maior do Porto. De 1970 a 1972 frequentou a Faculdade de Direito da Uni-versidade de Coimbra, como aluno voluntário, tendo concluído a Licenciatura em Direito Civil em Julho de 1976. 

Outras actividades:

Em Novembro de 1976 iniciou funções de Juiz no Tribunal Eclesiástico do Porto. Em Outubro de 1977 assumiu funções de Professor Contratado de Teologia Moral no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto. Ao mesmo tempo exerceu actividade forense, como advogado, inscrito pela Comarca de Santa Maria da Feira, onde teve seu escritório, encontrando-se presentemente na situação de Reforma. 

Em Outubro de 1987 iniciou funções de docência da Cadeira de Ética Social, como Professor contratado da Faculdade de Teologia - Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa. Desde 1991 exerce funções de Defensor do Vínculo no Tribunal Eclesiástico do Porto e em 1999 foi nomeado Promotor da Justiça da Diocese do Porto. 

É Sócio fundador da Associação Portuguesa de Canonistas. 

Em 1991-92 frequentou, no Instituto de Defesa Nacional, o Curso de Defesa Nacional  e é Sócio n° 404/ CD. N92 da Associação dos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional. É Sócio n° 200 do Centro Social, Cultural e Recreativo de Louredo. 

Após o falecimento do Pe. Acácio de Freitas, em Setembro de 2014, foi  nomeado pároco da sua terra natal, encontrando-se até ao momento ao seu serviço, com amor e muita dedicação, apesar das limitações da sua já bonita idade (84 anos) que lhe permitiria a retirada de funções há já vários anos. 

Que Deus o conserve com todas as faculdades por muitos mais anos.


Uma curiosidade:

De acordo com o Pe. Acácio de Freitas, de cuja monografia sobre Louredo extraí a foto acima e alguns dos dados biográficos (*) sobre o Pe. Eugénio, o edifício da residência paroquial de Louredo, terá sido mandado construir por 1903, com as obras pagas pelo Sr. Custódio António de Pinho, avô do Pe. Eugénio, pois para além de um grande lavrador e proprietário de Guisande, também detinha muitas propriedades em Louredo, algumas delas, por herança, nos dias de hoje na posse do actual pároco de Louredo.

Este Custódio António de Pinho, da Casa da Quintão, no Outeiro, foi também, em diferentes tempos, um benemérito na sua freguesia de Guisande, pois custeou ou contribuiu para muitas obras na paróquia, sobretudo na igreja matriz e residência paroquial, que foi edificada por 1907.

Custódio António de Pinho, nasceu em 21 de Fevereiro de 1846, sendo filho de Manuel António de Pinho e de Maria Rosa. Era neto paterno de Manuel António de Pinho e de Josefa Francisca de Sá, do lugar de Vila Seca, freguesia de Louredo, e neto materno de António Fernandes e Maria Luisa, do lugar de Azevedo, freguesia de S. Jorge de Caldelas.

Foi padrinho deste Custódio, avô do Pe. Eugénio, o reverendo Pe. Rodrigo António Pereira do Vabo de Sá Coutinho, da vila de Barcelos. Como curiosidade, este sacerdote,  faleceu com 83 anos em 22/1/1880, na rua da Madalena, em Barcelos. Creio que a ligação ao baptizado se prende à família Sá da avó materna, de Vila Seca - Louredo.

19 de agosto de 2023

Carlos Cruz - Apresentou livro com biografia de Justino Cruz

 


Decorreu na tarde de hoje a apresentação pública do livro de autoria de Carlos Cruzadas (Carlos Cruz), no qual traça a biografia de Justino Cruz, um ilustre filho da terra, de Labercos - Lomba - Gondomar, seu conterrâneo e parente. O biografado é emigrante de longa data na Alemanha, com uma forte ligação ao mundo da filatelia, ou seja, do coleccionismo de selos postais, sendo nessa área um reconhecido especialista, não só nesse país germânico mas também em Portugal,  tendo sido co-fundador do Clube Filatélico Português, em 1975, e seu presidente honorário desde 1995. Detém a medalha honorária da cidade de Estugarda - Alemanha.

Apesar de ilustre e reconhecido entre os seus pares, o autor, Carlos Cruz, considerou que era de justiça trazer esse reconhecimento exterior também para junto das suas humildes origens, ou seja na sua aldeia natal. Daí o livro e o registo biográfico.

Foi assim, num clima muito intimista e informal que decorreu a apresentação, enriquecida com leitura de poesia e momentos musicais. No final, depois das palavras de reconhecimento do biografado, que também se expressou em alemão para alguns dos presentes vindos da Alemanha, aconteceu o tradicional Porto de Honra e venda de exemplares do livro e sessão de autógrafos e dedicatórias por parte do homenageado.

Para mim foi prazeroso estar presente e, sem contar, tive o privilégio de ser convidado pelo Carlos a ler um poema. 

Mesmo que sem sermão encomendado e de forma muito espontânea, aproveitei o ensejo para deixar algumas palavras onde procurei enaltecer o momento e os intervenientes, o Carlos e o Justino, lembrando aos presentes o orgulho e importância que devem ter por esses filhos da terra. O Carlos, como disse, mesmo que já com mais anos de vivência na freguesia de Guisande do que na sua terra natal, nunca de desprendeu das origens, das raízes e cepa da árvore que o moldou naquilo que é na sua génese. Quando muito, foi um ramo transplantado para Guisande e dessa forma continua a dar frutos em dois terrões diferentes.

Por conseguinte, salientei que uma terra pode ter coisas bonitas mas vale essencialmente não por aquilo que é mas por aquilo que tem e nesta equação as pessoas e os seus valores são o mais importante. Resulta disso, mesmo que em funções e rumos de vida diferenciados, o Carlos e o Justino, ambos Cruz, representam o que de bom pode ter uma terra, os seus filhos, as suas árvores humanas. Uma comunidade deve, pois, cuidar das suas árvores para que delas resultem frutos comuns e partilhados. 

É certo que, infelizmente, estas coisas nem sempre são apreciadas pela generalidade das pessoas e tantas vezes mesmo por quem, pelas suas responsabilidades e deveres institucionais, deveriam olhar de forma positiva e valorativa e serem elas próprias os cultivadores destes momentos e guardiões desses testemunhos para a posteridade. Mas, apesar dessa insensibilidade, importa avançar, mesmo que remando contra algumas correntes e ventos adversos. Como um rio, interessa sempre chegar ao mar.

Parabéns, Carlos!|












17 de agosto de 2023

Padre Delfim Augusto Guedes

 


Delfim Augusto Guedes, nasceu no lugar da Leira, na Casa do Ferreiro, na freguesia de Guisande, em 14 de Março de 1889. Era filho de Manuel Augusto Guedes, ferreiro de profissão, natural da freguesia de S. Jorge de Caldelas e de Rosa Gomes da Silva, doméstica, natural de Guisande.

Era neto paterno de Bernardo Guedes e de Maria Henriques, do lugar de Azevedo, de S. Jorge de Caldelas e neto materno de Manuel da Silva e de Margarida Gomes, do lugar da Leira, de Guisande.

Foram seus padrinhos de baptismo, em 18 de Março de 1889, Inácio Francisco e Custódia Gomes da Silva, do lugar dos Valos, freguesia de Fiães.

Ingressou no seminário do Porto e recebeu o presbiterado a 12 de Novembro de 1911, em Remelhe, durante a expulsão do bispo D. António Barroso. 

Foi durante vários anos pároco de Santa Eulália de Sanguedo, concelho de Vila da Feira e de seguida paroquiou a freguesia de S. Jorge de Caldelas (Caldas de S. Jorge), terra natal de seu pai, a partir de 28 de Setembro de 1939, sucedendo ao Pe. José Inácio da Costa e Silva, este natural de Pigeiros, que resignou nesse ano, seguindo depois, em 1943,  para a freguesia de Escariz - Arouca, onde faleceu em 1961 e ali foi sepultado no cemitério local, tendo sido muito estimado pelos seus paroquianos. A foto que ilustra este apontamento foi recolhida da respectiva lápide.

