29 de setembro de 2022

Redundância

Olhar com olhos de ver,

Falar com a boca plena,

Escutar com as orelhas todas,

Apalpar com os dedos tácteis.


Mas diferente poderia lá ser?

É de rezas, repetidas, a novena

As mulheres são dadas a modas,

Umas difícies, outras fáceis.


Que mania esta e nossa, a de redundar.

Mais do que mania, chega a ser ânsia,

A de repetir, teimosamente a teimar,

Em que tudo seja assim, redundância.

Irmã Alzira Santos

A irmã religiosa Alzira Santos, deu a cara no página online da Agência Ecclesia, onde fala na primeira pessoa sobre a sua experiência enquanto responsável pelo refeitório social em Lisboa da  Congregação Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, onde se integra. 

Lamenta a falta de dignidade das pessoas pobres, na sociedade contemporânea. Entre outras considerações que ali podem ser lidas, diz que, “Já assisti a funerais de pessoas e pensei que há animais que têm mais dignidade. Acompanha-se um funeral e, já nem digo uma Missa, mas não se vê sentimentos da família. Fico a pensar como é que é possível, em 2022, onde se diz que o mundo está tão desenvolvido, encontrarmos situações muito difíceis”.

Alzira Santos é uma figura que nos prestigia. O artigo merece leitura atenta porque reflecte a visão de quem na primeira pessoa lida com o lado da pobreza e da doença.

Futebóis, cães e gatos


A propósito da discussão que anda por aí sobre se Ronaldo, Pepe, Fernando Santos e companhia já estão a mais na selecção portuguesa, se deviam já ter dado o lugar a outros jovens e igualmente talentosos, ou, se pelo contrário, ainda têm muito para dar, tanto agora no Mundial do Qatar, como depois no Europeu de 2024 e ainda de novo no Mundial de 2026 e por aí fora.

Por mim é-me indiferente, mas parece-me que para o caso, não importa confundir reconhecimento e agradecimento. Todos reconhecemos o valor e contributo de todos esses jogadores.

Tudo tem o seu tempo e seu lugar. A indústria do futebol é isso mesmo, uma indústria em que tudo gira em torno de dinheiro.

Eu não vejo a selecção como uma coisa supra-patriótica e transcendental, mas antes um entretenimento. 

É apenas um grupo de jogadores de elite quem vive e ganha muito bem, porventura mais com um prémio de jogo que a maioria dos portugueses a trabalharem toda a vida numa fábrica ou na agricultura.

Não fazem nada de borla e qualquer vitória, só lhes acrescenta mais prestígio e mais dinheiro. Mesmo que num sector estupidamente exorbitante na relação do rendimento/benefício, não os invejo. Só não lhes dou valor acima do que é suposto dar.

São os futebolistas que ganham milhões anualmente, doutores, engenheiros, médicos, investigadores, cientistas, biólogos, etc, etc, que contribuiem para o crescimento da ciência, da saúde, da humanidade? Não! Apenas alguém com habilidade para dar uns chutos na bola. Alguns, muitos, apenas com formação básica.

Por conseguinte, o ponto aqui é tratar-se de pragmatismo.

Ora o pragmatismo nestas coisas indica que há lugar e tempo para o reconhecimento, para o agradecimento, mas também para a renovação. Em suma, seguir em frente.

Mas outros, naturalmente, têm uma diferente opinião. Regra geral são esses que compram o bilhetinho, cachecóis e camisolas, pagam as quotas, leem jornais e assinam canais premium, contribuindo para que toda essa indústria prospere. Alguém tem que pagar os Bentleys, os Porches, os Jaguares, os iates, a vidinha boa da malta da bola, etc. Estão no seu direito e há sempre a quem o dinheiro sobeje.

As coisas são como são. Gosto de futebol, tenho um clube de simpatia, gosto das selecções na justa medida, embora os veja cada vez menos. Seguramente que já não os vejo com lirismos ou paixões exarcebadas. 

Como dizia um antigo spot publicitário "um cão é um cão, um gato é um gato. Tudo no seu justo lugar, tempo e medida.

27 de setembro de 2022

Falar bem, maldizer, o fácil, o difícil

Não tenho muitos amigos no Facebook.  Em número ainda não reuni 500. Talvez porque desses terei pedido amizade apenas a meia dúzia. De todos os demais tive o privilégio de me terem solicitado amizade. Também terei recusado outros tantos, desconhecidos, ou de raparigas bonitas com nomes abrasileirados que nos aparecem por cá com uns convites para partilhar coisas boas. Mas como sou de um tempo em que aprendi a desconfiar de grandes esmolas a troca de palha, prefiro recusar tais generosas "amizades".

Desses quatrocentos e muitos amigos que tenho nesta rede social, naturalmente que serão bem menos os que me têm mesmo como amigo e  menos os que tenho como tal. Alguns até parecem inimigos, mas, vá lá, toleram-se.

Mas ainda bem que assim é. Fossem esses quatrocentos e muitos, bons e verdadeiros amigos, daria uma trabalheira a tratar deles. Sim, porque a amizade, é dos livros, deve ser cultivada. Ora cultivar amigos e amizades não é como plantar batatas, cebolas ou alhos. É bem mais trabalhoso e requer o uso de bom estrume, rega frequente e cuidado na protecção contra as inconstâncias do tempo e parasitas.

De certo modo, um cultivador de amigos e amizades é como um lavrador, que comprometido com as suas culturas, não tem horas para se deitar, para comer, enfim, não tem tempo para tratar de si próprio porque por vezes preocupado com os outros.

Nos tempos que vão fazendo os dias presentes, convenhamos, a malta de um modo geral não gosta de empregos de lavrador. Prefere o certo ao incerto, pegar e despegar a horas normais; Andar de espinha direita, com mãos sem calos e unhas sem terra ou estrume. Talvez por isso o negócio de quem pinta e decora unhas está em alta.

Não perdendo o fio à meada, dizia que de todos classificados pelo Facebook como meus amigos, naturalmente que sempre que tenho oportunidade e pretexto, sobre um ou outro mais próximos, gosto de os enaltecer, nas suas virtudes, mesmo que com alguns humanos defeitos, com sentimento mas sem paninhos quentes. No fundo, exercer e aplicar a tal analogia de usar bom estrume nas plantas para que estas sejam produtivas.

Mas, por isso, dou comigo a pensar e mesmo a confirmar, que nestes coisas de falar e escrever bem sobre os outros, os nossos amigos, mesmo que não entrando em intimidades, mas apenas raspando no lado público, é bem mais difícil do que falar mal, de maldizer, criticar. 

Não supreende, pois, que a norma, porque mais fácil, seja o dizer mal, desprestigiar, desconsiderar. E estas acções nem precisam ser executadas na forma de escrita. Há muitas outras formas, por vezes mais penosas e acutilantes  porque subliminares, ocultas. E deste mal padecemos todos. Não me excluo. 

A vida, é pois, uma aprendizagem permanente. É como um mar amplo em que, desde que se aviste um farol a rasgar o breu da noite, há sempre tempo de virar o leme, de fugir aos penhascos traiçoeiros, em última análise, evitar o naufrágio.

Em conclusão ou remate, devemos sempre teimar em realçar o lado mais positivo das coisas e de modo especial, das pessoas. Terão, naturalmente, facetas escondidas, mas talvez nelas a luz supere a escuridão e bastará isso para prevalecer um centelha de humanidade. Afinal, até as plantas mais espinhosas dão doces e saborosos frutos.

O Tono Mota chegou aos 60





O Tono Mota (António dos Santos Mota) chega, neste dia 27 de Setembro, aos 60 aninhos. Nascido a 27 de Setembro de 1962, é assim, em cerca de um mês, um pouco mais velho que eu. 

Não sei quantas crianças nasceram em Guisande neste ou no ano anterior. Seriam 4, 5,  meia-dúzia? Mais ou menos? Admito que o ignoro, mas sei que no ano de 1962, por isso há 60 anos, nasceram em Guisande 33 crianças. Foi frutífero, parece-me. Deu homens e mulheres com vidas de trabalho, seriedade e dignidade. São hoje homens e mulheres de família, com filhos e netos, quiçá bisnetos. 

Uns ainda por cá, outros por terras de fora e ainda umas poucas que a morte já ceifou, de que destaco, pela idade jovem com que partiu, bem como por ser também meu colega de infância e juventude, o Carlos, filho do Zeferino Gomes, também já falecido, e da D. Fernanda. Que Deus o tenha na sua companhia!

Dessa trintena de gente nascida em 62, julgo saber o nome de vários: O António Mota, de quem agora recordo a propósito do seu aniversário, a Paula Lopes, o Mário Joaquim, a Maria Albertina, a Maria da Conceição (do Alcides de Jesus), o Joaquim (da Guilhermina), a Maria Fernanda, o Carlos (do Teixeira), o José Carlos (da Pereirada), a Maria da Anunciação, a Laura (falecida), a Maria Albertina (da Eva), o Leonel (do Menina), a Maria de Fátima (da Natália), o Carlos Alberto (meu primo), o Carlos Alberto (do Zeferino) (falecido), que atrás referi, o Eduardo (da Palmira), o António Fernando (do Cartel), a Maria Jacinta, da Leira, e outros mais. Portanto, mesmo não sabendo o dia e mês de aniversário da maior parte deles, alguns já fizeram e outros a fazer os tais 60 anos, de algum modo, para além de um número redondo, cheio de significado. 

Seja como for, o Tono do Mota, ou o Mota, como o chamo, tenho-o como um dos melhores amigos dos bons velhos tempos, desde a escola primária, Ciclo Preparatório, em Lobão, pelos tempos de juventude, confidências e conquistas de namoricos e depois os tempos da tropa, ele no Exército, na especialidade de Comandos, orgulhosamente com a sua boina vermelha, e eu na Marinha, com o meu panamá branco.

É certo que depois de ambos casados (e fui ao seu casamento, num dia frio de Inverno, na freguesia de Louredo), as nossas vidas naturalmente tornaram-se outras, já não com a liberdade desenfreada de solteiros e tempos de copos e farras, mas fazendo então pela vida,  construindo casa e criando filhos. Apesar disso, até pela proximidade dos nossos ninhos, fomos sempre "tropeçando" um no outro, ora no café,  no trabalho, ao final de uma missa, ou mesmo numa qualquer festa, pondo então a conversa e o rumo da vida mais ou menos em dia.

O Mota foi sempre um tipo certinho, menos dado a brincadeiras e tropelias como, por comparação, com as do Beto Jorge, outro amigo comum dos bons velhos tempos. Mas se não tão expansivo e brincalhão como o filho do Albertino, seguramente mais assertivo, sempre leal nas pequenas e grandes coisas, no tempo em que partilhamos muito das nossas saídas em solteiros. De resto muitas vezes ia-mos à boleia um do outro, nas nossas motorizadas, na minha Fórmula 1 EFS-Sachs e na dele, uma V5 Sachs. 

Temos, por isso, mesmo que já enevoadas pela neblina do tempo, muitas aventuras e histórias em comum, correndo e galgando tudo quanto era sítio, festas e desfolhadas, na cata de raparigas namoradeiras. E quando algum de nós se prendia, mesmo que por dois ou três domingos, era simultaneamente um nó na garganta, porque depois do almoço, de um café e um "pneu" (águas castelo com uma rodela de limão) no café do Américo, acabada na RTP a corrida de Fórmula 1, quase sempre ganha pelo Nelson Piquet, Alan Prost ou Nikki Lauda, lá ía-mos os dois, já não juntos a partilhar a motorizada, mas separados, cada um por si. 

É claro que nisto de procurar a rapariga certa para a vida era uma espécie de jogo de aprendizagem por tentantiva e erro, e assim depois de dois, três ou quatro domingos a dar conversa, lá ficávamos novamente solteiros e de novo juntos nas saídas. Mas algum dia tinha que ser e o Mota, bem dentro do seu estilo de certinho, pouco depois de terminar a tropa, procurou assentar e arranjou uma valente mulher para a vida, ali bem perto de casa, na vizinha freguesia de Louredo. Lá me deixou, o Mota,  sozinho nas saídas domingueiras, mas nesta coisa de colegas de solteiro é como a partida das andorinhas depois do Verão e sentidos os primeiros frescos de Outono, uma a uma vão partindo todas.

Assim, poucos anos depois também lá deixei a solteirice e, seguindo o exemplo do Mota, fiquei igualmente por perto, até mesmo na mesma terra. Coisas.

Como disse, o Mota casou bem,  fez casa, criou e educou bons filhos e tem estado por ali bem perto da igreja de Louredo, quase a meio caminho da sua casa natal, no lugar do  Reguengo, que parte dela herdou dos pais, o Sr. Celestino e a Sr.a Isabel. 

Teve sociedade na área da construção civil com o seu irmão Manel que já depois deste abraçar a reforma, tem estado a trabalhar por sua conta e risco, sempre com muito trabalho e competência, mas sem canseiras exageradas, destas que por vezes e como certas corridas, nos levam à tentação de dar passos maiores que as pernas, tropeçando. Para quê empreender  muralhas se podemos fazer muros? O Mota foi e é assim, de passos curtos mas certos.

Apesar da sua discrição, tem integrado a vida da comunidade de Louredo, fazendo parte, desde há anos, do seu excelente grupo coral. Quem diria? Um pedreiro a arrancar salmos, hossanas e aleluias? É assim mesmo! Afinal, comigo e com outros, como o Rui Giro, o Orlando, o Maximino Gonçalves, etc, fez parte do grupo de alunos da primeira escola de música de Guisande, ali pelo início dos anos 1980, no Salão Paroquial. De resto, como nas parábolas cristãs, todos temos alguns talentos e, por poucos que sejam, importa que os façamos render e apresentar boas contas a quem no-los confiou. 

Não quero nem importa dar rasgados e exagerados elogios ao Mota, nomeadamente enfeitar o ramalhete com flores que ele não tem no seu jardim, mas tão somente  enaltecer a sua simplicidade, o bom carácter, a amizade e a lealdade, e dizer-lhe, publicamente, que tenho-o como amigo e um dos melhores dos meus bons velhos tempos. 

Não sei se me tem em igual conta, mas quero acreditar que sim, e por isso, porque quase a par nesta coisa do caminhar pelos degraus da escada da vida, em que nunca sabemos quando terminará, vamos continuando a subir, ou, como me parece ao chegar aos 60, a descer, mas que seja, até quando Deus quiser. Importa é descer de passo firme, sem nunca escorregar.

Bom aniversário, Mota, e que venham muitos mais e bons e que eu os conte!

26 de setembro de 2022

Ao longe, o mar

Aqui e agora, no tempo pleno e no espaço,

Doce e macio, qual fruto a cair de maduro,

Não sei o que pense, não sei o que diga

Que de substancial possa pensar ou dizer.


Sinto-me de cima abaixo envolto em cansaço,

Como peregrino amassado num caminho duro,

Como trovador com a boca seca, sem cantiga,

Como criatura vivida já pronta a morrer.


Mas será essa a natureza dos seres,

Uma contemplação de coisa perdida,

Quando, afinal, enquanto puderes,

Há ainda caminho, há ainda mais vida?


Pois bem! É levantar, então a fronte,

Na serenidade plana de um rio avançar,

Porque a vida começa, ténue, na fonte

E só se cumprirá no encontro do mar.

25 de setembro de 2022

Sublimação


Sou uma rocha de musgo vestida,

Incrustada em seio de montanha

Sob a asa sombria de um carvalho,

Num longo, perene, dia de Verão.


Sou solidez inerte, mas com vida,

Impossibilidade da física, façanha.

Sou pequeno, ínfimo, pouco valho,

Num desvanecimento em sublimação.


Não mais que gás, molécula em deriva,

Poeira cósmica presa à gravidade,

Sou só pedra amorfa, orgânica, viva,

Cidadão da terra, pó, humanidade.


A. Almeida


"Sublimação" é um poema que nos leva a uma reflexão sobre a existência humana e sua relação com a natureza e o universo. Através de sua linguagem poética, o autor utiliza metáforas e imagens fortes para expressar a dualidade da vida e a transitoriedade da condição humana.

O poema é composto por três estrofes de quatro versos cada com um esquema de rima ABCD, ABCD, EFEF. Mesmo sem uma métrica perfeita e clássica, apresenta um ritmo fluente da leitura, tornando a poesia agradável de ler em voz alta.

A primeira estrofe apresenta uma imagem poderosa da rocha de musgo, retratando-a como uma parte integrante da montanha e protegida pela sombra de um carvalho em um longo dia de verão. Essa descrição da rocha ressalta a ideia de estabilidade e permanência, reforçando a noção de solidez.

A segunda estrofe traz uma reviravolta no discurso, em que o eu lírico se percebe como uma "solidez inerte, mas com vida". A poesia explora uma aparente contradição entre a inércia da rocha e a presença de vida, abrindo espaço para uma reflexão sobre a complexidade da existência humana. O uso da palavra "façanha" sugere que a coexistência desses elementos aparentemente opostos é uma conquista notável.