1 - Nota à margem:

Sobre este sacerdote, aquando da sua paroquialidade em Escariz - Arouca, José António Rocha, no documento intitulado "A Senhora da Abelheira", inserto no Lusitânia Sacra, 2ª série, Tomo 19-20 (2007-2008), a páginas 449, narra como lhe tendo sido contado pelos locais um episódio que considerou anedótico, mas que numa perspectiva sociológica ou de história das mentalidades, dizia muito. Assim, lá por Escariz dizia-se que o Pe. Delfim (ali pároco entre 1943 e 1961) não era muito devoto da capela da Senhora da Abelheira (porventura pela polémica da sua história e fundação) e que a ela se referia depreciativamente como "...lá em cima do monte". Ora por volta de 1960, numa celebração na dita capela da Abelheira, quando a missa estava a "santos" lançaram os tradicionais foguetes, sendo que um deles caiu sobre o telhado, furando-o e ferindo o pároco na cabeça, tendo sangrado..

Fosse ou não "castigo divino", certo é que a partir dessa data o padre não terá voltado a maldizer a capela.

Nota: Sendo que faleceu em 1961, verdade se diga, o Pe. Delfim também não teve muito mais vida para continuar a depreciar a capela da Abelheira. Não se consta que tenha morrido por causa do episódio do foguete, de resto um acontecimento algo mitificado e lendário, como reconheceu o atrás referido autor José António Rocha.

2 - Nota à margem:

Ainda sobre o Pe. Delfim Guedes, contou-me em vida o avô materno de minha esposa, Belmiro Gomes Henriques, do lugar da Igreja, que o formato da cúpula da torre da nossa igreja matriz de Guisande, em pirâmide de oito faces, se deveu ao pai do referido padre, o qual custeou as obras de remodelação da torre da igreja, que até então era mais baixa e aproximadamente esférica, na condição prévia de ser igual à da torre da igreja da freguesia de Sanguedo, onde ali paroquiava o filho.

Contou-me ainda a propósito, o Sr. Belmiro, que até então o formato da cúpula da torre da nossa igreja fazia lembrar um forno pelo que era alvo de troça das pessoas das freguesias vizinhas, que frequentemente se metiam com os de Guisande, questionando: - Então, vai haver fornada? - Já tiraram o pão do forno?

Resumo:

O Pe. Delfim Augusto Guedes, foi, pois, uma figura com relevância, mas quase ignorada e desconhecida na nossa freguesia, sua terra natal. Não surpreende, pela distância temporal sobre a época em que viveu, mas também porque a sua vida sacerdotal foi toda passada fora de Guisande, mesmo que em paróquias próximas.

Mais gostaríamos de saber e escrever sobre este sacerdote, mas fica para já este apontamento, que de algum modo, lhe faz a devida evocação.

9 de agosto de 2023

Capelinha do Senhor do Bonfim - Apontamentos históricos


Todos nós guisandenses conhecemos de há muito a capelinha ao Senhor do Bonfim, erigida ali no limite entre os lugares da Barrosa e Reguengo, mas em rigor, porque nela não está lavrada, desconhecemos a data da sua construção. Já quanto à origem ou motivo, foram transmitidos oralmente alguns testemunhos, mesmo que com poucas certezas.

Tendo em conta o testemunho recolhido pessoalmente pelo André do Reguengo junto da D. Maria Isaura Borges, da Casa do Loureiro, nascida em 1917 e falecida em 2015, casada que foi com o Dr. António Ferreira da Silva e Sá, o mandante da edificação da Capelinha ao Senhor do Bonfim teria sido um Raimundo, também conhecido por Raimundinho. Posteriormente,  terá sido dada a informação por um dos filhos da D. Isaura que trataria de um avô do avô da mãe.

Em todo o caso, deve haver aqui alguma confusão (um dos problemas da oralidade) pois sendo certo que existe pelo lado do ramo paterno um Raimundo, antepessado da D. Maria Isaura, da Casa do Loureiro, este seria seu bisavô e não trisavô. Para ser um trisavô (avô do avô) do ramo de Raimundo teria que ser Domingos José (avô paterno) ou Manuel José (avô materno).

Inicialmente, ainda antes de ter logrado obter a certidão de nascimento, fiz as seguintes considerações: Tomando em conta o ano de nascimento da D. Maria Isaura (1917), recuando no tempo e considerando gerações médias de 25 anos, como era comum na época, poderemos especular com alguma proximidade à realidade que esse seu trisavô Raimundo poderá ter nascido por volta de 1817. Se mesmo usando a média de 30 anos, resulta que poder-se-ía estimar ainda por volta de 1797. Ou seja, quase seguramente entre o intervalo temporário de 1797 e 1817.

Entretanto, após aturadas diligências e buscas, consegui chegar à certidão de nascimento do tal Raimundo, que no final desta artigo transcrevo, e a mesma confirma a estimativa feita. Ou seja, na realidade o Raimundo, suposto mandante da edificação da capelinha ao Senhor do Bonfim, nasceu a 23 de Novembro de 1809, por isso dentro do tal intervalo temporário estimado de 1797 a 1817.

Em segundo lugar, tendo em conta que a promessa de construção da capela terá ocorrido no contexto de uma viagem marítima aflitiva e atribulada por tempestade no Atlântico, em que do Brasil, onde foi emigrante, regressava a Portugal, podemos supor que teria entre 50 a 60 anos de idade, o que somado a 1809 poderemos igualmente extrapolar que a construção da capela terá ocorrido entre 1859 e 1869. Grosso modo será da época da construção da capela do Viso, precisamente de 1869, dedicada à Senhora da Boa Fortuna e a Santo António.

Continuando no campo da especulação, à falta de documentos escritos e testemunhos orais consistentes, pelas datas e circunstâncias, a construção da capela do Viso poderá perfeitamente ter tido mão, motivação e financiamento desse antepassado da Casa do Loureiro, até porque a invocação de "Boa Fortuna", para além de outras interpretações, remete para o de uma grande graça ou sorte alcançada. Além do mais, para tão grande aflição na viagem, com risco de naufrágio, e tamanha fortuna alcançada pelo seu bom fim, parece-me que o pagamento da promessa apenas com a pequenina capela seria coisa de pouca monta para quem supostamente seria tão abastado e com fortuna trazida do Brasil.  Não custa, por isso, acreditar que para além da promessa ao Senhor do Bonfim também fosse feita uma à Senhora da Boa Fortuna.

De resto, por esses tempos, não fosse gente endinheirada, não estou a ver como a pequena e pobre freguesia de Guisande, marcadamente de pequenos lavradores e famílias que subsistiam do que a terra dava, e na sua larga maioria ainda a pagar rendas, tributos e quinhões a meia dúzia de proprietários mais abastados, conseguisse reunir dinheiro para tal construção, já que a capela do Viso é de generosas dimensões e edificada de forma sólida, com boa cantaria e ainda com três altares, coro e púlpito. É, pois, uma mera especulação mas com indícios de alguma sustentação. Quem sabe se algum dia poderemos vir a encontrar fontes e documentos que confirmem ou desmintam esta hipotética mas plausível relação?

Quanto a este tal Raimundo, conforme certidão de nascimento abaixo transcrita, era  filho de Domingos José Francisco de Almeida (natural de Mafamude - Vila Nova de Gaia) e de Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva, da Barrosa, Guisande. 

Por conseguinte este Raimundo, seria irmão do Pe. José Gomes de Almeida, ou também referido como Pe. José Gomes Loureiro, ou mais popularmente como Abade Loureiro, nascido em 22 de Setembro de 1807 (mais velho 2 anos do que seu irmão) e que foi pároco nas freguesias de Pigeiros e de S. Jorge de Caldelas (Caldas de S. Jorge) - Vila da Feira. Também consegui aceder à certidão de nascimento deste José.

Por conseguinte, este Raimundo, que a ter em conta o nome do irmão clérigo, seria suposto ter como nome completo  Raimundo Gomes de Almeida, mas vim a confirmar, na certidão de nascimento de meu bisavô paterno, que lhe era afilhado, que era Raimundo José de Almeida. Era, como o irmão abade, neto paterno de Domingos Pereira de Almeida e Vasconcelos e de Clara Angélica Rosa e neto materno de Manuel Gomes Loureiro e Tomázia Rosa da Silva Jesus.

Este Raimundo foi ainda padrinho de um outro Raimundo, do lugar do Reguengo, nascido no dia 14 do mês de Julho do ano de 1833, este filho legítimo de Manuel Caetano Henriques e de Maria Joaquina, neto paterno de Caetano José Henriques e de Custódia Maria, do mesmo lugar, e neto materno de Manuel de Pinho e de sua mulher Anna Ferreira do lugar do Casal, freguesia de Gião. 

Em resumo, há neste artigo nomes, datas e factos concretos mas também algumas considerações que resultam de mera estimativa ou especulação. Mas com base e a partir do tal testemunho da D. Maria Isaura da Casa do Loureiro, é legítimo considerar os dados até aqui expressos. Ou seja, que a capelinha do Senhor do Bonfim terá sido mandada edificar por Raimundo José de Almeida, da Casa do Loureiro, da Barrosa, na sequência de uma promessa em situação de aflição, e que tal terá sido concretizada na segunda metade do século XIX, aproximadamente por ocasião da construção da capela do Viso em invocação à Senhora da Boa Fortuna, em 1869.


Transcrição da certidão de nascimento de Raimundo José de Almeida

Raimundo (*), filho legítimo de Domingos José Francisco de Almeida e sua mulher Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva, do lugar da Barrosa, desta freguesia de Guisande, neto paterno de Domingos Francisco de Almeida e Vasconcelos e de sua primeira mulher Clara Angélica Rosa, moradores que foram na freguesia de São Cristóvao de Mafamude, mieira com a freguesia de Santa Marinha de Gaia e agora nas Vendas Novas da freguesia de S. Tiago de Lourosa, e materno de Manuel Gomes Loureiro e de sua mulher Tomázia Rosa da Silva de Jesus, do dito lugar da Barrosa desta freguesia de Guisande.

Nasceu no dia vinte e três (23) do mês de Novembro do ano de mil e oitocentos e nove (1809). Foi por mim, José dos Santos Figueiredo, abade desta mesma freguesia, baptizado no dia vinte e sete (27) do dito mês e ano.

Foram padrinhos Manuel Francisco de Almeida, do lugar do Boco, freguesia de Lourosa, tio do mesmo baptizado, e Tomázia Rosa da Silva de Jesus, avó materna do mesmo baptizado, e testemunhas o sobrinho Domingos Francisco de Almeida e Vasconcelos, avô paterno, e o sobrinho Manuel Gomes Loureiro, avô materno do mesmo baptizado, que aqui assinarão, dia, mês e ano (...)

(*) O nome completo: Raimundo José de Almeida


Outra consideração factual:

Tendo em conta os nomes acima referidos, resulta que eu próprio sou descendente de antepassados da casa e família dos Loureiros da Barrosa, já que o meu bisavô paterno, Raimundo Gomes de Almeida, que nasceu em 19 de Janeiro de 1849 e faleceu com 56 anos de idade no dia 10 de Dezembro de 1905, era neto paterno de  Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva (meus tetravós), estes do lugar da Barrosa, Guisande, e neto materno de Manuel José de Matos e de Maria Rosa de Jesus (meus tetravós), do lugar da Lama, Guisande. 

Ou seja, este meu bisavô era filho de um dos irmãos do tal Raimundo (por isso sobrinho) de que temos vindo a falar, no caso, filho de Domingos José Gomes de Almeida (meu trisavô paterno) e de Joaquina Rosa de Oliveira, do lugar da Barrosa (minha trisavó paterna). Acabei também por descobrir que este meu bisavô paterno era afilhado do referido Raimundo José de Almeida.

Mais se conclui, e pela ordem natural das coisas, que em rigor somos todos parentes uns dos outros o que se comprova se formos a estabelecer as nossas árvores genealógicas, o que não é de todo tarefa fácil, senão mesmo impossível.

Creio que por tudo quanto foi escrito, mesmo sem todos os factos, temos já um conjunto de apontamentos que enriquecem a história da origem da nossa popular capelinha do Senhor do Bonfim.


A.Almeida - 08-08-2023


Actualização: 10-08-2023

Já depois de escrito e publicado o artigo acima, consegui aceder à certidão de óbito do até aqui falado Raimundo José de Almeida, tido como suposto (não confirmado) mandante da edificação da capelinha ao Senhor do Bonfim. 

Nesta certidão, para além da confimação de alguns dados biográficos, como a filiação, sendo filho de Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva, fica-se a saber que faleceu em 23 de Janeiro de 1897, por isso com 87 anos de idade e que foi casado com Joana Rosa de Almeida e que vivia no lugar da Lama, na freguesia de Guisande.

Até aqui, tudo certo só que a ter em conta o que relata a mesma certidão de óbito, este Raimundo não deixou filhos, logo não poderia ser avô de quem quer que fosse, incluindo a D. Maria Isaura. Portanto, a ser Raimundo, terá que ser outro.

Assim sendo, tomando como fidedigna a informação contida na certidão, cai pela base a suposta relação deste Raimundo José de Almeida à construção da capela ao Senhor do Bonfim. 

A manter-se ainda como válido o testemunho oral colhido junto da D. Maria Isaura, apesar de posteriormente já não se recordar do nome, a ter existido e a ter Raimundo como nome, então, eventualmente só de outro ramo do qual ainda não encontramos ligação e esta terá que ser analisada da actualidade para cima, ou seja saber o nome dos pais e avôs da D. Maria Isaura e por aí acima, como quem diz, recuado no tempo.

Ora, por enquanto, apesar de buscas, ainda nada consegui encontrar desta relação. Por conseguinte, até novas evidências, esta história da origem da capelinha ao Senhor do Bonfim continua por resolver e a pertencer ao campo da especulação.


Outros aspectos:

A capelinha conforme existe na actualidade, não corresponde em termos de aspecto ao que seria a sua forma original. Na verdade já sofreu obras, nomeadamente pelo início da década de 1980, sendo as mais notórias o revestimento das fachadas em azulejo bem como refeita a cobertura já que esta originalmente seria em estrutura de madeira e telha. Para além disso foi pintada a imagem de Cristo no cruzeiro interior em pedra, o qual, apesar da boa intenção do artista, ficou de facto com uma qualidade artística de baixa qualidade. Também a porta não corresponde à original que naturalmente seria em madeira.

A propósito destas obras, recordo-me de na altura ter tido uma conversa com o então pároco, Pe. Francisco, o qual torceu o nariz ao revestimento em azulejo, dizendo ter preferido que se mantivessa o reboco original ou então, se em azulejo, que fosse branco mas sem padrão. Também o revestimento do roda pé foi de mau gosto. Também não apreciou que fosse colocado um painel da Sagrada Família, na fachada sul e que, no mínimo deveria ser monocromático, apenas em tom azul, como é tradicional e que melhor combinaria com o tom azulado do restante revestimento.

O revestimento da cobertura em azulejo depressa ficou em mau estado e posteriormente foi substituido por pastilha cerâmica em tom cinza. Pessoalmente, creio que seria valorizada a capelinha se fosse novamente instalada uma cobertura em telha mantendo a configuração de "quatro-águas" e que corresponderia à imagem original.

Por outro lado, aquele poste eléctrico ali encostado do lado norte é uma aberração estética e que deveria ser mudado.

8 de agosto de 2023

Carlos (Cruz) Cruzadas com novo livro

 

Está ainda a fumegar de quente, o novo livro de Carlos Cruzadas (Cruz). 

Depois do primeiro "filho" "Ao longo dos tempos", num registo mais intimista, com poesia e curtos textos de introspecção, desta vez o Carlos concretiza um livro dedicado à biografia de Justino da Silva Cruz, um seu familiar e conterrâneo da terra de nascença, ilustre e reconhecido filatelista entre os seus pares, que considera o autor ser de justiça trazer à luz do reconhecimento também junto das suas humildes origens.

Justino Cruz, é coleccionador de selos há mais de 50 anos, tendo sido co-fundador do Clube Filatélico Português, em 1975, e seu presidente honorário desde 1995. Detém a medalha honorária da cidade de Estugarda - Alemanha, onde é emigrante.

A apresentação está marcada para o lugar de Labercos, freguesia da Lomba - Gondomar, no próximo dia 19 de Agosto, pelas 16:00 horas.

Tem-me dito o Carlos que será porventura o seu último suspiro nestas coisas de publicar livros, mas creio que não, até porque há roseiras que ainda florescem pelo Natal. Ademais, seria uma pena e perda que tantas coisas com sentido ficassem órfãs de páginas impressas.

Quanto à filatelia, o coleccionismo de selos, é um tópico interessante, artístico, histórico e cultural. Pessoalmente é um assunto que também me agrada e de resto tenho centenas de selos de diversos temas. 

Não sou coleccionador, longe disso, muito menos especialista, como será o Justino Cruz,  mas fui juntando, comprando e guardando. É arte. É cultura.