Na terceira estrofe, o eu lírico se apresenta como alguém de pouco valor, contrastando com a grandiosidade da natureza que o rodeia. Essa sensação de pequenez pode estar relacionada à busca por significado na vida ou ao sentimento de insignificância perante o universo vasto.

A quarta estrofe traz a ideia de sublimação, que é a transição direta de uma substância do estado sólido para o estado gasoso, sem passar pelo estado líquido. Essa metáfora pode representar a transformação do eu lírico em algo maior e mais abstrato, uma transcendência da condição humana.

A poesia é rica em metáforas e imagens, criando uma atmosfera simbólica e contemplativa. O uso da natureza como pano de fundo para as reflexões do eu lírico reforça a conexão entre o homem e o ambiente em que vive. A rocha, o carvalho, a montanha e o dia de verão representam a imutabilidade e o ciclo da vida natural, enquanto o eu lírico tenta compreender sua própria existência diante dessa grandiosidade.

A dualidade presente no poema (solidez e vida, gás e poeira cósmica) reflete a complexidade da condição humana, que é, ao mesmo tempo, finita e efêmera, mas também intrinsecamente conectada ao universo e à natureza. A sublimação, apresentada no último verso, sugere a possibilidade de transcender a forma física e material para algo mais etéreo, destacando a busca por significado e sentido na existência humana.

Em suma, "Sublimação" é uma poesia que convida o leitor a contemplar a natureza, a transitoriedade da vida e a busca por um propósito maior. Através de metáforas e imagens vívidas, o poema desperta reflexões sobre a dualidade humana e a relação entre o homem e o cosmos.

A.Almeida

24 de setembro de 2022

O regador mágico


Os mais novos, e por conseguinte a maioria dos que andam pelas redes sociais, não se lembram de todo, mas em meados dos anos 1970 passava na televisão uma série de humor inglesa, "O regador mágico", do original "Pardon my genie". Grosso modo era um regador que, tal como na lâmpada mágica do Aladino, continha um génio que de lá saía quando era esfregado e concedia o habitual desejo ao seu dono.

Mas este pequeno regador verde, em plástico, nada tem de mágico. A sua magia reside simplesmente no facto de, mesmo sendo pequeno, ter o tamanho certo para nele caber e brincar um pequeno gato, genial mas não génio dos desejos.

Daqui a umas semanas já lá não caberá e perder-se-á a magia. 

Esta cena faz-me recuar aos tempos de infância em que na casa paterna existia (e existe) uma daquelas aberturas estreitas e baixas, chamadas gateiras, porque feitas precisamente para por elas entrarem os gatos e  assim caçarem os ratos nas lojas (arrecadações) das casas antigas. 

Mas nesses tempos de tenra infância, eu conseguia transpor, ladino como um gato, essa gateira, de fora para dentro e vice-versa.  É claro que hoje já lá não cabe a cabeça, quanto mais os ombros. 

Mas estas coisas, afinal, só ajudam a relembrar que todos nós já fomos pequenos, pequeninos, capazes de entrar e sair por sítios onde só passam gatos.

A vida como ela é, com magia mas sem génios.

23 de setembro de 2022

E não foi o 25 de Abril há meio século?

A imprensa por estes dias noticiou  que  2,3 milhões de portugueses correm risco de pobreza. É um número que, grosso modo, representa 1/4 da população portuguesa. 

50 anos depois de uma esperança de democracia mas igualmente de uma melhoria de vida, certo é que mesmo com a imensa dívida pública, que nos vai mantendo à tona com ares de que vivemos bem, impressiona ainda a dureza destes números e do que representam. 

Numa sociedade de estatísticas, as pessoas são apenas isso, números, e como tal é uma questão de contabilidade, de matemática. 

Importa humanizar os números e as contas mas as esperanças de que tal aconteça são as mesmas de que havemos de viajar ao centro do sol.

Trilhos e comunicação

Das largas dezenas de bons trilhos que com amigos tenho percorrido, uns marcados, outros apenas seguidos por mapa e sentido de navegação, várias vezes reporto às Câmaras Municipais, Juntas e responsáveis por essas rotas, para alguns aspectos sobretudo os ligados à manutenção, segurança e limpeza. E posso dizer que de vários contactos nunca recebi sequer resposta.

Neste sentido fiquei agradado com a rapidez, simpatia e prontidão da Câmara Municipal de Sever do Vouga a responder a um meu contacto em que para além de elogiar a qualidade de alguns dos trilhos nesses município, alertava para algumas questões de segurança bem como questionava sobre outro trilho que pretendo fazer mas do qual tinha ouvido recentes comentários de que estaria a precisar de limpeza e manutenção já que tendo cerca de 1,5 Km em passadiço junto a um rio, havia uma parte que tinha colapsado.

Pois bem, a técnica respondeu rapidamente falou com o presidente da Junta local que mandou gente ao local e de facto constatou que o mesmo estava com problemas de segurança. Que iriam resolver rapidamente pelo que eu deveria adiar a caminhada, ficando de me informar logo que o mesmo estive transitável.

E assim damos connosco a perceber que de facto há ainda muito défice de prontidão e atenção das entidades para com os cidadão, que há muitos trilhos oficiais que depois de implementados são esquecidos e abandonados na sua limpeza e manutenção regulares, mas há ainda gente atenta, simpática e prestável.

Nesta como noutras coisas nem tudo está bem, mas nem tudo está mal. 

Bem haja a Câmara de Sever do Vouga pela boa comunicação, porque dessa forma é chamar pessoas ao município, dar-lhes a conhecer os seus lugares, as suas gentes e património e em contrapartida levando os visitantes a utilizarem os serviços, o comércio e os restaurantes. 

Infelizmente esta atenção e consideração não é de todo a norma nalguns municípios.

20 de setembro de 2022

S. Rafael

Não procuro as notícias mas elas vêm ter comigo. E dizem-me que o futebolista do SL Benfica, Rafa (Rafael Alexandre Fernandes Ferreira da Silva), terá anunciado a sua indisponibilidade para representar a dita selecção nacional de futebol abrasileirada, como quem diz, anunciou a sua retirada.

Independentemente das suas razões, que diz serem pessoais e familiares, devem ser respeitadas. Ganha com isso, naturalmente, o seu clube, já que as participações nas selecções são para os clubes uma constante dor de cabeça e notório prejuizo.

Parece-me também que, pelo seu historial na selecção e a forma como vinha a ser aproveitado, em que nunca foi levado a sério, fez bem. De resto já é moço a roçar os 30 anos, o que para um futebolista é quase velhice.

É claro que alguns arrastam-se por ali ate´aos 40 e se lhes derem lugar, até mesmo aos 50, tapando o caminho a outros craques mais novos.

De resto esta selecção dita nacional, a do Fernando Santos, do Ronaldo e do Jorge Mendes, sempre foi assim, de um certo grupinho, alguns brasileiros e mais uns tantos. E no grupinho não se mexe, mesmo que não joguem nos clubes. Os outros, os mais uns tantos, vão andando por ali para jogar uns minutinhos, a amaciarem o banco e almoçarem juntos com o Ronaldo, o Pepe e o Moutinho.

Portanto, esta decisão legítima do Rafa, vale o que vale, e nem deverá ser encarada como recado para ninguém, mas servirá pelo menos a alguma reflexão, até porque foi anunciada num momento de nítida boa forma e rendimento e na véspera de jogos da selecção para os quais tinha sido convocado.

Posto isto, mesmo que esta seja uma notícia banal, parece que tem incendiado as redes sociais e a coisa é levada à discussão num contexto de clubite com interpretações próprias, leituras e recados. Uns louvam a atitude, outros acham que não faz falta, outros consideram que foi uma decisão nojenta, outros ainda alvitram que foi um opção cobarde, como se o representar uma selecção, que é tudo menos nacional, seja um desígnio sagrado ou dever patriótico. 

Um exagero. Afinal foi apenas um jogador que tomou uma decisão de carreira. Nada mais!

19 de setembro de 2022

Raridades


Não sou muito, ou até mesmo nada, de realitys shows na televisão. Mas de quando em vez vejo com agrado o documentário observacional que passa no canal Odisseia, "Uma quinta, 9 filhos e 1000 ovelhas", no original "Our Yorkshire Farm".

A série acompanhou durante 5 anos o dia-a-dia de uma família proprietária de uma quinta (Ravenseat) com um enorme rebanho de ovelhas, localizada nas típicas chanercas inglesas na região de Yorkshire.

Para além da já por si interessante história da família, em que Amanda Owen, aos 19 anos deixa uma vida tranquila e confortável de modelo, na cidade, e decide como opção de vida dedicar-se a ser pastora e com ligação à terra. 

Com 21 conheceu e casou em 2000 com Clive, um criador de ovelhas, com 42 anos. De lá para cá a família cresceu e tem 9 filhos, a mais velha a entrar na universidade em Biomedicina e a a mais nova de tenra idade. A acrescentar aos 9 filhos com Amanda, Clive tem mais dois, da sua primeira esposa.

Para além de tudo, do género televisivo, da sua exposição pública, que lhes confere  inconvenientes mas também mediatismo e popularidade e dela receita e proventos, desde logo em venda de produtos da quinta, livros publicados e outros artigos de marketings, etc, percebe-se que ali há  de facto uma família concreta no conceito clássico do termo.  Mas simultaneamnete uma família normal sujeita a diferentes momentos e tensões.

Diferentes idades, entreajuda, com os mais velhos a olharem pelos mais novos, momentos de brincadeira e contacto com a natureza, com a terra e os animais, a aprendizagem, o enfrentar das realidades e o ultrapassar dificuldades, sempre com o trabalho como base. Em suma, a conquista da autonomia, da independência na vida tal qual ela é, o que é raro nos dias que correm.

A par disso, naturalmente que com todas as exigências educativas. Os filhos do casal frequentam a escola, mesmo que percorrendo longas distâncias diariamente por estradas sinuosas e estreitas até à cidade mais próxima.

Vê-se que o dia-a-dia é duro, trabalhoso, incerto e inconstante como todos os trabalho ou actividades relacionadas à agricultura e pecuária, tanto mais naquela região, muito sujeita à inconstância e particularidades do tempo, habitualmente chuvoso, frio e nevoso no Inverno.

Mas de tudo, ressalta a naturalidade como aquelas crianças se relacionam em família, aos pais e irmãos, à quinta, à terra, à natureza e aos animais. Sem descontrolo, sem excessiva protecção. A valorização do trabalho na ajuda aos pais. Um bom testemunho como crescem e se educam mulheres e homens a sério capazes de cedo serem autónomos e determinados.

Nada de excessivos confortos, mimos e proteccioniso, que vai sendo norma na nossa moderna sociedade.

Esta família, por todos os aspectos inerentes ao mediatismo e escrutínio a que está sujeita, naturalmente que está condicionada nos diferentes momentos do dia-a-dia, mas quem assiste com regularidade, percebe que apesar disso há ali uma autenticidade, que já deixou de ser norma. 

Entretanto, como nada é perfeito, e que só reforça alguma normalidade, foi noticiado em Junho passado que o casal Amanda e Clive se separaram, mantendo no entanto, como prioridade, a educação dos 9 filhos e mesmo a trabalharem juntos na Quinta Ravenseat. Não sabemos, obviamente, os motivos do divórcio, mas não será dispiciendo supor que a exposição pública terá contribuido para alguma instabilidade e tensão, bem como, não menos importante, a diferença de idades entre ambos (20), que naturalmente não se nota quando mais novos mas que se acentua com a velhice.

Se porventura esta realidade vivida em Ravenseat decorresse em Portugal (e quantas famílias modernas, mas ligadas à terra e que vivem do seu trabalho, terão 8 filhos?), dou comigo a questionar se aquelas crianças não seriam retiradas institucionalmente aos pais e estes acusados de incapacidade, desleixo ou de exploração infantil? Sim, porque em Portugal somos o topo, um paíz civilizado, na linha da frente educacional, em que às crianças nada falta, nada se recusa, nada se priva, excepto a desresponsabilização, o trabalho e o mexer no estrume e na terra.

É certo que mesmo em Portugal, no país interior ainda muito ligado à terra, até haverá exemplos semelhantes, em que as crianças também são inseridas cedo na realidade da vida e do trabalho, mas regra geral num contexto de pobreza e raramente como opção por um modo de vida mais terra-a-terra, mais natural, mais primordial, se quisermos.

Digo isto com a naturalidade de quem aos 5 anos já guardava gado e ajudava nas lides da casa e do campo. 

Mas nesse tempo não havia o canal Odisseia. O dia-a-dia já era, em si, uma odisseia.

Mas, voltando aos tempos actuais, modernos, não deixa de ser interessante que o que devia ser a coisa mais natural do mundo, seja, afinal, uma raridade, uma excentricidade, digna de passar na televisão, tornando-se popular aos olhos de milhões de pessoas que seguem a série documental..

Assembleia Municipal - Desagregação

O assunto da proposta da desagregação da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, depois de aprovada em sede de Assembleia de Freguesia, vai a votação na Assembleia Municipal, que terá lugar no próximo dia 23 de Setembro, pelas 20:30 horas no Europarque - Santa Maria da Feira.

É um dos passos necessários para que a proposta possa chegar à Assembleia da República onde sairá a decisão final quanto à concretização, ou não, da desagregação, conforme vontade das populações de Gião, Louredo e Guisande.

Náufrago do tempo


Eis-me aqui, todo em pleno mar,

Sem farol a guiar a porto seguro,

Sem barco, sem âncora, nem bóia

Em água temerosa.


Fugi, perdi-me para me encontrar,

Mais livre, solitário, mais puro,

Como quem busca tesouro ou  jóia

Mais rica, valiosa.


Talvez nesta imensidão ondulante,

Espelho da negrura da alma e céu,

Eu encontre uma rocha firme, a fé,

Que me resgate desta morte certa.

Serei então um solitário mareante

Digno, sereno, despojado de labéu,

Um novo e renovado homem Crusoé

No reencontro da ilha deserta.


Eis-me aqui, náufrago em verdade

Já com fundada, renovada esperança,

Porque passada a dor, a tempestade, 

Ressurge a doce e vindoura bonança.


Eis-me aqui, vivo, já fora do mar,

Seguro, mesmo que a noite caia,

Porque um homem pode naufragar

Mas dará sempre à sua praia.

16 de setembro de 2022

Gente nossa - O José Almeida está de parabéns!



Porra! Anda um homem a escrever coisas bonitas e sentidas para os de fora e não as há-de escrever sobre alguém da família? 

Mas olhem que não é fácil, porque nestas coisas de enaltecimentos, os famíliares são sempre os mais poupados, não porque esquecidos ou menosprezados, mas um pouco como o pai do filho pródigo no tratamento para com o seu primogénito: - Filho, tu estás sempre comigo, e as minhas coisas são as tuas!

Mas a verdade é que esta parábola é mesmo difícil de mastigar, ao alcance  de poucos na sua aplicação, mas por isso, por quase impossível ao entendimento pelos olhos da nossa frágil humanidade, é que Cristo a contou como exemplo. Mas, retomando, nestas coisas de falar dos outros, estes são os filhos pródigos e os da casa, os filhos mais velhos. Creio estar desculpado ou pelo menos justificado.

Mas, hoje, a propósito do seu aniversário, e nem importa saber quantos, quero dar uma palavrita ao José Almeida, meu primo por parte dos nossos pais, o meu, o António, o dele, o Joaquim.

O José Almeida, o Zé ou o Zé da Glória, está naturalmente mais mole porque com o peso dos anos, os ensinamentos da vida e as artimanhas dos ossos. Mas mesmo que ainda com uns arrebates dos velhos tempos, já não é o que era de impetuoso, e por isso para melhor. Tinha um temperamento de mar do norte, ora calmo e sereno, ora a levantar ondas e tempestades. A bem dizer, fervia em pouca água, mas com a particularidade de apenas quando sentia que estava a ser desrespeitado ou desconsiderado.

Perdoar-me-á, mas só para atestar esta fácil fervura, partilho um episódio testemunhado na primeira pessoa: Houve uma altura em que o acompanhava à lota a Matosinhos onde comprávamos peixe congelado. Ao chegar, no parque de estacionamento estava ali um lugar disponível, mas ele precisava de dar a volta com a sua carrinha e então pediu-me que ficasse a guardar o lugar enquanto manobrava. Assim fiz, mas entretanto chega de rompante um chico-esperto, que mesmo contra a minha indicação de que o meu primo já ali vinha estacionar, ignorou e estacionou. Pois, bem! Ali chegado e posto ao corrente, o meu primo enfrentou o tipo com impropérios, sacou de uma espécie de bacamarte de partir queixadas, que tinha algures na carrinha, e o condutor espertalhão, perante aquela tempestade vulcânica não teve outro remédio senão, com o rabo entre as pernas, esgueirar-se a ir procurar abrigo. É que se não fosse isso, e a propósito do local, ele iria apanhar umas valentes solhas, congeladas, porque mais duras. Mas felizmente, a coisa resolveu-se, senão iria ser ali uma peixeirada. E num instante o Zé já estava outra vez envolto em bonança, calmo, sereno, a encher a carrinha de peixinho do mar do norte.