7 de agosto de 2023

O Sr. Manuel Alves que também é senhor Neca





Isto de falar dos outros, tanto mais quando ainda são vivinhos da silva, tem que se lhe diga, porque quem o faz corre o risco de ser injusto ou então excessivamente simpático, o que alguns dirão de lambe-botas. Mas assumo o risco e o que a seguir escreverei resulta apenas da minha percepção e experiência pessoais ao longo de muitos contactos e testemunhos, mais privados ou circunstanciais. E mais do que isso, com sinceridade, porque sem obrigação ou propósito de qualquer outra natureza.

Estou a falar do Sr. Manuel Alves, ainda entre nós apesar da sua já linda e avançada idade. A caminho dos 91 anos já que nasceu a 21 de Agosto de 1932. Uma pessoa quando é muito conhecida, pode ter vários nomes e o Sr. Manuel Alves é tratado de diferentes formas, como apenas Sr. Alves, Sr. Neca ou ainda por Nequita. Ainda Nequita do Viso ou Neca da Loja, por herança dos tempos em que em Casaldaça tinha uma mercearia e tasca. Ainda, não raras vezes, como o Neca da Tina, como é típico dos portugueses relacionar o nome do homem ao da esposa ou vice-versa.

Pessoalmente trato-o por Sr. Neca. Conheço-o desde que ainda criançola descia várias vezes do Viso a Casaldaça à mercearia da Sr.a Amélia. Nunca foram os meus pais clientes da farta mercearia do Sr. Neca, mas mesmo assim era frequentada por mim, porque que mais não fosse para comprar alguma coisa que no momento estivesse em falta na mercearia ao lado. Além do mais, mesmo já em adolescente, muitas vezes aos domingos à tarde alí íamos como gente grande merendar, um pirolito, umas zeitonas, amendoins ou então, quando com algum dinheiro inesperado no bolso, uma sandes de queijo. À fartazana! Também a comprar cromos da bola e dos cowbóys.

Mas, queira-se ou não, o Sr. Neca por um conjunto de razões é uma personalidade muito singular na nossa comunidade e freguesia e de algum modo um seu património ainda vivo mas que perdurará para o futuro. Como se sabe e já o disse, durante muitos anos exerceu a profissão de comerciante explorando a mercearia e tasca em Casaldaça, que a tomou das mãos da Sr.a Conceição e do Sr. Domingos "Patela",  e mais, tarde encerrada porque em edifício arrendado, mudou-se para o lugar do Viso, onde ainda vive, e ali continuou sobretudo com a afamada confecção de boa broa de milho e regueifa doce à moda de Guisande, aproveitando as mãos laboriosas e o saber da esposa de há 70 anos, a senhora Tina. Infelizmente tudo tem um fim e devido às limitações impostas pelo peso da idade, também essa actividade acabou há já alguns anos. Felizmente, no que toca à regueifa, creio que passou alguns segredos à minha prima Cilita. Mas ficam as memórias da azáfama, sobretudo em vésperas de Páscoa com o forno a parir deliciosas regueifas que gente de muito lado procurava.

Para além disso, o senhor Neca foi regedor na freguesia, no período que antecedeu o 25 de Abril de 1974, então um cargo que conferia respeito e autoridade e que a representava e no exercício do qual me contou algumas engraçadas histórias. Pano para outras futuras mangas. Foi por pouco tempo, é certo, e numa época em que os regedores já perdiam importância face à criação e proliferação pelas zonas rurais de postos da GNR, como aqui por perto em Canedo. Logo após o 25 de Abril de 1974 e assente a poeira da revolução, criadas as condições para as primeiras eleições autárquicas, o Sr. Manuel Alves fez parte como presidente da Junta de Freguesia de Guisande de 1982 a 1989, em represnetação do PSD. Mesmo depois disso, e perdidas as eleições em 1989 para o Partido Socialista, voltou a recandidatar-se mesmo que, já noutra dinâmica, não tivesse logrado a reconquista. 

Fez ainda parte da Comissão Fabriqueira e era pessoa muito considerada pelo saudoso pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira.

Foi autarca e presidente de Junta num período muito específico e singular, ainda num contexto muito particular e com uma forma de gerir nem sempre de forma mais escrutinada e com as contas porventura sem o rigor dos actuais tempos, de resto o que era prática em muitas pequenas autarquias, no que se dizia vulgarmente ser de contabilidade de mercearia, mas apesar disso, foi um período em que quase tudo estava por fazer e era preciso desbravar caminho. Mesmo que nem sempre da melhor forma e passível de conbtraditório, a verdade é que durante o seu período de governação fez-se muita obra, com abertura de várias ruas, como as ligações a Louredo e a Gião, que não existiam, alargamentos, pavimentações, melhoramentos vários, etc. Fez-se a sede da Junta, construiram-se os jardins de infância de Fornos e Igreja, fizeram-se obras nas escolas primárias, ampliou-se o cemitério, etc, etc.

Pessoalmente tenho a maior das considerações pela sua pessoa e pelo seu passado mesmo que em determinadas alturas, principalmente quando fazíamos parte do jornal "O Mês de Guisande" tivéssemos tido um papel de escrutínio e tantas vezes de crítica e de algum modo responsáveies pela mudança política. Mas nesse aspecto foi sempre o Sr. Neca de um grande sentido democrático e nunca tomou as coisas a peito, deixando na política o que era da política, o que nem todos foram capazes de fazer pelo que ainda subsistem alguns ódios de estimação que só servem para dividir mesmo em momentos e objectivos comunitários.

Por várias vezes convidou-me a participar em listas a eleições mas sempre recusei por mera opção de não envolvimento na política, mas revela a confiança que tinha nas minhas simples capacidades. Em algumas situações mais pessoais foi sempre de uma enorme consideração, respeito e seriedade. Por diversas vezes ofereceu-se para me ajudar em diversas situações e quando foi preciso não deixou de o fazer e apoiar.

Por conseguinte, estas simples palavras sobre o Sr. Neca, são apenas um reconhecimento pessoal do seu papel e do seu contributo de cidadania na freguesia, mesmo reconhecendo que, como eu e cada um de nós, não é perfeito e terá também e certamente os seus pecados e omissões. Obviamente que pode haver que tenha uma percepção diferente mas, como seres imperfeitos que somos pela nossa própria humanidade, todos estamos sujeitos a análises menos simpáticas e até tantes vezes injustas ou desonestas. Quem de algum modo se envolve em actos ou acções de cidadania, infelizmente e como desmotivação, acaba por merecer mais críticas do que merecimentos. Isto não é novidade e na nossa própria comunidade, apesar de bons exemplos e de muita gente reconhecedora, o que não falta é desconsiderações e em grande parte por pessoas que nunca nada fizeram. Daí a velhinha sentença de que só não erra quem nada faz. Não surpreende, por isso, que não faltem por aí artistas que nunca erraram na vida, na justa medida de que nunca nada fizeram a favor dos outros e da comunidade onde se integram.

Sendo assim, e porque felizmente ainda anda por aqui, parecem-me ser justas estas simples palavras sobre o nosso Sr. Neca. Não me levará a mal. Bem haja por tudo quanto fez.

21 de julho de 2023

O Ti Abel Fonseca na sua alegre casinha

Saí de casa para uma simples caminhada, para relaxar as pernas cansadas de corridas. Mas dos seis quilómetros que planeei fazer numa hora foram apenas dois, porque passando ao portão da casa do Ti Abel, meti conversa, ou terá sido ele, não vem ao caso, e num repente, entre tagarelecices de circunstância e outras sobre outros tempos, o tempo, o de agora, passou rápido e lá tive que atalhar para casa. 

Importa já esclarecer que fico sempre na dúvida se o devo tratar por tio se por primo. Em rigor e se nestas coisas vale mais a cepa familiar e a sua seiva, então o Sr. Abel é meu primo, em segundo grau, porque directo de minha mãe. Os seus pais, o Joaquim e o Américo, eram irmãos, filhos do mesmo Raimundo Fonseca e Margarida da Conceição, que Deus a todos tenha. Quanto a tio, é, como diz o povo, por afinidade e indirecto pois é por ser marido de uma tia de minha mulher. Seja como for, porque uns bons anos mais velho, acaba por assentar melhor o tio, mesmo sabendo-se que há tios mais novos que sobrinhos, pois há.

Mas então que seja! Primo ou tio, andava o Ti Abel do Fonseca a varrer a erva seca da calçada que um neto tinha vindo cortar com "uma máquina moderna" e que assim lhe poupou mais uma carga de trabalhos às suas já cansadas costas de calceteiro que foi toda a vida. 

Ali naquela cena tudo cheirava a outros tempos, a um certo bucolismo que sentido à distância temporal emanava ainda a aromas dos meus tempos de criança. Estava a varrer a calçada feita por si com uma vassoura entretecida de giestas, coisa já em desuso, como se a limpar o terreiro do lugar onde à noitinha haveria bailarico ao som de uma harmónica de beiços. Mas não, esses tempos de juventude lá para os lados de Cimo de Vila, onde a pretexto de tudo e de nada se armava uma festa pela noite dentro, já se dissiparam há muito e agora apenas residem nas memórias da sua cabeça que diz ainda estar fresca e finória. Queixa-se é dos ossos, das costas e sobretudo das pernas. Mas vai-se mexendo e remexendo nas coisas da terra ali à volta da pequena e alegre casinha que construiu com o seu suor lá pelos idos de 60. 

Quando não aguenta as costas e os ossos de arrancar ervas, guiar tomates e feijões de vagem, senta-se ali naquele banco sob a fresca ramada de americano, onde não tem conta aberta nem dinheiro em depósito, mas o valor do descanso que vale o peso em ouro de uma vida a lidar com pedras. Fora isso, vai andando, mesmo que a tomar quatro comprimiditos todos os dias e que ainda não dispensa às refeições (que já vêm do Centro Social) o copito de vinho. Não de americano, como gostaria e de há muito recomendado pelo Dr. Vasconcelos, mas do bom, do maduro, que assenta melhor.

Depois de perguntar pela idade da mãe, quis saber quantos anos tinha eu e respondendo à minha resposta disse-me que ainda era um jovem. Claro que não sou jovem, longe disso pelo menos uns quarenta, mas de facto fez-me pensar na relatividade das coisas e mesmo da própria idade. Mas esta relatividade, queira-se ou não, conforme se for caminhando lá virá a desvanecer-se e a transformar-se em realidade absoluta como a de outro meu tio, o Tio Neca, que em Outubro próximo fará 100 anos e não há na freguesia quem vá à sua frente na marcha do viver. Todos marcham atrás de si, incluindo eu e o Ti Abel.

Quanto à sua própria idade, disse que lá para o fim deste Verão fará 92 anos. Isto ontem, com aquela memória fresca e eu agora, passado um dia, já sem a garantia de que tenha dito 92 ou 93. Ai, cabeça, cabeça! Mas naquela certeza exclamada fiquei eu na dúvida se o disse com orgulho ou se já com algum desalento por ter em conta que nestas idades cada dia que passa tem um peso que verga ainda mais o corpo e amolece a vontade de viver. Mas, bem vistas as coisas, creio que o disse com claro orgulho e ciente de que chegou até aqui com a dignidade de quem viveu com trabalho e honra e se Deus quiser ainda andará por cá mais uns bons anos. 

Que mais pode um homem querer? Fez-se à vida e pela vida. Fez-se homem ainda quando era menino, trabalhou e mourejou. Casou com a Ti Maria,  fez uma casa pequenina como um ninho e seguindo o projecto feito em ditado de "terra quanta vejas e casa quanta caibas" que carimbou na fachada com um painel de azulejos com os sagrados corações de Jesus e Maria, como a pedir bençãos para o lar. Mas de tão pequena a casa, como homem do campo foi ampliando as instalações com capoeiras, currais e alpendres para nelas recolher galinhas, gado, alfaias e pastos. 

Produziu, deu nome e criou uma catrefada de filhos que de há muito, como pardais, voaram do ninho. Mesmo calcetando de paralelos quilómetros de ruas e vielas, nunca largou as terras. Plantou árvores e arbustos e tem defronte da casa, num canteiro em forma de ás de ouros, um já mais alto e direito do que ele e com um tronco que já pede avaliação de madeireiro. Supus eu que tivesse mais idade mas lembrou-se o Ti Abel, como se ainda fora ontem, que tinha trinta anos, pois plantado que foi por 1993. Os outros, mais pequenos, são mais novitos.

A juntar a toda essa carga dos noventa e picos e às dores dos ossos, o Ti Abel tem ainda o que diz ser uma cruz bem pesada, a de cuidar da esposa já em situação de perda de faculdades cognitivas, mas que aceita e suporta com a mesma dignidade e no cumprimento de votos jurados defronte do padre há já uma carrada de anos. O casamento também é isso, ou sobretudo isso. Melhor dito, era assim, porque agora as coisas são diferentes e casamentos são apenas compromissos, não com Deus mas com o notário ou conservador, como uma conta ou contrato a prazo e pretextos para bodas em quintas, porque os divórcios estão pré-anunciados. 

Bem, Ti Abel, vou andando! - Vai lá rapaz, vai! Despediu-se enquanto tentava meter na cabeça da Ti Maria, debruçada na janela da marquise, quem era quem com ele conversara. Infelizmente, terá sido tarefa inglória.

Dali a nada, no fundo dos Quatro Caminhos, passando aos campos das suas ribeiras, ladeadas de altos choupos, que já não pode fazer, com pena, tomei o caminho de casa a remoer essas coisas e o seu significado. Afinal uma conversa tem sempre que lhe diga. Haja ouvidos e o que  entre por um não esvazie pelo outro.

Perdi uns poucos quilómetros de caminhada mas ganhei uma viagem no tempo e naquela conversa, de algum modo já repetida noutras ocasiões, dei um saltinho aos meus tempos de criança em que tantas vezes entrei na casa que foi paterna do Ti Abel. Relembrei naquele largo  as brincadeiras, as desfolhadas, os bailaricos e um rol de gente então fresca mas, cada um na sua vez, já partidos. Regressei dessa viagem e de novo à realidade do tempo presente mas até esse, que apenas foi ontem, é já passado. 

O tempo é assim, como areia seca a esvair-se numa mão,  mesmo que fechada, em que os milhares de grãos, um a um retornam ao imenso areal.

26 de junho de 2023

Muitos anos a virar frangos


Diz quem o sabe, os próprios, que a coisa já vai em 43 anos. Por conseguinte, são literalmente muitos anos a virar frangos.

A Churrasqueira da Serra, do Valdemar ou de Estôse, como é conhecida, está em Guisande a assar bom frango de churrasco desde o início da década de 1980, sempre com a mesma consistência e qualidade, fruto do saber e da velha máxima de que em equipa vencedora não se mexe. E neste caso a "equipa" é formada naturalmente pelos membros da família, sobretudo a Ana Mariae o seu marido Crispim, a mãe da Ana, a D. Fernanda, e vários outros como o Agostinho e o Valdemar que, de forma mais regular ou de vez em quando, vão ajudando, mas é também a forma e o processo de assar, a preparação dos frangos com a marinada, que, diz a Ana, continua a ser preparada pela mãe, mas também, e não menos importante, o molho com que se vai regando os pitos e que bem sabemos que nesta coisa de churrascos faz muita da diferença. Certamente que há nele um segredo familiar que é bem guardado, como convém ao negócio.

Noutros tempos, ao fim-de-semana, o espaço funcionou igualmente com serviço de refeições baseadas no churrasco, mas também de bom bacalhau, e ali acorriam a cada semana clientes certinhos. Mas a vida, é sabido, dá muitas voltas e desde há anos que apenas é assegurado aos fins-de semana o churrasco para venda directa para fora, por isso em regime do que modernamente se diz de "take-away".

É certo que churrasqueiras de frango há várias nas redondezas, mas poucas, mesmo raras, as que com a qualidade com que nos habituaram o pessoal da churrasqueira de Estôse.

A freguesia, os clientes locais mas igualmente muitos de freguesias vizinhas, têm que estar reconhecidos a quem lhes permite a oportunidade de numa refeição rápida ou num convívio familiar comer um delicioso e tenro frango de churrasco, eventualmente uma posta de bacalhau ou até mesmo um generoso coelho, quando encomendados com antecedência. Até para compor a coisa, uma salsicha e um saquinho de batata frita caseira.