Mas apesar desta sua característica, o Zé é uma pessoa com uma enorme bondade e disponível para ajudar. É certo que esse seu temperamento por vezes dificulta as coisas, para ele e para quem com ele convive, mas, porra, quando um homem se sente com razão, não há força que o cale! Fosse a jogar uma sueca, a ver ou ouvir um jogo do seu Porto, convinha não agitar as águas com o Zé.

O José tem uma vida pacata e certinha, que vive ao lado da sua Adelaide de sempre, boa e fiel companheira, mesmo a aturá-lo na fervura. Bom marido, bom pai, e bom avô. Criou filhos e já com netos, e creio que bisnetos. Casou cedo, porque apesar de viver numa família onde nada faltava, tinha uma educação austera e por esses tempos as mãos maternas, porque calejadas, eram pesadas. Assim casou novo e e a lua-de-mel não tinha aquecido e já marchava para o serviço militar em África. Depois emigrou para França, regressou, trabalhou na Câmara Municipal da Feira e, finalmente, na merecida reforma, já há uns anos.

Mesmo com esse seu tal feitio que não é defeito, foi sempre participante da vida comunitária, exercendo, e bem, a sua quota parte de cidadania. Integrou corpos directivos do Guisande F.C., fez parte da política, do associativismo, até do Grupo Coral, e desde há alguns anos que é ministro da Comunhão cá na paróquia. Não se pode exigir mais. Há quem, literalmente, nunca tenha mexido uma palheira pela terra e pela comunidade.

Por tudo isso, e bastaria o ser gente, tanto mais boa gente porque familiar, faço votos de um feliz aniversário e que por cá ande muitos mais, mesmo que de vez em quando chateado com os ossos. É a vida!

Parabéns, primote, e desculpa qualquer coisinha por te expor assim publicamente!


Nota de falecimento

 


Faleceu no final do mês de Agosto (dia 30), Maria da Conceição Gomes de Almeida, viúva de Manuel José da Silva, com habitação em Cimo de Vila - Guisande,  mas que vivia há vários anos na África do Sul, junto de familiares.

Para quem não reconhece pelo nome, diremos que é irmã da Sr.ª Aida Gomes de Almeida, que vive em Fornos, e dos falecidos Sr. Alberto Gomes de Almeida, Sr. Higino Gomes de Almeida e Sr.ª Bernardina Gomes de Almeida..

As cerimónias fúnebres serão realizadas hoje, Sexta-Feira, 16 de Setembro, em Guisande, pelas 15:30 horas, com chegada do corpo pelas 14:00 horas.

No final vai a sepultar no cemitério local em jazigo de família.

Missa de 7.º dia amanhã, Sábado, 17 de Setembro, pelas 17:30 horas, também na igreja matriz de Guisande.

Sentidos sentimentos a todos os familiares!

Paz à sua alma!

Que Deus a tenha em eterno descanso!

15 de setembro de 2022

Efemeridade

Ainda ontem, durante a minha corrida, cruzei-me duas vezes com ele, um gato estilo siamês, ali entre a rotunda da Farrapa e a Rua das Fogaceiras (Urbanização de Linhares). Na parte inicial, fugiu assustado à minha frente, subindo com agilidade ao mato, mesmo entre tojo e silvas. Passado algum tempo, no regresso, 10 Km depois, já na berma, com ares de assustado, mas manteve-se calmo e parado enquanto eu passava ofegante. Percebeu que a minha corrida não era de perseguição mas a de um tolo qualquer a cansar o corpo.

Era, pois, um gato que por ali andava. De resto já o tinha visto dias antes.

Hoje, novamente no regresso da corrida, dei com ele nas piores circunstâncias, já na valeta, defunto por uma forte pancada certamente de automóvel. O chão ainda ensanguentado. Teria sido durante o dia de hoje.

Um pouco antes, tinha ouvido o sino de Guisande a gemer a finados. Não foi pelo gato, pois não, mas poderia ter sido. 

Rais´parta a vida como ela é!  Uma feliz criatura num dia, vivaço e livre, e no dia seguinte uma amálgama de nada, inerte, sem vida. 

Estragou-me o dia. Não o gato, mas o seu triste fim. Ainda tinha muita gatice pela frente, mas o destino ou o raio de gente apressada a conduzir que, mesmo podendo, nem se desvia, encurtaram-lhe a vida, ali, bem perto do território que marcara como seu.

Acredito que os animais também têm alma. Se não a têm, têm a que lhe damos.

Paz à sua alma!

Romaria de Santa Eufêmia





15 de Setembro, o dia grande da festa em honra de Santa Eufémia, na freguesia de S. Pedro do Paraíso, concelho de Castelo de Paiva. 

É sempre no próprio dia, seja à semana ou ao fim-de-semana, faça sol ou chova a potes.

Para quem não conhece, desengane-se se está à espera que a capela fique situada no corucho de um monte altaneiro, como o S. Domingos, Santo Adrião, Senhora da Mó ou S. Marcos. Na verdade fica ali numa quase cova, uns metros abaixo da estrada municipal que liga os lugares da Cruz Carreira ao Pejão. 

Também perca as esperanças quem está levado em crer que o local é muito povoado e concorrido em qualquer dia do ano, como se fora Espinho, Miramar ou Ribeiras de Porto e Gaia. Na verdade, tirando estes dois ou três dias, conforme se aproxima do fim-de-semana, no resto do ano é ali um sossego quase sepulcral,  e nem mesmo o parque, repleto de sombras de frondosas tílias e carvalhos, dado a convívio e piqueniques, recebe gente forasteira em número que quebre o sossego daquela gente.

Mas, verdade se diga, chegados o 14 e 15 de Setembro, a coisa enche a transbordar como uma presa de abundantes águas e nascentes de bifes tão tenros quanto enormes.

Não sou de tradições ferrenhas, mas a verdade é que ali vou com regularidade e devoção há pelo menos 30 anos. E tempos houve em que ia de véspera e no próprio dia.

É esta festa, uma das romarias mais populares da nossa região e que ainda mantém muitas das características antigas. Já não se esventra ali gado, como noutros tempos, é certo, e mesmo os merendeiros já não são tantos, mas há ali ainda muita devoção e popularidade com santidades diferentes mas genuínas.

Pelas características do lugar e dos acessos, não é propício a invasões e instalações de divertimentos infernais e roulotes modernaças com som e luzes, e talvez por isso a coisa ainda esteja um pouco salvaguardada dessa voracidade que caracteriza muitas das nossas festas.

Também, talvez por isso, não é propriamente uma festa de juventude e às tantas, avaliando as caras à nossa volta, já parece mais um encontro nacional de reformados. Mas ainda bem. Para isso os festivais de Verão são mais que as moscas em vacaria e a malta nova no geral prefere cocas colas a canecas de vinho verde e cachorros a bifes à Santa Eufémia. E ali não caberia um palco maior do que a capela.

Ademais, tudo tem o seu tempo, lugar e oportunidade.

Seja como for, cumprida está a tradição e a devoção. Mas até Domingo há tempo e lugar para outras visitas e outros visitantes. Por ora, depois da missa solene, vão animando a tarde a quase bi-secular Banda de Musical de Arouca e a Banda da Associação Cultural e Musical de Avintes.

Quanto a Santa Eufêmia, que se diz protectora sobretudo de quem tem males de pele, era descendente de uma família nobre da Calcedónia, cidade próxima de Bizâncio, actual Istambul na Turquia, por preservar na sua fé a Cristo, foi mártir aos 15 anos, em 304 DC, morta por enormes leões numa cena de martírio no tempo das grandes perseguições aos cristãos, pelo imperador romano Diocleciano.

O seu corpo foi recolhido pelos cristãos e depositado numa pequena igreja. Mais tarde, em 620 DC a cidade foi alvo das invasões pelos persas pelo que o corpo da jovem mártir foi deslocado para outro local e guardado numa nova igreja mandada edificar para o efeito pelo imperador Constantino. Posteriormente, já com o imperador Nicéforo, voltaram as ameaças aos cristãos ao seu culto e símbolos pelo que com medo, os devotos de Santa Eufémia voltaram a fazer nova mudança do corpo para lugar incerto. 