Por todo este passado e historial, a churrasqueira de Estôse, é por direito próprio uma instituição da freguesia. Apesar de, naturalmente, como em qualquer negócio ou actividade, a coisa ter que dar lucro a quem a ela se dedica, seguramente quem o faz não precisaria deste extra pelo que por isso há muito de dedicação pessoal que vai para além do negócio e não será certamente um passatempo, porque o trabalho é exigente e a merecer constante controlo. E neste caso o eufemismo de trabalhar para aquecer não poderia fazer mais sentido.

Certamente que um dia a coisa terminará, porque não há muita gente disposta a sacrificar Sábados e Domingos para assar franguinhos para quem acaba de chegar da praia, de uma festa ou de um passeio. Será certamente uma perda, mas a vida é mesmo assim. Em todo o caso, certamente que perdurará na memória da freguesia ainda por muitos e bons anos. E de algum modo e nesse sentido fica aqui estampado este simples apontamento como uma simples mas justa homenagem.


13 de junho de 2023

Condenação

Nesta segunda-feira, no Juízo Central Criminal de Lisboa. Francisco J. Marques (diretor de comunicação do FC Porto), foi condenado a um ano e dez meses de prisão e Diogo Faria (diretor de conteúdos) a nove meses de prisão, ambos os casos com pena suspensa. Ambos estão ainda condenados a pagar 10 mil euros, de forma conjunta, a Luís Filipe Vieira, que se constituiu como assistente no processo. Júlio Magalhães (ex-diretor do Porto Canal) foi absolvido.

Importa realçar a condenação. Pena que a pena seja suspensa. Nem que fossem uns três meses de prisão efectiva fariam bem aos condenados para se consciencializarem de que não pode valer tudo em nome do fanatismo e rivalidade clubística.

Mesmo admitindo que as mensagens privadas obtidas de forma ilegal e divulgadas igualmente de forma criminosa e ainda por cima com alguma manipulação, pudessem ter indícios de deturpação do sistema ligado ao futebol e arbitragem, tal não justifica os crimes cometidos por esses senhores. Pena ainda que o ex-director do Porto Canal tenha sido absolvido quando é demasiado claro que teve responsabilidades na divulgação pública enquanto director da estação.

Em todo o caso, sabemos que a sentença ainda é passível de recursos, o que vai acontecer porque nestas coisas ninguém quer admitir a derrota e o artista Francisco J. Marques já disse que "a luta continua", como se o crime de apropriação e divulgação de mensagens de carácter privado de terceiros, de uma instituição ou de um particular, possam ter aceitação de ânimo leve num Estado de Direito e seja uma luta pela qual valha a pena lutar. Em suma, o homem apesar de condenado dá ares de quem não está arrependido, bem como transmite uma mensagem clara de que vai reiterar no mesmo crime. Ora quando assim é, sabendo-se que o arrependimento ou a falta dele é factor importante na determinação das penas criminais, a Justiça só tem um caminho, condená-lo a prisão efectiva.

Por mais que eles e muitos dos deles defendam nesta questão o interesse público dos seus actos, não pode valer tudo, e no dia em que a Justiça legitimar este tipo de crimes, então já mais nada há a defender no que toca à defesa e salvaguarda da vida privada. O cerne do problema, a manipulação de eventuais procedimentos ligados ao futebol e ao desporto em geral, em favor próprio, têm que ser combatidos, sejam prevaricadores o Benfica, o Porto ou qualquer outro clube ou quaisquer dirigentes ou agentes desportivos, mas com os meios e canais legais que a Justiça e a lei têm ao dispôr. Fora disso é campo da ilegalidade e do crime. 

Já agora, para terminar, uma questão: Os condenados fariam o mesmo se os emails em causa atingissem o seu próprio clube? Oram respondam lá!

8 de maio de 2023

Pe. Francisco Oliveira - 25 anos sobre a sua partida


No próximo dia 15 de Maio, passam 25 anos, um quarto de século sobre o falecimento do Pe. Francisco Gomes de Oliveira, que foi pároco da nossa freguesia de Guisande durante quase 60 anos. Tomou posse em 23 de Setembro de 1939. Celebrou na nossa comunidade as Bodas de Prata em 15 de Agosto de 1964 e Bodas de Ouro Sacerdotais  e paroquiais em 15 de Agosto de 1989.

Pelo simbolismo da data, esperava que a comunidade fizesse a sua evocação de forma mais significativa e com alguma iniciativa paralela. Poderia ser de várias formas, como uma actividade religiosa e cultural ou mesmo uma romagem da comunidade ao cemitério onde se encontra sepultado. Eventualmente a publicação de um livreto ou pagela comemorativa.

Considerando que o dia 15 será precisamente já na próxima segunda-feira, daqui a oito dias, e tendo sido anunciada apenas uma de várias intenções integrada numa normal missa, parece-me que nada mais vai ser realizado ou evocado até lá. É pena! Pessoalmente esperava algo mais! E creio que a paróquia de algum modo tinha essa obrigação moral ou mesmo até sob um ponto de vista biográfico.

De minha parte, e já o tinha anunciado, tinha perspectivado lançar por esta altura um livro monográfico sobre a freguesia e tendo o Pe. Francisco como pedra central do mesmo. Infelizmente, apesar do conteúdo estar praticamente pronto, alguns problemas de saúde que me condicionaram nos últimos três meses do ano passado bem como os gastos pessoais a somar aos relacionados com os dois anteriores livros que publiquei, um deles de distribuição gratuita, e face aos custos mais significativos com a nova publicação e para os quais não contarei com qualquer apoio ou subsídio, fizeram-me decidir pelo adiamento da publicação que espero, se não for para depois deste Verão, venha a concretizar-se na primeira metade do próximo ano.

Em todo o caso, não me está esquecida a memória do Pe. Francisco Gomes de Oliveira e o seu papel indelével que deixou na nossa comunidade paroquial num tão largo período temporal. Aqui, ainda antes da data, evoco a sua memória à passagem dos 25 anos sobre o falecimento, e este meu espaço tem sido um repositório de algumas memórias a ele associadas.

Deixo de seguida alguns dados biográficos sobre a sua pessoa e percurso sacerdotal:


08/07/1915

 Nasceu no lugar de Vilar,  freguesia de Fiães - Vila da Feira.

1928

Entrou para o Seminário de Vilar.

1932

Mudança para o Seminário da Sé, Porto.

1937

Deu-se o falecimento do P.e Custódio, pároco de Guisande, ficando a exercer o cargo o P.e Benjamim Soares, pároco de Louredo.

1938

Foi nomeado pároco de Guisande o P.e Guilherme Ferreira.

06/08/1939

Foi ordenação como sacerdote na Sé do Porto.

15/08/1939

Celebração de Missa Nova na igreja matriz de Fiães, sua terra natal.

30/08/1939

É nomeado pároco das freguesia de Guisande e de Pigeiros.

19/09/1939

Primeira visita à freguesia de Guisande.

23/09/1939

Tomada de posse como pároco de Guisande e de Pigeiros, com residência na primeira.

24/09/1939

Celebração da primeira missa na igreja matriz de Guisande.

1938/1945

Entre esta data a paróquia de Pigeiros esteve anexada a Guisande, desde, portanto, do tempo do P.e Guilherme Ferreira.

1945

A paróquia de Pigeiros é anexada à paróquia das Caldas de S. Jorge. O P.e Francisco passa a prestar serviço religioso na paróquia de Louredo, por troca ordenada pelo Bispo, com Pigeiros.

1950

É designado novo pároco de Louredo o P.e Romeiro.

1956

Faleceu o P.e Rufino Pinto de Almeida, pároco de Lobão, e por incumbência do Bispo, entre Fevereiro e 20 de Outubro, o P.e Francisco toma a seu cargo essa paróquia.

1962

Em 28 de Dezembro foi nomeado pelo Bispo D. Florentino de Andrade e Silva, como Vigário, substituindo no cargo o P.e Manuel Fernandes dos Santos, então pároco de Romariz.

15/08/1964

Comemoração das Bodas de Prata Sacerdotais (25 anos). O banquete foi realizado no salão paroquial de Guisande, o qual por essa altura ainda estava em obras.

1971

Entre 27 de Janeiro e 12 de Junho paroquiouLobão por doença do P.e Aurélio.

Em 21 de Dezembro foi reconduzido como Vigário da Vara para o triénio de 1972 a 1974.

1979

Foi exonerado como Vigário, sendo substituído pelo P.e Santos Silva, pároco do Vale

1981 a 1993 - Foi colaborador regular do jornal "O Mês de Guisande".

15/08/1989

Comemoração das Bodas de Ouro Sacerdotais (50 anos). Foi realizada uma grande festa com a participação geral da paróquia que culminou com um almoço convívio que mobilizou a maior parte da população.

15/05/1998

Depois de alguns problemas de saúde, que o obrigou a hospitalizações e a ser substituido nos serviços paroquiais pelo seu sobrinho Pe. Benjamim, acabou por falecer com quase 83 anos. Foram celebradas cerimónias fúnebres em Guisande, com a presença do Bispo do Porto, D. Armindo, e depois na sua terra natal, Fiães, onde foi sepultado em jazigo de família no cemitério local onde jaz  ao lado de seus pais.

20 de março de 2023

Nabos e nabeiros

Faleceu o Comendador Rui Nabeiro, de 92 anos, empresário, patrão da Delta Cafés, figura por demais conhecida e reconhecida como empresário de sucesso e sobretudo dotado de um grande sentido de humanidade para todos quantos com ele colaboravam e trabalhavam. Para além de empresário foi sempre um exemplo de cidadania ao serviço dos seus e da comunidade.

Sendo certo que já com uma bonita idade, mas naturalmente deixa tristes não só os familiares como os seus colaboradores e toda a região de Campo Maior e Alentejo.

As suas qualidades empresariais, de cidadania e humanas eram por demais reconhecidas em todos os sectores e por isso não espanta que muitas figuras locais e nacionais o enalteçam quando chamados a dar opinião sobre a sua pessoa.

De minha parte, como a maioria dos portugueses, nunca com ele contactei e por conseguinte a opinião pessoal resulta apenas da percepção do que ao longo dos tempos tenho lido e ouvido sobre a sua personalidade e de facto parece ser unânime a opinião muito positiva da sua acção empresarial e humanista, e desde logo com o reconhecimento a começar pelos trabalhadores das suas empresas.

Em resumo, partiu um homem grande, amigo dos seus, com uma visão e legado do que deve ser um empresário no sentido pleno do seu significado. Ser empreendedor, criar riqueza e mais valias para a região e país, mas igualmente partilhar riqueza porque com um importante sentido humanista e social.

No nosso tecido empresarial, certamente que há bons empresários e muitos deles com as mesmas qualidades e virtudes que teve Rui Nabeiro. Mas, reconheçamos, serão uma gota no vasto oceano porque a larga maioria tem uma actividade apenas baseada nos crescimentos e lucros, com estes todos canalizados para as riquezas pessoais, luxo e ostentação, enquanto que os seus colaboradores, os trabalhadores, são meros números, descartáveis, a quem se paga o mínimo possível, sem acrescento de qualquer função social ou humanista. Assim, para um desses muitos vulgares empresários, um automóvel de luxo, um relógio de ouro ou uma moradia de férias sobrepõe-se a qualquer funcionário e por isso a precariedade e os incumprimentos são mais que muitos, tantas vezes no mais básico que é pagar pelo trabalho. O que não falta por aí são empresários a ostentar riqueza e caloteiros para com os seus funcionários. Parasitas que vivem do suor dos outros.

Neste contexto, nos nossos empresários, temos alguns, poucos, Nabeiros, espécies raras no meio da larga maioria, os nabos.

As coisas são como são e as actuais realidades não se compadecem com lamechices de índole social e humanista. Primeiro o lucro, o estatuto social, a riqueza, o poder e o bem estar. A partilha com os demais, é coisa de somenos importância.

5 de fevereiro de 2023

Bodas de Ouro matrimoniais de Joaquim e Margarida


Ontem, Sábado, dia 4 de Fevereiro, celebraram Bodas de Ouro matrimoniais o casal Joaquim e Margarida, do lugar de Fornos desta nossa freguesia. A celebração foi feita durante a missa comunitária das 17:30 horas, celebrada pleo nosso pároco Pe. António Jorge.

Por isso há meio século que o Sr. Joaquim, natural de Argoncilhe, chegou a Guisande para um casamento para a vida com a D. Margarida.

Certamente que chegaram até esta data com altos e baixos, com momentos de alegria ou mesmo de dissabores e dificuldades, porventura com algumas situações de desânimo, como é próprio da natureza de qualquer casamento, mas certo é que para se chegar até aqui é demonstrativo de que foram capazes de cumprir o essencial do compromisso dado mutuamente quando se enlaçaram, o de fidelidade e de amor, tanto nos tempos de alegria como nos de tristeza, na saúde e na doença, todos de os dias da vida em comum. 

Amadureceram como pessoas, construíram o seu lar e dessas sementes têm filhas e netos. Fazem parte de uma família mais ampla, a da nossa comunidade onde sempre se integraram.

Pode parecer coisa de somenos importância, mas não é. É difícil, e pelo padrão dos tempos que correm já será proeza celebrar Bodas de Prata por vinte e cinco anos de vida em casal quanto mais cinquenta anos. Tal só se consegue com muito conhecimento mútuo, compreensão e tolerância sob os valores do casamento cristão. Ora estes valores, não constituindo regra, são quase a excepção que a confirma. Não surpreende, pois, o ritmo e a preponderância dos divórcios temporãos e das uniões a prazo, à experiência como se de coisas descartáveis se trate. Hoje em dia as ligações são quase só isso: Experiências em que ao primeiro desafio, mesmo sem ser grande o vendaval, o barco vacila e afunda-se. É o que é.

Ora o casal Joaquim e Margarida não serão um modelo perfeito de casal cristão, porque os não há, mas nesta conta redondinha de vida matrimonial, como as alianças que agora renovaram, têm demonstrado ser um casal muito unido, dois bons seres humanos optimistas e sempre bem dispostos, por vezes contagiantes, prontos para a brincadeira, convívio e um pé-de-dança, uma das qualidades que todos lhe reconhecem.

Merecem, pois, não só da sua família o orgulho, como da nossa comunidade, o apreço, respeito e votos de felicidades durante o tempo que Deus lhes quiser conceder.

Parabéns e venham mais 25!


[foto: cortesia de Domingos Magalhães]

18 de outubro de 2022

As memórias da casa chanfrada - Toninho do Viso




Há casas assim, que mesmo de portas e janelas fechadas estão permanentemente, dia e noite, escancaradas às nossas memórias. Entramos nelas com pézinhos de lã, como fantasmas, damos umas voltinhas e voltamos a sair sem ter feito ranger o velho soalho ou fazer chiar os gonzos das portas.

Esta casa, a da fotografia, todos a conhecem. Fica ao fundo do monte do Viso. Chamo-lhe eu a casa chanfrada, não porque lá viva ou tenha vivido gente com umas quartas-feiras a menos; bem pelo contrário, sempre lá viveu gente ajuizada, de nome, honrada e de trabalho. 

Casa chanfrada porque tão somente tem uma das suas esquinas recortada com um chanfro, como se o mestre pedreiro ali fosse ao canto e..zás, lhe cortasse uma talhada e, por conseguinte, dessa esquina resultou uma face adicional na qual, em cima e em baixo rasgaram portas, sendo que a de cima, a do Andar, dá para uma elegante varanda, a que o nosso povo designa de sacada. Já agora, a encimar as duas portas do Andar, duas belas padieiras com florões bem talhados na pedra.


Manuel Alves da Silva

Do que me lembra, pertenceu a casa a Manuel Alves da Silva, depois a seu filho António Alves da Silva e já depois da partida da sua esposa, Maria da Conceição Ferreira Fontes, em Abril de 2020, com 94 anos, pertence ainda à herança, mas dela usufrui sobretudo a filha Micas, e é sabido que se há alguém com um passado e ainda presente de trabalho laborioso nas coisas da terra é a esposa do Manuel Tavares. De resto, pela fotografia acima, veem-se ainda ali espigas a dourar num final de Outono, mas poderia ser um montão de espigas de dentadura a sorrir, vindas das ribeiras, prontas a desfolhar ou um carrego de bandeiras de milho ou feijão a secar. Aquele fundo do monte foi sempre assim, desde que me conheço, uma eira do povo, mas sobretudo da Micas. 

António Alves da Silva, nasceu em 29 de Março de 1928. Era filho de Manuel Alves da Silva (foto acima) e de Carolina Pereira de Jesus. Era neto paterno de António Alves da Silva e de Margarida Rosa de Jesus (esta de Duas Igrejas). Era neto materno de António Rodrigues Caldeira e de Joaquina de Jesus. casou em 15 de Abril de 1950 com Maria da Conceição Ferreira de Fontes.