Depois disso, reza a lenda que a seguir a uma noite de violenta tempestade o sarcófago com a mártir desapareceu e em Julho do ano 800 acabou por dar á costa  do mar Adriático, junto a Rovinj, na Croácia. Os locais abriram o sarcófago e nele observaram o corpo de uma bonita rapariga, vestindo um luxuoso vestido e junto dela, um pergaminho com a inscrição HOC EST CORPUS EUFEMIAE SANCTAE... (este é o corpo de Santa Eufémia, virgem e mártir da Calcedónia, filha de um nobre senador, nascida para o céu em Setembro 16, ano 304 AD...).

Os habitantes locais tentaram retirar das águas o sarcófago mas apesar dos esforços, a tarefa estranhamente parecia impossível e acabou por ser um rapazinho guiando uma parelha de bezerros quem o retirou facilmente e então foi depositado na igreja local, onde na actualidade na sua bela catedral se venera o corpo intacto da santa e mártir a qual atrai anualmente milhares de peregrinos e turistas.

14 de setembro de 2022

Selvajaria

O que aconteceu por estes dias com o rapazito no estádio de futebol do F.C. Famalicão, é do pior que pode haver no futebol. Era adepto do Benfica, e que do Porto, Sporting, Arouca ou Feirense fosse.

Mas, estranhamente, há uma sensação de que isto não tem nada de surpreendente porque as tribos do futebol andam há muito extremadas. As claques andam desvirtuadas e são, regra geral, grupos de arruaceiros, sem respeito por eles próprios quanto mais pelos adversários. Pior do que isso, encobertos e apoiados pelos clubes, dos vermelhos aos azuis passando pelos pretos, verdes e amarelos.

Talvez por isso cada vez mais me interessa menos o futebol e, felizmente,  já dou comigo sem saber a que horas e com quem joga o meu clube. Vâo à bardamerda!

No dia em que nas bancadas não houver lugares distintos para grupos e grupinhos, onde cada um, do mais novo ao mais velho, se puder sentar de forma misturada com os seus e com os outros, sem que sejam discriminados e ofendidos, talvez esteja dado um salto civilizacional. 

Até lá tudo não passa de uma estrumeira, onde o conceito do desporto e do desportivismo é vilipendiado e com gente a contribuir risonhamente para isso.

Mas é esperar sentado. Volta e meia surgem estes casos, há indignação por se ver um rapazito obrigado por gandulas a despir a camisola do seu clube, ou por uma companheira de um conhecido macaco ofender no espaço público uma adepta de outro clube, porque vestida com cores diferentes, mas depois de algumas posições politicamente correctas, o estado normal volta à normalidade.

Já dizia Miguel Torga, aquando da sua passagem pela universidade de Coimbra, a propósito de selvajaria, "não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada".

E mais um...

Mais um acidente na produtiva rotunda da Cruz de Ferro. Já perdi a conta. 20? 30? Mais?

Felizmente, sem danos físicos.

Siga! As oficinas agradecem!

Quem riscou e sobretudo quem aprovou esta ratoeira, dormem tranquilos.

A rotunda tal como está realizada proporciona o acidente porque na realidade quem circula de norte para sul pode fazê-lo a 120 Km por hora, porque não tem qualquer obstáculo.

Quem surge do lado direito vindo da Teixugueira, mesmo que parando e entrando com cautela, não tem hipótese com alguém que lhe surge acima da velocidade regulamentar. 

No meu humilde entendimento, e já falei nisso, bastaria que o troço de norte para sul inflectisse para o centro da rotunda, obrigando à redução da velocidade. 

Em resumo, sem ilibar quem entre do lado da Teixugueira, na maior parte dos acidentes neste local, moralmente são da responsabilidade de quem vem de norte a alta velocidade. Claro que as seguradores e os tribunais não julgam moralismos.

Siga!

Sede

Há sedes assim, intensas, interiores,

Que deixam à míngua as raízes das emoções,

Em que não há agua que baste à secura.

Quem dera que o coração plantado a flores

Vivesse em eterna primavera, sem verões,

Com rega abundante da água mais pura.


Talvez no amor se encontre a fonte,

A frescura orvalhada de um vale,

Uma boca seca que um beijo pede.

Talvez um conto que alguém nos conte,

Num adormecimento sereno, sem mal

Para um despertar doce, sem sede.

Esperança

Eis-me aqui, só, neste todo,

No meio de um imenso mar,

Nem sei se de água, ou lodo.

Esperneio, bracejo, em vão,

Sem fundo firme onde ancorar

O medo de afogar na ilusão.


Eis-me aqui, despido, no nada,

Como parido do ventre materno

Sem berço, sem sombra de fada.

Mesmo assim, nesta nudez vazia,

Há um céu para além do inferno

Uma estrela que ilumina e guia.


Não fora isso, essa fundada esperança,

Quem valeria ao homem perdido nas vagas,

Como mãe de braços vazios, sem criança,

Arrebatada por tempestades malvadas?

13 de setembro de 2022

Figura pública é outro campeonato


O Hélder Reis, da RTP, parece-me um bom profissional e acredito que o reconhecimento por parte do município ovarense faça algum sentido.

Mas, mesmo no uso da sua modéstia, tem razão quando à pergunta sobre o seu merecimento, respondeu que "...não, porque há tanta gente a fazer mais pela terra".

Mas todos sabemos que as Câmaras Municipais de um modo geral são óptimas a reconhecer e a lisonjear as figuras públicas, com alguma fama, em detrimento de tanta e boa gente que de uma ou outra forma se dedica ao concelho e às suas freguesias, às suas associações, movimentos cívicos e culturais. 

Essas pessoas, anónimas, continuarão anónimas e sem reconhecimentos ou medalhas de mérito, porque o mediatismo vive destas coisas, porque dá mais voz, e tempo de antena, não tanto às figuras públicas homenageadas, porque não precisariam dessa exposição suplementar, mas sobretudo a quem as promove. O pessoal das Câmaras gostam de se fazer fotografar junto de quem é mediático.

Hélder Reis, para além do seu mérito pessoal, como bom profissional, teve o mérito de ser figura pública. Bastou-lhe isso!

Selvajaria

O que aconteceu com o rapazito no estádio de futebol do F.C. Famalicão, independentemente das razões de cada parte, é do pior que pode haver no futebol. Era adepto do Benfica, e que do Porto, Sporting, Arouca ou Feirense fosse. Até admito que o pai da criança tenha forçado a situação e também ele acicatador do que aconteceu.

Mas, estranhamente, há uma sensação de que isto não tem nada de surpreendente porque as tribos do futebol andam há muito extremadas. As claques andam desvirtuadas e são, regra geral, grupos de arruaceiros, sem respeito por eles próprios quanto mais pelos adversários. Pior do que isso, encobertos e apoiados pelos clubes, dos vermelhos aos azuis passando pelos pretos, verdes e amarelos.

Talvez por isso cada vez mais me interessa menos o futebol e, felizmente,  já dou comigo sem saber a que horas e com quem joga o meu clube. Vâo à bardamerda!

No dia em que nas bancadas não houver lugares distintos para grupos e grupinhos, onde cada um, do mais novo ao mais velho, se puder sentar de forma misturada com os seus e com os outros, sem que sejam discriminados e ofendidos, talvez esteja dado um salto civilizacional. 

Até lá tudo não passa de uma estrumeira, onde o conceito do desporto e do desportivismo é vilipendiado e com gente a contribuir risonhamente para isso.

Mas é esperar sentado. Volta e meia surgem estes casos, há indignação por se ver um rapazito obrigado por gandulas a despir a camisola do seu clube, ou por uma companheira de um conhecido macaco ofender no espaço público uma adepta de outro clube, porque vestida com cores diferentes, mas depois de algumas posições politicamente correctas, o estado normal volta à normalidade.

Já dizia Miguel Torga, aquando da sua passagem pela universidade de Coimbra, a propósito de selvajaria, "não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada".

12 de setembro de 2022

Pe. Alexandre Moreira - Pároco de Sandim, Lobão e Vila Maior

 


Tomou já posse das paróquias de Santa Maria de Sandim, S. Tiago de Lobão e S. Mamede de Vila Maior, o jovem Pe. Alexandre Manuel Teixeira Moreira, que havia sido nomeado pelo Bispo do Porto.

O novo pároco  tem 26 anos e é natural da freguesia de Cabeça Santa, município de Penafiel. Estudou no Seminário Maior da Diocese do Porto. Foi ordenado em 10 de Julho deste ano de 2022.

A sua missão não é fácil pois são três paróquias, duas delas bastante populosas, mas certamente que a sua juventude o ajudará a levar a bom porto as suas funções.