O pai do Antoninho, na imagem acima, nasceu em 14 de Março de 18989. Era filho de António Alves da Silva, da Barrosa, e de Margarida Rosa de Jesus. Era neto paterno de Manuel Alves da Silva e de Maria Soares. Era neto materno de António Ferreira de Passos e de Rosa Maria de Jesus (de Duas Igrejas).

De resto eram assim, noutros tempos, os largos dos lugares. No monte do Viso, atrás da capela, era uma eira comunitária do tamanho do mundo onde secavam palha, espigas e milho já malhado a assolhar dourado estendido em lençóis. 

Pois bem, só por si, esta estreita fachada orientada para sudeste, tem muita história, porque, pessoalmente, me remete para as tardes de Domingo, em que o antigo proprietário, o saudoso senhor Antoninho (António Alves da Silva), abria aquelas portas de par em par  e enchia o lugar com o som da sua aparelhagem em que punha a rodar um velho disco de uma qualquer sinfonia de Beethoven, Mozart ou Wagner. 

Era uma das suas paixões, a música clássica e os respectivos discos. Outra, era conhecido o seu gosto por café, que o levava várias vezes ao dia à Corga de Lobão, onde normalmente o tomava. Talvez se apaixonasse por esta mulata bebida quando com seus pais esteve no Brasil, daí, para alguns, ter ficado com o apelido de "Toninho da Brasileira".

Não sabia do actual destino dessa boa colecção de discos de vinil, mas informou-me a neta que ali continua intacta à guarda da família. Quanto a tocar, porventura não, ou esporadicamente, mas as orquestras ainda soam sinfonicamente na memória como que orientadas pela batuta do maestro do tempo.

Escusado será dizer que entrei várias vezes nessa saleta onde o senhor Antoninho se deliciava a ouvir a sua música intemporal. Nesse aspecto partilhava com ele o gosto e paixão pela música clássica. 

- Ó Almeida, sobe cá acima. Anda aqui ouvir uma coisa! - Desafiava-me por vezes quando ali passava depois do almoço de Domingo. E sabia, naturalmente discutir essa música, os nomes dos grandes compositores e sua obras.

A reboque desse gosto comum pela música, chegou-me a emprestar, com recomendações de mil cuidados, porque o não concedia a mais ninguém, alguns discos para eu passar na saudosa Rádio Clube de Guisande. Recordo-me particularmente do disco com o oratório Messiah de Georg Friedrich Händel, com o tão popular Hallelujah, que passei por alturas da Páscoa.

Mas para além desta particularidade relacionada à música clássica, a casa chanfrada traz-me muitas mais memórias. Desde logo, o referido senhor Antoninho durante anos teve ali uma barbearia. Não era propriamente um desenrascado Fígaro, como o da ópera de Rossini (O Barbeiro de Sevilha), que  naturalmente deveria ter na sua colecção de discos, mas era o quanto bastasse a ser o barbeiro do Viso. 

Mas se é verdade que o senhor Antoninho tinha sensibilidade para a música clássica, não posso dizer tanto da sua arte de barbeiro. Por várias vezes saía de lá, eu e as demais crianças do lugar, com golpes de tesouradas no pescoço e nas orelhas e até mesmo na véspera da minha comunhão solene deu-me uma golpada inadvertida no belo remoinho que por esse tempo tinha no cabelo junto à testa. As fotografias que guardo dessa solenidade, são testemunhas dessa sinfonia de tesouradas. Mas, verdade se diga, em defesa do mestre barbeiro, as crianças eram irrequietas e ali presas naquela toalha que parecia uma camisa de forças, o melão não lhes  parava quieto pelo que se punham a jeito para uns deslizes do Ti Antoninho.

Se encontrava um piolho, bicho que por esses tempos era um caseiro habitual nas cabeçolas da rapaziada, o Senhor Antoninho aniquilava-o logo ali, esmagando-o com a  unha do polegar contra a própria cabeça do dono. Morria o piolho e ali já ficava sepultado na cova aberta, tal era a pressão feita no couro cabeludo.

Por outro lado, para rapar  a parte detrás dos pescoços e junto às orelhas, usava aquelas velhas máquinas manuais de corte de cabelo, que mais pareciam um corta relva, que pressionava com força. Sentir aquele tcheq-tchec-tcheq, pela cabeça acima era uma aflição danada. Depois, para terminar o trabalho, umas valentes chapadas encharcadas de Pitralon para queimar e desinfectar os cortes e arranhões. 

Feito o trabalho, revirados o assento e o encosto da cabeça para o cliente seguinte, que tanto poderia ser o meu tio Neca, como o Ti David ou o António Santiago, e retirado o lençol com que nos amortalhava, assim, aliviado e sem saudade daquele castigo capilar, deixava eu a barbearia para trás. Lampeiro, como a fugir, não fosse ser chamado para algum retoque, subia o monte com o pescoço vermelho como o de um peru e a cabeça e rosto a arderem num formigueiro desgraçado. Dali a pouco meses repetir-se-ia o calvário, porque, regra geral, pelo menos três vezes ao ano. Pela Festa do Viso, Natal e Páscoa.

Mas era assim, e as barbearias, como a do Viso do Ti Antoninho, por esse tempo não tinham contemplações com esquisitices de limpeza. A barba era aparada à navalhada e só de ver o barbeiro a afiar aquela espada numa tira de couro oleada já dava tremuras. Pela prateleira frontal, onde estavam dispostos pentes, tesouras e navalhas, ali eram penduradas tiras de papel de jornal onde a cada passagem da navalha pelas fuças, o barbeiro nelas depositava, um a seguir ao outro, montes de espuma com barba. 

O chão, esse parecia um posto de tosquia de ovelhas, como um relvado de cabelos de todos os tons, lisos, encaracolados, de crianças, jovens e velhos. Era varrido à vassourada apenas quando acabava o dia. 

Finalmente, ainda outra memória: Por muitas vezes, quando eu criança descia o monte mandado pela minha mãe à loja (mercearia) a Casaldaça, o Sr. Silva (Manuel Alves da Silva), pai do referido senhor Antoninho, debruçado na janela central de cima, atirava-me uma moeda de 1 escudo e pedia: - Ó Merquito, traz-me uma maço de cigarros Sporting! Compra rebuçados com o troco!

Nessa altura havia cigarros com nomes dos principais clubes. Não sei qual seria o clube do Sr. Silva, mas é de supor, pela marca dos cigarros, que o Sporting. A verdade é que se não fora os belos cromos com as vistosas camisolas  encarnadas a vestir jogadores como o Eusébio, o Coluna, o Simões, o José Augusto e o Águas, entre outros, e eu não seria benfiquista mas sim sportinguista à custa de comprar tantos maços de tabaco às riscas verdes-brancas para o Sr. Silva do Viso e dos rebuçados que o pouco troco me permitia lamber.

Mas, fechando a cancela a estas memórias, toda essa saudosa gente boa, o Sr. Silva, a sua mulher, a Dona Carolina, o seu filho António, tratado por Antoninho ou Toninho, ou mesmo a mulher deste, a Ti São, já todos partiram e hoje já só subsistem em algumas das nossas memórias. Nas dos familiares, certamente,  mas nas minhas, seguramente.

Por tudo isto, a casa chanfrada continua ali a avivar-me esses tempos, episódios e figuras passadas. 

Mas volvidas décadas, desaparecidas umas pessoas e envelhecidas outras, mantém-se sempre gracioso aquele cisne, na sua pose cimentada, ali ao fundo da balaustrada da escada da casa, a fazer-nos lembrar a música do bailado do Lago dos Cisnes, de Tchaikovski, que certamente na sala de cima tantas vezes o Sr. Antoninho pôs a tocar no velho gira-discos.

Se há alguém que terá ouvido todas aquelas sinfonias, óperas e concertos, o cisne será certamente um deles. 

É perguntar-lhe!

Finalmente, mesmo que já não fazendo parte das minhas memórias, importa dizer que nesta casa chegou a funcionar pelos anos 1940 uma escola destinada a raparigas. Isto antes da construção da escola primária do Viso. Mesmo com a escola do Viso em funcionamento, na parte da tarde sobretudo os alunos da 4.ª classe ali tinham aulas para reforçar ou complementar os estudos, como preparação para o exame da 4.ª classe que por essa altura era coisa séria.