Votos de bom trabalho pastoral e que as respectivas comunidades saibam ser merecedoras do privilégio de receberem um jovem sacerdote. Por sua vez que o padre saiba compreender as necessidades das paróquias, no respeito e valorização das suas melhores tradições e práticas, e que saiba ser pastor interessado a reunir as ovelhas e não factor de as dispersar. Que o Senhor o ajude!

À pergunta do serviço de média da Diocese, do que é para si ser padre na actualidade, o jovem sacerdote respondeu:

Servir a Igreja no ministério ordenado, nos dias correntes, passará por ser testemunho fiel e oblativo de um amor que se faz tudo para todos, de um amor que brota de um enamoramento primeiro e de um crescimento fecundo que encontra em Cristo Jesus a sua verdadeira e absoluta expressão. A alegria de ser padre manifestar-se-á seguramente por viver a vida com o olhar atento aos sinais dos tempos, sempre numa dinâmica de discernimento pessoal e comunitário e, a partir daí, em ter a ousadia de ser farol e guia, ministro e profeta, pastor e servo de comunhão. Sinodalmente, a vivência presbiteral pautar-se-á mais pela escuta que pela palavra, mais pelo discernimento que pela ação, mais pelo ser e estar que pelo parecer e ter. Na celebração da fé cristã, caberá ao padre, na pessoa de Cristo, ser sacramento e fermento de unidade do povo de Deus. Nesta Igreja a que pertencemos, em que esperamos e à qual amamos, o padre sente-se sempre chamado a ser um fiel discípulo de Cristo que fala coração ao coração. Dar de graça o que de graça se recebe será sempre o ponto primeiro para viver a vocação ministerial ordenada de uma forma plena, sincera, fiel. Na feliz fidelidade a Cristo, o padre será a certeza de que Deus, por Cristo, habita o coração, a vida, cada um de nós.

[foto: averdade.com]

Lua



A noite era um breu, denso, fechado,

O caminho mal se via.

Subia a lua, linda, astro iluminado,

E logo a luz se acendia.

A caminho de casa, seguia o lavrador,

Com a lua como farol,

E do frio da noite sentia agora um calor,

Porque a lua já era sol.

Aceleras

Há umas semanas atrás, seguia com a patroa numa estrada nacional no centro do país. Pouco depois surgia de trás um grupo de meia dúzia de motards. Rápidamente foram ultrapassando, sempre em desrespeito pelas elementares regras de trânsito. Um deles colocou-se na minha frente e a estrada tinha linha contínua dupla. Em jeito de desafio disse á companheira de viagem: - Vamos ver quanto tempo demora a transgredir. Ainda não tinha acabado a frase e já o motard ultrapassava o veículo à sua frente, "cagando" literalmente nas duas linhas contínuas.

Eu, que até tenho alguns como amigos, sei que nem todos os ditos motards são assim, mas, vá lá, optimistamente, em 10, 8 serão incumpridores reiterados e quando andam em grupos, para não se separarem, se um desrespeita, os outros seguem o exemplo. Se cada episódio de testemunho de desrepeito por parte de motards me rendesse 5 euros, já tinha a reforma assegurada

Ainda ontem, no lugar da Gândara, quando iniciava uma volta de bicicleta, passaram três motards em alta velocidade, que estimei em pelo menos 100 Km hora, numa estrada de localidade em que já ocorreram vários acidentes e, tragicamente, pelo menos um mortal. Ainda há poucos dias ali nesse local ocorreu mais um acidente.

É de facto um absurdo a forma ligeira e irresponsável com que muitos condutores, não só de motos, obviamente, conduzem,  todos armados em pilotos de fórmula 1 e miguéis oliveiras. 

E se há zonas em que parece que o limite é baixo face à qualidade das estradas, há locais em que de facto se justifica, desde logo no interior de povoações.

Posto isto, este número avançado pelo JN parece curto. Se a coisa não vai lá com civismo no cumprimento das regras e bom senso, alguns só mesmo com pesadas multas, pelo que os radares são mais que justificados. Alguns mereciam um radar em cada curva.

Todos nós, uma vez ou outra, temos os nossos incumprimentos e excedemos o peso do pé no acelerador, o que já é mau, mas convenhamos que no geral o desrespeito é grande e reiterado, colocando-se os próprios em risco bem como aos outros, e tantas vezes quem caminha ou circula de forma conscienciosa e respeitadora.

A segurança na estrada não é brincadeira, embora para muitos pareça.

Bizarro


...E o Manuel Pizarro, que nestas coisas do Facebook não me tem como amigo nem eu o tenho como tal, aparece-me por cá, na minha página pessoal, descontraído, sorridente, com ar de quem foi meu colega da primária ou meu companheiro da comunhão solene.

Ainda por cima ao lado de uma pilha de livros que diz ter comprado na Feira deles, em Lisboa.

Bem sei que que o Dr. Pizarro é doutor, embora, em boa verdade, o ditado diga que um burro carregado de livros também o é.

Longe de mim dizer que o novo ministro da nossa Saúde é burro. De resto não o conheço tanto assim, para além de o ouvir ser falado como crónico interveniente nas lutas pela presidência da Câmara Municipal do Porto.

De resto deve ser uma figura inteligente e sobretudo destemida, para aceitar substituir a Temido.

A talhe de foice, não tenho, como alguns, uma opinião maternalista do que fez ou deixou de fazer a D.ra Marta, e fizesse o que fizesse, fê-lo no dever do ofício e foi paga a propósito. Para além de aguentar com a onda da pandemia, o que não foi pouco, de concreto, pela Saúde, pelas suas reformas e estruturação, pouco ou nada fez, e deixa um SNS como um barquito de papel a afundar-se. Os políticos, por mais competentes e sérios que sejam (e não são muitos), como a Dr.ª Marta temido, têm sempre este problema, o de serem descortinados não pelas suas competências e méritos, mas pelos olhos inquistórios de quem leva a ideologia para lá do exercício democrático e nela as competências passam a incompetências e as pequenas falhas a erros crassos. D resto, as trincheiras ideológicas têm sido o nosso principal entrave à necessidade das nossas reformas. E vamos continuando entrincheirados. 

Assim sendo, retomando o Dr. Pizarro, desejo bom trabalho ao novo ministro, o que não será fácil com o SNS de pantanas.

Quanto ao essencial, o motivo de me aparecer por cá esta figura, o Facebook é manipulador e sabe usar marionetas e dá-nos este teatro, de borla, como sugestão, diz. 

Obrigado Facebook, mas quanto a seguir políticos e figuras públicas eu gosto de seguir os meus instintos e gostos. Dispenso, pois, sugestões destas. Prefiro o Manel da Esquina e o Zé da Micas aos Drs. Pizarros, aos Ronaldos, aos Gouchas, Cristinas e outros que tais. Todos juntos não valem um Zé da Micas.

Ademais o Dr. Pizarro se levar a sua nova função a sério não terá muito tempo para perder tempo com redes sociais, até porque a assistência é implacável a criticar e a julgar. Que o diga o Taremi, que tem sido crucificado, só porque recorrentemente confunde o azul da piscina com o verde da relva. E isto do futebol, bem vistas as coisas, não passa de lana caprina.

Ora o Dr. Pizarro deve querer aguentar pelo menos até ao fim da legislatura. Depois, quem sabe poderá voltar a tentar a Câmara do Porto e o assalto aos Aliados.

11 de setembro de 2022

Caminho

 Olha, lá em baixo, a curva do caminho!

Desce, tranquilo, sem receio,

angústia ou dor.

Ademais, tens que ser tu, sozinho,

Com orgulho, de peito cheio,

Pleno de amor.


Não há prova, competição, nem meta!

Só o destino conta, afinal, 

Sereno assim.

Caminha sempre, firme, pela certa,

E não haverá dor ou mal,

Somente o fim.





Centro Social - Passeio

Está a decorrer no dia de hoje o passeio convívio promovido pelo Centro Social S. Mamede de Guisande. 

Valença, Monção, Melgaço e Senhora da Peneda são alguns dos locais a visitar pelos guisandenses, incluindo aqueles que são associados do Centro.

Que tudo corra pelo melhor!.

10 de setembro de 2022

Gente nossa - Estudantes

A Inês Bastos está quase médica;  A Beatriz vai-nos ensinar a comer coisas boas e saudáveis (Luís, adeus a queijos, enchidos e fumeiro); 

A Gabriela talvez nos venha ajudar a tratar dos nossos pequenos crimes (porque os grandes, esses passam em claro). Pinto, põe-te a pau!

Assim mesmo. É com estas e com outras, aos vermos os amigos e filhos e filhas destes, e os nossos próprios, a serem homens e mulheres, que damos conta que os 60 já estão ali ao virar da esquina.

Parabéns aos actuais e novos estudantes! Precisamos de vós para nos tratarem da saúde, a do corpo, porque a da alma já não tem remédio.

É continuar e começar para acabar. 3, 4 ou 5 anos é um piscar de olhos.

Boa sorte a quem está e a quem vai começar! Guisande quer e precisa de boa gente e de sangue novo.

9 de setembro de 2022

Trotinetas e Trotitretas

Segundo o Decreto-Lei nº 102-B/2020, em vigor desde o início de 2021, que pretende regulamentar o uso das trotinetas eléctricas, estas enquadram-se na categoria dos velocípedes. 

São veículos com duas ou mais rodas, cujo motor (se existir) é acionado pelo esforço do próprio condutor. Devem ter uma potência máxima contínua de 0,25 kW, ou seja, não podem exceder a velocidade máxima de 25 km/h.

O Decreto diz ainda que "são proibidos os comportamentos que representam perigo para a circulação, como manobras indevidas. As mãos devem estar sempre no guiador, exceto no caso de assinalar manobras. A condução sob o efeito de álcool também deve ser evitada, e os agentes de autoridade podem requisitar fazer-se um teste de alcoolemia.

Devem circular apenas nas ciclovias, ou pistas mistas. Podem transitar nas vias de trânsito, do lado direito pela direita e sem perturbar o trânsito, mantendo uma distância suficiente dos passeios ou bermas. Os passeios são para evitar - com a exceção das trotinetes sem motor - salvo se o condutor levar a trotinete pela mão, sem a conduzir.

Pode circular paralelamente, mas não em par, até duas trotinetes eléctricas, excepto em casos de fraca visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito. Assim, evitam-se bloqueios ou situações de perigo."

Estas e outras regras expressas pelo dito cujo Decreto, são importantes quando cumpridas, de resto como qualquer lei. Mas no essencial, do que se tem visto é uma anarquia e mesmo situações de abuso e perigo.

Ainda um destes dias, descia eu de bicicleta pela Estrada Nacional 326, de Escariz para Cabeçais, a cerca de 40 Km hora, com o meu capecete e com o meu seguro de responsabilidade civil. Pois bem, de repente fui ultrapassado por um jovem numa trotineta, sem capacete, seguramente a mais de 50 Km hora e de seguida vi-o a ultrapassar um carro quase em zona de curva.

Porventura era uma benção que se esbardalhasse à frente para aprender que aquilo não se faz e é contra todas as regras, incluindo a do bom senso. Felizmente, não! Mas se sim e na ultrapassagem e no acidente provocasse danos a terceiros? Quem seria o responsável e de que modo pagaria?

Mas estas são perguntas difíceis e nem vale a pena perguntar. Asneira minha.

Entretanto, informa-se que em Guisande já é possível usar trotinetas e bicicletas eléctricas. É verdade! Desde que as comprem, claro!

8 de setembro de 2022

Centro Cívico - 8 anos


Parecendo que foi ontem, na realidade foi em Setembro de 2014 que tiveram início as obras de construção do Centro Cívico, com requalificação e aproveitamento do edifício da Escola Primária do Viso. Passam, pois, 8 anos.

Infelizmente, apesar das obras estarem concluídas há bastante tempo, resultando num edifício com capacidades e condições que aos guisandenses deve orgulhar, continua ainda a depender de decisões políticas para funcionar em pleno e prosseguir os seus objectivos. 

Mudanças de governos, mudança de políticos, de políticas e de prioridades, vão fazendo este país funcionar em permanente estado de indecisão, em suspense, e no caso, em incumprimento com palavras e acordos, mas bem sabemos que a palavra tem pouco ou mesmo nenhum valor para os políticos e políticas. 

Louve-se o esforço e dedicação da Direcção, que se aguenta num barco a remar contra mares e marés, mas quando as grandes e fundamentais decisões dependem de políticos e dos seus estados de humor, tudo fica mais difícil. 

A bonança não se antevê.

Há sempre portas a fechar e as chaves gostam de chaveiros.

7 de setembro de 2022

Tudo e nada


Em tudo o que toco, reluz,

O brilho da saudade passada.

Será esta, em bem, a minha cruz:

O ter tudo sem, por mal, ter nada?

A vida em papéis




Quando temos algum tempo livre, mesmo que já no queimar dos últimos cartuchos de uma pausa no trabalho, designado por muitos, de férias, há a tentação de deitar mãos à obra e mexer em velhas papeladas, dando o devido destaque a umas, organizando outras e queimando outras mais. 

Com esta minha velha mania de guardar caixas e embalagens e outros papéis (e ainda bem, porque à conta disso tenho cadernetas de cromos dos anos 70 a valerem 500 e mais euros, e cromos a valerem 5 euros por unidade), às tantas damos de caras com a box do telemóvel Nokia 6600, da máquina fotográfica Sony DSC-P71, do CD da Sapo ADSL, de uma colecção do “Bits & Bytes” – suplemento do Jornal de Notícias, da colecção da revista PC Guia dos anos 90,  revistas dos anos 70, como a Tele Semana e a Crónica Feminina, etc, etc, coisas e tecnologias que ainda há duas ou três dezenas de anos eram a cereja no topo do bolo e que hoje nos parecem as velhas mocas dos homens das cavernas.

As coisas são como são. Nem sempre é saudável mexer no estrume com que plantamos e fizemos crescer as nossas vivências e convivências, mas verdade se diga, tudo o que somos hoje, para o bem e para o mal, somos o fruto dessas árvores.

E posto isto nestes termos, porque guardados, damos de cara com os cadernos diários dos primeiros tempos de escola dos nossos filhos, e dos seus desenhos inocentes, e percebemos que, como num flash, passaram vinte anos, duas décadas. 

E o lugar comum de que "ainda parece que foi ontem" torna-se mesmo realidade.

Ficamos assim atados nesta dicotomia do que é mais certo, se o guardar tudo aquilo que um dia nos vem dar um murro no estômago sobre a saudade do reviver em imagens o tempo passado se, pelo contrário, queimar tudo na primeira oportunidade e com isso fazer das memórias e testemunhos apenas cinza que o vento leva.

Tem que se lhe diga. E se há gente que queima os vestígios do seu passado sem o mínimo de esmorecimento, já outros, como eu, teimam em guardar tudo o que um dia nos possa abrir a janela do passado, mesmo que isso nos possa fazer chorar. Se de dor ou de saudade, ou de vergonha, isso pouco importa.

Mas, verdade se diga, com tanto já vivido e incerto quanto ao que virá,  pouco importa mudar agora a agulha como num velho gira-discos. O sulco já é demasiado profundo.

O buxo e o luxo

 


Hoje em dia, em qualquer cemitério, mesmo no de Guisande,  impera o luxo e a ostentação. Cada vez os jazigos são mais polidos, com decorações e inscrições feitas, não pela mão do artista e do seu cinzel, mas por máquinas comandadas por computadores, com sistemas de laser e outras tecnologias. Arte sem arte.

Mas são sinais dos tempos e, sem julgamentos, nem sempre a ostentação corresponde à memória serena e sentida dos nossos entes queridos. 

Noutros tempos, os mausoléus, capelas e jazigos vincavam a riqueza e importância social dos seus proprietários, mas hoje em dia, se é certo que já ninguém os manda fazer em pedra lavrada, a coisa está mais nivelada e a mais humilde família é capaz de mandar assentar um jazigo de pedra cara e todo luzidio.  

Na foto acima, no cemitério de Guisande, pelo início dos anos 1960 predominava a simplicidade das campas rasas, apenas com uma simples lápide em lousa. Os canteiros eram delimitados com o buxo, arbusto sempre verde, tão característico dos cemitérios por esses tempos. 

Porventura, os cemitérios deveriam ser sítios singelos e tão despidos quanto possível, até em consonância com a simbologia de nada mais sermos que pó. Há culturas que assim fazem.

Mas, de um modo ou outro, as coisas são como são e no fundo o nosso modo de vida em sociedade leva-nos a acompanhar as modas e as tendências, com os seus defeitos e virtudes, e quanto a isso pouco ou nada há a fazer. 

Para quem ali é sepultado tudo termina, mas para os que cá ficam, continua a roda do dia-a-dia e com ela a engrenagem lubrificada pelas nossas vaidades, na demonstração do antes parecer que ser. 

Assim, como paradoxo, e mesmo reflexão, a singeleza do buxo em contraposição com o luxo.